O Verdadeiro Lar

Equívocos de um Pai


Dois dias mais tarde, chegava ao vale da paz um contingente considerável de soldados felinos. Todos sorridentes, orgulhosos da conquista da vez: o Vale da Paz.

Em volta do vale, estavam vários guardas para que os animais de lá não escapassem para buscar a ajuda dos guerreiros, embora se eles escapassem, não chegariam muito longe devido à velocidade dos felinos.

Os soldados estavam em velocidade razoável pela rua principal do vale, a rua que levava até o palácio que era seu destino. À frente dos vários felinos estava ele, Hui Nuan, que andava imponente com um leve sorriso e com um olhar superior para os moradores.

Passando à frente do restaurante do Sr. Ping, o ganso estava na porta. Encolheu-se ao ver o bando chegar próximo e olhava atentamente para o tigre à frente de todos, que percebeu e o encarou de volta com um olhar frio sem expressão facial alguma que não fosse indiferença, fazendo o pobre ganso congelar.

Ao sair do choque, os soldados e seu líder já estavam subindo as escadas. Sr. Ping colocou a cabeça para fora da loja de macarrão e olhou para eles. Conhecia aquele olhar, será possível?

“De onde eles vieram? Sumiram há muito tempo, não sabia que ainda havia tigres além de Mestre Tigresa”, pensava o ganso, bem confuso. “E esse tigre, tem os mesmos olhos dela. Será que vieram procurar por ela? E por quê agora?”

Ele viu tigres há muitos anos atrás, mas depois eles simplesmente sumiram e o único felino dessa espécie que viu depois era Tigresa. Não se lembrava o suficiente dos tigres que viu ou conheceu por conta do tempo que não os via, foram mais de vinte anos desde a última vez.

No topo das escadas, Hui entrou no pátio e foi recebido pelos soldados que havia enviado. Eles estavam apoiados por um joelho no chão e inclinados em respeito ao líder.

- Podem se levantar – os soldados obedeceram – quero relatório da situação.

- Meu senhor, sofremos resistência dos mestres que se encontravam aqui – disse Chao – mas conseguimos derrota-los e prendê-los no calabouço do palácio juntamente com os demais rebeldes. A única que se juntou à nós foi ela... Mei Ling – apresentou-a, ela seguia curvada no chão sem nunca ter olhado para a face do tigre.

- Bom dia, senhor. É uma honra servir alguém que trará a paz para os temidos felinos de nossa terra – ela saldou-o, ainda curvada.

- Bem-vinda, soldado Mei Ling, pode se levantar – disse ele com um sorriso que a fêmea conseguiu ver.

Havia algo familiar nele, mas ela ignorou, já que os tigres-do-sul-da-china eram todos parecidos.

- Mais uma coisa – disse Chao – há uma mensagem para você – entregou-lhe o pergaminho.

- Ah, é de Song – sorriu e abriu.

“Caro Hui Nuan,

Ficará feliz em saber que consegui convencer Dishi a ajuda-lo em troca de uma coisa: conseguir a fêmea de tigre que deseja. Só conseguirá isso com o Dragão Guerreiro afastado porque ela se interessa pelo panda, e afastá-lo dela caberá à você.”

- Mas que estranho... – o tigre tirou os olhos do pergaminho um pouco chocado. “Como pode um tigre se interessar por um panda? Que coisa estranha. Deve ser problemática”

- O que foi, senhor? – Perguntou Mei Ling para mostrar-se prestativa.

- Não foi nada – respondeu e voltou a ler.

“Não acho que seu sobrinho seja o tal guerreiro da profecia porque, como me contou, á cada tigre só é permitido ter um pergaminho. Suspeito que o título pertença a essa tigresa próxima do panda e se for, só precisaremos separá-los.

Também semeei a dúvida no coração do guerreiro. Disse a ele que Dishi é o traidor de seu povo. Po está de olhos abertos com o príncipe que está tentando tomar o que é importante para ele.

Abaixo está escrita a estratégia de Dishi, e com isso, poderá pegar o príncipe e obter sua vingança contra ele e o povo panda. Apenas lembro para que deixe meu amigo viver.”

