O lobo a levou

Capítulo 2 - Branco e Carmesim


Três anos haviam se passado desde aquela trágica noite. Após o acontecimento, Branca de vez em quando era assombrada pelo sangue nas mãos de Tom e as costas marcadas de Desmond. Ela guardava aquele ramo de rosas que o menino havia pedido no mesmo dia que partiram, ele lutou para segurar aquilo até o fim, mesmo que quase morrendo, só porque foi algo que ela havia pedido. Mesmo que o ramo já estivesse seco e todas as flores murchas e caídas, ela ainda via como o presente mais belo e corajoso que recebera. Apenas perdia para sua adorável capa vermelha, dada pela a avó quando tornou-se moça.
Os primeiros flocos de neve caíam pelas pequenas ruas feitas de rocha do vilarejo, o inverno começava mais uma vez, como todo o ano. Para Branca era sua época do ano favorita, sempre se abrigando dentro de casa com cobertores e em frente a lareira que esquentava seus pés. Mas para os outros era a pior época do ano, já que era um vilarejo isolado dos outros, no meio da floresta, e que não tinha tanto acesso a comércio e alimentos, era preciso um grupo adentrar na floresta ...e enfrentar a fera. Desde aquela noite, ninguém mais ousou entrar sozinho lá. Rumores sobre os seres que habitavam ali só cresciam cada vez mais. Cada boato mais aterrorizante que o outro.
Sem nada para fazer, Branca começou a descascar cenouras para o ensopado que sua mãe faria mais tarde. Sua mãe costumava trabalhar com remédios e tinha muito conhecimento sobre os mesmos, então era normal que uma vez ou outra precisasse ajudar alguém no vilarejo. Mas Branca nunca sentia-se excluída ou sozinha, sabia que para seus pais, ela era o maior presente que os fora abençoado. Tinham muito amor por ela, as vezes eram até super-protetores demais. Mas Branca já estava com seus dezesseis anos, agora era uma mulher, deveria aprender por si mesma como se defender, ou o mundo nunca seria generoso com ela, era uma garota de aparência frágil, era magra e seus braços não eram tão musculosos...acima de tudo, era humana. Virou-se quando escutou um bater de porta atrás de si, apertando com força a pequena faca de cozinha, a mesma que sempre usava para cortar as frutinhas, vegetais e carnes. Era muito útil e afiada.
— Boa tarde, Branca. - Um homem alto e robusto apresentou-se, retirando um casaco de pele com a neve já derretendo sobre o material.
— Bem vindo, pai. - Respondeu, voltando a cortar as cenouras. - Já terminou seu turno?
— Pff, Claude chegou vinte minutos atrasado. Eu entendo que ele e a esposa ainda estão com o filho pequeno...mas sério, eu também tenho família.
O pai de Branca fora um dos homens escolhidos para ficar como vigia nos portões internos dos muros. Sempre existiam quatro homens como guardas, dois do lado de fora e dois do lado de dentro. Era uma decisão que foi tomado na noite do ataque de Desmond e Tom, os homens que o acompanharam daquela vez nunca tiveram seus corpos ou pertences encontrados na floresta, mesmo depois de algumas buscas realizadas. Até hoje as viúvas e filhos choravam pela ausências dos homens de sua família. Antes desse cargo para proteger a todos moradores do vilarejo, o pai de Branca era um simples ferreiro.


— Sua mãe não está? - Ele perguntou, observando o silêncio na casa.
— Ela foi entregar remédios para a uma mulher que mora nas extremidades do vilarejo que estava com fortes dores de estômago. Ela voltará antes do pôr do Sol.
— Entendo, entendo... Céus, estou morto de cansaço.
— Ficar em pé o dia inteiro vigiando cada um que passa pelo portão...isso não te chateia?


