O lobo a levou

Capítulo 4 - A casa da vovó


O Sol riscava o horizonte quando Branca abriu seus olhos, com a cabeça deitada sobre um espaçoso e confortável travesseiro feito de penas. Ela deu um longe bocejo, antes de encarar o teto. Todas as imagens da noite passada voltaram à tona; ela chegando em seu vilarejo quando estava perto da madrugada, com uma grande égua branca. Todos assustados com sua demora e a mãe a abraçando chorosa, morrendo de preocupação. A égua foi a menor das preocupações, estavam tão aliviados sobre de seu retorno que nem perguntaram nada, apenas levaram o animal aos estábulos no fundo do vilarejo.
Ela acariciou seu pulso, que estava dormente desde ontem à noite, quando segurava firmemente as rédeas do animal, descontando todo seu medo e angústia nas tiras de couro. Ontem havia sido um dos dias mais estranhos que Branca já havia vivenciado. Se não fosse pela dor no pulso e dores pelo corpo de tanto correr, ela pensaria que tudo foi um sonho -e era o que ela realmente gostaria que fosse.
Levantou-se da cama, chutando e afastando os cobertores que a aqueciam. Abotoou um casaco fino feito de lã que a mãe costumavam retirar do baú para as manhãs frias. Observou por uma das frestas do piso de madeira que o pai e a mãe ainda estavam adormecidos em sua cama, no andar abaixo dela. O ronco era uma evidência. Desceu a escada da madeira tentando fazer o mínimo de barulho, se equilibrando nos degraus improvisados e feitos com troncos de árvore. Embora o pai fosse bom em cortar árvores, era um péssimo artesão com a madeira, sua especialidade era apenas o metal.
Se esgueirou para a cozinha, um pouco sonolenta ainda. Por baixo das cortinas brancas de renda, as janelas da cabana estavam cobertas por uma camada de vapor pelo frio, junto a uma fina geada que enfeitava as flores que ficavam do lado de fora. Branca pegou um pouco de água que tinha no balde e colocou em uma chaleira, acendendo o fogo com a lenha guardada em uma grande cesta redonda, em um canto da cozinha. Observando a água aquecer, Branca se sentou em uma cadeira e encarou o fogo, estendendo as mãos e deixando-as se aquecer. Se lembrou da noite passada. Lembrou-se daqueles olhos azuis hipnotizantes, das mãos com sangue e de presas brilhantes, as figuras de um rapaz e de um lobo se misturavam em sua mente, juntando-se e se transformando em um só ser. Ela ainda não conseguia acreditar que ele era real, que tudo que aconteceu foi bem diante de seus olhos. Talvez estivesse louca, talvez o inverno a atingisse de tal maneira que estava começando a dar alucinações. Branca não sabia, mas cada vez que se lembrava da égua que veio junto à ela, tomava uma balde frio de realidade, era a verdade nua e crua.
Em um só dia Branca havia conseguido testemunhar dois assassinatos, sendo que um deles foi de um homem que quase a violentou. Não que ela preferisse que ele estivesse vivo e algo ruim acontecido com ela, mas só não dava para processar tudo aquilo de uma só vez. E o fato de ver um lobo que assumia a forma de um jovem, era o mais absurdo para ela. Sua mente estava em um profundo conflito que chegava a começar dar enxaquecas.
Retirou a chaleira do fogo quando o vapor começou a chiar, apressando-se em não acordar os pais e jogar algumas ervas cidreiras na água quente, preparando um chá. Branca procurou por algo na prateleira que saciasse sua fome, desde ontem que comerá torta na casa da avó, não havia se alimentando. Apalpou alguns pães em um saco, procurando o mais macio e dando uma grande mordida, sorrindo. Deixou a chaleira descansando fora do fogo, para esfriar um pouco.


Caminhou até a entrada da casa, abrindo um velho baú de madeira. Enquanto prendia o pão com os dentes na boca, calçou botas de couro do pai que ficaram grande demais em seu pé, mas ainda podia andar, mesmo com uns tropeços aqui e ali. Observou os pais dormindo uma última vez, tinha que se certificar de voltar para a cabana antes do Sol nascer por completo, ou então teriam uma surpresa de notar que ela não estava mais na sua cama. Não era bom preocupa-los com um segundo desaparecimento seu. Fechou a porta sem emitir um único ruído e caminhou pela rua coberta de neve, naquela manhã ainda não ventava, a luz da manhã esquentava suas costas e era fácil de caminhar pela neve com aquelas botas, mesmo que de vez em quando seu tornozelo ou a ponta dos pés não conseguisse acompanhar o ritmo.
