Era uma noite chuvosa e ela andava pelas ruas e chorava desesperada, Victória nunca pensou que poderia sentir tamanha dor, mas naquele momento era como se o mundo tivesse a apedrejando a cada nova gota de chuva que caia sobre seu corpo. Estava desesperada e mal conseguia enxergar a frente, foi atravessar a rua e um carro quase a pegou.

Era uma dor tão profunda que ela só fez chorar e recuou saindo da rua, andou por muito tempo até que chegou a igreja e lá estava ele de joelhos rezando. Certamente pedindo a Deus que perdoasse seus pecados e a boca dela torceu de rancor por aquele maldito homem de Deus.

— Rezando para que Deus perdoe seus pecados? - a voz soou rude enquanto tentava controlar seu choro.

João virou-se e a olhou ali toda molhada e levantou querendo saber o motivo dela estar ali e daquele modo. Se aproximou e ela recuou.

— O que aconteceu com você? - estava preocupado.

Victória não pensou naquele momento que ele era um homem de Deus e o rosto dele latejou com o tapa que ela deferiu em sua face. Ele virou o rosto e deu graças a Deus que estava somente os dois ali, respirou fundo e a olhou com a mão no rosto.

— Por que? - foi firme. - Por que não me contou que era ela? - berrou. - Quanto mais tenho que pagar pelo pecado de me deitar com um homem santo? - dos olhos saíram ainda mais lágrimas.

— Eu não podia te contar! - tentava manter a calma já que ela não a tinha. - Minha mãe me contou em segredo de confissão.

Victória estava tão transtornada que avançou nele batendo em seu peito sem se importar com mais nada, apenas deixava que sua dor fosse sentida e ele nada fez apenas deixou que ela descontasse sua dor nele e quando ela por fim não tinha mais forças e as pernas falharam, ele a amparou com ela indo ao chão de joelhos.

A dor era tão aguda que mal conseguia respirar, mas ela não queria o contato dele em seu corpo, queria a distância e o empurrou caindo sentada no chão. Ele podia sentir a dor dela, mas não podia fazer nada, era um homem de Deus e seus votos pesavam nele e a ver daquele modo o deixava ainda mais arrependido.

— Eu a destruí... eu destruí minha própria filha e a culpa é sua e da maldita de sua mãe! - o olhava do chão. - Maldita hora em que me deixei levar por esse amor que somente me fez sofrer! - os olhos estavam pesados pelo choro e o ódio dele.

— Victória, eu te disse muitas vezes para não ser tão má... - tentava usar as melhores palavras e ela voltou a estar de pé.

— Maldito infeliz! - gritou novamente. - Você e sua mãe vão pagar por tudo que me fez! - respirava pesado e passou a mão no rosto limpando as constantes lágrimas que saiam de seus olhos. - Eu vou conseguir tudo de novo e nesse dia vocês dois ficaram de joelhos em minha frente pedindo perdão. - sentenciou.

— Eu não sou seu inimigo, Victória... - falou com pesar por ver tanto ódio dentro dela.

— Passa a ser neste momento! - não média seu ódio e muito menos suas palavras.

Ele suspirou sabia o quanto ela estava destruída e não levaria em conta aquelas palavras, esperaria até que ela estivesse mais calma para que pudessem conversar e resolver aquele momento que era tão importante para ela e tão doloroso.

— Não é assim que vai conquistar o amor de Maria...

— E o que você sabe de amor? - sorriu com deboche. - Vive rodeado de uma amargura sem tamanho e acha que sabe o que é amor? - estava ferida e queria ferir.

— Eu sei do amor de Deus e sei também que com esse ódio só irá afastar ainda mais Maria de você!

— Não fale como se soubesse o que é certo ou errado quando você foi o primeiro a esconder a verdade de mim! - respirava pesado. - Que Deus me perdoe por te odiar tanto, João Paulo. - e com essas últimas palavras ela se virou para sair dali e enfrentar novamente aquele chuva.

João até tentou fazer com que ela voltasse, mas ela não deu ouvidos a ele e apenas se foi. Ali não era o melhor lugar para ela e se continuasse ali pecaria ainda mais por seu ódio contra um sacerdote. Victória caminhou e sua cabeça fervia com tantos pensamentos e pensou em voltar até a casa de Maria, mas não era o melhor momento para voltarem a se ver e ela caminhou em busca de um táxi, mas não o encontrou.

A rua estava deserta e quando viu os faróis de um carro, ela foi um pouco mais para o meio da rua achando que pudesse ser um táxi, mas para sua desgraça era somente um motorista bêbado que não a viu, pois virava sua garrafa de cerveja e o pé foi ainda mais fundo no acelerador e em um piscar de olhos ela voou sobre o capo daquele carro caindo ao chão desacordada e o homem achando ser apenas um animal que ele havia pegado se foi sem prestar socorro ou se quer ver o que tinha atingido...