3 de novembro de 2015 – Dia 139 – 21h30min

Atacamos a base inimiga. Ela ficava numa cidade próxima do nosso acampamento, portanto, perfeita para atacar a noite. Usamos uma técnica muito eficaz. Enviamos cerca de cinco soldados (assim que eu chamo os nossos aliados) pelo lado mais fraco, dá alguns tiros e fogem. Os tiros atingem alguns soldados e o comandante da outra base enviou um pequeno contingente, cerca de dez, para procurá-los, eliminamos eles de forma silenciosa. Assim que os cinco recuaram, enviei cerca de vinte atacar o lado oposto, dando vários tiros, gritando,foram de forma espalhafatosa. Ele achou que era o ataque real e concentrou toda a sua força naquele lado. Orientei a eles que atirassem, mas se protegessem, eles só eram uma distração. Enviei toda a minha força, cerca de 40 restantes, pelo lado desprotegido e invadimos de forma silenciosa. Usamos os silenciadores (ou supressores), e tomamos prédio por prédio, depois, atacamos por trás e eliminamos todos os soldados inimigos.

Assim que entramos, tinha sobrado cerca de vinte pessoas: seis crianças, um idoso e onze mulheres. Dois dos soldados haviam se rendido e aliado a nós. Não os quis aceitar, mas todo o grupo queria, então não tive muita escolha. Voltamos ao nosso acampamento e descansamos. No outro dia sofremos o último ataque, alguns tinham saído para pegar suprimentos e vieram atacar o nosso acampamento como vingança. Os dois soldados mostraram quem eles realmente eram, atiraram em nós. No final, matamos todos, mas sofremos nove baixas, entre elas, um membro do conselho. Enterramos os nossos, queimamos os corpos e levantamos o espólio. Depois vamos ir até o lugar e pegar os suprimentos deles, levantando luto assim que acabarmos. Decidimos aceitar as mulheres e crianças, o idoso morreu pouco depois, vítima de um ataque cardíaco.

Sabe, eu sinto saudade do meu antigo grupo, éramos felizes juntos. Apesar de nos falarmos uma vez por mês, acho que partir não foi à melhor solução. Bom é melhor eu continuar escrevendo...

11 de julho de 2015 – Dia 23 – 08h30min – POV Toni

Passaram-se dez dias desde a nossa chegada a Magnum. Nos entrosamos e agora cada um conhece melhor o outro. Só aconteceram dois fatos relevantes.

O primeiro fato aconteceu no dia 4 de julho. Fomos atacados por um grupo de saqueadores. Eram sete e bem armados, entraram no casarão e renderam todos, exceto eu e a Vivi, estávamos ainda na ala médica (por algum motivo não melhorava rápido, ela disse que retirou muito sangue e que demoraria mais um pouco a ficar 100%). Peguei a pistola com silenciador e a faca, os deixava na cabeceira da cama, coloco a pistola presa na coxa e saí com a faca em mãos. Fiquei no umbral da janela e olhei para a Vivi, ela abriu um sorriso e mostrou a faca debaixo do travesseiro, ela pareceu entender que não queria deixá-la sozinha e desarmada.

Saí andando pela lateral da casa até a entrada, lá eu vi dois soldados, um vigiava e o outro, um armário, tentava se aproveitar da Brenda. Tinham amarrado ela e estava só de roupa íntima.

– Acho que hoje vou me dar bem. – Ela falou com um sorriso sacana no rosto.

– Devia se preocupar em vigiar.

– Estão todos rendidos lá dentro, não há o que se preocupar. Acho que você tá com inveja.

– Eu? Inveja? Tenho nojo de gente assim. Só estou aqui porque não tive outra opção, ou me unia a vocês ou me matavam. Se pudesse metia uma bala na cabeça de cada um. No seu caso duas.

– Assinou sua sentença de morte, magrelo! Depois que acabarmos aqui, você morre.