Hui passou o olho pelas estratégias e sorriu maliciosamente. Depois fechou novamente o pergaminho e olhou para a nova soldado.

- Leve-me aos demais prisioneiros – ordenou ele de forma seca, sem cerimônia.

Mei Ling o levou até os prisioneiros. Chegando lá, mestre Xiaoxi já estava acordado, como seus alunos. Todos olharam o tirano se aproximar. Os que já o conheciam, encaravam com um misto de medo e raiva, os guerreiros que estavam antes protegendo o palácio, queriam apenas derrota-lo. Ao verem Mei Ling ao lado do tigre, não puderam evitar de se sentirem traídos e alguns soltaram grunhidos.

Xiaoxi, ao contrário dos outros, jamais duvidaria do caráter de sua aluna. E ele também sabia os motivos da dominação do tirano e só queria entender porque agora e porque não tentou recomeçar sua vida. O tigre parou em frente á cela.

- Ah, olá mestre Xiaoxi.

- Olá, Hui Nuan.

- É um imenso prazer vê-lo novamente.

- Eu não posso dizer o mesmo – o mestre entrecerrou seus olhos.

- Hm, não me importa.

- Por que?

- Por que o quê?

- Por que só agora? Por que não seguiu sua vida? Há mais de vinte anos que a tragédia aconteceu e mesmo com dor, você poderia ter se convertido à um bom líder sem ter que dominar a China e maltratar outros animais. Poderia ter perdoado...

- Disse bem, poderia, mas não quis – Hui cortou o mestre – você não sabe o que é perder alguém tão importante.

- Sei, sim. Perdi um amigo, Mestre Rino Trovão. Ele era como um irmão pra mim.

- Ai, você não entendeu – o tigre apertou do focinho entre os olhos – você você não sabe como é perder sua esposa, que sempre te amou apesar de tudo e que te tornou alguém melhor. Você não perdeu sua filha porque um panda que tinha medo da sua raça convenceu a todos os outros animais que seu povo é perigoso, quando você estava tentando fazer o tratado de paz e provar o contrário.

Sua voz estava ficando alterada e Xiaoxi não se atreveu a responder, então Hui continuou:

- Agora eu vou trazer à paz à todo custo para que não aconteça o mesmo com outros como eu. Ele achava que éramos perigosos, vamos mostrar que somos de verdade.

Os estudantes de Xiaoxi estavam sem entender nada, depois pediriam para seu mestre que explicasse. O imperador tigre virou-se para ir embora, mas...

- Você acha que Lin e Yi Jie gostariam do que está fazendo?

Hui Nuan parou seu caminho e grunhiu, não se incomodou em virar.

- Ela não está aqui para gostar ou não do que faço.

Dito isso, saiu seguido por Mei Ling até o pátio novamente.

- Escutem, todos – os soldados se aproximaram, continuem em guarda e me avisem de qualquer coisa que acontecer. Vou me instalar em um dos quartos daqui, vocês façam o mesmo na cidade e o primeiro batalhão ficará aqui. Revezem-se em turnos para não deixar ninguém escapar.

- Sim, senhor – disseram em uníssono e foram cumprir as ordens de seu chefe.

- Você, soldado Mei Ling, me leve ao quarto do Grão-Mestre – sorriu a ela.

- Sim, é por aqui.

Partiram para o quarto de Shifu. Quando chegaram, Hui passou o olhar por todo o quarto e encontrou a cama, uma escrivaninha usada como altar, provavelmente de meditação. Um armário, certamente para as roupas do Grão-Mestre

- Depois diga à Chao para vir, preciso falar com ele.

Quando a nova aliada se foi, Hui sentou-se na cama e tomou novamente o pergaminho para ler atentamente as instruções. Deveria passá-la à Chao assim que ele viesse.

-

Na vila dos pandas, ao lado de Gongmen, os guerreiros treinavam duro, se revezando em turnos para não deixarem ninguém sem proteção.

