4 de novembro de 2015 – Dia 140 – 21h30min

Fomos até o local da “guerra”, quando adentramos não tinha muitos zumbis, mas quando terminamos de carregar os caminhões, uma manada dessas coisas apareceu. Estava no segundo andar de uma casa, junto com a Jane e uma das mulheres que eram do acampamento, eles foram embora e deixaram a minha moto lá. Era impossível chegar até a moto sem que fossemos atacados pelos zumbis. Decidi abandoná-la e fugir pelo telhado. Passamos por trás da casa e corremos até a floresta, alguns nos perseguiam, mas não causavam preocupação. Não podíamos ir em direção ao acampamento e por em risco a segurança deles, então corremos na direção oposta. A vegetação era um pouco fechada, vez ou outra uma delas se cortavam com os galhos; nada mais grave que uns cortes finos e arranhões, mas se tornaria um problema por que eles sentiriam a nossa presença mais facilmente. Depois de horas andando, chegamos a um pequeno vilarejo, completamente abandonado, com casas com telhado e/ou paredes quebradas, cacos e corpos por toda à parte, mas sem sinal de humanos e zumbis. Já era tarde então escolhemos uma de dois andares, ficamos no segundo andar e eu estou de vigia. Só consigo escrever por que não saio do acampamento sem o meu diário (se posso chamá-lo assim) e um lápis e borracha. O local parecia uma daquelas vilas onde pessoas moravam sem tecnologia, as casas eram de superadobe, telhados de palha, vasos de barro com água e alimentos, alguns ainda podiam ser utilizados, plantações de diversos tipos; foi muita sorte ter encontrado um lugar como esse, estranho não ter ninguém...

11 de julho de2015 – Dia 23 – 08h13min POV Toni

Acordei e essas coisas ainda estavam bloqueando a rua, tinha diminuído cerca de 200, mas ainda eram muitos. Pegamos as nossas armas, conferi se estava tudo carregado e no seu devido lugar, e fui até a janela, corria o risco de me verem, mas precisava encontrar uma saída, e rápido. Observei a Tainá, ainda estava dormindo, o policial tinha dado uma olhada no corredor, voltou e disse que tinha apenas um zumbi, estava parado na barricada e que usou a sua faca para acertá-lo. Não consegui pensar em nada, então deixei minha cabeça descansar e descontrair um pouco.

– Ainda não sei o seu nome.

– Meu nome é Paulo de Oliveira. E o seu?

– Antônio de Souza, mas me chame de Toni. Onde conheceu essas duas garotas, as Marias?

– Como disse, era amigo da família, as conheço desde que eram crianças, brincavam com os meus filhos, Renata e Renato, acredite, eles são gêmeos. De uns tempos pra cá, a Rita, uma garota loira de olhos azuis, a mais nova, ficou estranha, não queria chegar perto da nossa família, era agressiva, mas mesmo assim ainda ia a casa deles. Por que o interesse?

– Não te contei algo ontem, fiquei com receio de que fosse apenas um desconhecido tentando se aproveitar da situação. Aconteceram algumas coisas, mas elas estão vivas, estão no nosso QG. Só temos que sair daqui logo. – Ele ficou surpreso e feliz por elas estarem vivas. Murmurou alguma coisa e se sentou em uma mesa. Voltei a olhar para fora o único jeito de fugir era sair pela janela, andar na lateral da delegacia e pular para o telhado da casa próxima, atraindo os zumbis na direção contrária, os deixando fugir. – Onde ficam as armas que vocês apreendem?

– Na sala onde eu prendi os zumbis.

– Você tem um depósito onde guardam armas e munição?

– Tem, mas está com cerca de 10 zumbis, então eu o tranquei, conto apenas com esse pente de munição.

– Tá certo. – A Tainá acordou e se juntou a nós. Contei meu plano a eles, falei que iria, mas pegaríamos as armas primeiro e colocaríamos no único carro do lugar, um carro forte. Estranho numa cidade pequena ter um carro forte. – De onde é aquele carro forte?

– Apreendemos de um grupo de bandidos, a empresa não veio buscá-lo, então ficou aí.

– Ainda funciona?

– Sim, mas as chaves estão junto com as armas, é uma prova do crime.