O pai retirou as botas de couro, estralando os dedos dos pés e coçando a cabeça cheia de fios emaranhados e mal penteados.
— Me cansa, sim. As vezes. - Ele suspirou. - Mas é para o bem dos nossos amigos e família. A fera está lá fora, esperando falharmos para então nos atacar.
— A fera...
As palavras saíram da boca de Branca sem que ela notasse. Desde muito tempo, desde a apelidada "Noite sangrenta", como os moradores do vilarejo batizaram aquela noite que somente Tom e seu filho retornaram da floresta, nunca mais foi dito ou ouvido sobre algum suposto ataque da Fera. Nem mesmo em vilarejos vizinhos, quando os poucos moradores do vilarejo de Branca, se arriscavam a ir em grupos. Branca suspeitava que pela escuridão da noite, Tom ou Desmond não conseguiam enxergar bem, talvez tivesse sido um urso. A marca de garras nas costas de Desmond eram o suficiente para ser de um. Mas sempre que perguntavam para eles, o clima de desconforto pairava no ar, as vezes Desmond não conseguia falar uma frase inteira sem chorar ou começar a ter um ataque de pânico. Era horrível para Branca ver aquele pobre menino, ainda tão jovem, sofrer assim.


— A fera existe, Branca. - O pai simplesmente disse, como se adivinhasse os pensamento dela. - Nunca duvide disso. Mesmo em pensamento.
Não acredito no que não vejo. Pensou ela, desviando o olhar para as cenouras. É simples assim.


A noite caiu sobre o vilarejo nas horas que passaram, os turnos dos homens nos portões eram trocados pela manhã, tarde e noite. As famílias acendiam as lamparinas, iluminando a mesa para o jantar. Poucos eram os barulhos escutados na rua, de vez em quando era apenas um bêbado cantarolado uma cantiga antiga. O vilarejo há muito tempo tentava preservar um toque de felicidade, mesmo com o desagradável acontecimento de três anos atrás, que ainda assombrava seus sonhos. Branca encontrava-se com seu prato de sopa pela metade, brincando com uma rodela de cenoura com a ponta da colher. Não estava com tanto apetite assim. Enquanto seus pais já estavam no segundo prato e conversando sobre o dia-a-dia, trocando risadas e comentários sobre como o inverno parecia mais rigoroso aquele ano. De fato, muitos vilarejos estavam registrando pessoas com resfriados e falta de alimento, principalmente os mais afastados da floresta.
— Oh, certo. Isso me faz lembrar algo, quase esqueci. - A mãe de Branca comentou, abaixando a colher. - Branca, querida. Poderia me fazer um favor pelos próximo dias?
Branca teve sua atenção totalmente voltada para a mãe, sendo pega por aqueles olhos castanhos que sempre pareciam gentis demais.


— Recebi notícias de sua avó dias atrás, do outro vilarejo. - A mulher comentou, abaixando o tom de voz. - Ela já tem idade e a saúde frágil. Mas parece que a situação piorou.
— Aconteceu algo com a vovó? - Branca perguntou.
Os batimentos cardíacos da menina aceleraram, só de pensar que algo poderia ter acontecido com sua amada e querida avó, todas as coisas ruins e pessimistas vinham á sua mente. A mãe de Branca apertou os lábios, hesitante.
— Parece que ela pegou um resfriado, nada tão grave. - Respondeu calmamente. - Mas ela está com poucos alimentos em casa...e não tem ninguém para cuidar dela no vilarejo onde mora.
Branca começava a compreender um pouco a situação.
— Branca, nos próximos dias se importaria de levar mantimentos para sua avó? Remédios e bolos que eu preparei, também alguma bebida quente.
— Eu não vejo problema.
— Mas...você sabe que terá que atravessar a floresta, certo? Sozinha.
Branca não havia parado para refletir aquele fato. Ficou tão preocupada com avó que até esqueceu-se da distância que as separava. Mas espere, não era justamente ela que pensava e debatia todos seus pensamentos sobre a fera? Que pensamento infantil, era sobre sua avó que estavam falando.
— Eu não acredito na fera.