As únicas pessoas acordadas tão cedo no vilarejo além dela eram alguns homens que retiravam a neve do caminho com suas pás, a cumprimentando. Branca retribuiu os acenos e mastigou o resto do pão, até restar algumas migalhas em suas mãos que foram levados pela brisa. Andou por minutos, apreciando as cabanas de madeiras, onde já começava a sair fumaça da chaminé de algumas, alguns passarinhos que voavam pelo céu, provavelmente indo para o Sul, onde a primavera acontecia. Branca chegou aos estábulos, sendo cercada pelo ar quente que os cavalos soltavam pelas narinas, incomodados de serem acordados tão cedo pela intrusa. Ela caminhou por diversos cavalos; de pelos negros, castanhos ou malhados, até encontrar uma única égua branca mais ao fundo, tomando um balde de água. Branca se aproximou, fazendo carinho na crina loira pálida, enquanto o animal relinchou baixinho.
- Desculpa por ter te roubado. - Ela murmurou. - E também pelo que viu ontem.
Ela fez carinho sobre o focinho rosado, a égua não reclamou e permitiu que ela continuasse, até que uma jovem figura caminhando para dentro dos estábulos foi recebido com o relinchar de alegria pelos cavalos. Era Desmond, com um balde de água fresquinha em uma das mãos, enquanto a outra com uma cesta cheia de cenouras. Branca se apressou e retirou o balde que parecia pesado, colocando em um canto.
— Obrigado. - O menino disse, sorrindo timidamente.
Desmond agora era um jovem que havia acabado de completar doze anos.Os cabelos loiros bagunçados e sardas claras nascendo no rosto, tinha todos os dentes direitos e arrumados na boca, nenhum torto. Era magro e estava sempre usando uma boina junto a uma blusa cinza ou branca. Era um pouco mais baixo que Branca, mas estava em fase de crescimento, então ela sempre pensava que, quando se viam, ele havia crescido uns dois ou três centímetros a mais. O garoto tossiu brevemente, retirando as cenouras da cesta e entregando uma por uma aos cavalos. Branca pegou uma cenoura e ofereceu à égua que comeu aquilo em três mordidas, pedindo por mais.
- Ela é uma Puro-sangue. - O garotinho respondeu, sem desviar o olhar de um corcel negro que estava saboreando uma enorme cenoura. - Aonde conseguiu ela?
- Encontrei abandonada. Na floresta.
Branca mentia muito mal, talvez até pior que uma criançinha que roubava biscoitos e tentava ocultar seu crime. Mas ela não se importou, Desmond era apenas uma criança, não iria começar uma discussão por isso. Pelo menos ela esperava.
- Alguém tem que ser muito idiota para abandonar um cavalo desses. - Ele respondeu. - Eu não abandonaria.
- Nem eu.
Branca acariciou o focinho da égua, sentindo que tinha algo em comum. Elas haviam presenciado o homem da noite passada ser morto por um lobo, hífen homem, hífen assassino. Naquela noite fria que a ventania quase a cegava, foi aquele animal que a levou sã e salva para seu vilarejo, foi aquela égua que lhe deu pernas e velocidade, sentia que agora precisava tratar bem o animal, já que havia perdido seu dono e lá fora não era mais algo seguro para aquele pobre animal. Por um momento, Branca observou Desmond por cima dos ombros. A cicatriz da garra podia se notada pela gola que estava um pouco frouxa, exibindo um pouco de pele das costas. Uma cicatriz rosada e bem evidente, que a pele enrugada puxava e mostrava o que algum dia foi um enorme ferimento. Ela hesitou por um momento, abrindo e fechando a boca diversas vezes.
- Desmond. - Ela chamou, agora se arrependendo.
O garota virou-se para ela, encarando-a com olhos escuros que pareciam surpresos, olhos que um dia iluminavam alegria e a inocência de um jovem garotinho. Branca se perguntou se nunca mais veria aquele brilho naqueles doces olhos. O garoto acenou com a cabeça, fazendo Branca engolir em seco.
- Essa...cicatriz nas suas costas. - Fez o possível para não engasgar. - Como era a Fera?


Os ombros do garoto tornaram-se rígidos, ficando sem expressão e encarando o balde de água. Ele o pegou e deu aos cavalos, que agitaram-se e enfiaram os focinhos no delicioso refresco. Desmond havia ficado como ajudante nos estábulos há cerca de meio ano atrás, recebendo moedas em troca que ele levava para ajudar na casa, os animais pareciam adorar ele e ele os adorava também, era mútuo.
Branca apertou as mãos quando o clima se tornou tenso, sem a resposta do menino. Sempre que alguém conversava com ele, era como pisar em ovos, qualquer coisa poderia o deixar melancólico e sem dizer nada. Mas Branca não tinha a intenção de não falar sobre aquilo, ela havia visto muitas coisas estranhas ontem, coisas que não compreendia, e se recusava a voltar a pisar naquela floresta novamente, totalmente despreparada e sem entender nada.
- Por que quer saber? - Ele disse, ainda de costas para ela.
- Porque estou sempre querendo saber das coisas. - Não era uma total mentira, mesmo que o objetivo da conversa não fosse apenas para saciar sua curiosidade e imaginação. - Mas não vou te forçar se não qui-
- Era imensa. - Desmond respondeu, para a surpresa de Branca. - Os pelos eram escuros como carvão. Tinha olhos amarelos que brilhavam no escuro.
