– Pai!

– Oi, filho – disse Jing-Quo ao panda que se aproximava.

– Deu tudo certo na reunião com as outras vilas. Eles tão organizando tudo pro pessoal ir assistir a coroação da Ayra.

Po estava junto ao pai na sala de casa, nas Terras Yu Qin. Acabara de chegar de uma longa reunião em Gongmen onde teriam que organizar as coisas para a coroação da futura imperatriz, mas por enquanto, Po e Jing-Quo tinham outros planos mais urgentes em mente.

– E o seu casamento, filho? Temos que ir para o vale para vocês comprarem uma cama nova, pra levar os presentes, ver como está indo tudo lá, inclusive eu tenho que pagar as despesas, pelo menos a metade porque Sr. Ping não pode pagar tudo sozinho e acho que nem quer – riu Jing ao se lembrar das manias que o ganso tinha com dinheiro.

Ambos os pais se conheceram há muito tempo em uma das idas e vindas de Po para a vila e os dois entraram em um acordo sobre algo que queriam do filho, do qual o ganso convenceu o panda mais velho, ambos os pais queriam netos.

Sr. Ping e Jing-Quo se deram melhor do que o panda esperava e ainda planejaram juntos o casamento do filho. O ganso seria encarregado de, junto á Po, contar o que eles decidiram para Shifu e ver se o panda vermelho aceitava.

Shifu, apesar de sentir ciúmes de Tigresa, não podia mantê-la baixo sua vista eternamente e ela já estava na idade de se casar, já escolhera o companheiro e ainda por cima, ele já havia dado sua benção. Apenas pediu a ajuda de Víbora e Garça para organizar o casamento porque ele não tinha a menor ideia e uma das irmãs da serpente já havia se casado, e a ave era boa com decorações, tinha uma alma de artista. Só de pensar, Po já tremia. Garça, quando estava obcecado com algo, exagerava e tinha medo de exagerar na decoração e nos detalhes, até porque Tigresa ficaria um tanto irritada com isso.

– Só espero que o Garça deixe ela falar como ela quer... – sussurrou ele.

– Preocupado?

– Ah, não... hm, um pouco sim, vai. He he, casamento, né? Tô um pouco nervoso. E a gente tem que ir mesmo pro vale. A data tá chegando.

– Que tal se formos amanhã? Vão faltar oito dias.

– É, parece bom. E eu tô pensando em fazer uma surpresa pra ela.

– O que?

– Amanhã eu te conto, pai.

– Está bem. Ah! Pra cerimônia, usa a joia que da família da sua mãe – disse Jing-Quo segurando as patas do filho – é sua herança – sorriu.

– Tudo bem, então. Vou usar a pedra mista.

– Ótimo, sua mãe iria gostar de te ver com ela – sorriu diante da lembrança de Yu Qin.

A pedra que Po havia guardado enquanto usava a esfera Jade era herança da parte da família de sua mãe. Um círculo branco e negro imitando o Yin Yang, mas a parte branca era de cristal e a parte negra era de ônix.

“Tigresa vai ficar feliz quando eu mostrar que tenho uma quase igual à que eu dei pra ela”, pensou. Po foi para seu quarto depois de conversar com o pai, estava louco para voltar ao Vale da Paz. Lá era seu lar, não o teria deixado se não fossem suas obrigações como líder dos pandas. Sentia saudade dos seus amigos e das pegadinhas que fazia com eles, saudade da sala de treinamento, do Sr. Ping, dos bandidos atrapalhados que rondavam o vale, sentia falta até dos castigos do Mestre Shifu. E sentia falta de Tigresa, mas sabia que logo essa saudade iria para nunca mais voltar. Estariam juntos para sempre por escolha própria à partir do dia marcado.

Será que estar tão ansioso era ruim? Independente disso, ele estava. Com medo de não ser um bom marido para ela e de não poder fazê-la feliz, mas já era tarde para dúvidas e ela sempre lhe respondera que ele podia sim fazê-la feliz como ninguém mais. Ele não deveria estar pensando essas besteiras.

Desceu e foi treinar para tirar essas coisas da cabeça, depois, arrumaria suas coisas. Daqui a poucos dias estaria no Vale da Paz junto a ela e era isso que importava.

Em troca, a felina se sentia da mesma maneira. Tinha medo de não ser capaz de fazer feliz quem ela amava.