Pensei rápido e decidi ter um aliado. Entrei na casa ao lado, tinha apenas um zumbi lá dentro, fácil de matar. Depois derrubei uma garrafa de vidro no chão, o barulho surtiu o efeito que eu esperava. O brutamonte mandou o cara ir olhar o que acontecia lá dentro, “pra ver se ficava mais macho”. Ele entrou e foi em direção a um corredor estreito, cheguei silenciosamente por trás e o rendi com a minha arma. Fiz ele colocar a arma no chão e se virar devagar.

– Você mora no casarão? – respondi com um aceno de cabeça, sem parar de mirar. – Me desculpe se eles invadiram o casarão, só estou nesse grupo...

– Já sei de toda a história. – Encurtei o assunto, escutei os gritos da Brenda lá fora. – Preciso agora de um aliado. Me ajuda a me livrar deles e você fica livre para ir pra onde quiser. Topa?

Ele pensou um pouco e aceitou. Pedi as roupas dele, disse que precisava delas para o plano dar certo. Peguei as roupas e a arma, um ak-47 velho.

– Onde conseguiu um desses?

– Eles eram bandidos antes disso. Eles só tinham esse sobrando então resolveram de dar.

Entreguei a minha pistola a ele e fui ao encontro do brutamonte. Ele batia na Brenda, estava sangrando entre as pernas, pelo jeito ela mordeu em um lugar não muito agradável.Ele me viu e perguntou o que aconteceu lá dentro, não respondi. Ele sacou um revólver e ia atirar em nela quando ele caiu no chão com um tiro na cabeça. Logo depois, ele veio até mim e trocamos as armas. Desamarrei-a e lhe contei do meu plano. Entreguei a roupa dele e vesti a minha, voltei para o quarto e esperei pelo tiro da Brenda. Assim que ela atirou, abri a porta e acertei um deles no pescoço, dois já eram, faltava três. Ele entrou atirando acertou mais dois só que foi atingido na garganta pelo cara no centro da casa, parecia ser o líder. Fiquei com ódio na hora e disparei quatro vezes, acertando os dois braços, o impedindo de atirar, e nos dois joelhos o impedindo de andar. Maicon pegou uma faca e o matou definitivamente. Fui em direção ao meu novo aliado, infelizmente já estava morto. Queimamos os corpos deles lá fora, dei um tiro de misericórdia na cabeça do Matt, era o apelido dele, e o enterramos junto com o seu ak e uma arma de cada inimigo que ele matou. Fiz uma cova para o Carlos, coloquei a faca e a camisa dele. Fizeram as cruzes com os nomes e colocaram-nas lá. Ficamos um dia de luto, mas depois voltou ao normal.

O segundo fato relevante aconteceu ontem. Eu e a Vivi ganhamos “alta” há dois dias e podíamos circular pela casa. Já estava bolando uma maneira de fazer um apoio para a perna dela, assim ela andaria sem a muleta. Já tinha feito algo, mas não deu muito certo, ele desmontou fácil e incomodava ela. Estava fazendo outra coisa, entortei duas barras de ferro no formato daquelas próteses para deficientes, entortei as pontas e soldei, de forma mais precária possível, mas bem feito. Fazia isso nos fundos do casarão, lá nos fundos tinha uma piscina 7x10, uma área para churrasco, uma horta (agora sabia de onde vinha a salada) e um pequeno barracão nos fundos. Ia começar a fase dois quando a Kim entra e avisa que os outros vão buscar suprimentos, se eu não queria ir. Respondi que iria, só iria pegar as minhas armas.

