Victória se aproximou dela no mesmo momento e empurrou João para longe e tocou o rosto de sua menina, Maria parecia assustada e tossiu um pouco fazendo cara feia como se sentisse dor e Heriberto tomou a frente e começou a examiná-la.

— Está sentindo dor?

Ela confirmou com a cabeça e com calma disse:

— Quem são vocês? - olhou a todos e Victória sentiu um buraco se abrir embaixo de seus pés, parecia que nunca teriam paz...

Não era possível que algo como aquilo estivesse se repetindo, podia se ver em Maria quando acordou sem a pior parte da sua memória, ela se aproximou novamente de sua menina e a olhou dentro dos olhos tocando seu rosto.

— Eu sou a sua mãe, você não se lembra de nada? - perguntou com desespero.

— Victória fique calma que pode ser temporário! - Heriberto falou confiante.

— Como posso ter calma com minha filha assim? - o olhou querendo gritar seu desespero.

— Esse é o castigo para uma pecadora! - Bernarda falou sem pena.

Victória sentiu todo seu corpo tremer e virou-se para ela, não era possível que ela estivesse falando aquilo da própria neta. Heriberto entendeu que dali não sairia nada de bom e ele saiu do outro lado da cama no mesmo momento em que Victória avançou em Bernarda, mas não conseguiu acertá-la já que Heriberto entrou no meio e a tirou do foco dela.

— Victória, não piore as coisas! - ele foi rude.

— Tire essa maldita daqui! - gritou.

Os aparelhos ligados a Maria começaram a apitar e ela começou a chorar assustada com toda aquela confusão e João se aproximou, segurou a mão dela enquanto Heriberto tirava Bernarda do quarto a força.

— Calma filha que está tudo bem! - tocou os cabelos dela.

Maria focou seu olhar nele e foi como se engasgasse com seu próprio choro, os olhos se arregalaram e ela gritou fazendo Victória correr até ela.

— Tira ele daqui... - falou em completo desespero. - Foi ele, foi ele quem me machucou!

Victória olhou para ele e logo voltou seus olhos para sua menina e a segurou para que ela não se machucasse, João se afastou de imediato sentindo todo seu corpo doer e a culpa por vê-la daquele modo quase o matou ali mesmo. Heriberto entrou novamente no quarto com a equipe medica e pediu para que ele se retirasse já que Maria gritava para que ele saísse dali e ele sai com o coração mais destruído do que quando deixou Victória no passado.

Bernarda o olhou daquele modo e se aproximou tocando seu ombro e ele a olhou com os olhos cheios de lágrimas, somente estava machucando quem mais amava em sua vida e precisava mudar ou perderia tudo novamente.

— Está na hora de voltar a ser o padre! - falou firme. - Essa vida nunca foi para você e você sabe muito bem disso!

— Eu não posso me dedicar a Deus com duvidas!

Ela suspirou fazendo o sinal da cruz.

— Você não pode servir ao mundo se não está pronto! Olha o que fez e me diga se é assim que você quer vier! - mexia com o emocional dele.

— Eu não vou suportar o ódio dela! - deixou-se chorar.

— Ela é um erro em sua vida e tudo que está acontecendo é culpa de seu pecado e daquela mulher! - rosnou. - Você precisa voltar a ser padre e salvar a alma dela e a sua! - beijou seu rosto. - Pensa bem nisso.

Bernarda o deixou ali mesmo sabendo que ele ainda não estava de alta, mas sabia que aquele momento era crucial para ele rever os seus valores e por fim voltar ao sacerdócio. João suspirou e ficou ali por mais um tempo meditando as palavras de sua mãe e a reação de Maria, logo o medico saiu e ele pediu informações de sua menina e ouviu que Maria dormia que ele precisava descansar naquele momento e que depois de mais alguns exames ele poderia ver Maria e logo ir para casa.

Ele sem escolha voltou para seu quarto e ali aguardou os exames e rezou pedindo a Deus uma direção, a incerteza que carregava em seu peito o estava sufocando e ele precisava resolver sua vida, precisava do perdão de sua menina ou não teria mais sentido viver.

(...)

NO OUTRO DIA...

Victória mal tinha conseguido pegar no sono naquela noite, velou sua menina que dormia tranquila pelo efeito dos remédios para não sentir dor e Heriberto também ficou junto a eles e somente saiu quando foi chamado para alguma emergência. Quando um novo dia raiou, ela fez sua higiene e se aproximou da cama e segurou a mão de sua menina, beijou deitando sua cabeça ela sem tirar seus olhos dela e Maria sentindo o calor de seu toque começou a abrir os olhos lentamente, piscou algumas vezes e encarou Victória que deu um sorriso para e perguntou:

— Você se lembra de mim?

Maria piscou mais algumas vezes e não tirou os olhos dela.

— Sabe o que aconteceu com você? - podia sentir seu coração acelerado com aquele silencio dela.

Os olhos dela se encheram de lágrimas e Victória também deixou que seus olhos molhassem pelo medo de sua menina ter mesmo perdido a memória.

— Meu amor, me responda! - pediu cheia de medo.

— E-Eu estava no carro quando ele bateu e... - os olhos se arregalaram. - Meu pai, onde ele está? Ele está bem? - perguntou nervosa pelas ultimas lembranças. - Mãe...

— Ele está bem e convenientemente não sofreu nenhum arranhão mais grave! - falou com raiva. - O impacto foi todo em você pela falta de responsabilidade dele por beber e dirigir!

— Foi um acidente! - deixou as lágrimas escorrerem pelos cantos dos olhos.

— Não o defenda! - foi rude. - Mas eu vou chamar o medico e dizer que acordou e se lembra de tudo! - foi para levantar e Maria segurou a mão dela. - Está com dor?

Ela negou com a cabeça e tomou ar.

— Eu quero ver o meu pai! - era quase que uma suplica porque sabia que a mãe estava uma fera com ele pelo acidente.

— Primeiro vai ver o medico e logo vemos onde João está!

— Mamãe...

— Minha filha, você é minha prioridade no momento e assim que o medico te examinar e disser que está tudo bem, eu o procuro e o trago aqui. Ta bom?

Maria não tinha escolha naquele momento e apenas assentiu deixando que a mãe fosse atrás do medico, ela suspirou e foi como se voltasse ao momento de seu acidente e as últimas palavras de João: "Eu terminarei com o pecado!". Ela fechou os olhos e deixou mais lágrimas rolarem por seu rosto, o pai queria sua morte...