O Verdadeiro Lar - A Luz De Safira

O Perigo Cerca Por Todos Os Lados


Depois daquele momento de alegria, quando o Vale da Paz fez jus à seu nome, os guerreiros do Palácio de Jade voltaram à seu lar. Todos se desejaram boa noite e entraram cada um em seu quarto.

Tigresa se trocou, abriu a janela e ficou algum tempo olhando a noite, até que sentiu sono e se viu obrigada a dormir. Fechou a janela, deitou-se e por alguns instantes fitou o teto. Sem perceber, desceu suas patas até seu ventre e depois virou para o lado, pegando no sono.

Na Cidade Proibida, a família de Hai Li foi a última a se retirar quando a festa terminou. Ele se despediu de Ayra que não estava muito feliz com o que ouvira de Rin e já o avisou que conversariam no dia seguinte. Xue se retirou para seu quarto, acompanhada de Ju. O imperador já havia esquecido suas preocupações, até mesmo o que seu velho amigo de infância planejava.

Foi direto para sua cama depois de trocar suas vestimentas. No dia seguinte tinha muito trabalho cuidando do povo chinês, uma boa noite de sono era essencial.

Em Yu Qin, Po e seu pai estavam na mesma situação. Cada um em seu quarto descansando de tantas coisas. Jing-Quo dormia tranquilamente, enquanto seu filho, que mal acabara de pregar os olhos, já sonhava com comida e murmurava coisas incompreensíveis.

Na fortaleza das irmãs Wu, Fa Huo estava indo à torre do espelho. Foi a hora que o crocodilo aproveitou para correr até seu novo amigo.

Desceu as escadarias até as celas e parou em frente àquela na qual se encontrava o único prisioneiro. A luz pálida da lua iluminava o corpo dele, deitado em um canto da cela onde a janela permitia iluminar.

- Olá – chamou.

O ser apenas abriu os olhos e virou o corpo para o crocodilo. Soltou um longo suspiro e se levantou, aproximando-se das barras.

- Alguma novidade? – Disse com sua voz grave e em tom sério.

- Sim. Ele planeja voltar à Cidade Proibida pra buscar alguma coisa pro plano dele de impedir alguma coisa...

- Impedir o que? Tem alguma ideia?

- É alguma coisa com a líder dos Cinco Furiosos e o Dragão Guerreiro. Ele quer impedir alguma coisa que eu não tenho certeza do que é.

- E me diga, ele já fez alguma coisa?

- Ele fica mandando grupos de bandidos pra onde o Dragão Guerreiro mora. Sempre paga lutadores daqueles clubes de luta proibidos para se juntarem e atacarem as terras de Yu Qin.

- Pra que isso? – Disse o ser, mais para si mesmo do que para o crocodilo que o ajudava – será... ?

- O que?

- Nada. Tem como me tirar daqui com o espelho?

- Hoje não. Na próxima vez que ele for embora você poderá sair, mas sozinho. Não vai ter como levar o espelho. É pesado e os outros lutadores vão te encontrar por causa do brilho azul que ele tem. Eu não posso deixar ela aqui...

- Deixar quem?

- Minha irmã – disse com um tom melancólico e desviou o olhar do crocodilo.

Percebendo isso, o réptil se envergonhou de sua pergunta, mas a curiosidade ganhara sua razão. Então, preferiu mudar de assunto:

- E... por que o espelho tem esse brilho? – Perguntou o jovem crocodilo curioso.

- É a pedra de Safira que prende alguém no espelho. Ela está presa, eu prometi que não a deixaria sozinha.

- Você vai e eu cuido dela, Fa Huo não vai conseguir uma substituta.

- Ok, eu preciso buscar quem nos ajude e impedir Fa Huo de fazer mal a eles.

O crocodilo se retirou, o avisaria assim que Fa Huo partisse e isso demoraria alguns dias. Valia a pena esperar já que era para um bem maior.

Na torre do espelho, o panda estava sentindo prazer em torturar a pobre criatura.

- Bem, mostre-me quando Mestre Tigresa partirá para a Cidade Proibida e o caminho que tomará...

À contragosto a fêmea mostrou a ele a imagem de Shifu lembrando-os que viajariam no dia seguinte, no caso, na próxima manhã. Os viu chegar à Yu Qin e foi quando viu Po abraçando sua esposa ao reencontrá-la depois de dias separados.

Fa Huo sorriu com malícia.

- Hm, quer dizer então que ela vai passar perto de Gongmen City antes de ir para o centro da China? Vou mandar uma surpresa para ela... quem sabe, fazendo-a lutar um pouco, acabe com meus problemas.

