O começo do fim

Capítulo 5 - Second Season


2 de dezembro de 2015 – dia 168 – 13h19min – POV Brenda

Eu e o Bê estávamos dentro de uma sala grande, parecia ser uma sala de espera, tinha cerca de dez Walkers, mas conseguimos matar todos. Eu escorei em uma parede e escorreguei lentamente até ficar sentada no chão, ele se jogou em uma cadeira perto de mim.

– Será que essas coisas não param ou, sei lá, eles morrem naturalmente?

– E tem algo de natural em um zumbi? – Ele respondeu olhando para o teto.

– Eu sei, mas será que se eles ficarem sem se alimentar por um longo tempo eles vão morrer?

– Bom, tira a prova por aqui, eles não devem se alimentar por o que, uns três quatro meses? Mas eles ainda estão de pé. Acho que só daqui a alguns anos que eles devem de morrer, isso se a gente tiver sorte. – “Sorte, sei.” Pensei um pouco amarga. Alisei a minha barriga, não devia de comer a algum tempo, foi quando lembrei que eu podia ter engravidado. “Não deve de ser nada, só se atrasou por... por... estranho”. A verdade é que eu não me lembrava da última vez que eu menstruei, acho que foi um pouco depois de termos chegado a Resistência, há uns três meses. “Não, eu não tô grávida mesmo, já teria começado a crescer.”, parei pra pensar mais um pouco. “Será?”.

– Amor, você acha mesmo que eu tô grávida?

– Você, me chamando de “Amor”? É pra glorificar de pé!!!

– Viado, eu tô falando sério.

– A gente tira a prova assim que a missão acabar. Eu conversei com o Toni e...

– Você o que? Eu nem sei se isso é verdade e você já falou com alguém?

– Nossa! Você tá mais histérica que o normal, relaxa! Eu confio nele.

– É bom mesmo você tá certo. – Parei pra pensar um pouco, o conheço desde que ele chegou a cidade, ele até que era confiável. – E o que ele disse?

– Ele permitiu, qualquer coisa ele vai com a gente com alguma desculpa, tipo pegar suprimentos.

Descansamos por mais alguns minutos, depois seguimos por um longo corredor. Matamos a maior parte dos Walkers que encontramos, mas algumas salas estavam fechadas, então não era preciso conferir. Chegamos ao tal depósito que a Maneta falou, vimos o Toni encostado na parede mexendo em alguma coisa, não espera...

– Um celular? Sério? Eu posso pegar? – Eu devo ter assustado ele, pois ele sacou uma kunai e ia arremessar ela.

– Ah, são vocês. - Ele a guardou e entregou o celular pra mim. – Pode, mas já aviso que só tem um jogo decente e quanto à música, bom... nada contra o funk e pagode, mas você sabe que eu odeio esse tipo de música.

Me escorei no mesmo canto que ele estava antes, de lá dava pra ver os três corredores. A Laura tentava de toda forma abrir a porta, mas parece que até agora não tinha conseguido. Voltei a minha atenção pro meu celular. Quanto aos jogos, tinha apenas dois: o Tetris e um jogo muito ruim, tinha que ficar cuidando dos animais. Quanto a música, não tinha nada melhor pra fazer, então liguei o fone e coloquei uma playlist qualquer, enquanto jogava. Depois de quase descarregar o celular, levantei a cabeça pra ver se elas chegaram, mas continuava a mesma coisa.

Vi o Toni e o Bê conversando próximo do corredor da direita. Retirei o fone e me aproximei um pouco pra poder ouvir a conversa.

– ... demorando muito, não acha?

– Com certeza. Pensei em ir dá uma olhada, mas vamos esperar mais um pouco. – O Toni olhou para trás, eu me joguei na parede e fingi jogar. Ele passou o olho por mim e focou na garota logo atrás. O Bernardo fez a mesma coisa, ela ainda tentava abrir a porta. – O que você acha dela?

– Não sei, parece meio rebelde, mas não acho que seja um perigo pro nosso grupo.

– Não quanto a isso. O que você “acha” dela? – O Toni falou fazendo aspas com as mãos.

– Ahhh, muleke isperto. – Ele deu uma olhada de cima a baixo. Eu mato esse “muleke”. - Até que ela é gatinha, por que a pergunta?

– Você tem algum tipo de transtorno, problema de memória? Acabei de te contar.

– Bom, - Ele colocou a mão no queixo, como se estivesse pensando. Depois de um tempo ele voltou a olhar o corredor. – Talvez. Mas você sabe que a...

– Eu sei. Mas não sei ainda.

– Eu não to falando dela, to falando da outra. – Garotos. Depois dizem que é a gente que fala em código. De quem eles tanto falam? – Não tem nenhum interesse?

– Bom, ter assim eu tenho, mas você sabe como é, tudo pra mim é meio complicado.

– Anhan sei... – Voltaram a encaram o corredor vazio. – Não consegue saber de nada por aqui?

– Deixa eu tentar de novo. – Ele fechou os olhos por alguns instantes. Só se ouvia o barulho dos Walkers e vez ou outra a Laura tentando abrir a porta. – Só mais dessas coisas. – Ele deu um longo suspiro. – Acho que eu vou lá.