- Tinha dentes afiados?
- Muitos! Mais do que eu sei contar. - Ele sentou-se em um banquinho de madeira. - Aquela coisa ora andava por quatro patas e ora andava bípede, se movia com velocidade pelas árvores. Faz tempo, mas consigo lembrar perfeitamente dos rugidos e uivos que ela fazia naquela noite.
- Uivos? - Branca perguntou. - Então era um lobo?
- Não. Era maior, bem maior que um. Mas também não era um urso, como todos falam.
Maior que um lobo normal, e não era um urso. Os pontos de ligavam na cabeça de Branca, mesmo que as características do pelo ou olhos não se encaixassem na descrição do lobo que ela vira ontem. Talvez houvesse uma matilha secreta de lobos na montanha? Branca se perguntava porque o rapaz de ontem não teria a atacado, talvez ela não tivesse carne o suficiente para abastecer o estômago dele, mas sabia que não era porque ela tinha feito alguma amizade ou derretido o coração dele. Era algo mais profundo e secreto, mas ela não sabia o quê.
Branca pensou na faca de cozinha que ainda estava em seu bolso da capa, pensou o que teria acontecido se tivesse enfiado a faca no lobo na primeira vez que se encontraram. Se ela tivesse sobrevivido, com certeza ainda assim não estaria viva ou conversando com Desmond naquele momento, a crueldade do homem da carroça teria a matado, isso era certeza.
- Feras podem se transformar em pessoas? - Branca perguntou. - Assim... como se fosse metamorfose.
- Isso me parece uma fera. - Desmond respondeu.
- Mas não é a nossa Fera.
Desmond balançou a cabeça, suspirando. Ele não entendia mais o que Branca dizia, na verdade nem ela mais conseguia entender suas próprias palavras. O jovem caminhou até um pequeno machado encostado no fundo dos estábulos, acariciando a lâmina.
- Um dia, quando eu for mais velho, eu vou atrás da Fera. E quando a encontrar...
Desmond abaixou o machado com força, fincando e cortando ao meio uma torra de madeira guardada ali, as vezes era onde os ferreiros as esqueciam quando acendiam os fogos de seus alojamentos. Branca observou com terror as cascas de madeiras separando-se uma das outras, os cavalos agitados com o barulho.
- Será a última vez que a veremos, prometo. - Ele disse. - Em vingança as famílias que perderam seus membro e os sobreviventes com marcas.
- Desmond... - Branca empalideceu, murmurando.
- Seja nossa fera ou não, todas são perigosas e iguais, certo? Todas matam.
Branca não ousou responder, abaixando a cabeça e pensando nos cadáveres que o rapaz havia deixado ontem, sem piedade ou arrependimento em seu olhar, apenas um azul gélido vazio. Ela apenas concordou levemente com a cabeça, levantando-se e dando uma última cenoura à égua, que sacudiu o rabo em felicidade.


Olhou fundo naqueles olhos negros do animal, pensando se ela era a única a ter pensamentos atormentados ou imagens tão horripilantes em sua mente, perguntou-se se ao redor daquele mundo existiam mais garotas como ela, atormentadas por imagens que não saíam de suas cabeças e preenchiam os pensamentos mais normais de como apreciar a imagem do céu, sem ter toda sua mente quase ocupada por um tormento. Perguntou-se se sempre seria assim, perguntou-se quanto tempo duraria. Queria esquecer, queria deixar para lá e fingir que nada nunca aconteceu, mas não conseguia. Seu rosto queimava em frustração. E o pior era que ela sabia o que atormentava, mas não sabia como fazer aquilo parar.
- Você deveria dar um nome à ela.
Branca virou-se para Desmond, que pegava a lenha partida e jogando em um canto, junto à um monte de madeiras idênticas à aquela. Piscou algumas vezes, tentando entender o que ele queria dizer, até o garoto apontar para a égua.
- Ah! - Branca disse. - Eu não sei, acho que não a conheço muito bem para isso.
- Não pretende a chamar de "Você" ou "Ela" pelo resto da vida né?
Branca suspirou, olhando para o cavalo. Analisou seu rosto, seu pelo e sua crina, pensando em algo.
- O que acham de Branca II?
Branca e Desmond se viraram para a porta do estábulo, onde um garoto de de cabelos laranjas e lisos até o pescoço e olhos verdes estava parado, segurando um monte de feno amarrado, jogado sobre seu ombro. O rosto sardento esboçava um sorriso confiante e arteiro. Era Arthur, filho do meio de um ferreiro, amigo do pai de Branca. Arthur era somente um ano mais velho que Branca, mas tinha um jeito -às vezes irritantes- de criança, antigamente no vilarejo era conhecido como uma das crianças mais arteiras que existia. Quando a idade avançou, pareceu criar um pouco de juízo, mas só um pouco mesmo.
