2020, Casa de Allison Prentiss, Virgínia, EUA.

Allison

Allison, eu preciso que você se acalme para eu poder te expli...

— Me acalmar?! – grito, andava de um lado para outro e aparentava estar enlouquecendo- Minha mãe estava viva todo esse tempo... -paro no meio da sala e respiro fundo- Você não sabe o quanto eu sofri! -falo mais baixo chorando e apontando o dedo para ela.

— Eu sei que isso não foi justo com você, mas foi algo necessário para manter a sua segurança e a de Emily...

— Como assim? – pergunto com a voz mais calma sem evitar que as lágrimas ainda rolasse sobre o meu rosto.

— Tudo o que você precisa saber está aqui -ela me entrega um pendrive- Procure entender o lado da sua mãe, você não foi a única que sofreu com tudo isso... -ela caminha em direção a porta, ter a consciência pesada é realmente uma merda.

— JJ! – a chamo e ela se vira para mim- Obrigada por cuidar e ser a família dela! -ela acena para mim com a cabeça em sinal de afirmação e sorri, depois continua seu caminho até a porta, enquanto me sento no sofá.

— Mais uma coisa Allison -me viro para ela- Reid não sabe nada sobre isso, fica entre mim, você e Hotch, ok? -ela olha para mim seriamente, vou me arrepender disso futuramente. Spencer não perdoaria fácil uma traição de confiança, é a coisa que ele mais valoriza.

— Tudo bem, me chame de Ally -sorrio minimamente.

— Boa noite, Ally – ela retribui o sorriso.

Quando JJ sai pela porta, vou ao meu quarto e ligo meu notebook, conecto o pendrive nele, havia um único arquivo de vídeo... Inspiro e expiro profundamente, não faço a mínima ideia do que vou ver, minha mãe nunca deixou eu saber de detalhes sobre qualquer caso no qual já trabalhou, mesmo aqueles que haviam o seu envolvimento pessoal... Lembro das diversas vezes quando chegou machucada ou muito abalada, eu perguntava o que tinha acontecido, mas recebia respostas vagas e “Não foi nada de mais” ou “Vou ficar bem”. Não a estou criticando por ela me proteger das coisas horríveis da sua profissão. Porém, a partir do momento em que a vida dela pode estar em risco, ela deveria ter me dado algum tipo de informação antes que a situação se tornasse crítica. De alguma forma eu poderia ter lhe ajudado, feito qualquer coisa para que não carregasse todo esse peso sozinha... Alguns minutos depois, tenho finalmente a coragem de iniciar a filmagem...

Oi querida, como você está? – suas feições com certeza eram de preocupação- Eu sei, foi uma pergunta idiota... Não vou ficar enrolando, sabemos qual é o objetivo desse vídeo – faz uma longa pausa- Bom, tudo começou quando fui convocada para uma missão...

Então minha mãe me contou sobre Ian Doyle, seu filho, a história deles e o motivo pelo qual aquele psicopata tentou matá-la. Certamente era muita informação em poucos minutos, eu não sabia o que pensar sobre aquilo, porque eu literalmente não faço a mínima ideia de como é estar em seu lugar.

Esse é o motivo de eu não ter redes sociais, de evitar falar para meus amigos sobre você, fazer caminhos diferentes para ir na sua casa... Eu tenho que proteger quem eu amo, você foi a melhor coisa que já me aconteceu e eu não posso te perder, ainda mais por conta de algo que eu fiz – começa a ficar com os olhos avermelhados, assim como eu – JJ e Hotch chegaram à conclusão de que a melhor forma de evitar que Ian tente me matar novamente ou ferir alguém da minha equipe e você, seria se minha morte fosse forjada, assim todos ficariam seguros. Olha... Você pode me odiar por eu ter feito isso, mas eu faria novamente, porque isso preservaria a sua segurança, o que é extremamente importante para mim – escorre uma lágrima a qual limpa rapidamente antes de mudar de assunto – Eu decidi te contar tudo agora porque... – faz mais um intervalo – Há a possibilidade de Ian estar enviando as mensagens que você anda recebendo e não Adam – novamente, fica calada antes de continuar, era notável a dor que estava sentindo ao dizer isso... Uma parte de mim queria dizer á ela que nada disso é sua culpa. Entretanto, a outra pensa que já não basta um, agora tem dois psicopatas querendo me destruir... Como raios ela sabe sobre as mensagens? – Reid contou para JJ sobre o bilhete, as mensagens e pediu a ajuda dela na investigação. Depois, ela me contou e eu pedi para que ela providenciasse o monitoramento do seu celular. Não conseguimos descobrir nada, o sinal das mensagens levam a uma torre na Rússia, mas não se preocupe, vamos conseguir prender quem realmente está fazendo isso com você e pegar Doyle. Tudo isso é temporário, quando menos você esperar estaremos juntas de novo, ok? Você precisa ser forte agora, como sempre foi – ela tenta evitar chorar a todo custo – Eu te amo, Ally. Tudo que eu faço é por você, nunca se esqueça disso – o vídeo termina.