– Sozinho? Nem fudendo. Eu vou com você.

– Acho melhor ficar cuidando da Brenda. – Ele caminhou até a Laura. Ficou observando ela uns instantes, até ela perceber e parar.

– Não entendo, já arrombei diversas portas, mas essa não abre.

– Porque essa funciona com um sistema diferente. – Ele se ajoelhou, pegou os dois ferrinhos, mexeu durante alguns segundos até que deu pra ouvir um clique na porta.

– E me deixou ficar todo esse tempo aqui? Depois pergunta...

– Quer ficar aqui ou me ajudar em uma coisa?

– Em que? – Essa garota conseguia ser pior do que eu. – Não agüento mais ficar aqui.

– Vamos atrás das outras. – Assim que ele acabou de falar, as duas apareceram sujas de sangue e com uma garota escorada na Tainá. Ele se levantou rapidamente e foi de encontro as garotas. Pegou a novata pelo braço e a colocou em uma cadeira próxima. Ele nem checou a sua pulsação, ele a encarou por alguns instantes, ela parecia muito fraca, ainda usava aquela roupa de hospital. Depois de alguns segundos ele pegou uma garrafa com um líquido amarelo na mochila e deu pra ela beber. Ela deu um grande gole na garrafa, mas vomitou logo em seguida, depois ela foi tomando devagar, parecia que não estava acostumada com aquilo.

Nisso o Bernardo chegou com uma maca, eles a ajudaram a se deitar. Eles se reuniram com a gente assim que ela adormeceu. Toni conferiu as duas garotas rapidamente.

– Vocês estão bem? – Ambas concordaram. – Antes de entrar, podem nos explicar o que houve?

2 de dezembro de 2015 – dia 168 – 12h52min – POV Tainá

Optamos pelo corredor da esquerda. Ele tem menos salas, mas é onde fica a lavanderia e o refeitório, então podíamos achar alguns suprimentos antes de entrar no depósito. Encontramos muitos zumbis pelo caminho, e a Clara só era boa a curta distância, então que matei muitos deles.

Paramos em frente a uma porta, ela tinha uma peça acrílica muito manchada de sangue. Guardei as minhas shurikens e saquei a minha katana. A Clara sacou a sua pistola, ela tinha um silenciador. Ela olhou pra mim e acenou indicando que estava pronta. Abrimos a porta do refeitório, mas ao contrário do que nós esperávamos, todos os zumbis estavam mortos. Caminhamos com cuidado entre eles e fomos até a cozinha do lugar. Tinha apenas o corpo de um cozinheiro jogado e um canto qualquer.

Conferimos todos os armários, a despensa, mas não havia nada lá dentro, alguém já tinha limpado tudo.

– Será que ainda tem os remédios no depósito?

– Eu espero que sim, muitas pessoas dependem deles.

Eu me sentei no chão de frente pra porta do refeitório, ela se sentou do meu lado. Ela devia estar grávida há uns quatro ou cinco meses, a barriga já cresceu um pouco. Não sei com o que o Toni tem na cabeça pra arrastar ela pra essa missão e colocá-la justo comigo. Ela olhou pra mim e deu uma risadinha, foi quando eu percebi que estava encarando a barriga dela.

– Quer tocar? – Ela pegou a minha mão e colocou sobre a barriga. – Mas eu acho que não dá pra sentir nada ainda. – Eu sentia o pequeno coraçãozinho bater, era, sei lá, algo muito bom de se sentir. Mas eu retirei a minha mão rapidamente, não queria pensar nisso agora. Ainda mais por ela ter... É não vou pensar mesmo nisso agora. Ela me encarou por um instante, me analisando de alguma forma, depois abriu um largo sorriso. – Você gosta dele!

– Dele quem? – Senti a minha pele queimar, pra felicidade dela. – E se gostar?

– Vai em frente.

– Você não vai nem tentar?

– Eu disse pra você ir em frente, não disse que não tentaria. Mas tenho quase certeza de que não vai me querer de volta. – Ela lançou um olhar vazio e triste em direção a porta. Ficou aquele silêncio constrangedor entre nós. – Não sei se foi à decisão mais certa que eu já tomei.

– Qual?

– Ficar com Maicon. Eu gostava, não, eu amo ele, mas achava certo ficar com pai do meu filho.

– E como você tem certeza de que o seu filho não é do Toni?

– Não tenho. Mas só tive certeza um dia antes do Toni acordar, tinha rolado tudo aquilo com a Maicon, então você já viu... – Ela voltou a encarar o vazio por um tempo, mas depois se voltou pra mim. – Por que você nunca falou nada com ele? Aposto que ele teria topado.

– Eu tinha um pouco de receio de que ele não aceitasse e, quando criei coragem, vi vocês dois se beijando, então desisti.

– Você foi muito bobinha. Não pode desistir fácil daquilo que você quer.

Ficamos sentadas mais um pouco conversando, até que ela era mais legal do que eu pensava. Quando decidimos seguir adiante, escutamos barulho de passos no refeitório. Ela destravou a sua pistola e saquei a Katana e uma kunai. Andamos agachadas até o balcão do refeitório, tinha um vidro e por ele dava pra ver o refeitório inteiro.

Não acreditamos na cena que vimos.