— Eu quero ver o meu pai! - era quase que uma suplica porque sabia que a mãe estava uma fera com ele pelo acidente.

— Primeiro vai ver o medico e logo vemos onde João está!

— Mamãe...

— Minha filha, você é minha prioridade no momento e assim que o medico te examinar e disser que está tudo bem, eu o procuro e o trago aqui. Ta bom?

Maria não tinha escolha naquele momento e apenas assentiu deixando que a mãe fosse atrás do medico, ela suspirou e foi como se voltasse ao momento de seu acidente e as últimas palavras de João: "Eu terminarei com o pecado!". Ela fechou os olhos e deixou mais lágrimas rolarem por seu rosto, o pai queria sua morte.

Victória voltou com o medico e Heriberto também, Maria foi levada para a sala de exames e eles ficaram ali a espera dela, levou mais ou menos uma hora até que ela retornasse para o quarto e com alguns exames já em mãos foi descartado o risco e sua falta de memória tinha sido passageira. Victória agradeceu o medico e beijou muito sua menina e como prometido a ela iria atrás de João, mas Maria se recusou a vê-lo e ela não fez questão de saber o porquê naquele momento, estava era aliviada por não ter que vê-lo.

Eles ficaram ali a mimando e logo o café da manhã dela veio e eles a ajudaram a comer como a família unida que era e logo Heriberto voltou ao trabalho, mas a fez prometer que qualquer coisa o chamaria e Victória riu e o beijou muito antes de ele ir e ele a agarrou fazendo Maria fazer cara feia para eles que riram mais ainda e ele se foi. Maria chamou pela mãe e pediu que ela ficasse ali deitada junto a ela e Victória foi de imediato e a agarrou com cuidado e ficou um tempo em silencio até que a viu suspirar um pouco mais alto e a questionou.

— O que foi meu amor? - virou um pouco a cabeça para olhá-la. - Está sentindo dor?

Ela negou com a cabeça e a abraçou forte.

— Seja lá o que esteja sentindo eu quero que me conte!

Ela negou mais uma vez com a cabeça.

— Eu não vou contar porque sei que vai ficar uma fera! - mordeu o lábio pra não chorar.

— Minha filha, falando assim não ajuda em nada! - a soltou de seus braços e sentou para olhá-la melhor. - Me conta o que aconteceu? É com João? - deduziu pelo jeito dela. - Seja lá o que for me diga agora mesmo!

Maria a olhou nos olhos e não quis esconder aquilo que era tão grave de sua mãe e tinha medo que voltasse a se repetir mesmo ele sendo seu pai... Era justamente por ser seu pai que ela tinha mais medo ainda que algo lhe acontecesse já que ele tinha sempre acesso a ela e não queria ser ferida por quem mais amava.

— Diga logo! - insistiu.

Ela tomou ar e segurou a mão dela.

— Meu pai quis me machucar intencionalmente...

— O que? - reagiu no mesmo momento ficando de pé. - Me explica isso direito!

— Ele me encontrou na faculdade e estava bêbado, começou a chorar e me pediu que fosse com ele e eu fiquei com medo de que ele se machucasse sozinho e fui... - abaixou o olhar. - Ele começou a dirigir feito um louco e disse que iria terminar com seu pecado e logo tudo ficou escuro...

Victória sentiu todo seu corpo tremer com aquele relato de sua menina e começou a andar pelo quarto com uma mão na cintura e outra na testa, não conseguia acreditar que aquele maldito tinha tido a coragem de tentar machucar a própria filha e Maria se preocupou com todo aquele silencio. Parecia mentira que ele tivesse feito aquilo depois de tê-la escondido por tanto tempo, era mesmo um maldito e não merecia se quer compaixão de ninguém, por servir a Deus deveria ser um homem santo, mas na verdade era a encarnação do mal em pele de cordeiro.

— Mãe, diz alguma coisa! - falou apreensiva.