Dito isso, se dirigiu à porta, mas a luz brilhanto forte por um instante o deteve. Ao olhar para trás, ainda com o mesmo sorriso mau, viu o rosto da fêmea deformado pela raiva. Ela tentava dizer alguma coisa.

Ele voltou e tocou na moldura do espelho se concentrando por um momento e isso permitiu que ele a escutasse.

- Você não pode fazer isso! Eu abandonei tudo pra que você não os machucasse... deixe-os em paz!

- Infelizmente não posso... ela sobreviverá, não posso garantir o mesmo sobre o filhote.

- Fa Huo, Deixe-o viver! Seu miserável...

- Se ela conseguir se conter ou se tiver a sorte de o filhote ser forte o suficiente... deixo, claro, mas isso vai me forçar a fazer outra coisa e se for o caso, esses dois guerreiros não estarão juntos até a próxima vida.

- Monstro desprezível, não vai conseguir. Eles vão vencer você, o seu fim está a caminho e você sabe.

- E é justamente isso que quero evitar, que meu fim chegue... ainda resta tempo para que eu consiga destruí-lo até porque há coisas que, você sabe... o destino fará por mim, já que aquele panda idiota não conseguiu declarar o novo líder panda, então, veremos...

Tirou a pata para não escutar mais nada do que a fêmea diria e saiu do quarto do espelho.

-

A noite passou tranquilamente e o céu clareava. Ayra abriu os olhos ao soar do gongo e bocejou. Não aguentaria ficar na cama por mais que ainda tivesse sono.

Se espreguiçou e levantou para saudar o novo dia e ir tomar o café da manhã com sua família e sua amiga. Se trocou, colocando uma roupa simples na cor branca e se dirigiu até a sala de jantar.

Ali encontrou seu pai e Ju comendo em silêncio e se sentou entre os dois.

- E Xue?

- Ela comeu e saiu dizendo que iria meditar - respondeu Ju.

- Hm... Ju - chamou Ayra - depois que comermos e acharmos Xue, vocês me ajudam a escolher o modelo do vestido? - Perguntou ela com os olhos brilhando de felicidade.

Zhi estava tomando chá e engasgou, assustando as duas. Ainda não estava acostumado com a ideia do casamento de Ayra, para ele, ela ainda era sua garotinha.

- Está bem, pai? - Perguntou a pantera branca com uma preocupação notável em sua voz.

- Estou sim, filha. Desculpem-me meninas, ainda não me acostumo com seu casamento - disse ele rindo um pouco.

- Ha ha, tudo bem então... vamos comer pra achar a minha irmã logo e depois de escolher o modelo, eu vou conversar com Hai Li - essa última parte disse seriamente.

- Algo errado com ele?

- Não, pai. Só preciso conversar mesmo, esclarecer umas coisas, só isso...

Enquanto tomavam o café da manhã, Xue estava sentada no jardim em posição de lótus e de olhos fechados. A cabra anciã estava ao lado dela observando seu modo de meditar e esperando ela demonstrar algum sinal de que tudo estava indo bem.

Nos primeiros minutos custava à jovem pantera se concentrar, mas uma vez em meditação, só sairia se quisesse.

Ela começou a ver imagens de sua mãe, a pantera negra de olhos dourados e conseguiu ver seu pai, um tigre branco com listras negras e olhos azuis safira como os dela. Sentiu um nó na garganta ao ver seu pai pela primeira vez na vida. Quis abraçá-lo, tentou tocá-lo, mas não conseguiu. Sabia que aquilo era apenas uma visão.

O casal estava em uma casinha simples e na cozinha, seu pai carregava um filhote branco já crescido com uma fita rosa no pescoço, que devia ser sua irmã. Enquanto isso, An cozinhava. Ela estava usando um q’pao branco com flores minúsculas azuis bordadas sobre ele e cetim nas bainhas, era difícil se lembrar dela sendo que já se foram anos de sua perda, mas sabia o quão linda sua mãe era.

O ventre dela estava um pouco arredondado. Xue se emocionou porque sabia que provavelmente era ela.

“Ha ha, tão estranho saber que tô ali”, pensava ela sorrindo. Aparentemente, por mais que ela estivesse de pé em uma das pontas da mesa, ninguém podia vê-la.

De repente, a pantera negra largou a concha com a qual mexia a panela de sopa e colocou as patas na cabeça. Colocando Ayra em um dos braços, esticou o outro para apoiar An e perguntou o que ela tinha. Era a mesma dor de cabeça que Xue teve. Até ouviu seu pai dizer:

- Uma visão de novo?