Fui ao meu quarto, vesti minha roupa padrão para missão (Camisa preta com um desenho da cruz com pontas, uma blusa de frio com capuz, uma calça jeans preta, um cinto com espaço para munições e uma sapato de corrida azul escuro), prendi as pistolas nas coxas e no lado esquerdo do peito, as facas no cinto de munições; peguei a minha mochila (não era bem uma mochila, a minha velha companheira era aquelas pastas de pano mole, mas resistente, que se carrega na lateral do corpo, foi um presente do meu velho avô), e me dirigi ao carro. Chegando lá vi que iam, além de mim e da Kim: o Maicon, a Tainá, a Brenda e o Bernardo. Estranhei a Clara não ir. Ela estava na porta resmungando por não poder ir, eles disseram que precisava dela aí para poder ajudar a vigiar o QG.

– Calma Clara, vai ter outras vezes. É bom que você passa um tempo com a sua irmã.

– Vocês não me deixam ir por não ter uma mão a menos. E já passei tempo demais com ela.

– Eu ouvi isso, hein? – A Rita gritou de lá de dentro, ela entregou uns papéis a Kim. Dei um beijo de despedida e perguntei a ela se queria alguma coisa. Ela me respondeu que queria a mão de volta, mas como não podia, uma barra de chocolate servia. Entrei no ônibus, o usamos porque cabe mais coisas nele do que nos carros.

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Chegamos ao centro comercial de Magnum. É formado pela delegacia, pela loja de armas, dois mercados, pela farmácia, loja de utilidades, de materiais para o campo, de roupas, vários bares, a praça e etc. Decidimos no ônibus que cada dupla ia cuidar de dois estabelecimentos: O Maicon e o Bernardo iriam pegar suprimentos em um dos mercados e na farmácia ao lado e, se der tempo, em um dos bares; a Brenda e a Kim iriam na loja de materiais de campo e a loja de utilidades; eu e a Tainá fomos até a delegacia e a loja de armas.

Descemos cada dupla foi até o seu alvo, carregando o seu rádio (pegamos junto aos soldados), e suas bolsas. Tratei com a Tainá de ir primeiro até a loja de armas, não conhecia o local e já podia ter sido saqueada, sendo um pouco mais fácil o nosso trabalho. Entramos na loja, a porta estava escancarada, estava sem sinal de zumbis e de humanos e, como previ tinha sido saqueada. Não era uma loja comum. Tinha produtos esportivos, para caça e pesca, armas brancas para colecionadores, além de produtos para os diversos estilos de luta e essa parte parecia não ter sido muito vasculhada. Fomos até o setor de cutelaria, com várias lâminas, espalhadas pelo chão, outras penduradas na parede. Perdi noção do mundo lá fora, aquilo pra mim era o paraíso. Olhava cada conjunto, cada detalhe das lâminas, como um garoto numa loja de doces. Quando voltei a Terra, procurei a Tainá, ela tinha encontrado no meio da bagunça uma katana novinha, com um excelente afiamento, cabo com acabamento em couro preto, com uma bainha negra com losangos dourados, estava fazendo alguns movimentos, sentindo a lâmina, sei por que faço a mesma coisa com as facas. Comecei a vasculhar as facas e achei um conjunto com cinco facas próprias para arremesso, eram leves e podiam ser presas na coxa. Encontrei também dois conjuntos de kunais feitas em aço inoxidável, um pacote com dez shurikens e outra lâmina, por ser menor deve ser uma kodachi, perfeita para espaços curtos e/ou abertos. Estava tudo junto em um espaço com decoração japonesa, para prática de ninjutsu, kendo, etc. Fui até ela, quase ela me acertou com a katana.

– Venho trazer um presente e é assim que me agradece?

– Me desculpa, eu não te vi.