Desde sua conversa com o panda vermelho, Tigresa dirigia-se à Shifu apenas para assuntos referentes aos Cinco Furiosos e nada mais.

Po seguia chateado com o que ouviu de Shifu, mas tentava ignorar a sensação. Imaginava que ele não era lá o tipo de genro que seu mestre desejava para sua filha.

Durante uma sessão de treinamento de Garça, Macaco e Louva-a-Deus, os três guerreiros estavam novamente com os grandes mestres e dessa vez, estavam apenas treinando o que já sabiam, sem pegar pesado porque à qualquer hora, poderiam ser atacados.

- Hey, Garça - chamou Macaco parando sua série de socos e chutes nos bonecos de madeira.

- Fala.

- Lembra o que você me disse sobre a Mei Ling?

- O que? - Perguntou a ave saindo do caminho das flechas do aparelho no qual estava treinando.

- Aquilo de toda vez que você pensa em visitar, acontece alguma coisa.

- É, eu bem disse pra vocês. Estou com a razão.

- Louva-a-Deus, você me deve biscoitos.

- Quando apostamos isso? Não me lembro...

- Não finja que esqueceu porque você me mandou perguntar se ele tinha falado aquilo mesmo! - Macaco tentou pegar o inseto pelas antenas, mas ele foi mais rápido e se esquivou.

- Pera aí, vocês apostaram até isso?

- He he, sabe, tava chato antes da gente ter que vir, antes de o Dishi chegar então resolvemos brincar um pouco.

- E eu achei que não ia dar em nada essa aposta, e depois tava torcendo pro Macaco ou pra você ter esquecido disso.

- Ai, ninguém merece.

Na vila dos pandas os demais deveriam verificar se estava tudo em ordem, então Po, Tigresa, Dishi, Song e Víbora se separaram. O príncipe e Song foram a um lado e Tigresa deu graças aos deuses que Dishi a havia deixado um pouco de lado e estava feliz por pensar que poderia surgir algo dali.

- Dishi, eu enviei a mensagem.

- Acho que ele tá demorando para responder.

- Calma, ele nem deve ter chego ao vale da paz ainda, espera um pouco - Song riu - mas que desespero.

- Você não imagina o quanto - respondeu ele com um sorriso brincalhão.

Víbora foi com a felina, porque ambas iriam sozinhas, assim como Po, mas como seria coisa rápida, a serpente quis acompanhar a amiga.

Quando Po se despediu de Tigresa com um beijo na testa, a esperou se afastar e estava prestes à cumprir a ordem de seu mestre quando...

- Po - Shifu apareceu atrás do panda, que se virou e inclinou.

- Mestre Shifu.

- Quero conversar com você.

- E sobre o que seria mestre - começou a andar junto com Shifu, para umas árvores floridas que estavam um pouco atras da casa de Jing-Quo

- Eu... eu queria conversar sobre você e a Tigresa, como pai - não ouviu resposta do Dragão Guerreiro e ao chegar próximo às árvores sentou-se em posição de lótus e voltou a falar - não acredito que vou fazer isso, mas... quero... te pedir desculpas.

- Ahn? - Nesse momento, Po caiu de bunda, sem entender - pedir desculpas? Pra mim? Será que porque entrou no meu quarto só pra ver se eu estava lá - ele sorriu divertindo-se.

- Ah, por isso também - Shifu riu -, mas é porque, eu sei que você ouviu alguma parte da conversa. Espero que me perdoe por não ter aceitado antes, mas é que vocês são de espécies diferentes, tem personalidades diferentes e temo que não dê certo e a machuque... também acho que não me acostumei que ela está crescida.

- Eu jamais vou machucar Tigresa, ela é a melhor coisa na minha vida. Demais, irada, a melhor mestre de kung fu de toda a China, mais durona, a mais doce também... - parou com os elogios e desfez a cara de bobo quando viu seu mestre sério -, aah, ahn, eu gosto muito dela e está tudo bem, mestre. Não precisa pedir desculpas.

