Um campo de trigo, me cerca por todos os lados. Minha alma diz pra caminhar até encontrar a paz, mas tem uma coisa me chamando, gritando o meu nome, ao longe. Eu poderia jurar que era a voz de meu pai, implorando por socorro, mas como implorar por socorro, em um paraíso como esse.

De repente, começo a perceber que o meu o corpo esta mais leve, não sinto aquela angústia que me fez tentar fugir do meu pai. Parece até que isso aconteceu a séculos atrás. O meu espírito, continua me pedindo para seguir em frente, mas eu mesma não quero, eu quero voltar para Dachau.

Meu pés continuam presos ao chão, mas posso sentir algo me puxando, me tirando desse paraíso. Eu começou a flutuar, diante daquela plantação de trigo, mas alguém me puxa bruscamente para baixo. Eu vejo a mim mesma deitada no chão, rodeada pela minha família e por todos aqueles judeus, sem o meu pai se opor.

Lentamente, sou puxada até meu corpo, e acordo.

— Anne! Minha filha, você está bem?

Todos olham pra mim, com um misto de medo, pavor, alívio e felicidade. Sinto meu corpo doendo, meus pulmões parecem que vão explodir.

— Não. - Com dificuldade consigo responder.

Meu me carrega no seu colo, direto para casa. Lá ele se dirige direto para o seu quarto, me coloca em cima da sua cama. Toda a minha família segue ele assustada. Ele pede para a minha mãe ficar comigo, enquanto ele e o meu irmão, vão para a cidade em busca de algum médico.

Assim que eles saem, minha mãe senta na beirada da cama, apesar de eu ver apenas ralos borrões na minha frente. Ela começa a gemer, o que logo me vem a ideia de que ela esta chorando. Com muito custo, eu ponho a minha direita, em cima de sua mão, e faço pequeno movimentos circulares, com o meu dedão nas costas de sua mão. Eu posso perceber que ela parou de chorar, o que até me alegra um pouco.

— Anne, fica boa logo. Eu não vou conseguir viver sem ter um dos meus filhos do meu lado. Minha menininha dos olhos azuis.

O meu pai e o meu irmão chegam, com um médico. Este começa a me fazer inúmeras perguntas, com as quais eu respondo com sussurros, que muitas vezes se tornam impossíveis de serem escutados. Ele me exame, observando todas as partes de meu corpo. Como diagnóstico, ele diz que eu estou com asma, e que toda a minha família deveria me deixar descansar, e me tratar com uma dúzia de remédios. E que obedecendo todas essas suas normas, logo eu estaria boa novamente.

Assim que todos saíram, para se despedir e agradecer ao Doutor Killer, um homem aparece na porta de meu quarto. Um rapaz de olhos negros, pele branca, cabelo preto, alto e forte, mas de longe pude perceber que era um dos novos escravos:

— Anne?

— Sim, sou eu. E você quem é?

— Ralf, a sua disposição, senhora. Eu só vim aqui, para saber se a senhora estava melhor.

Antes que eu pudesse responder, o meu pai chega na soleira da porta. Eu posso ver a fúria e a raiva em olhar, observando Ralf.