– Já tô acostumado, não se preocupa. – Abri um sorriso, não era pra ela ficar triste com isso. – Toma, acho que vai ser útil. – Entreguei os dois conjuntos de kunais e as shurikens. Ela se virou e pegou, pelo sorriso vi que ela ficou feliz e esqueceu a história. Vieram dois zumbis do fundo da loja e um da porta da frente. Acertei o da porta da frente com uma das facas de arremesso, era bem melhor atirar com elas; ela lançou uma das shurikens no zumbi, não deu muito certo, não penetrou e atingiu o cérebro, ela pegou outra shuriken e atirou no olho, que também não deu certo. Pegou uma das kunais e acertou o zumbi, finalmente caiu morto, o outro ela usou a katana para decepar a cabeça. Depois que matamos os zumbis enchemos a bolsa com facas e punhais dos mais diversos modelos, desde pequenos canivetes até facas de sobrevivência enormes. Deixamos tudo no ônibus, voltamos à loja para pegarmos outras lâminas (Três rapiers, a kodachi, duas espadas longas, quatro lanças e dois machados, sendo um de dois gumes, duas machetes e uma cimitarra), alguns foram pegos só pra montar uma coleção, mas a maioria seria útil. Enquanto recolhíamos as lâminas, decidi falar algo que me incomodava desde que chegamos ao casarão:

– Acho que não é bom ficarmos no casarão.

– Porque não? O que é que tem de ruim nele?

– Não pode ser bem protegido, não tem um local para fugir, não tem como construir nenhum tipo de defesa, só pode vigiar e esperar.

– Mas estamos afastados da cidade e perto dos suprimentos, temos uma visão privilegiada e não podemos ser atacados por trás. Não acho que tenha sido uma má escolha.

– Talvez você tenha razão. – Fiquei em silêncio, achei melhor não falar nada. Mas ela resolveu puxar assunto e tocar no ponto que eu não gosto muito.

– Porque você fica meio sem graça perto das garotas?

– Não fico não. – fui em direção ao balcão, lá ainda tinha algumas armas e munições.

– Fica sim. Vai conta, por favor?

– Tá legal, fico meio tímido perto das garotas. Era complicado chegar em qualquer garota, e se fosse bonita, só piorava a situação. Demorei até entender que só precisava acreditar em mim mesmo e quando conseguir ficar com uma, bom... ela era filha de um traficante. Ele descobriu que transei com ela e tentou me matar. Meu pai discutiu com ele e a gente teve que se mudar para Juatuba. Desde então, não fiquei com ninguém. – ela ficou rindo de mim durante um tempo. Quando ela conseguiu parar, olhava pra mim e começava de novo. – Haha. Por que nunca te vi com ninguém? – Ela parou de rir e ficou olhando pro vazio, acho que ela ficou com vergonha ou triste, não sei bem ao certo.

– Meu pai nunca me deixou namorar, também nunca achei ninguém interessante. E quem me interessava não tava afim de mim.

– Vamos dar uma olhada no resto da loja. Talvez tenha mais alguma coisa útil. –Precisava mudar de assunto rápido, não gostava muito de falar dos meus sentimentos. Apesar de não ser necessário, dei a minha mão para ajudar ela a levantar. Vasculhamos a loja e levamos o que sobrou da munição, o que não era muito, algumas armas que faltavam, armas de pressão com caixas de chumbinho, alguns coletes e proteção para treino de artes marciais, além de quatro bestas e dois arcos, um eu coloquei na hora nas costas, era feito de carvalho, muito bem feito, e as flechas era de fibra de carbono, vinte dentro de uma aljava de couro com espaço para o arco e um bolso para colocar cordas novas, fazia um tempo que eu não praticava, mas acho que tenho a mesma mira de antes. Colocamos tudo no ônibus e fomos a delegacia, se desse tempo voltaríamos lá de novo.

Chegando a delegacia, tinha uns doze zumbis na porta e mais quatro na porta. Ficamos a uma distância segura e usei dez flechas para acertar quatro zumbis. Acho que não tinha uma mira tão boa assim. Guardei o arco e arremessei as cinco facas, cinco zumbis a menos. Retirei uma faca do cinto e esperei eles chegarem. A Tainá acertou com as kunais cerca de seis e o último eu matei com a minha faca. Recolhemos as nossas armas e entramos. Lá dentro só tinha corpos caídos no chão, de vez em quando um zumbi ou dois apareciam. Andava com duas facas de arremesso nas mãos, ela ia com a katana, andamos pelos dois corredores e salas e nada. Subimos até o segundo andar, quando chegamos fomos surpreendidos por uma voz:

– Polícia! Coloque suas armas no chão e se afastem!