- Não, Po, não está tudo bem - o panda vermelho olhou para seu aluno com um leve sorriso - eu não tinha direito de dizer nada daquilo à ela, não agi como pai durante todo esse tempo e agora que Tigresa é adulta, não posso interferir em suas escolhas, especialmente no que diz respeito à quem ela quer como companheiro.

- Mestre, querendo ou não, o senhor ainda é pai dela e nada vai mudar isso. Conversa com ela e diga tudo o que me disse agora.

- Eu tentei me redimir imediatamente depois daquilo que falei, mas ela não quis me ouvir. Acho que ela nunca vai me perdoar. Ela nem confiou em mim pra dizer que o que aconteceu quando ela foi à montanha com Dishi aquele dia.

Shifu abaixou a cabeça. Era em momentos como esse que sentia que perdia o controle sobre sua paz interior, nos momentos nos quais sentia que perderia algum de seus alunos de qualquer modo que fosse. Po colocou a pata sobre os ombros do mestre.

- Mestre, ela confia e é muito fiel ao senhor, se não fosse, já teria deixado de vez o Palácio de Jade assim que Oogway partiu ou quando o senhor disse a ela que me deixasse derrotar Tai Lung. Tenta, mestre, se não tentar, nunca vai saber se ela não vai te escutar ou perdoar.

- Obrigado, Po. Você está se tornando tão sábio quanto Oogway - sorriu para o aluno - e depois vou dizer pessoalmente à Tigresa, mas... vocês tem minha benção.

- Sério? - Seus olhos verdes brilhavam quando ele se levantou e começou a pular - uhul, show de bola! Ah... quero dizer, obrigada meste - inclinou-se para Shifu.

- Pode ir agora, Dragão Guerreiro.

O panda se foi e Shifu estava decidido e agora com coragem para resgatar os laços com sua filha, sua Tigresa.

-

No vale da paz, Hui aguardava a chegada de seu soldado lendo o que Song enviou a ele. Quando terminou de ler, notou que seus pertences já estavam em "seu" novo quarto. Ao abrir uma mochila, retirou os pedaço do pergaminho que Dishi levava em sua fuga e que seus soldados rasgaram, há algum tempo.

"Hm, se meu sobrinho não se recusou em me ajudar, é porque ele ainda não leu seu pergaminho", riu sozinho. "Verei se pego esse pergaminho dele antes que leia. Quando ele vier para o meu lado, vou saber se ele é ou não esse guerreiro."

Enquanto esperava Chao chegar, pegou novamente a pintura que tinha de sua família relembrando o pior dia de sua vida.

Havia viajado com sua esposa e filha para um povoado, quase uma cidade, próximo às montanhas geladas. A reunião que deveriam participar envolveria o líder panda e quem o substituiria, o líder do povoado em que estavam, e alguns outros líderes das províncias próximas dali e de onde o povo tigre se encontrava. Deveriam fazer um tratado de paz para que os outros animais parassem de temer os felinos que viviam com o povo tigre.

O casal deixou Lin dormindo em seu quarto, já que Yi só acompanharia Hui até o local para não fazer desfeita e depois voltaria para sua pequena. Quando chegaram à recepção da hospedaria encontraram o irmão de Yi Jie, Yun pedindo um quarto.

- O que está fazendo aqui? - Perguntou Yi, com uma sobrancelha levantada e a pata livre em seu quadril.

- Não aguentei ficar longe de Lin - sorriu - vou ficar aqui com vocês.

- Depois que se instalar, vá para nosso quarto e fique com ela, por favor. Não vamos demorar.

- Tudo bem Yi - Yun pegou a chave do quarto dele e Hui deu-lhe a de onde estava Lin.

Ambos saíram para a reunião, já estavam bem atrasados por ter que fazer a tigresinha dormir e isso demorou um pouco.

Chegando à casa do líder do povoado, foram recebidos pelos guardas, dois pandas. Foram levados por um deles até a sala de reuniões. Quando eles entraram, todos os outros líderes estavam olhando.

- Hui, nós dissemos à você que se demorasse, começaríamos a reunião - disse o dono da casa.

- Sim, eu entendo, me desculpem - pediu Hui Nuan inclinando-se como sua esposa fez para se desculparem - onde está Jing-Quo?