A pantera negra penas balançou a cabeça afirmando e...

- Xue!

A princesa abriu os olhos rapidamente procurando onde era o incêndio. Depois que passou o susto, conseguiu encontrar quem o chamou.

- Ayra! Não me assuste, eu estava meditando...

- Desculpe. Vem me ajudar a escolher meu modelo de vestido? – Pediu ela com os olhos brilhantes.

Xue apenas revirou os olhos, fazendo com que Ju risse um pouco de sua atitude. Ela se levantou, fez reverência à Fala Macia e então partiu com sua irmã e sua amiga.

- Quem é a cabra? – Perguntou Ju.

- Uma amiga.

-

No Vale da Paz, os habitantes se despediam de seus guerreiros, dando as boas-vindas aos defensores temporários do vale, que vieram da academia Lee Da. Mestre Shifu deu instruções aos mestres que ficariam ali e Mei Ling seria a líder do grupo que defenderia o vale, enquanto Mestre Xiaoxi tomaria conta das tarefas do panda vermelho.

- Não podemos ir com vocês? – Perguntou Mei.

Essa pergunta deteve o caminho de Víbora que virou-se para a irmã com um olhar calmo e um sorriso.

- Não, vocês vão ficar aqui treinando. Assim que acabarmos a missão, Mestre Shifu se encarregará do treinamento.

- Ah, mas por quê?

- Porque vocês tem veneno, mas não sabem lutar – esclareceu a furiosa.

- Mas...

- Já teremos que defender a doutora no caminho e a última carta de Po disse que tem muitos bandidos por lá – comentou Shifu sereno – não podemos arriscar a vida de vocês. Seu pai confiou seu treinamento à mim, não posso romper com minha palavra.

As duas entenderam.

Os guerreiros da Lee Da e as irmãs de Víbora fizeram reverência para os furiosos e o Grão-Mestre, que se foram para o vale logo depois.

Quando terminaram de descer as escadas, foram para a rua onde ficava a casa de Mi. Viram a médica se despedir de seus dois filhotes e de seu marido. Já havia contado que teria que ir com eles pela segurança do bebê que Tigresa espera, coisa que apenas seu marido sabia, porque ficaria tomando conta dos filhos. Ele beijou a testa de sua esposa e então ela se encontrou com os mestres para iniciar viagem, depois que Tigresa se despedisse de seu sogro.

A felina ainda não entendia como era possível que estivesse grávida e queria muito contar para o futuro papai.

Por sua parte Shifu esperava apenas que não houvessem problemas, sabia que seria ruim para o filhote se Tigresa sofresse.

“É melhor que esse panda tenha escolhido o líder”, pensava ele.

-

No salão do palácio, Ayra esperava pacientemente que seu noivo chegasse. Estava sentada na escada brincando com a barra de seu vestido quando ouviu a porta abrir. Era Hai Li que estava entrando com o semblante desconfiado encarando-a. Por sua vez, a pantera estava séria.

Ele se aproximou e se sentou ao lado de Ayra, deu-lhe um beijo ligeiro e esperou o que ela tinha a dizer. Pensava que certamente não seriam boas coisas.

- Desculpe o atraso, tinha muito trabalho hoje.

- Por que você fez aquilo?

- Você quer dizer, do roubo?

- Sim. Me explique, por favor, porque não quero imaginar que você está comigo porque serei coroada imperatriz.

- Não... não estou com você por isso, eu nem sabia que estavam procurando um noivo pra você. Nem te conhecia quando você foi na loja da minha família – afirmou ele, parecia desesperado para que ela acreditasse.

Não queria perde-la de jeito algum. Contou-lhe tudo, já que Rin só contou as partes podres do acontecimento. O rosto de Ayra ainda era sério, mas seu olhar começara a mudar, até que relaxou por completo, dizendo que devolveu as joias porque não queria fazer isso com alguém tão bom quanto foi a imperatriz An, ainda mais, já sendo apaixonado pela pequena dona daqueles belos olhos azuis.

O leopardo tomou a pata de Ayra entre as dele, seu rosto refletia seriedade. Ela sentiu sinceridade nas palavras dele e ele tinha razão, eles nem se conheciam, não sabiam nada um do outro até que ela revelou seu rosto. Não podia acusá-lo de querer estar com ela por interesse.

- Confia em mim?

Ela pensou encarando aqueles olhos castanhos que chamavam tanto sua atenção e, enfim, respondeu:

- Sim, eu confio em você – sorriu.

Ele também sorriu e a abraçou. Passaram mais algum tempo juntos até que a noite caiu. Hai Li teve que ir embora, sua família o esperava. Já era hora do jantar.