Disse simplesmente, recebendo um olhar chocado dos pais. Era como se ela tivesse acabado de dizer que tinha assassinado alguém, ou que havia se tornado uma meretriz. Branca achou exagero, mas por parte sentiu-se culpada, para ela era a mesma coisa que admitir que Tom ou Desmond estavam mentindo.
— Como não existe? - Seu pai rosnou. - Não vê como Tom e Desmond se tornam perturbados a cada dia por causa do ataque? Ou as cicatrizes deles?
— Pode ter sido apenas um animal. Era noite, não havia como eles enxergarem direito.
— Branca, eu disse mais cedo para que você--
— Já basta.
A mãe de Branca, a mulher da casa, que sempre parecia a mais bem controlada e calma, interrompeu os dois. Da mesma forma que aquela mulher possuía olhos gentis e amorosos, eles poderiam se revelar severos e calmos, mantendo total controle mesmo nas piores horas. Ela simplesmente levantou-se e recolheu seu prato de sopa vazio.
— Eu acho até melhor você não acreditar nos rumores, Branca. Assim não ficarei apreensiva sobre seu medo ou segurança na floresta. - Pausou, parecendo pensativa. - Mas não deixe essa segurança toda se tornar uma confiança cega.
— Eu compreendo, mamãe.


Aquela foi a última coisa que Branca disse na noite inteira, antes de confirmar sua mãe que se encarregaria de levar os remédios para a avó, no vilarejo que ficava após a floresta. Mesmo que o pai de Branca ainda não aceitasse, foi obrigado quando notou que ele era ocupado demais com os turno do portão e Elena, sua esposa, estava sempre ocupada com os trabalhos medicinais no vilarejo. Branca, embora fosse a mais jovem, era a única que poderia cumprir aquele serviço. E foi como o planejado. Nos dois dias seguintes, a mãe de Branca deu-lhe uma cesta feita de palha e que parecia grande o suficiente para armazenar todos os suprimentos que levaria para avó. No primeiro dia do serviço que lhe foi encarregado, a mãe de Branca preparou uma torta de maça e um chá de limão, que colocou em uma garrafa comum, na cesta também haviam remédios que a mãe havia preparado especial para sua avó, junto algumas frutinhas que Branca recolheu naquela manhã.
— Lembre-se... - A mãe de Branca amarrou a capa vermelha no pescoço da menina. - Vá pela trilha mais clara e não pare de andar em momento nenhum. Não coma frutinhas que forem venenosas e cuidado para não pisar em buracos ou armadilhas.
— Certo, entendi. Também nada de subir em troncos e tomar cuidado com ninhos de cobras.
— Exatamente, e... - A mãe suspirou, aflita. - Nada de falar com estranhos, isso é o mais importante de tudo.
Branca piscou, embora soubesse que sua mãe era sempre muito protetora, nunca imaginou que teria essa desconfiança sobre ela. Obviamente, Branca não era mais uma criança, sabia que não deveria confiar em qualquer pessoa que simplesmente cruzasse seu caminho ou falasse com ela. Ela limitou-se a concordar com a cabeça e pegar a cesta com mantimentos, agora protegido com um lenço branco que ela mesma escolhera.
— Você deve chegar lá após duas horas de caminhada, se for pelo caminho mais curto, o primeiro que aparecerá pela trilha. Mas aquele não é tão bem iluminado. - A mãe advertiu. - Também há a trilha mais clara e iluminada, mas se for por essa vai demorar a tarde inteira.
— Ouvi dizer que existe um atalho no meio da floresta, devo chegar no vilarejo após uma hora e meia, talvez. - Branca disse.
— Não! Não pegue o atalho, Branca. Esse caminho é desconhecido para os moradores, quase ninguém usa aquele caminho.
A mãe de Branca repetiu o mesmo lembrete nos próximos minutos que as duas caminharam até os portões do vilarejo. A neve cobria todas as casas e ruas, a mãe de Branca esfregava os braços com frio, enquanto tomava cuidado para não escorregar nos pisos de rocha úmidos. Branca era notada e recebida pelos diversos moradores de dentro de suas casas, que admiravam tanto ela quanto sua bela capa vermelha, que ressaltava ainda mais sua aparência.