- Não irei dar meu nome ao cavalo! - Branca respondeu, quase indignada.
- Poderíamos chamá-la de Arthura. - Desmond disse.
- Pode ser também. - O ruivo respondeu, colocando o monte de feno sobre um banco e juntando-se aos amigos. - Sei como meu nome é invejado por todos, não é uma surpresa.
Branca revirou os olhos quando Desmond e Arthur realmente começaram uma discussão sobre aquilo, ela observou o pelo branco daquela égua, os olhos enormes a encarando com um certo brilho. Branca murmurou os lábios sem um som, até repetir um pouco mais alta.
— Lily. - Ela disse. - O nome dela é Lily.
— Lily? Que sem sal.
Arthur disse, pegando o feno de volta e encostando em um canto dos estábulos. O ruivo direcionou-se a um dos espaços e puxou uma portinhola escrita "Celeste", puxando uma grande égua marrom com manchas brancas, um pouco mais baixa e musculosa que a égua de Branca. Arthur retirou uma cenoura do balde e alimentou a égua, mesmo com Desmond o repreendendo que já havia a alimentado. Branca ficou mais alguns minutos no estábulo, apreciando a companhia dos amigos e tentando fazer mais amizade e ganhar a confiança da égua. Retornou à sua casa quando notou que o Sol estava quase nascendo por completo.

Entrou na cabana batendo a porta discretamente, retirando o pouco de palha preso no casaco. Sua mãe já estava levantada, preparando algo que parecia ser pão para assar, ela sorriu amorosamente, usando um xale verde sobre a camisola branca que ia até os pés.
- Saiu para caminhar?
- Estava no estábulo com Desmond e Arthur. Eles sabem como prender alguém em suas...conversas.
- São bons garotos, gosto deles.
A mãe modelou a massa e a colocou no fogo para assar, sentando-se novamente na cadeira e suspirando. Ela analisou o rosto da filha que ainda estava parada em frente à porta e retirando as botas, procurando por alguma evidência que Branca não sabia o que era, e isso não ajudava a saber como esconder.
- Aconteceu alguma coisa ontem à noite? - A mais velha perguntou, semi-cerrando os olhos.
Branca abriu a boca para falar algo, mas parou quando notou aquele olhar atento da mulher sobre ela. Branca podia saber mentir, mesmo que muito mal na maioria das vezes, mas nunca sabia como fazer isso com seus pais. Mas também não sabia se queria revelar a verdade para a mãe, tudo que acontecera ontem parecia surreal demais, até para ela que havia presenciado. Mordeu os lábios.
- Por que pergunta isso? - Uma pergunta respondida com outra pergunta, um perfeito contorno.
- Ontem suas roupas estavam sujas, e você trouxe esse cavalo que apareceu do nada. Eu pedi apenas para que levasse a cesta para sua avó, Branca. Não que se aventurasse na floresta.
- A égua eu encontrei na estrada....estava sem seu dono.
- Abandonada?
- Possivelmente.
Branca contornou a pequena mesinha de madeira, sendo seguida com a mãe pelo olhar. Pegou uma pequena xícara e colocou o pouco de chá que tinha na chaleira, bebericando o líquido quente. O vapor subia e acariciava sua pele, esquentando naquele cruel e duradouro inverno.
O pai roncava baixinho na cama, puxando e se cobrindo como um casulo com dois cobertores de pele, de vez em quando dando uma coçadinha na barba por fazer.
- As roupas eu sujei quando caí. - A morena respondeu, deixando a frase dissipar no ar e desviando o olhar para algo distante.
A capa, conseguia enxergar uma pequena manchinha em um vermelho diferente da capa, mesmo que a mãe não reparasse, ela conseguia, e aquilo a perturbava profundamente. Era a mancha de sangue que ela havia limpado quando o rapaz a ajudou se levantar noite passada. Era o sangue do homem assassinado.
Aquilo deu uma repulsa tão grande em Branca ao ponto dela abandonar a pequena xícara na mesa e avançar na capa, a puxando da cadeira onde repousava.
- Mamãe, pode limpar isso para mim hoje? Essas manchas de sujeira e frutas me incomodam.
A mãe arregalou os olhos, puxando a capa da mão da filha e olhando bem, Branca rezou para que ela não desconfiasse.
- Parece boa para mim.
Branca negou com a cabeça.
- Sinto que se ela continuar assim não conseguirei a usar nunca mais, é uma pena já que é minha favorita.
- Está bem. - A mãe suspirou, cansada. - Eu limpo hoje para você.
Branca sorriu, um sorriso genuíno que ela não dava desde as imagens que a perturbavam do dia anterior. Se inclinou e beijou a testa da mãe.
- Irei fazer o jantar hoje e limpar os quartos, em compensação.
A mãe sorriu de volta, acariciando o cabelo da filha. Quando pequena, Branca costumava ter seu cabelo amarrado com fitas das mais diversas cores, que ela sempre procurava combinar com o avental dos vestidos, hoje em dia ela costumava -e preferia- usar seu cabelo solto, mesmo que esvoaçasse e os fios atrapalhassem sua vista.