Não seria surpresa encontrar zumbis, sobreviventes ou até mesmo humanos canibais, mas um policial que ainda atuava, pensava que isso não existisse mais. Abaixamos as nossas armas, ele nos fez tirar todas elas, por sorte ele não me viu colocando no bolso uma das facas de arremesso.

– Quem em sã consciência deixaria garotos como vocês usarem armas de fogo?

– Primeiro de tudo não somos garotos e, segundo, não é da sua conta! – A Tainá respondeu de cabeça baixa, mas com a voz firme.

– Como se atreve! Vou prender os dois por desacato à autoridade.

– Não pode, temos a permissão de um oficial do exército para portar e utilizar de maneira consciente as armas. – Precisava intervir e minha especialidade era convencer as pessoas que o meu ponto de vista está certo. – Aconteceram muitas coisas, um apocalipse zumbi caso não tenha percebido, e estamos em uma missão para procurar suprimentos e encontrar sobreviventes. Salvamos a Tenente Rodriguez do 12° Batalhão do exército Brasileiro e ganhamos o direito de porte e uso de armas, sejam elas brancas ou de fogo. A lei e tudo o mais que regia o nosso país, o nosso planeta, não existe mais. Agora, é uma luta pela sobrevivência da nossa raça. É uma luta pela nossa sobrevivência. Vai querer se juntar a nós ou obstruir o nosso trabalho?

– Vocês tiveram a coragem de matar esses pobres doentes?

– Não são doentes, estão mortos. Agora eles são a raça dominante, os mortos-vivos, zumbis se preferir. Se você for mordido ou arranhado, você morre e se transforma em um deles. E como eu disse a lei não existe mais, temos que lutar com unhas e dentes pela nossa sobrevivência. Vai querer se juntar a nós ou obstruir o nosso trabalho? – Ele pareceu meio desnorteado, não sabia o que fazer. Por fim, ele guardou a pistola 9mm e foi em direção a janela observar o movimento. Não me parecia um sujeito ruim, só tentou cumprir o seu dever.

– Quer dizer que todos eles estão mortos? – Apontou para a rua. Ela tinha vários corpos caídos no chão, carros queimados, batidos ou simplesmente jogados por aí. Tinha cerca de vinte zumbis esparsos, andando sem um rumo certo, esperando pela próxima refeição. Vimos também duas garotas, correndo com as mochilas em direção ao ônibus, logo em seguida vieram dois rapazes, com as mochilas cheias, também indo em direção ao ônibus. – Aquele é o nosso grupo. Os outros estão infectados, mortos pela doença e prontos para te transformar em um deles também. Só morrem definitivamente se o cérebro sofrer um dano muito alto, um pancada ou perfuração. Ou pela decapitação, mas só impede que ele use o corpo, a cabeça continua funcionando. Tem audição e olfato desenvolvidos, mas o tato e a visão são restritos. Então, só use armas de fogo em caso de extrema necessidade. Eles têm uma mobilidade baixa, mas em conjunto são muito perigosos. – Observei bem o ônibus ele...

– Eles estão indo sem a gente!? – A Tainá olhou pra mim, ela estava surpresa por não esperarem. – Por quê?