- Ele teve que se retirar, mas será proclamado imperador dos pandas, já não tenho mais como cuidar do meu povo - disse o líder panda - estou muito abalado com o que aconteceu há alguns anos onde quase perdi toda minha família e apesar de Jing ter perdido seu filho, ele merece porque salvou vários de nós. Ficou para lutar.

- Eu entendo e fico feliz que o novo líder de vocês seja alguém tão valente, não quero ofender-lhe, mas ele será um ótimo substituto - sorriu, recebendo de volta um sorriso forçado do panda presente - o que foi dito antes de chegarmos?

- Bem - continuou um coelho -, não precisam nem se acomodar, a conversa acabou. Não há como fazermos paz com vocês.

- Como não?! - Perguntaram Hui e Yi ao mesmo tempo, atônitos.

- Não há como, os habitantes tem muito medo. Vocês não podem mais circular pela China até que isso se resolva. Seu antepassado fez muito mal à todos, até ao meu povo, antes mesmo de Lord Shen nos perseguir - o panda gigante se exaltou e levantou, batendo na mesa.

- Tem que ter outro jeito...

- Não tenho outra escolha, Hui. Se você não aceitar e se retirar agora, serei obrigada a seguir as ordens de Jing-Quo. Ele será o novo líder do meu povo, conversamos e concordei com ele.

- Que ordens seriam essas?! - Perguntou Hui Nuan cheio de raiva e temendo a decisão.

- Exterminar os tigres e toda e qualquer descendência.

Ambos tigres congelaram ao ouvir isso e se lembraram de sua pequena tigresa dormindo na hospedaria.

- Não pode fazer isso, não fizemos nada para vocês. Tentamos ajudar depois de tudo que você e seu povo sofreram. Até procuramos o filhote de Jing. Isso não é justo! - Rugiu Hui.

- Nem vai nos deixar argumentar? E vocês não vão falar nada?! - Perguntou Yi aos outros participantes da reunião. Estava quase chorando.

- O que os faz pensar que somos perigosos? – Hui já estava começando a perder a pouca paciência que tinha para reuniões, começou a apertar os punhos cerrados. O que faria se desse tudo errado ali?

- O simples fato de serem tigres, mais fortes do que nós, mesmo que não sejam tão numerosos quando o conselho aqui presente. Alguns dos seus tentam nos devorar e roubar nossas terras. Você não sabe o quanto foi difícil para nós, os pandas, conseguirmos outro lugar para ficar. Alguns viajantes do seu povo tentaram roubar o que temos, nosso único lar! E você não sabe como foi difícil chegar aqui, porque à qualquer momento Lord Shen pode pegar Jing ou a mim.

- Eu e meu irmão vamos puni-los, mas não dê isso como encerrado, por favor. Não somos culpados se alguns de nós não aprenderam a viver em paz. Nós ensinamos, mas eles escolhem seu destino. Vou melhorar a situação.

Todos eles estavam com a cabeça abaixada, não iriam contrariar quem tinha toda razão. Nesse momento, a palavra cabia apenas ao líder panda, que dizia que seu povo era o mais prejudicado.

- Não podemos esperar para correr mais riscos. Se você não instruiu seu povo corretamente, a culpa é sua. São ordens de Jing-Quo e você nos deixa outra escolha - disse o único panda ali presente - guardas!

Segundos mais tarde, entram alguns macacos e ursos pela porta do salão. Os dois, em uma fração de segundo, se viraram para correr para a outra saída, porém os membros da reunião se levantaram para detê-los.

Tiveram que lutar para passar por eles. À cada soco ou chute que dava, Yi Jie pedia desculpa àqueles que acertava, não sabia lutar e não queria machucar ninguém, mas era preciso pra poder voltar pra sua filha. Hui estava na mesma, mas tinha tanta raiva que praticamente jogava longe todos que acertava e procurara livrar o caminho de sua esposa.