- Espero que esteja me dizendo a verdade, Branca.
- Estou, mãe. - Ela disse, abaixando a voz. - Eu estou.

Um dia se passou, Branca ficará durante o vilarejo, na companhia de seus pais e voltando ao estábulo no fim da tarde para ver Lily, a "sua" nova égua. Repensou em usar o animal para ir à casa da avó, mas não sentia que ambas tinham tanta confiança, um cavalo que não confia em seu cavaleiro pode facilmente empinar e abandonar. Branca deveria esperar um pouco mais.
Na manhã seguinte, o Sol parecia um pouco mais forte e quente, tranquilizando Branca sem aquelas fortes rajadas de vento que machucavam sua face. Levantou um pouco mais tarde que o costume, colocando a camisola branca rosada que agora estava limpa, sem manchas de terra, junto a capa que a mãe havia lavado, sem mancha de sangue, sem terra ou sem nenhum arranhão. Era como se tivesse acabado de ganhar. Amarrou o capuz em torno do pescoço, deixando que a capa caísse até as panturrilhas e cobrisse seu tronco corporal.
A mãe colocou um chá de pêssego em um cantil, em seguida guardando em uma pequena cesta de piquenique, com duas entradas, para abrir e fechar. No interior era forrada com uma pequena toalha xadrez. Junto havia três pedaços de um pão de nozes, biscoitos de gengibre e canela e no fundo um pequeno pote de vidro com ervas medicinais moídas.
Branca pegou a cesta, sentindo o doce cheiro que vinha, resistindo à tentação. Ela não via a hora de saborear aquilo em frente à lareira, junto à sua avó. Mas ao se recordar que antes daquilo, precisava atravessar a floresta, deixava um frio na boca do estômago.
- Dessa vez traga a cesta de volta, não pode ficar levando todas e deixando na casa da vovó. - A mãe disse, dando um gole em uma xícara de chá que descansava perto do fogo.
- Certo, não me esquecerei dessa vez.
- E se precisar, durma lá. Não venha pela estrada à noite!
- Está bem, também lembrarei disso. - Branca murmurou. - E nada de falar com estranhos.
A mãe concordou, sorrindo. Elas saíram juntas da casa e caminharam entre as casas, como no outro dia, os moradores do vilarejo olhavam a menina preocupadamente, temendo pela pobre garota que mais uma vez entrava sozinha na floresta. Branca passou pelos enormes portões de madeira do vilarejo, o pai já estava no posto naquelas horas, como sempre. A mãe cruzou seu braço com o do marido, observando Branca entrar na floresta, as costas cobertas pela capa vermelha sendo sua última visão, antes de só restar enormes árvores nevadas e pegadas no chão, sobre a neve.


O caminho era o mesmo que o do outro dia, mas dessa vez Branca não havia cruzado com os passarinhos que assobiavam ou nenhuma mamãe faisão. Ela começou a cantarolar sem abrir a boca, olhando ao redor, com medo de que algum cadáver surgisse do nada, mas nada além de flores cobertas pela geada e árvores brancas. Começava a achar que o melhor a fazer era esquecer tudo aquilo, uma hora ou outra tudo teria que passar e nunca mais teria que pisar ali, era só questão de tempo até a avó melhorar e ela não precisar mais fazer essas viagens. Branca pensava seriamente em um futuro próximo, quando se casasse, se mudar de vilarejo, nunca mais teria que conviver com medo daquela floresta que a cercava. Um chalé na beira do lago estava fora de questão, ela não gostaria de ver um lago principalmente durante o inverno, pelo menos pelos próximos dez anos.
Ela desviou quando notou que caminhava praticamente do lado de uma toca de texugo, dando dois pulinhos para o lado e observando melhor. Ela sabia que texugos não eram muito amigáveis, eram seres agressivo e de garras afiadas. Com aqueles seus dentinhos podiam rasgar tudo que vissem pela frente. Um dos anciões do vilarejo tinha no tornozelo a cicatriz de uma mordida de texugo, que contava que levou quando ainda era menino, em um dia que seu pai ensinava-lhe a cortar lenha na floresta. Ela observou o caminho mais algumas vezes, desviando o olhar para a toca que estava coberta com poucas raízes em sua entrada, nenhum sinal de um texugo raivoso.
Continuou seu caminho, agora sem tocas de texugo. A floresta, de certo ponto, parecia encantadora, como daquelas que são descritas em livros de contos de fadas. Branca jurava que se não tivesse visto pessoas mortas naquela floresta, acharia que aquele era o lugar mais belo de todos. Mas ousar olhar muito para aquele tom branco fazia sua mente enxergar uma mancha carmesim se formando, ainda precisava se acostumar com aquilo, senão nunca mais conseguiria ver neve sem sentir repulsa.