— Eu vou acabar com a vida dele! - bufou as palavras e a encarou. - Eu vou chamar a policia e você vai repetir o que acabou de me dizer!

Ela se negou com a cabeça.

— Não vou fazer isso!

Victória tornou a se aproximar dela e disse com uma frieza que era sentida de longe.

— Vai querer que ele te machuque novamente pra entender que ele não é bom? Ele pode até ser o seu pai, mas tentou te matar e se você não contar a policia o que aconteceu, ele pode fazer novamente e você pode não ter tanta sorte!

Maria começou a chorar sentido e Victória a abraçou forte enquanto a beijava onde conseguia quase a tinha perdido por conta daquele maldito, mas ele iria se ater as consequências de seus atos e ela acalmou sua menina e logo em seguida ligou para a policia. Ela ficou receosa de fazer aquilo com o próprio pai mais não podia negar que tinha medo que ele voltasse a machucá-la em seus momentos de loucura, não parecia ele dentro daquele carro, parecia possuído por algo ruim e no fim quase a matou.

Quando a policia chegou, Victória contou a situação e eles logo começaram a fazer algumas perguntas já que tinham passado ali para falar com João que relatou apenas ser um acidente e não uma tentativa de homicídio e ela chorou por ter que ouvir deles que o pai tinha mentindo e ela contou como tinha sido tudo e nos mínimos detalhes e eles afirmaram que ele seria preciso naquele mesmo dia. Victória agradeceu e para sorte deles e azar de João, ele adentrou o quarto e ao ver os policiais temeu pelo que viria, mas não podia fugir de seu destino e parou esperando que falassem, Victória sentiu o ódio tomar conta de seu ser e nem pensou duas vezes antes de avançar nele e sentar tapa em sua cara e onde mais pegou.

— Maldito! Desgraçado! - gritou com ele que apenas se protegia dos tapas dela. - Como teve coragem de fazer isso com nossa filha?!

O policial a tirou de cima dele e a levou para o outro lado do quarto.

— Você vai apodrecer na cadeira! - o peito subia e descia com aquele arroubo. - Vai se arrepender de um dia ter passado pelo meu caminho! - falou com todo ódio que tinha dentro de si naquele momento.

— Eu estou pronto para receber a minha penitencia! - olhou para o outro policial. - Eu sou culpado do que me acusam! - estendeu os braços para que colocassem a algema nele.

— Maldito! - voltou a esbravejar enquanto ele era algemado.

Maria deixava suas lágrimas molharem seu rosto e não teve coragem de olhar para o pai e João antes de ser levado disse:

— Me perdoe minha filha, me perdoe! - falou com desespero.

— Nem Deus irá te perdoar! - gritou aquelas palavras. - Tire ele daqui! - se soltou do policial e foi até a cama para amparar sua menina. - Já acabou minha filha e agora você estará segura! - respirava pesado.

— Eu só queria ser feliz com vocês todos em paz!

— Você vai ser, mas sem ele! - disse certa de suas palavras. - Vai ser a mulher mais feliz e eu vou me encarregar disso, minha filha! - beijou seus cabeços. - Agora fique calma porque não te quero passando mal!

Maria se agarrou mais nela e fechou os olhos como se aquilo fosse fazer aquela dor passar, mas sempre que fazia aquilo as imagens do acidente vinham em sua mente e ela chorou mais agarrada a Victória que segurou suas lágrimas querendo que Heriberto estivesse ali para apoiá-las, mas ele estava em cirurgia e não sabia de nada que se passava, mas ela sabia que quando ele descobrisse iria ficar uma fera e se ela tinha reagido daquele modo, ele iria ser duas vezes pior já que nunca tinha gostado de João. As duas ficaram ali dando força uma para a outra e logo Maria adormeceu em meio a suas lágrimas e Victória ficou ali velando o sono de sua menina enquanto a acariciava cheia de amor...