— Eu também te amo, mãe -abaixo a tela do computador.

Após o término da gravação, começo a chorar, naquele momento eu somente queria a sua companhia. Pensei que vê-lá diminuiria a saudade que eu sinto, mas só aumentou ainda mais. Eu estava com medo de tudo, nesses últimos dias eu ando recebendo mensagens de texto no celular de conteúdo como “Você está linda, Rose” “Rose, você não acha que chegar tão tarde em casa não possa ser perigoso?” “Tome cuidado, querida Rose. Quando menos você esperar, alguém pode te fazer algum mal” “Não esqueça de trancar a porta, Rose”... Eu sabia que quem estivesse escrevendo queria brincar com meu psicológico, não poderia deixar Doyle, Adam ou sabe-se lá quem entrar na minha cabeça, pois essa pessoa estaria me vencendo, o que não vai acontecer em hipótese alguma. Porque eu sou uma Prentiss e você vai precisar ser realmente muito bom para conseguir me quebrar.

10 dias antes, Cafeteria Vintage, Quantico, Virgínia, E.U.A.

... Nessa convenção irão ter os principais atores de Doctor Who como Jodie Whittaker, David Tennant, Matt Smith e Peter Capaldi. Irá ser incrível, mal posso esperar para liberarem a compra dos ingressos...

Eu não estava escutando o que Spence falava, tomava meu café enquanto me perdia nos meus próprios pensamentos. Desde o episódio em Richmond, havia recebido mais mensagens no meu celular, todas citando o nome Rose. Por conta disso, passei noites em claro, tive ataques de ansiedade, além da paranoia de pensar que alguém estava me vigiando 24h por dia, me seguindo e aguardando o momento certo para atacar. O medo tornou-se rotineiro, até mesmo ir ao mercado era um grande desafio para mim. Eu possuía a sensação de estar mais segura em público, do que dentro da minha própria casa... Se fosse me analizar racionalmente, diria que estava entrando em desespero e deveria pedir ajuda, entretanto aparentava como se nada estivesse acontecendo ou tentando.

— Ally você escutou alguma coisa do que eu disse? – sua voz tem um leve tom de irritação e olho para ele.

— Hmm? -finto-o - Me desculpe, o que estava falando?

— Ally... Você recebeu alguma coisa? – pergunta sério e solidário.

— Sim... Recebi outras mensagens... – suspiro- Mas nada aconteceu, então não tem com o que se preocupar, não estou sendo ameaçada de fato. Só são frases idiotas – Spence me olha, sabemos que só teremos fatos suficientes para uma investigação oficial caso algo acontecesse, era um beco sem saída. O que poderíamos fazer era apenas esperar. Vejo a expressão dele mudando para uma de tristeza e respira fundo...

— Bom, claramente você está péssima – rio das suas palavras e me finjo de ofendida – Hoje estou de folga, então iremos nos divertir! – fala determinado.

— Spence, eu não estou muito a fim de ficar lendo livros durante a tarde inteira e não há necessidade disso...

— Primeiro, obviamente minha amiga está mal, não preciso te perfilar para saber disso, e eu odeio ter que vê-la assim. Então, minha obrigação é fazê-la se sentir bem pelo menos por algumas horas – ele pega na minha mão e sorrio com a sua atitude e palavras – Segundo, não disse nada sobre livros – fala com um ar misterioso.

— Ok, vou entrar nessa – me inclino sobre a mesa para chegar mais perto dele - O que você está pensando Dr. Spencer Reid? – falo no mesmo tom e ele imita minha ação.