Branca então virou-se para o primeiro caminho, o mais curto. Naquela parte da floresta, os pinheiros eram mais inclinados para o caminho, juntando-se e formando um teto apenas de ramos, com poucos raios de luzes. Branca amassava a neve com sua botinas de couro escuro, tranquilizando-se com o som de passarinhos cantando aproximadamente dali. Com fracos raios de Sol atravessando entre os ramos e iluminando seu caminho, aquecendo seu corpo.


Um farfalhar entre os arbustos e pinheiros deixou Branca em alerta, dando alguns passos para trás. Um lobo cinzento saiu dos arbustos, olhos claros a encarando. Oh, não, outro lobo, não. Branca só estivera na floresta duas vezes desde a proibição dos moradores de saírem do vilarejo, e na segunda vez que estava ali, já não suportava ver um lobo. Primeiramente ela pensou que o animal estivesse apenas de passagem, mas os músculos se tornaram tensos e as pupilas contraíram, exibindo rapidamente as presas em um curto rosnado, caninos afiados superiores ameaçavam ela.
Ao menos, dessa vez não havia lago ou cadáveres.
Branca vacilou, encostando-se no tronco de uma árvore e cobrindo ainda mais seu corpo com a capa, controlando cada movimento, com medo de que um ato brusco fosse o suficiente para ele pular sobre ela e dilacerar sua garganta. O lobo deu passos em sua direção até parar, abaixando as orelhas, Branca por um instante pensou que ela a teria o assustado (por mais ridículo que aquilo fosse), mas notou algo sair dentre os pinheiros ao seu lado. O mesmo lobo de ontem. O pelo marrom avermelhado com olhos azuis claros. O segundo lobo mantinha uma postura firme e rosnava baixo, com os olhos semi cerrados. O primeiro lobo abaixou a cabeça, então saiu em disparada pelo caminho de onde Branca havia vindo, subindo um conjunto de rochas. Ela ainda estava agarrada ao tronco quando ele passou pelo pinheiro, encarando Branca e inclinando a cabeça para o lado, quase como um cachorro comum, procurando entender o que ela fazia. Branca desabraçou a árvore e bufou.
- Não pense que eu não sei quem você é. - Ela disse, continuando a trilha, mas não sem antes notar que o lobo a seguia logo atrás.
- Vai embora. - Branca respondeu. - Não quero que me siga.
Ela deu alguns passos, acelerando sua velocidade. Olhou para trás, por cima dos ombros, notando um rapaz mais alto e de cabelo castanho-avermelhado, a seguindo com as mãos enfiadas no bolso do sobretudo de couro preto desgastado, com fivelas prateadas. Ele bocejou cansado e voltou a seguir, ficando lado a lado dela. Ele era evidentemente mais alto que Branca, sendo que o topo da cabeça da garota batia na altura de seu ombro. Perguntou-se se ele era mais velho, mas Branca teve que segurar a língua para não disparar a pergunta em voz alta. Ele não deu mais nenhum passo antes dela se mexer, somente quando Branca voltou a seguir a trilha nevada, ele a acompanhou, sem dizer uma palavra.
Os pássaros já haviam ido embora, e o Sol havia sido substituído por nuvens cinzentas, com leves rajadas de vento agitando a ponta da capa e o tecido vermelho esvoaçando pelo ar. Pensou que aquele rapaz só atraía desgraça, nem mesmo o Sol gostava de si, indo embora assim que ele apareceu. Branca também não gostava dele.
- Eu pedi para que não me seguisse. - Ela murmurou em voz baixa.
O rapaz estava ao seu lado, era impossível que ele não a escutasse. Mas para sua surpresa, ele não respondeu ou fez alguma expressão irritada, apenas concordou com a cabeça e afundou as mãos ainda mais nos bolsos do casaco. Ele ergue a cabeça e exalou o ar, deixando que um vapor quente aparecesse no ar frio, escapando de seus lábios. Branca apreciou aquilo discretamente com o canto do olho, abrigando sua cabeça no capuz. Ela chacoalhou seus pensamentos, repreendendo a si mesma e acelerando seus passos, afundando com raiva a sola das botinas na neve, procurando descarregar sua frustração. Os passos atrás de si evidenciavam que ele não estava longe, a seguindo poucos metros de distância. Branca não era nenhuma princesa que precisava de um guarda real a seguindo e protegendo, não entendia o que ele queria com ela. Já havia tido a chance de a silenciar noite passado quando ela testemunhou os assassinatos, agora já deveria pensar que era tarde. Talvez ele estivesse bravo por ela ter saído em disparada com a égua? Talvez não gostou da menção que ela fez sobre os cortadores de gelo? Ela não sabia, e era justamente isso que a frustrava mais.


- Por favor... - Ela suspirou profundamente, virando-se para ele e encarando o jovem. - Eu já pedi para que não me seguisse, eu nem te conheço.
- Para aonde vai? - Ele perguntou.
Branca mordeu o lábio inferior.