Hui deixou cair de seu bolso um cordão com uma medalha. O ainda líder panda a pegou, mas ao tocar a medalha, sua palma queimou e ele gritou. Aquele local de sua pata ganhou a cor branca. Vendo isso, o tigre rosnou e correu e o acertou com um chute.

- Estão vendo?! Eles nos atacaram – gritavam.

Os guardas tomaram conta do salão e sem ter como sair, os tigres subiram na mesa. Hui olhou para a janela, depois para sua esposa que estava a seu lado olhando para os animais que se aproximavam. Notando o olhar de seu marido, perguntou.

- O que foi? – Ela olhou para onde ele sinalizou com a cabeça – ah, não!

- É pela Lin – agarrou a tigresa e correu com ela no colo. Se atirou em direção à janela cobrindo Yi com seu corpo para que não se machucasse.

Ao cair de pé do lado de fora da casa, ambos olharam para trás, e os participantes da reunião olhavam pela janela, atônitos. O tigre colocou sua companheira no chão e começaram a correr para a hospedaria.

- O que aconteceu? – Perguntou Yun com Lin no colo, ela estava acordada quando seus pais chegaram a seu quarto.

- Temos que ir embora agora!

- Por que Yi? O que deu errado?

- Ele quer nos destruir, matar os tigres – disse Hui Nuan, tomando uma mochila para ajudar Yi a colocar as coisas de Lin.

- Quem quer isso?

- Jing-Quo.

- Mas ele não era amigo seu e do seu irmão?

- Era, mas parece que quando se trata de terras, não temos amigos.

Quando saíram da hospedaria, vários animais estavam vindo atrás deles.

- Vocês vão ficar aqui, até que a gente controle a situação. Isso vai ser resolvido, eu prometo! – gritou Fa Huo correndo com os outros para apanhar os tigres.

Eles correram, mas se passassem juntos pela fronteira, certamente seriam capturados pelos guardas. Chegaram à um dos limites do vilarejo que era uma floresta, ali seria mais fácil escapar.

A ideia que Hui teve, seria uma dor tanto para ele quanto para Yi Jie, mas era necessário.

- Yun, leve Yi e Lin para longe daqui. Cuide delas.

- Está bem – respondeu Yun sério.

- O que?! Você não vai ficar... – protestou Yi, sendo cortada por um terno beijo do tigre.

- Vou ganhar tempo, só quero que salvem a Lin. Não deixem que a peguem, nunca, entendeu? – Instruiu Hui Nuan segurando o rosto dela

- Está bem.

Hui olhou para sua filhote e deu um terno beijo em sua testa. A pequena estava acordada. Tinha os olhos e a força dele, e as feições de sua mãe.

- Nunca esqueça que eu te amo – ao dizer isso, colocou ao redor do pescoço da tigresinha um cordão negro com o símbolo de Yin Yang. Era o presente que queria dar a ela quando completasse um mês de vida, o que estava próximo de acontecer.

Ela sorriu e segurou o dedo do pai, o que cortou o coração dos três tigres.

Hui se libertou do agarre da filha e esperou que corressem com a menina virou-se e adentrou novamente no vilarejo.

Depois disso, encontrou apenas o cordãozinho que deu à pequena Lin, caído na estrada por onde ele procurava-os. O encontrou longe de qualquer vilarejo ou casa e concluiu que estavam todos mortos.

Limpou-se com o dorso da pata as novas lágrimas que corriam por seu rosto e por alguma força maior, colocou os olhos na escrivaninha do Mestre Shifu.

Viu uma pintura antiga entre as várias velas e incensos de sândalo, nela estava o panda vermelho e um tigre ainda filhote.

Hui a recolheu e olhou. Via os olhos familiares a ele naquela pintura, um pouco borrada e manchada pela ação do tempo.

"Deve ter conseguido fugir da perseguição dos outros animais e do que eu fiz quando cheguei ao trono...", seus pensamentos foram cortados por Chao entrando em seu quarto.

- Quantas vezes tenho que dizer para bater na porta?

- Perdão, senhor. Queria falar comigo?

- Sim, sente-se aqui. Song conseguiu convencer Dishi a me ajudar e teve uma ideia para podermos pegá-lo.