Passamos pela barricada, descemos e não encontramos muitos zumbis lá dentro e nem no pátio, tínhamos fechado o portão. Voltamos recolhendo as armas e munições dos mortos caídos e colocamos em bolsas, sacolas, o que desse. Fomos primeiro no depósito, abrimos e matamos doze zumbis, não foi muito difícil. Encontramos lá lanternas, coletes, cassetetes, algemas e o principal, armas e munição, revólveres cal. 38spl e .44 Magnum; pistolas de calibre .380, .40, 9mm e .38spl; Fuzis de assalto cal. .762 e .556 NATO, assim como espingardas de repetição e escopetas cal. 12. Tinha também equipamento da tropa de choque (escudos, granadas de fumaça, de gás lacrimogêneo, de efeito moral, armas com balas de borracha, etc.). Carregamos tudo para fora e colocamos no pátio, perto do carro. Peguei uma das granadas de efeito moral e coloquei na bolsa. Subimos e eles abriram a porta, matamos todos, recolhemos tudo e colocamos no carro. Subi e dei prosseguimento com o plano, Consegui chegar até a casa vizinha, pulei de telhado em telhado até chegar à última casa, de lá peguei a granada de efeito moral e joguei na rua. Assim que ela explodiu, atraiu todos os zumbis da frente da delegacia e outros, quando me viram, tentaram de todas as formas me pegar. Voltei até a delegacia, eles já tinham aberto o portão e estavam me esperando.

– Vão na frente, tenho que pegar algumas coisas ainda.

– Vamos embora, voltamos e pegamos depois. – A Tainá parecia preocupada comigo.

– Prometi levar uma coisa antes, e nunca quebro minhas promessas. Leva o rádio, não vou precisar.

– Temos que ir à casa do Paulo ainda.

– Tá certo. Me encontrem na praça, chego lá em meia hora.

Há muito custo eles foram em direção à praça. Fui em direção a um supermercado. Dei uma conferida na loja, tinha sido saqueada, mas tinha uma boa quantidade de comida e apenas um zumbi. Atirei uma flecha nele, e recolhi alguns itens, coloquei tudo nas sacolas do lugar. Depois fui à parte de doces, tinha uma barra de chocolate e duas caixas de bombom. Coloquei na pasta, peguei as sacolas e coloquei no carrinho de compras e fui em direção a farmácia. Peguei uns medicamentos e, por fim fui à loja de materiais de construção. Peguei umas ferramentas que precisava e fui em direção a praça.

Chegando lá, eles estavam no coreto, com cerca de dez zumbis tentando alcançá-los. Atirei minhas flechas neles, matei cerca de oito, ela desceu e decapitou o primeiro, o segundo ela cortou os braços e pernas, depois acertou a cabeça, entre os olhos.

Colocamos as coisas no carro e fomos à casa do policial. Parei por um instante, vi o estado em que estávamos: imundos, o sangue daquelas coisas estava em nossos corpos, nas roupas, não tinha um local onde não se sentia o cheiro de podridão, de morte. Estávamos abatidos, acho que não tinha esperanças de encontrar os familiares do Paulo vivos.

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Chegamos em meia hora à casa do Paulo. Estava com as janelas com cortinas grossas, nem sinal de zumbis ou humanos. A casa era de dois andares, no segundo tinha uma bela varanda com redes, bancos e mesas, na porta da frente tinha um belo jardim, algumas plantas morreram, outras tinham crescido de forma desordenada, mas o que me chamou a atenção era a parede. As paredes eram de um azul vivo, se pudesse olharia pra ela durante horas sem me cansar, me trazia algo que perdemos nesse mundo: a paz. Fazia me lembrar dos momentos bons que tive com a minha família, sento que estão vivos, queria poder ir lá checar. Saí dos meus devaneios com um solavanco da Tainá.

– Vamos, quero chegar no QG ainda hoje.

Entramos fiquei com o segundo andar, o policial checava o primeiro e a Tainá olhava os fundos. No segundo andar tinha três quartos e um espaço com uma TV de 50’ e um sofá enorme. Entrei sorrateiramente no primeiro quarto, estava vazio. Entrei no segundo, ouvi um barulho vindo do armário. Olhei debaixo da cama e atrás da porta, não tinha nada, então conferi o armário. Tinha uma garotinha, tinha aproximadamente 10 anos, loira dos olhos verdes, tinha cerca de 1,30m. Estava encolhida, atrás das roupas, e quando me viu, encolheu ainda mais e começou a gritar.

– Ei, não precisa gritar, vai ficar tudo bem.

– V-Você não é um d-desses m-monstros?

– Não precisa se preocupar, não vou te machucar. – Ela me olhava assustada, acho que não acreditou em mim. – Eu não mordo.

– Tem certeza?

– Claro, vem comigo. – Ela saiu lentamente do armário, ofereci minha mão pra ela poder levantar, ela pegou, mas mostrou na outra mão que tinha uma faca de serra pequena. Ficou me encarando um instante, depois olhou ao redor, estava procurando alguém. Me ajoelhei, para ficar na mesma altura que ela. – Tem mais quantos aqui nessa casa?