Estava treinando depois de ter experimentado os vestidos que usaria. Quem diria ela em um vestido de noiva? Nunca pensou em se casar, menos ainda com ele... e com isso vinha o que? Talvez uma família, se é que era possível para um panda e um tigre. Ela, ao menos, achava que não.

Não pensaria nisso agora, tinha que se concentrar na festa e seus amigos estavam mais atentos à isso do que ela.

– Tigresa, que cor de flores você quer? Tenho que mandar colher.

– Ainda é cedo Garça – disse ela atacando um boneco de madeira sem nem sequer virar para olhá-lo -, mas eu prefiro lírios-tigre e flores vermelhas também.

– Ok – respondeu e saiu do salão.

– Víbora, você não acha que ele tá exagerando?

– Não acho, você não está cuidando disso. É a família do noivo quem tem que organizar essas coisas e eu duvido que o Sr. Ping saiba como fazer – riu a serpente – por isso o estamos ajudando.

– Somos a família dele – disse Macaco – à propósito, Tigresa, acho que vou dar uma festinha pro Po de despedida.

– Como é que é? Despedida? Não vamos à lugar nenhum.

– Ele quis dizer despedida, argh! De solteiro – disse o inseto recebendo uma chicotada de Víbora.

A felina levantou uma sobrancelha para o primata que sorria com malícia.

– Vai mesmo? – Perguntou ela em um tom frio.

– Claro que não, vou fazer é uma pegadinha com ele – sorriu novamente com autossuficiência e voltou a correr pelo salão executando golpes ao ar para depois lutar com o vencedor da luta corpo-a-corpo.

E, no momento, os lutadores eram Víbora contra Louva-a-Deus e mesmo conversando, ela levava vantagem sobre ele. Literalmente sobre ele.

– Vai se render? – Perguntou a serpente.

– Claro que não! Me solta!

– Tente sair daí. Você quer continuar lutando, luta pra sair. Vamos!

Macaco se pendurou pela cauda em um dos anéis que tinha acabado de atravessar, não pôde evitar de rir do inseto e desceu pra ver de perto.

– Mas... vocês sabem alguma coisa sobre organizar casamentos? Vocês não acham mesmo que ele tá exagerando?

– Não tá não, Tigresa – respondeu Macaco – a Víbora e ele já organizaram o casamento da irmã do meio dela.

– Sério?

– Sim, e ele fez isso muito bem, apesar de parecer... meio doido. Desiste, Louva-a-Deus! Eu posso ficar aqui a tarde inteira.

– Ah! Desisto! Desisto! Me solta!

A serpente liberou o amigo que saiu cambaleando pela borda de madeira do nível mais alto do salão até cair de lá.

– Só que tem um problema com o Garça – disse Macaco se pondo em pose de batalha para enfrentar a serpente enquanto olhava para a porta, se certificando de que a ave não estava ali.

– O que? – Perguntaram Tigresa e Louva-a-Deus.

– Ele fica obcecado com isso. É realmente assustador, pior do que quando arruinamos os desenhos dele ou quando ele preparou o casamento da Lu Shi com o Po.

Tigresa grunhiu ao se lembrar, mas riu quando raciocinou que realmente Macaco tinha razão e Víbora apenas assentiu. Garça, apesar de ser sensato, poderia assustar. Não só com suas habilidades no kung fu, mas também com sua obsessão por perfeição do que fazia.

– É, tá certo. Vamos continuar treinando – disse a felina tentando segurar o riso.

– É, antes que ele chegue – disse Louva-a-Deus sentando-se na escada, choramingando – ai, minhas antenas. Víbora, você entortou elas.

Os guerreiros continuaram treinando, até que seu mestre apareceu. Como se aproximava o casamento de sua filha, eles paravam para jantar mais cedo, porque os amigos junto ao senhor Ping iriam acertando os detalhes enquanto ele e Tigresa meditariam e ela, talvez desse alguma opinião sobre a cerimônia.

Já estavam sob o pessegueiro. O inverno já estava terminando, porém as nuvens ainda cobriam a maioria das estrelas. Às vezes dava para ver quando o tempo decidia abrir, o que não era o caso agora.

Lado a lado, pai e filha sentados de olhos fechados desfrutando a brisa e a companhia um do outro. Desde que chegaram, quando Po ficou sem saber se voltaria, Shifu fez companhia a ela em algumas sessões de meditação, além de ser para ela não se sentir sozinha, é porque queria fortalecer sua relação com ela e ás vezes conversavam.

Mestre Shifu abriu os olhos e observou a filha, ela estava no caminho para a paz interior e isso, ele via apenas ao olhar para ela.