- Para a casa da vovó.
Ela pensou que se somente respondesse a pergunta dele, a deixaria em paz. Mas as esperanças foram embora quando ele abriu a boca novamente para perguntar.
- Aonde fica a casa de sua avó?
- Na vila depois da floresta. - Ela apontou para a trilha que seguia.
O rapaz deu de ombros e observou a trilha por segundos, levando a mão à cabeça e coçando sua nuca. Branca notou o cenho franzido e o olhos semicerrados em uma expressão estressada, de alguém que parecia encurralado. Quando ele cerrou os dentes, notou que os caninos eram um pouco afiados, talvez os caninos mais afiados que Branca já viu uma pessoa ter. Todos os dentes dele eram brancos como pétalas de margaridas, pareciam bem cuidados e fortes. Isso de certa forma, era atraente. A língua avermelhada pôde ser vista por uma pequena fração de segundos, quando ele virou-se para ela e voltou a fazer perguntas.
- Por que não pega um caminho mais curto?
O jovem saiu da trilha e puxou arbustos, levando algum tempo e esforço, revelou um caminho que era escondido entre as árvores e pela neve. Branca suspirou admirada, nunca pensou que poderia haver tantos atalhos em uma floresta.
- Se você ir caminhando devagar por este atalho, ainda vai chegar mais rápido do que ser for andando normalmente por este outro.
- Não posso pegar atalhos. - Respondeu.
- Mas chegará à casa de sua avó mais cedo, certo?
Branca piscou e o encarou. Por que aquele estranho se importava em a ajudar? Quanto mais Branca pensava, menos sentido fazia. Ela apertou a alça que segurava a cesta, abrindo os lábios avermelhado e encarando o estranho.
- Por que me ajuda?
O rapaz de cabelos castanhos-avermelhados a encarou por segundos, parecendo pensativo. Ele apenas negou com a cabeça e esboçou um fraco sorriso.
- Só faço o que me convém. - Respondeu com certa arrogância. - Não há porquês.
Hesitante, Branca levantou uma perna de cada vez e atravessou os arbustos, sentindo as botinas afundarem na neve fofinha. Aquela estrada sem dúvida era mais baixa. Ela caminhou por alguns segundos, olhando admirada, os pinheiros pareciam ter os ramos ainda mais verdes naquela parte e a casca das árvores mais viva e marrom do que nunca. Branca deixou um suspiro escapar.


Nem ela soube porquê, mas virou-se para encarar o jovem, quando levou um susto. Fazia apenas segundos que ela havia seguido aquela trilha e ele já não estava mais lá. Como se nunca sequer tivesse existido. Ela inclinou a cabeça e notou que pegadas de botas foram substituídas por marcas de pegadas de lobo na neve. Aquilo fez um arrepio subir da ponta do mindinho até as costas. Virou-se e seguiu a trilha sem ousar olhar mais uma vez, seguindo em frente pela trilha nevada.
Aquele caminho era um pouco mais frio que o outro, mas aquilo não fazia diferença, sendo que Branca era esquentada pela sua capa. Em certo ponto, começou a cantarolar e caminhar um pouco mais devagar, quase dançante. Ela se perdia naquela beleza e frio, fechando os olhos e elevando a cabeça para o alto, sentindo os fracos raios de Sol aquecendo sua face. Mas aquilo não durou muito.
Branca olhou para baixo quando notou um estalo abaixo da sola das botinas, ela havia pisado e quebrado o caule de uma flor silvestre. Não só aquela, mas havia um canteiro delas espalhados. Branca caminhou por tanto tempo perdida em seus pensamentos e dúvidas que não percebeu que o caminho fazia entrada para uma clareira, onde os pinheiros estavam cobertos de neve e as flores com geada. Era lindo.
Abaixou e pegou a flor que havia esmagado acidentalmente, separando o caule inferior quebrado e o superior que protegia uma linda flor de cor rosa, Branca colheu aquela flor e guardou dentro da cesta, observando muitas outras de diferentes tipos e cores, com caules curtos e compridos, com cores claras ou mais escuras. Ela sorriu discretamente e começou a colher as que achava mais bonitas, procurando juntar todas em um buquê e guardar na cesta.
- A vovó vai amar isso. - Ela disse sorrindo. - Ficarão tão lindas em um vaso.
Pegou algumas flores amarelas e brancas, com caules curtos, então notou flores vermelhas e laranjas de caules compridos, juntando ao buquê. Então foram flores lilases, em formado redondo e com o dobro de pétalas das outras. Branca juntava cada flor que achava bonita, até formar um cheio buquê enfiar na cesta. Parou quando achou que já estava ali há tempo demais, levantando-se e limpando o vestido úmido pela geada e com algumas folhas. Escapou da clareira e voltando à sua trilha.