— Elena e Hector realmente tem uma bela filha. - Todos comentavam.
— Tome cuidado, hein, Branca!


Não demorou muito para todos no vilarejo descobrirem que Branca teria que atravessar a floresta sozinha pela próxima semana. Mesmo que todos estivessem tão preocupados e fofocando, ninguém se ofereceu para ir com ela. Branca não os culpava, sabia do medo que todos sentiam daquele lugar. Branca e Elena finalmente haviam chegado aos portões, recebendo um olhar aflito de Hector, pai de Branca, que estava em seu turno do começo da tarde. O mesmo apenas deu um olhar questionador para a esposa e depois fitou a filha, querendo dizer algo.


— Tome muito cuidado. - Ele alertou. - Se for preciso, passe a noite na casa de sua avó. Não retorne pela floresta a noite.


Branca assentiu, recebendo um beijo demorado na teste pelo seu pai e um abraço apertado de sua mãe. Os portões se abriram com um rangido, enquanto ainda podia escutar os murmúrios dos outros moradores, parecendo presenciar um acontecimento milagroso. Ela respirou fundo, apertando a capa.


Agora não é hora de ser medrosa. Lembrou-se. A fera não existe. A fera é uma lenda.


Com a respiração pesada tanto pela incerteza quanto pelo frio, cruzou os portões e caminhou em linha reta pelo caminho que antes era de terra e folhas, agora estava coberto de neve. O caminho que iniciava a floresta, ficava cerca de três ou quatro metros depois dos muros do vilarejo. Ela ainda podia sentir o olhar de seus pais em suas costas e dos guardas do lado de fora, todos pareciam transmitir negatividade e preocupações por seus pensamentos. Mas a cada passo que dava e entrava mais na floresta, Branca sentia aquilo sumir de pouco a pouco, até desaparecer totalmente. Hesitou ao parar e olhar para trás, não enxergando mais os muros do vilarejo e agora somente árvores e arbusto brancos, cobertos de neve. Ela estava sozinha pela primeira vez na floresta, sua segurança dependia somente dela. Branca não ia falhar consigo mesma e nos que confiaram nela.
Continuou sua trilha, sendo acompanhada pelo som dos pássaros que voavam de galho em galho, inclinando-se para baixo e saudando aquela criatura estranha que nunca haviam visto antes, com um capuz vermelho que cobria dos pés a cabeça. Branca rezou que estivesse assustadora o suficiente com seu capuz vermelho, naquele cenário gelado e frio, para que pensasse que ela era uma assombração e não se aproximassem. Apesar de não acreditar na fera, ainda acreditava em animais predadores e pessoas mal intencionadas. Acelerou os passos, sem olhar para trás ou para os lados, totalmente focada na trilha a sua frente. Caminhava o mais rápido que podia (mesmo que os passos fossem atrasados pela neve acumulada) e respirava o máximo que podia, seus batimentos não ajudavam. Bancar a corajosa era inútil se estava sozinha.
As botas de couro amassavam a neve que se encontravam pelo caminho, abrindo caminho entre as rochas, mas suas coxas descobertas pelo comprimento do vestido protestavam, sempre que a neve vinha de encontro com sua pele. Branca já perdera a noção do tempo que estava ali, apenas caminhando sem reparar ao seu redor. Um dos bicos de sua boca bateu em algo, a fazendo olhar para baixo e para cima. Ela quase havia trombado com um gigante conjunto de rochas, disfarçado pelo cenário branco. Sua cabeça foi para a esquerda e para a direita, um dos caminho ela reconhecia. O caminho da direita era a trilha iluminada que sua mãe havia se referido, mas também era a mais longa de todas, ela certamente demoraria a tarde toda para chegar ao vilarejo de sua avó, se fosse por aquele caminho. Seus olhos imediatamente foram para o outro caminho, da esquerda, era um caminho que não reconhecia. O atalho.