– Tigresa – chamou e então ela abriu seus olhos e o encarou normalmente – eu estou com uma dúvida e me pergunto se você poderia responder. Como vai ser quando Po tiver que voltar pra Yu Qin?

Tigresa virou o rosto para buscar a resposta em sua mente. Bem, ela ficaria ali com o pai e Po sempre voltaria. Ele não a deixaria.

– Não se preocupe, ele vai vir sempre pra cá. E talvez eu possa visitá-lo lá, como talvez... uma surpresa.

Shifu sorriu e ela fez o mesmo. “Ela está se soltando, está mais viva. E agora tem ideias harmoniosas”, pensou o panda vermelho.

Terminada a sessão de meditação da noite, cada um foi para o seu quarto descansar. Tinham ainda muita coisa que acertar, não só para a cerimônia que aconteceria daqui a alguns dias, mas também para participar da coroação da nova imperatriz, o que, no fundo, preocupava Shifu.

Ele sentia alguma coisa errada na energia a seu redor, o que era fácil sentir estando em paz, e estava com receio de estar certo.

E talvez o que agitava essa energia de um modo ruim fosse aquele que se encontrava na fortaleza das irmãs Wu.

Seu prisioneiro já estava alimentado depois que ele voltou, mais uma vez da cidade, onde reuniu alguns lutadores para ajudá-lo, se necessário. Eles vieram de grupos de luta de rua, onde valia tudo e talvez esse tudo, fosse letal.

Fa Huo prometeu-lhes uma quantia em dinheiro por seus serviços e isso não bastou para convencê-los. Teve que convencê-los demostrando o que sabia fazer. Agora, eles estariam de prontidão ao pé do vulcão para quando Fa Huo os chamasse.

Se dirigiu novamente ao quarto com a luz azulada onde haviam dois espelhos adornados com um padrão de espirais douradas em suas molduras e um espaço em cima de cada um. No espaço do primeiro espelho, que era do qual emanava aquela tênue luz azulada, já era preenchido com uma pedra azul, o outro permanecia vazio. Olhou pela janela e ficou ali no beiral por alguns minutos em silêncio.

– Parece que o Dragão Guerreiro vai mesmo se casar e muitos vão viajar até o Vale da Paz para ver este grande acontecimento, é a distração perfeita – disse, ainda de costas para o espelho e depois se virou observando-o – bem, espero estar de volta da Cidade Imperial à tempo de ver isso por aqui mesmo.

O panda se retirou. Já havia deixado seus poucos asseclas avisados. Ao amanhecer, partiria de encontro ao imperador e deixaria os lutadores tomando conta de seu prisioneiro e de seus pertences.

– Filha?

– Oi, pai.

– Vem aqui Ayra, sente-se aqui do meu lado. Preciso falar uma coisa pra você e é séria.

Na sala de reuniões do palácio do imperador, Zhi pediu a uma empregada que chamasse sua filha mais velha. Agora, ali estava ela na cadeira ao lado direito do imperador. O assunto, para ele era sério, não queria fazer aquilo e então procurou uma saída, dando escolha à pantera.

– Pode falar – sorriu ela.

– Com... a sua coroação você terá que ter um imperador, certo? Você sabe disso, não é? – Perguntou o urso negro e ela assentiu – então, filha, os conselheiros querem que eu escolha quem será seu marido.

– Mas essa lei é antiga, eu posso escolher assim como você escolheu...

– Se acalme – interrompeu Zhi – mas como você ainda é solteira e continuará depois da coroação, porque ainda não aceitou cortejos...

– Não quis aceitar, ainda não – agora ela o interrompeu - iriam tirar toda a minha atenção do que realmente importa. Até porque há muita gente interesseira por aqui e, sinceramente, eu prefiro evitar.

– Como eu dizia, como você ainda não aceitou cortejos e será imperatriz solteira, deverá arranjar um imperador, mas há duas opções: ou deixa que eu e os conselheiros arranjemos um marido ou você escolhe alguém por amor. Mas você não vai ter muito tempo.

– Quanto tempo eu tenho? – Perguntou ela imediatamente.

– Hm, eu não sei ainda. Tenho que ver com os conselheiros, mas vou tentar te dar todo o tempo possível.

– Obrigada, pai.

Ayra o abraçou forte por um instante e, pedindo licença, se retirou para suas aulas.

