Uma vez no nosso laboratório eu disse a Cosima que não me importava com a presença da Shay, que não estava com ciúmes, porque nós franceses adoramos amantes. Isso não é verdade, pelo menos eu não sou assim. Senti ciúmes sim, mas também estava tentando protege-la, Cosima é a única pessoa que me fez mudar, deixar de ser egoísta, me importar com as outras pessoas, saber que o meu trabalho não é tudo que tenho, que as pessoas não se aproximam das outras apenas por interesse como fiz com Aldous.

Fui arrastada para esse jogo sem saber quem eram as peças, para parecer o mais autentico possível, tenho certeza que Aldous não pensou que eu pudesse mudar de lado, que eu me apaixonaria pela Cosima, que não quisesse mais jogar.

Acordo pela manhã e olho para o lado, não a vejo, levanto e vejo a porta do banheiro entre aberta, ela está tossindo e posso vê-la limpar os lábios, começo a me vestir, e ela sai do banheiro sorrindo como se nada estivesse acontecido, permaneço séria, nenhum “bom dia”, apenas olho para ela.

_ Achei que havia aprendido a confiar em mim.

_ Eu só não quero que se preocupe.

Abraço Cosima, e depois do abraço toco seu rosto com as duas mãos.

_ Eu me preocupo quando não sei o que está acontecendo, quando não sei como você está, não me faça passar pelo mesmo susto que tive no laboratório quando te vi cair e se debater, eu...

Fecho meus olhos, e não consigo terminar a frase.

_ Vamos continuar com o tratamento, o que são algumas espetadas por dia.

Dessa vez eu sorrio.

_ Acho que trouxe o suficiente para o tempo que passarmos aqui, não poderia trazer mais, a temperatura não é adequada.

_ Eu sei, me espera lá em baixo? Desço em alguns minutos, acho que você sobrevive ao interrogatório da Adel.

_ Já passei por coisas piores.

Estou abrindo a porta quando Cosima segura minha mão, me viro e olho para ela, que coloca os dedos entre o meus cabelos e me beija. Quando desço vejo uma mulher conversando com Adel, uma mulher de quase trinta anos, bonita, cabelos pretos curtos, eu diria também que tem um belo sorriso. Adel me vê.

_ Delphine, essa é Eleonor Davis a minha sobrinha, felizmente a única que tenho, acho que não sobreviveria a outras.

_ Delphine Cormier...

Adel me interrompe.

_ Doutora , ela trabalha com a Cosima, é chefe dela na verdade, como eu disse certa vez, Cosima encontraria alguém a altura, pelo menos uma vez na vida com relação a ela, eu acertei.

_ Tia Adel preciso dizer mais uma vez que só vim pela Carol e pela Cosima?

_ Eu sei, se dissesse o contrario seria além de tudo hipócrita.

Sentei observando a troca de farpas entre as duas, Adel sempre tão dura com as palavras que me fazia lembrar a minha mãe, eu poderia ouvir ela dizendo “ O que você precisa é da fé, a fé vai concertar sua cabeça manipulada por essa sociedade perdida”.

_ Está bem querida?

_ Oui, estava pensando no trabalho_ Sorri_ Mas não deveria, temos sido arrastadas para ele por um longo tempo, e agora não é o momento para pensar nisso. Como está Carol?

_ Está se recuperando bem, Cosima me disse que quer vê-la, você irá também?

“Pelo que vi agora, não deixaria ela ir sozinha nem ao jardim”.

_ Claro, quero conhecer mais sobre as mães da Cosima.

_ Ela não fala muito sobre nós não é?

Fiquei calada, porque na verdade Cosima não havia me dito nada, até pouco tempo ela nem confiava em mim para falar sobre o livro, como falaria sobre sua família?

Cosima estava descendo as escadas, talvez só eu estava percebendo que ela descia com dificuldade, ela só iria se sentir melhor daqui algumas horas, até lá eu esperava que nem Eleonor nem Adel desconfiasse da sua saúde, não havia porque explicar tudo em que estamos envolvidas.

_ Você continua do mesmo jeito prima, só que agora é mais Cosima e menos Adel.

Cosima sorriu e Eleonor a abraçou.