— As 14h, você irá descobrir, Dra. Alisson Prentiss – retribui no mesmo tom de voz e dou uma risada fraca.

— O mundo precisa de mais homens como você, Spence – falo carinhosa.


13:30 do mesmo dia, carro do Dr. Spencer Reid, Quantico, Virgínia, EUA.

Você pode falar agora para onde vamos? – tenho problemas com ansiedade? Óbvio. Curiosa de mais? Claro.

— Já disse, é uma surpresa! – fala rindo de mim, não o culpo, estava parecendo uma menina de 8 anos de idade.

— Spence! Nenhuma dica? – tento fazer minha melhor cara de “cachorro abandonado”.

— Não adianta fazer essa careta... Você só precisa aguentar mais... 28 min e 27 segundos!

Nem preciso dizer que fiquei “emburrada” durante todo o caminho até o local misterioso. As 14h em ponto, ser pontual era uma das habilidade de Reid, estávamos em frente de... Uma pista de patinação no gelo?!

— Como soube que eu sabia patinar? Espera um pouco, você sabe? – enfatizo na última pergunta e levanto uma sobrancelha.

— Não sabia, mas tinha certeza que iria gostar de aprender e sério que eu preciso responder a última pergunta?! – diz rindo e irônico.

— Justo... Mas a partir de hoje, você irá poder adicionar “patinador amador” no seu currículo! – falo indo apressada para colocar meus patins, eu literalmente estava parecendo uma garotinha feliz – Vamos logo, Spence! – falo para o homem sorridente que ainda nem sequer havia calçado um único pé.

Comecei a ensinar Spence o básico, ou seja, a como tentar não cair... O que foi um pouco difícil no começo, porque ele tem todo aquele jeito desajeitado dele... Não acho uma qualidade ruim, mas sim uma graça. Como ele se empenha a aprender algo, mesmo sabendo que não se tornará o melhor naquilo, ou como ele gosta de fazer coisas novas sendo que algumas não são realmente do gosto dele, é encantador... Eu amo o fato dele ser meu amigo, de como ele tenta me fazer sentir bem e estar sempre lá por mim... Estou divagando muito, preciso prestar atenção no que...

— Cuidado! -seguro ele antes que caia no chão, nossos rostos estão muito próximos, assim como nossos corpos, posso sentir o calor dele e aquilo me dá arrepios. Contudo, fico perdida no seu olhar, o silêncio se instaura entre nós sem que tiremos os olhos um do outro. O mais estranho é que... Não estou tensa, mas sim tranquila com essa situação que deveria ser totalmente constrangedora.

— Obrigada, por não me deixar cair... – ele finalmente fala com um sorriso que de repente se torna o mais bonito já visto por mim.

— Nunca, gênio – retribuo o sorriso e ajudo ele a ficar em pé novamente – Vamos tentar de novo, juntos! – dou a minha mão para que ele segure, quando elas se juntam, sinto que o toque da sua pele na minha é diferente, uma sensação quase esquecida por mim, fazia muito tempo que não a sentia. Eu estava mais leve, feliz... Spence fazia eu esquecer todos os meus problemas, em nenhum momento com ele lembrei do fato de poder ser vigiada naquele exato instante, estava focada no nosso tempo juntos e nele, especialmente nele... Eu não sei o que está acontecendo entre nós, mas sei o sentimento que tenho por ele quando está perto de mim e não quero que acabe. Provavelmente, se isso acontecesse, me destruiria.

No final da tarde, fomos embora da pista famintos, como havia um parque perto de onde nos encontrávamos com alguns foodtrucks, resolvemos pedir um hambúrguer, nos sentamos para comer em um banco, após terminarmos, conversamos um pouco sobre os nossos trabalhos.

— Spence?

— Diga

— Você é meu melhor amigo e... Eu te amo -digo sorrindo e olhando nos olhos dele. Inesperadamente, outro silêncio ocorre entre nós, primeiro ele fica estranho, muito tenso e surpreso, estava processando o que havia dito, talvez? – Obrigada por esse dia – tento quebrar o gelo.

— Eu também te amo, Ally – ele me envolve com seu braço num meio abraço e deposita um beijo na minha testa. Depois, começo a pensar que talvez seria mais feliz se pudesse ter mais momentos como esse.