“Tenho que dar um jeito de ter o máximo de tempo possível pra ela. An gostaria de ajudar e talvez tivesse boas ideias pra ajudar suas filhas a escapar dessa besteira”, pensou ele sorrindo e se lembrando da amiga. “Você teria orgulho das suas... não, nossas meninas, como costumava dizer.”

Mais tarde naquele dia, Ayra e Xue estavam num salão de treinamento, próximas ao pátio aberto de treinamento do palácio. Estavam praticando com suas armas ambas em roupas de combate. Pontaria e o equilíbrio.

– Olha o que eu consigo fazer, Ayra.

A pantera mais velha estava de costas fazendo alguns movimentos giratórios com sua espada e muito concentrada, virou-se para ver sua irmã equilibrar a espada em seu próprio nariz. Ayra bateu com a palma da pata na própria testa. Sua irmã ainda era uma criança apesar de seus vinte e seis anos de idade. Sempre fazia graça e realmente, como diziam alguns conselheiros de seu pai, não seria indicada para ser imperatriz por ser um tanto infantil, mas apesar disso, sorriu para a graça de Xue.

– Ai, irmãzinha, pare com isso e vamos treinar à sério, por favor.

– Tá bom, tá bom – Xue empunhou a espada e começou a treinar suas habilidades.

A mais velha a havia ensinado alguns truques e manhas e Xue fez o mesmo por ela no que tinha mais facilidade. Não poderiam se crer especialistas, mas ao menos poderiam lutar caso precisassem realmente.

Meia hora de silêncio se passou e Ayra parou olhando para o próprio reflexo na espada sem expressão clara.

– O que foi? – Perguntou Xue se aproximando visivelmente preocupada.

– Só tô pensando. Será que eu vou ser uma boa imperatriz? – Perguntou Ayra sem tirar os olhos da espada.

– Claro que vai, você é perfeita pra isso, é justa, honesta, simples, inteligente, diplomata. Olha pra mim – pediu Xue e sua irmã obedeceu – a fêmea que os conselheiros do papai dizem que é infantil e não serve pra governar nem a própria vida, sou eu. Você vai conseguir sim. Será mais amada até que nosso pai – disse entre uma pequena risada, à qual Ayra imitou.

– É você tem razão – disse ela sorrindo –, mas também tem outro assunto que me preocupa.

– O que?

Xue se colocou em frente a Ayra e ambas se olharam até que a mais velha falou:

– Você sabe que assim que eu assumir, eu vou ter que buscar um casamento, mas o problema... é que... quem não será interesseiro o suficiente pra se aproximar de mim apenas pelo meu status real? Isso é triste e chato. Vou ter que tomar muito, mas muito cuidado.

– Isso é verdade – Xue olhou para o chão pensando e logo para a irmã – bem, não sei mesmo alguma coisa pra impedir isso, mas ficaremos de olho.

Ambas sorriram e guardaram as armas. Deveriam agora tomar um banho e se preparar para as outras atividades.

– Vamos tocar um pouquinho, quem sabe assim vamos ter alguma ideia.

– Isso mesmo Ayra. Você é um gênio. Eu disse que você é inteligente pra governar, tá vendo? Não erro.

– Sei, e você é vidente por acaso?

– Ah, acho que sim, sou sim – sorriu Xue.

Alguns dias se passaram sem que elas ainda tivessem um plano bem bolado. A única coisa que sabiam era que deveriam ficar de olho nos possíveis pretendentes da futura imperatriz chinesa. Talvez tudo o que precisavam, iria chegar com o tempo, mas o tempo também pode trazer coisas que, apesar de ajudarem, tem seu lado ruim. Todo ato tem uma consequência e o pai delas logo aprenderia isso, quando a maldade cruzasse seu caminho novamente. Há de se ter compaixão para velhos amigos, mas há de se pensar quando se tem dúvidas a respeito da verdade.

Nesse dia, um visitante com capa negra e chapéu de palha chegava ao palácio imperial e de algum modo convenceu os guardas que o deixassem passar. A grande figura identificou-se apenas como “amigo íntimo” do imperador e apresentou um anel dourado com uma pedra azul o enfeitando. Trazia a forma de esfera e foi dada a ele há muitos anos pelo próprio Zhi.

O visitante foi levado por dois guardas até a sala do trono e eles permaneceram a seu lado. Havia mais guardas por todo o salão, com lanças ou espadas e em posição de vigilância.

“Droga, com eles aqui perto, vai dificultar tudo”, pensou. Foi então que uma empregada apareceu e anunciou a entrada do imperador.