Antes de irmos ao hospital, Cosima abriu a porta fechada na sala ,a biblioteca e escritório de Adel, que comanda um escritório de contabilidade, entramos e ela supostamente fechou a porta.

_ Scott me ligou quando você saiu do quarto, perguntou se poderia coletar as amostras da Helena e da Sarah.

_ Bem, ele poderia começar a analisa-las.

_ Não Delphin, eu preciso saber se posso confiar nele.

_ Cosima, Scott é seu amigo, tem que confiar nele, tem que saber em quem pode confiar.

_ Acho que sim, de qualquer forma diga a ele que espere o meu retorno.

Assenti com a cabeça.

_ Kira já está com saudades, não nos falamos muito, porque ela está com o Cal, mas disse que sente saudades da tia Delphine.

Sorri para Cosima.

_ Com licença, não pude deixar de ouvir, Cosima quem é Kira?

Olhei para ela.

_ Como assim “ não pude deixar de ouvir”? A porta da biblioteca está fechada.

_ Na verdade não está.

_ Ellen,Kira é a sobrinha da Delphine_ Explicou Cosima, se Ellen a conhecesse bem saberia que estava mentindo, Cosima articulava as mãos mais do que o normal quando estava nervosa_ Estava me procurando?

_ Eu... Irei com vocês ao hospital.

“ Claro que vai”.

Cosima estava sentada entre eu e Ellen no carro dirigido pelo motorista das suas mães, segurei sua mão e levantava de vez enquanto com o pretexto que estava colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha_ o que eu poderia fazer com a outra mão, mas então eu não exibiria para Ellen que a minha mão e a da Cosima estavam entrelaçadas_ Parece até que voltei a ser adolescente.

_ Veja Delphine era nessa praça que eu e os meus amigos costumávamos vir para tocar violão, e nos divertir, bem eu não tocava, também não canto bem, mas vinha para... Eu vinha.

Acho que a frase que faltou era ficar, ficar com as meninas. Coisas assim eu não tenho ciúmes, mas pessoas concretas como Ellen são bem diferentes.

_ Lembra da “não a carne” ?

_ Claro que lembro, fui detida em apoio à organização.

_ Cosima, todos sabiam que Carol iria dar um jeito, mas nós os outros éramos bem diferentes, nossos pais não eram inspetores da policia.

_ Aquele prédio ali foi interditado, então eu e um amigo subíamos lá, ele estendia uma toalha e a gente deitava, o céu era muito bonito, as estrelas...

Cosima tossiu, e eu sabia o que iria sair da sua boca, peguei um lenço no bolso e ofereci a Cosima, ela secou os lábios , dobrou o lenço e me devolveu, guardei novamente no bolso.

_ Sabe o que percebo Cos? Vocês tem uma cumplicidade enorme, você começa a tossir a francesa oferece um lenço. Por falar nisso, está doente?

_ Um resfriado, logo vai passar.

Cosima entrou no quarto para ver Carol, eu e Eleonor ficamos na sala de espera, achei uma lixeira e me livrei do lenço. Quando voltei ela estava me olhando, sentei, e peguei uma revista.

_ Não é um simples resfriado.

_ Pardon.

_ Cosima não está resfriada, ela está doente, por favor eu conheço ela melhor do que você, eu quero saber apenas a gravidade da doença.

_ Se ela disse que é um resfriado deve ser só um resfriado.

_ E você não está entendendo, pode ser muito perigoso para você mentir para mim.

Um sorriso brotou nos meus lábios, algo que fez Eleonor recuar.

_ E eu estou lhe afirmando novamente, que é um resfriado.

Folheei a revista, sem nem ao menos me preocupar com ela.

Cosima veio até a sala de espera.

_ Carol quer te conhecer.

À noite estávamos na cama, de frente uma para outra nos olhando, eu estava preocupada com ela, mas sua respiração estava regular e Cosima não tinha febre, ela deitou a cabeça no meu ombro.

_ Sua prima é ...

_ Atrevida?

_ Não, insistente, tentou me intimidar essa tarde.

_ Conseguiu?

_ Não, só há uma pessoa que pode fazê-lo.

Beijei Cosima, e ficamos nos olhando.

_ Você também me causa o mesmo efeito, além de, muitas outras sensações.