– Tem o Carlos, um garoto de vinte anos, mas eu quero que ele tenha virado um desses monstros, e uma mulher, a tia Lucileide, tem 37 anos, mas não sei onde ela está.

– Vou procurar ela pra você. Por que você quer que o Carlos tenha virado um monstro? – Assim que ela foi para me responder, entrou um rapaz branco, de cabelos e olhos negros, era a versão mais nova do Paulo, só que o Paulo tem olhos castanhos. Segurava uma arma e apontava pra mim.

– Saí de perto dela!Agora! – Ele se virou pra ela. – Emilly, vem aqui pra perto do seu primo.

– Não quero ficar perto de você. Vai embora!

– Você não conhece ele, vem aqui, eu te protejo.

– Não quero, vai embora! – ela começou a chorar, não sei o que ele fez mas que foi sério foi. – Vai embora!

– A menina não quer ir. Não vou te machucar, mas abaixa essa arma.

– Não é da sua conta. Quer saber, vou atirar em você agora mesmo. – Ele destravou a arma, pulei para cima dele pra evitar que pegasse em um lugar fatal. O tiro acertou o ombro, com uma das mãos consegui tirar a arma dele. Logo o pai dele chegou com a Tainá, parecia triste, mas quando viu o filho dele, pareceu sorrir ao ver o filho.

Por sorte vesti um dos coletes da polícia, não atravessou o ombro e estava bem. Juntamos tudo e colocamos no carro forte, o Carlos pegou uma moto. Antes de partir, enterramos a esposa do Paulo. Quando fui enterrá-la, vi o pescoço dela. Tinha uma parte que estava azulada, um azul forte, dei um pequeno corte e senti, além do cheiro de sangue, o aroma de um detergente. Depois de enterrá-la, partimos para o casarão.

11 de julho de 2015 – Dia 23 – 17h56min POV Maria Rita

Vi o ônibus chegando de longe, estava manchado de sangue por toda a lateral. Quando desceram, estavam completamente cansados, sujos e famintos, mas entre eles não estava o Toni e a Tainá. A Clara entrou no ônibus, achando que ele estava pegando algo ou dormindo, mas estava apenas com algumas sacolas.

– Onde é que eles estão?

– Eles ficaram na delegacia. – A Kim se adiantou, ela parecia um pouco preocupada. – Fomos cercados por uma manada e eles disseram que podíamos ir, que voltariam assim que desse.

– Como puderam deixá-los para trás, - Ela começou a se desesperar, até parece que ele tinha morrido. – eles ajudaram vocês, c-como fizeram isso com eles.

– E atravessar uma manada inteira? Eles não são criançinhas indefesas, eles estão bem pensando num jeito de sair daquele lugar. Dê um dia pra eles. Se não chegarem amanhã às seis da tarde, vamos atrás deles, tá bem?

– Acho bom mesmo. – Saiu pisando firme e se trancou no quarto. Vi ela chorando preferi não incomodar. Mais tarde, a Clara foi até o quarto da Kim e se desculpou, ela disse que estava preocupada e perdeu a noção do que dizia, acabou em um abraço e ficaram conversando. Abri um sorriso, era bom ela conversar com outras pessoas que não sejam eu e o Toni. Assim que acabou o meu turno, às quatro da manhã, fui direto dormi, assim que deitei apaguei. Só acordei ás cinco da tarde, com a minha irmã me acordando.

– Vamos logo, estamos preparando para ir atrás deles, vamos sair as seis em ponto. Você e a Kim vão ficar vigiando.

– Justo eu? Não sei atirar, só te cobri ontem por que você dormia, se aparecesse um zumbi estávamos ferrados.

– Só vai ajudar ela, não precisa se preocupar.

– Tá bom, já to indo.

Tomei um banho demorado, vesti uma regata e um short jeans e tomei um café. Decidiram partir mais cedo, subi na varanda pra ver se tava tudo limpo, quando vi um carro forte e uma motocicleta vindo para cá. Desci e avisei eles, decidiram esperar. Quando chegaram saiu da cabine do motorista o Paulo, um amigo da família, uma garotinha que não conhecia e a Tainá. Depois abriu a porta de trás e o Toni saiu de lá foi direto na Clara e deu um beijo de cinema nela.

– Por que demorou tanto? Quase me matou de preocupação.

– Não podia esquecer isso. – Tirou da bolsa uma barra de chocolate. – Deu sorte era a última do estoque.

– Seu bobo, não precisava.

– Então tá, acho que vou comer ela sozinha.

– Tava brincando idiota. - Deu outro beijo nele, eles vieram na minha direção, me deu um abraço. Depois o motoqueiro chegou. Parou a moto perto do carro e tirou o capacete. Não era possível. Puxei a arma da coxa do Toni e apontei pra ele.

– Vaza daqui ou morre.