Zhi entrou e sentou-se em seu trono dourado e vermelho. A empregada permaneceu ali aguardando novas ordens do urso. Ele acenou com a mão para que o estranho se aproximasse e os guardas pararam, a uma distância prudente, já preparados para o caso de o estranho atacar seu amado imperador. Ambos tinham o corpo tenso olhando de soslaio para o ser oculto em suas próprias vestimentas.

– Quem é e o que deseja? – Perguntou Zhi.

– Creio que se lembra disso – disse o ser e estendeu a pata esquerda mostrando o anel.

O imperador se lembrava sim daquele anel e mais ainda daquele a quem pertencia.

– Ah, velho amigo!

Zhi levantou-se para descer as duas escadas do trono até o nível normal do salão e abraçar o amigo. Os guardas se afastaram um pouco para dar espaço aos amigos, ainda desconfiados do motivo pelo qual um amigo do imperador viria vestido assim. Pra que se esconder?

– Amigo, quanto tempo – disse Fa Huo retirando seu chapéu – como está? – Sorriu.

– Muito bem, muito bem e você? O que o traz aqui?

– Eu gostaria de conversar a sós com você.

O imperador observou pelo lado de Fa Huo e viu seus guardas ali parados.

– Bem, podem nos deixar sozinhos? Garanto a vocês que não há com o que se preocupar. Todos vocês – virou-se para a empregada – você também.

Os guardas fizeram reverência e se retiraram. Zhi puxou Fa até os dois se sentarem nas escadas ali mesmo conversando sobre os ocorridos e o panda não veio de tão longe por nada, ele queria que o amigo libertasse sua filha Ju.

– Se você é mesmo acusado do que aconteceu, eu não posso fazer nada. Vocês atentaram contra a honra da descendência do Dragão Guerreiro. Imagine, se ela se casasse com ele e descobrissem que vocês dois são acusados de um crime contra a espécie tigre, seria uma desgraça para vocês e para ele. Jamais, vocês três, jamais seriam respeitados novamente e nem as futuras gerações dessa família.

– Fomos acusados injustamente, foi tudo um plano de Hui Nuan. Ele queria tomar o poder de toda a China. Eu tive que dizer aos clãs o que eles estavam fazendo e os queria presos para pagar, mas jamais atentei contra os tigres dessa maneira. Nunca quis provocar assassinato algum.

O urso negro hesitou em responder, abriu a boca algumas vezes, mas nada saiu. Desviou os olhos dos de Fa Huo e virou o corpo em direção à porta. Que poderia dizer? Acreditaria nele? Deveria? Não sabia.

– Acredite em mim, você me conhece desde filhote.

Justamente por isso não sabia se acreditar ou não. Conhecia Fa desde filhote, quando os pandas faziam parte da Cidade Proibida e temia por aquele lado do filhote panda que conheceu ainda viver nele.

– Vou te dar uma chance, nada mais que isso. Pode ficar aqui, mas qual seu plano para libertar Ju? Que desculpa dar?

– A coroação de sua filha é daqui a uns dias, não? Seria bom que uma amiga tão próxima viesse participar desse momento tão importante – sorriu Fa tentando passar inocência.

Po seu pai e alguns pandas já estavam longe das terras de Yu Qin e dessa vez, ele levava no pescoço o símbolo similar ao de Tigresa, que usaria de agora em diante.

Seriam dois dias de viagem carregando, com a ajuda de seu pai e outros amigos da vila, os presentes que deveria entregar à noiva.

E antes mesmo de chegar ao Vale da Paz, ele e os acompanhantes fizeram uma pequena parada que foi permitida pelo imperador, apenas dessa vez, para que um pai sofrido pudesse ver e abençoar um momento tão importante na vida de uma mulher.

Seu trabalho de proteção junto a seus amigos, seria um bom tempo depois do casamento, então estava tranquilo quanto às datas. Teria tempo para curtir seus primeiros dias com ela e voltaria para Yu Qin. Depois esperaria seus amigos lá para avançar mais um pouco junto a eles e outros convidados à Cidade Proibida.

Sim, isso. Era isso que passava na cabeça do guerreiro preto e branco que não tirava o sorriso do rosto e os outros que o acompanhavam, o encaravam como se fosse um bobo ou estivesse louco.

Loucura? Sim, poderia ser outro nome, um nome diferente para a felicidade, ao menos nesse caso. Ele não podia estar mais feliz e em paz.