Ela suspirou e xingou a si mesma mentalmente, certamente havia ficado tão assustada que havia deixado abatido o caminho mais curto, pela trilha que veio. Já era tarde, ela se recusava a voltar por aquela trilha. Olhou para cada caminho, com incerteza. Então escutou risadas fortes e masculinas vindo pela trilha da esquerda. Oh, cortadores de gelo.
Os cortadores de gelo eram profissionais que se arriscavam nos lagos congelados para cortarem gigantes blocos de gelos com serras, isso devia-se para manter alimentos preservados pelo frio. Branca não reconhecia as vozes, talvez fossem de vilarejos vizinhos. Ela sentiu-se apavorada, era perigoso misturar-se com quem não conhecia, não devia falar com estranhos. Sua mão escorregou para o bolso do vestido, onde sentiu algo metálico e frio. Puxando o objeto notou que era sua pequena faca de cozinha. Branca talvez tivesse colocado no vestido noite passada, quando descascava as maçãs para a torta que a mãe fazia e guardou ali. Sentiu o pouco de coragem que tinha voltar para si, ela não queria atacar ninguém, mas também não queria ir pelo outro caminho demorado e sozinha. Pelo menos ali, se os homens não a fizessem mal, ela teria ao menos um caminho curto e alguém que a escutaria gritar se algo acontecesse. Sim, havia lógica, Branca deveria fazer isso, mesmo a mãe a alertando para não ir pelo atalho. Ela nunca saberia, certo?
Branca guardou a pequena faca novamente em seu bolso, tomando impulso na neve e se direcionando para o caminho da esquerda. Aquele caminho era repleto de pinheiros, os mais altos que Branca já havia visto. Era um cenário que de destacava e diferenciava da floresta restante. De certa forma, era lindo. Mais e mais passarinhos apareciam para a cumprimentar, ela apenas sorria boba e continuava seu caminho. Aquele atalho não era nem um pouco assustador, não importava como ela olhasse, perdera seu medo. Pausou quando uma faisão fêmea com oito filhotinhos atravessou seu caminho. Observou com graça quando um dos filhotes caiu e a mãe o empurrou com a cabeça, incentivando a continuar. Mesmo depois que a mamãe faisão se foi, Branca a seguiu com o olhar até desaparecer entre arbustos. Era o tipo de coisa que não se podia ver dentro dos muros do vilarejo. Ela já nem se lembrava da fera, mesmo que antes disso não acreditasse, só aumentava sua certeza que aquilo não existia. Continuo a andar pelo caminho nevado. Mas Branca estranhou algo, as gargalhadas dos homens já não eram mais ouvidas. Certamente o trabalho deles era demorado, ainda não haveriam ido embora. Talvez estivessem apenas almoçando ou tirando um cochilo rápido. Não havia porque ter medo, não havia porque. Mas então, por que o som de seus roncos não eram ouvidos? Onde estava o cheiro de comida no ar.
A cada passo que Branca dava e mais enxergava as extremidades de um lago congelado, tomado pelo azul mais escuro a ponto da água se tornar preta. Por que ninguém ali falava uma sequer palavra, mesmo que almoçassem? Onde estava o barulho das serras? Por que havia sangue no gelo? ...espera, sangue?
Oh sim, pobre criança, não sentira o cheiro do sangue a tempo. Seu corpo todo tremia, mas não era pelo frio. Era pela visão horrenda de cadáveres de homens espalhados sobre a superfície glacial, com as gargantas cortadas e as expressões paralisadas eternamente em medo. A neve ao redor do lago coberta pelo vermelho carmesim que transbordava dos corpos, tingindo aquele branco puro em uma cor sangrenta que marcava a violência. Branca não conteve um escorregão na neve, caindo de joelhos quando avistou um homem alto no meio daquilo tudo, ainda virado de costas para ela. Suas mãos tremiam de pânico e sua respiração paralisada, era quase como não sentir nada, não ter emoções para processar tudo aquilo. Só estava ali, parada.