Caro leitor, ironicamente chamaremos esse capítulo de “Mein Kampf” , um livro que nosso homem invisível carregava consigo em todos os lugares que ia, também conhecido como o diário de luta do tal Führer, um livro cheio de planos e ideias de um homem simpático que tinha em sua mente a estratégia de exterminar qualquer um que ousasse entrar em seu caminho rumo ao poder. Podemos encontrar nas páginas desse exemplar, trechos com lindas palavras, como por exemplo: “Poderia haver uma sujidade, uma impudência de qualquer natureza na vida cultural da nação em que, pelo menos um judeu, não estivesse envolvido? Quem, cautelosamente, abrisse o tumor haveria de encontrar, protegido contra as surpresas da luz, algum judeuzinho. Isso é tão fatal como a existência de vermes nos corpos putrefatos.”

Mas, vamos deixar o amável Adolf Hitler de lado, pelo menos por enquanto, e focaremos na caminhada do carregador de sonhos, levando em conta um fato curioso que tenho que constar: Max Vanderbug não está mais com seu livro, no momento ele estava sendo servido de presente a pequena Liesel, porém, com suas páginas pintadas de branco, apagando as palavras carinhosas de nosso homenzinho de bigode encantador que amava ser chamado de Führer. Devo levar em conta, e deixá-los informados, que amo ser irônica, então tome cuidado quando estou elogiando demais, posso estar querendo sempre dizer o contrário, como é o caso do nosso ilustríssimo Adolf Hitler.

Dando continuidade, o homem invisível vagava sem rumo, o que já não é mais novidade para nenhum de nós. O vento batia violentamente em seu rosto, cada osso, cada órgão de seu corpo doía insuportavelmente, seu estômago roncava tão alto que era capaz de entregá-lo, afinal, desde quando não comia algo que realmente o satisfizesse? A rua era algo tão silencioso, que nem ao menos tinha que ter tanta cautela para não ser pego, dê grande ênfase na palavra tanta, pois ele tinha em mente que qualquer ruído poderia ser extremamente fatal.

Ele caminhava, mesmo sem forças, mesmo zonzo e tendo em mente que aquela já era uma batalha perdida, ele caminhava indo a procura de um mundo melhor, procurando paz, quem sabe a procura de sua mãe, pois a culpa o atormentava a todo o momento. Caminhava sem direção, mas sem sair do escuro, afinal, além de ser um judeu, qualquer um se assustaria ao ver um cadáver perambulando em meio à escuridão. Suas pernas já não o obedeciam, logo, resolveu que pararia perto do bueiro mais próximo. Caminhou até estar perto de uma ponte, então resolveu que seria ali mesmo que sentaria um pouco, sim, ele apenas sentaria para descansar, pois tinha sã consciência de que poderia dormir ali e acordar em um campo de concentração.

Sentou-se no local mais escuro que encontrou, abraçou seus joelhos, fechou seus olhos e respirou fundo. Como de costume, em sua mente, ele lutava com Hitler, tirava seu bigode lentamente, pelo por pelo, o fazia cuspir a cada soco, assim como o admirável Führer cuspia a cada discurso que dava. Na mente do homem invisível, ele sempre ganhava do pequeno homenzinho estressado, mas a realidade entre o que ocorria em sua mente e o que ocorria no mundo real era extremamente diferente. Abriu os olhos e deixou que uma lágrima caísse lentamente por seu rosto, uma lágrima presa que iria dar continuidade a várias outras se ele não as controlasse. Secou o rosto e fitou o horizonte, ele tinha em mente que era uma batalha perdida, e se considerava extremamente egoísta ao pensar em todas as pessoas que havia abandonado e colocado em risco apenas para se salvar. Liesel veio em sua mente repentinamente, e ele a via como uma esperança, uma faísca em meio a todas as ruínas que a guerra proporcionava. Respirou fundo, seus pulmões doeram extremamente com tal ato, então relaxou, resolveu ficar ali por alguns minutos, ou horas, escondido como um rato, se sentindo cada vez menos humano. Mas como já disse, não era fácil ser um judeu em meados de 1933 e 1945...

Voltando repentinamente ao caso do título de nosso capítulo, se o livro “Mein Kampf” o interessa, então peço para que o procure para saber mais a fundo os motivos pelo qual o nosso homem invisível não o largava, mas tenha em mente que não há nada mais sábio que conhecer seu inimigo antes de batalhar com ele. Agora, terei que parar um pouco de falar, pois parece que nosso carregador de sonhos acaba de cochilar, mas temos que nos lembrar sempre que um judeu cochilando embaixo de uma ponte em plena Alemanha Nazista pode não acabar em coisa boa...