Apontei para a multidão de zumbis, cerca de 500, indo em direção ao ônibus. Devem ter quebrado alguma coisa e alertado alguns e a coisa foi se alastrando. Fui até o rádio e o questionei por que iriam partir sem a gente:

– O Maicon esbarrou em uma prateleira de vidro e ela caiu, pegamos o que deu e saímos correndo em direção ao ônibus, matando alguns zumbis para que as garotas, que estavam na loja ao lado, pudessem se juntar a nós e fugir. Se não sairmos logo, vamos ser cercados por essas coisas e vamos morrer. Câmbio. – Ouvi um tiro, saiu de dentro do ônibus em direção ao zumbi mais próximo.

– Podem ir sem a gente. Nos viramos daqui. A bateria está fraca, só vamos fazer contato se for um caso de extrema necessidade. Não precisam se preocupar vai ficar tudo bem. Câmbio e desligo. – Vi o ônibus dando ré e acertando um zumbi, a Kim subiu no teto e atirou em alguns zumbis na frente e atrás, para liberar caminho. Depois acelerou a foi embora. Me virei para o policial. – Vai se juntar a gente?

– Se sairmos daqui com vida, vou sim. Não vou ficar por aí sozinho. Só quero ajuda para ir até a minha casa e ver se estão vivos.

– E se não estiverem?

– Eu mesmo os mato e enterro no quintal.

– Bem vindo ao grupo. – Peguei uma das minhas facas e o entreguei a ele. Mostrei a ele dois golpes básicos e como se proteger dessas coisas.

Fizemos uma barricada na escada e outra na porta onde iríamos ficar. Ele não tinha comida, estava sem nada desde ontem. Dividi com os dois minhas duas barras de cereal e o suco de 500 ml. Não queria comer nada, só queria pensar num jeito de sair dali. Senti alguém me tocando no ombro, era a Tainá:

– Pega, você precisa comer também. – Ela me entregou metade da barra de cereal e meio copo de suco. – Eu insisto. – Não tive como recusar, seria falta de educação se não aceitasse. Depois, o policial veio até nós e se sentou numa mesa perto da janela.

– Como você sobreviveu até aqui?

– Estava em serviço no primeiro dia, eram poucos casos, a maioria de pessoas mordendo as outras sem motivo aparente, simplesmente iam, mordiam e comiam a carne. Prendemos essas “pessoas” e levamos os feridos para o hospital. Tive folga no dia seguinte e, quando voltei, soube que as pessoas mordidas no hospital estavam atacando outras pessoas, essas pessoas depois de um tempo se levantavam e mordiam a primeira pessoa que visse. Recebemos ordem direta do governador para conter esse surto, que ocorria em todo o país, e déssemos assistência aos necessitados. E que, em hipótese alguma, entrasse em contato com os infectados, era uma nova doença e não tinha cura. Além disso, não houve novas informações. Demos ajuda a várias famílias, vimos várias pessoas serem devoradas e que tiros não surtiam efeito. Meu último caso foi de ajudar duas garotas, você provavelmente não conhece, Maria Clara e Maria Rita, era amigo da família, tratava elas como se fossem minhas filhas, só que não as encontrei na casa, só os pais infectados. Saí de lá com o meu parceiro e nos separamos, ele foi até a casa dele ver se sua mãe e sua esposa estavam vivas, eu ia em direção a minha casa, mas me deparei com uma multidão de infectados. Corri até a delegacia, me tranquei no segundo andar, atraí eles até a sala no final do corredor, dezoito deles, e os tranquei. Comi os salgadinhos na máquina ali e a água na outra. Mas ontem acabaram os salgados e tenho apenas duas garrafas de água.

Contamos a nossa história até aqui e ele entendeu que o exército não nos liberou para usar armas, mas eles não nos repreenderiam e nos ensinaram algumas técnicas de combate e defesa pessoal. Foram dormir e fiquei de vigia. Depois ele vigiou, mas mesmo assim dormi com uma faca debaixo da mochila. Acordei cedo e ainda esperamos essa multidão ir embora, cerca de 200 ficaram pelo caminho. Se não conseguirmos uma distração logo, vamos ficar presos eternamente aqui dentro.