Dois dias se passaram. Era o meio da manhã e justamente nessa hora, tudo em Yu Qin estava calmo. O panda julgava que seria uma boa hora para contar à seu pai que escolhera o cozinheiro Ho, que se casaria com Tao Li. Seria perfeito. Ele entendia muitas coisas, era inteligente assim como sua noiva e Po pediu que ele aprendesse kung fu.

Ho nem suspeitava o motivo, mas gostou da ideia. Embora os pandas não gostassem de violência, seria necessário que houvessem alguns guardas devido à tantos bandos tentando levar seus pertences.

- Pai!

Jing-Quo estava sentado na cozinha beliscando alguns pedaços de bambu, quando foi chamado.

- Diga, filho.

- Eu quero dizer quem será o meu substituto.

- E quem é?

Antes que Po pudesse dizer o nome, ouviu gritos e à contragosto correu para fora de casa vendo um bando de lobos de pelagem cinza e alguns bodes, todos com armas. Suspirou e se lançou contra eles para impedir que roubassem comida e dinheiro dos aldeões, e principalmente, impedir que os machucassem.

- Ei! – Gritou Po atraindo a atenção de todos os bandidos para ele – preparem-se para sentir o trovão – colocou-se em posição de defesa.

Os bandidos se entreolharam e depois se lançaram em Po. Eram dez armados contra o Dragão Guerreiro. Eles ainda se achavam capazes de vencer.

Um lobo às costas de Po fez descer machado afiado com a intenção de dividí-lo em dois, mas o panda foi mais rápido e o parou próximo à si segurando-o entre suas patas. Então, lançou o lobo pelo machado em cima de outros bandidos. Um bode com uma lança tentou espetá-lo, mas ele se esquivava, até ficar em uma posição boa para chutar a lança.

Foi então que Ho apareceu e começou a lutar também. Deteve alguns bodes, deixando os lobos para Po, mas quando se distraiu golpeando dois bandidos cabeça com cabeça, um lobo estava atrás dele e bem próximo. Antes que recebesse o golpe, Po chutou o bandido com força, deixando-o inconciênte depois de bater em uma árvore.

Ao olhar em volta, Ho viu que todos estavam nocauteados e os pandas e outros animais saíam de seus esconderijos.

- Obrigado, Po.

- Não foi nada – sorriu e depois suspirou.

- O que foi?

- Será que vou poder ir pra Cidade Imperial com tanta coisa acontecendo aqui? Nem é meio-dia e já tem bandidos atacando de novo...

- Eu posso cuidar disse os mestres de Gongmen também.

- Você é só um e precisa treinar um pouquinho mais e os mestres são dois, tem que cuidar da cidade e quando posso, ajudo eles também.

- Tem pandas treinando, não?

- Tem, mas ainda não estão prontos pra serem guardas. Só vou ficar fora alguns dias, espero que dê pra vocês melhorarem até lá.

Alguns animais vieram e os ajudavam a acorrentar os bandidos para enviá-los à prisão. Po ficou em silêncio, pensativo, até que a voz de Ho chamou sua atenção:

- Quando você vai?

- Quando o pessoal do palácio chegar... já era pra estarem aqui. Essa demora deles é muito estranha.

A demora deles era explicada pelo fato de uma nova vida depender de sua esposa. Ela passava mal e tinham que parar, deveriam parar para dormir e comer, sem pular nenhuma dessas tarefas.

Tigresa se chateava com tanta demora, já estavam no terceiro dia de viagem e haviam acabado de almoçar. Estavam chegando próximo ao porto para atravessar o grande lago quando em meio às folhagens da floresta, os felinos e o panda vermelho ouviram alguém se aproximar.

Hui Nuan e Tigresa se colocaram em poses de batalha assim como Shifu. Os outros os imitaram e ficaram de uma forma que Mi ficasse no meio deles, para protegê-la.

À metros dos guerreiros, sem que eles escutassem, um gorila perguntou para um javali:

- Como ele sabia que estariam aqui?

- Não sei não, mas também não importa – respondeu o javali – vamos fazer o que ele nos pediu...

- Machucar muito ou matar Mestre Tigresa – disse um dos falcões empoleirados na árvore atrás dos gorilas.

- Sim, mas ele disse que é mais seguro mata-la, assim ela não dará problemas pra ele.

Observaram os mestres por entre as folhagens. Nisso, os guerreiros ainda esperavam a iniciativa dos bandidos de se aproximar mais ou resolver ataca-los.

- O que foi, mestre? – Perguntou Garça.