Pisava firmemente contra a neve. Cada vez mais as árvores se separavam e clareavam o caminho, deixando que a pálida luz do Sol aquecesse um pouco. Branca apertou com força a alça da cesta, ela só se concentrava em escutar os próprios passos e seguir seu caminho pela trilha nevada. Pensou no estranho de antes, o belo jovem que a ajudou sem motivo, sem nem saber seu nome ou ela o dele. Não havia porque ela a ajudar, o que havia acontecido na outra noite já havia ficado no passado. O que mais martelava em sua cabeça era que tudo daquilo era sua culpa, se tivesse pego outro atalho não teria visto nada, se tivesse ficado na casa da avó, não teria uma égua branca nos estábulos e um estranho a seguindo, não deveria ter aceito jamais aquela maldita carona na carroça.


Branca quase tropeçou em um rochedo quando distraiu-se demais, apoiando-se em uma parede de pedras elevada ali. Só quando Branca notou a corrente de água passando abaixo de si, percebeu que já estava na ponte de pedras, antes do vilarejo da avó. Ela suspirou aliviada, limpando a saia. Um pouco hesitante, afastou a barra do capuz da bochecha e olhou por cima do ombro, procurando algo atrás de si ou da trilha que havia seguido. Mas não havia nada além das pegadas de suas botinas, marcadas na neve. Ela escutou um uivo, muito ao longe, cortando o vento e se propagando pelas floresta, abanando os ramos dos pinheiros. Branca estremeceu, tentando controlar sua respiração e batimentos cardíacos, sentiu medo. Nunca mais queria entrar naquela floresta, desejava o quanto antes a melhora de sua avó.
Atravessou a ponte, afastando-se cada vez mais da floresta, o cenário de pinheiros nevados sendo substituídos por casas de madeira coloridas, com janelas limpinhas e decoradas com vasos de flores. Cumprimento os vendedores com carroças de frutas e um pandeiro que abria a portinhola superior de uma porta de madeira, fazendo um delicioso cheiro de massa assando espalhar pela rua. O clima estava adorável e Branca quase se esquecia do terror que passava na floresta. Ela caminhou mais um pouco, subindo a rua, onde o número de casas diminuía. A avó de Branca morava em uma parte um pouco mais e afastada e isolada, onde a distância entre as casas vizinhas era maior, não como as do centro da vila que ficavam quase umas grudadas nas outras, separadas apenas por pequenos e finos becos.
Sorridente, deu três batidas na porta de madeira da casa da velhinha, aguardando por uma resposta.
- Vovó, sou eu, sua neta.
Branca esperou. E esperou. Nenhuma resposta ou som vindo da parte interna da casa. Talvez sua avó estivesse na banheira? Ou estivesse tirando um cochilo. Branca levou a mão à maçaneta, notando que a porta não estava trancada, só...encostada.
Um nó formou-se pela sua garganta e um medo absurdo tomou seu coração, sem ela saber o porquê. O som das pessoas nas ruas pareceu afastado e abafado, muito distantes dela. Branca engoliu em seco, abrindo a porta. Ela parou, sentiu um cheiro estranho que estava ali. Uma mistura estranha que seu olfato não sabia dizer o que era. Continuou e quando finalmente terminou de abrir a porta, o fogo da lareira ainda acesso iluminou aquele grotesco cenário, para sua surpresa (ou horror), Branca notou que os móveis, assim como vasos e o armário que a avó guardava suas louças preferidas, todos estavam jogados, espalhados e quebrados, almofadas rasgadas e com as penas espalhadas pelo chão de madeira. Porta-retratos quebrados perto da cesta onde a avó costumavam guardar novelas de lã, que também estavam espalhados pelo chão.
Branca caminhou levando a mão à sua boca e deixando a cesta cair, as flores caindo e espalhando-se. Haviam muitas marcas e rastros de sangue pelo chão, junto à pegadas e arranhões de garras...garras de lobo. As pegadas e arranhões estavam até mesmo nas paredes. Parecia que ali havia acontecido uma terrível briga, uma briga entre um agressor e vítima.
Branca sentiu lágrimas quentes descendo pela sua face, abafando um fraco grito que soltou. As palavras não saiam e sentia que seu coração não batia da forma certa. Ela não precisava pensar muito no que havia acontecido ali, ela lembrava daquelas pegadas, daquelas malditas marcas. Daquele lobo.
Branca ajoelhou-se no chão. Uma mulher que passava na rua a encarou e entrou na casa, acariciando as costas da garota.
- Oh, meu Deus...- A mulher encarou o cenário, murmurando.
Em poucos segundos, a estranha estava gritando por socorro e ajuda pelas ruas do vilarejo, Branca ainda conseguia sentir lágrimas caindo cada vez mais desesperadamente por seu rosto e sua garganta ardendo. As mãos tremiam em medo, Branca não podia acreditar. Ela involuntariamente olhou para a cozinha, onde as cadeiras estavam jogadas. A porta dos fundos estava aberta e batendo por causa do vento. Uma porta que levava para o outro lado da vila, em direção à uma parte pequena da floresta.
Sua avó...Aonde estava sua avó?