- Podem ser bandidos.

- Como sabe se podem ser bandidos? – Perguntou Mi confusa.

- Essa trilha é a mais rápida e nela há muitos bandidos.

Ainda parados, com os sentidos à mil, esperando qualquer sinal de movimento quando, do meio dos arbustos, saíram cinco gorilas, três falcões e um grupo de sete javalis.

Todos arregalaram os olhos. Ok, não eram muitos, mas gorilas são grandes e fortes. Os lutadores centraram seus olhares em Tigresa, que sentiu um calafrio correr sua espinha.

- Vocês vão nos atacar? – Perguntou Macaco.

- Por que você acha que viemos aqui? – Respondeu o Gorila com um sorriso desagradável.

- Vão embora ou... – ameaçou Tigresa com um grunhido.

- Ou o que gatinha? – Provocou o falcão recebendo um grunhido mais forte como resposta.

- Ou vai levar uma boa surra – disse Louva-a-Deus.

- Estou falando com a listrada ali, pequeno...

A provocação apenas aumentava e Tigresa estava prestes à se lançar contra eles quando teve a cauda agarrada por Mi.

- Tigresa, não. Lembre-se do bebê – disse Mi para que apenas ela pudesse ouvir, mas Shifu conseguiu também.

- Sh! Ninguém deve saber...

- Mas agora sabemos... – disse um dos falcões que deu um voo rasante próximo à eles e quase foi pego por Tigresa.

- Então é por isso que ele queria que a machucássemos – sussurrou o gorila à um javali.

- O quê? Dá pra vocês falarem na cara?! – Perguntou Hui Nuan se irritando.

- Ha ha ha! Você vai ter um filhote com aquele panda idiota? – Disse um dos javalis entre risadas enquanto os outros riam que lhes faltava o ar.

- Tão idiota que prendeu seus comparsas – disse Víbora em tom de superioridade, calando na hora.

Ela reconheceu na roupa deles o bordado de seu grupo de bandidos, mas apenas os javalis eram do mesmo e ela não entendeu o porque outros estavam junto a eles.

- Tô esperando a surra, bichinho... e você, gatinha? Só sabe rugir? Não sei como aquele panda imbecil te aguenta – disse o gorila colocando as patas na cintura.

A paciência acabou. Tigresa olhou para ele de forma assassina e nem se lembrou que era segurada pela cauda por Mi. Saiu com tanta velocidade que a médica foi obrigada a soltá-la para não ser arrastada. A cauda da felina serpenteava de um lado a outro enquanto corria em direção ao gorila e conseguiu chutá-lo no estômago.

Os outros furiosos, Shifu e Hui Nuan se viram obrigados á entrar em ação também. Mi agarrou um pedaço de madeira e se defendia como podia.

Era difícil lutar contra os gorilas e aquele grupo era resistente, mas aos poucos todos os bandidos estavam caindo.

Tigresa ainda atacava o mesmo gorila que a provocou. Ele conseguia se esquivar e bloquear a maioria dos golpes, porém um falcão conseguiu se livrar de Macaco e a atacou por trás. Quando ela percebeu sua presença, estava muito próximo e não pôde se esquivar.

- Parece que todos os mestres erram.

Aquela zombaria a irritou ainda mais, ficou de pé e ao tomar impulso para saltar e atacar o falcão idiota, recebeu um murro o gorila diretamente no centro do corpo impactando contra uma árvore e ao bater, cuspiu um pouco de sangue.

O gorila depois foi atacado pelos outros enquanto Mi e Hui Nuan foram socorrer Tigresa.

- Ai...

- Fica calma, filha.

- Por quê? Por que você foi lutar? Eu disse pra não fazer isso! Pra não fazer esforço! – Exclamava Mi enquanto atendia a felina, que apenas tinha o olhar arrependido.

- Ela foi acertada onde? Pegou no ventre? E o filhote?

- Calma, foi nas costelas, mas vamos ter que esperar pra saber se ele está bem. Vou tentar saber o mais rápido que puder.

- Por que ela se descontrolou?

- Gravidez é assim.

Nada mais passava pela cabeça de Tigresa, por sua teimosia e ira descontrolada podia ter posto em risco a vida de seu filhote, ter feito o que Fa Huo queria.

Os outros derrotaram os bandidos, seus corpos estavam jogados ali, já não voltariam mais para casa. Ou era a vida dos guerreiros ou dos criminosos e os primeiros venceram. Se reuniram próximo aos felinos e Hui Nuan endireitou Tigresa para que sua cabeça ficasse em seu colo.

Só restava esperar.