O Verdadeiro Lar

Amigos, Amigos... Negócios á Parte


- Deixe-me ver se entendi... vamos armar um ataque longe daqui pra “raptar” o Dishi?

- Sim.

- Mas ele não queria que a gente se livrasse do panda?

- Sim, Chao. Ele os fez acreditar que ainda não avançamos de onde estávamos, além de Song ter feito seu amigo acreditar que Dishi é ruim. Isso de trazê-lo aqui faz parte do plano, aquele panda idiota vai vir atrás dele e quando vier, já sabe.

- Hm, agora sim. E quando e onde vamos?

- Bem, vamos atacar um vale a oeste de Gongmen, daqui há dois dias de barco. Vamos apenas fingir a derrota e quando o tivermos aqui conosco, preciso que ele leve o pergaminho pra e ter certeza se não é ele. Se for ele, tenha certeza de que dessa noite ele não passa.

- Dishi já foi mais inteligente – Chao e Hui Nuan riram.

- É essa criatura que ele está querendo que o deixa assim.

- Mas que idiota.

Depois de um tempo, Chao retirou-se com uma carta de seu chefe para Song com a resposta positiva à sua mensagem. Hui Nuan foi arrumar suas coisas.

Guardou a pintura e parou. Era a única lembrança que tinha de sua família. Começou a lembrar de tudo que o levou até ali, do colar que ele deu à Lin quando ela era filhote e encontrou na estrada, já não estava com ele há muito tempo. O jogou em um rio assim que estava à caminho de casa.

A raiva o inundou quando chegou em casa e comunicou o ocorrido à Zhen De que não quis fazer nada, dizendo que se contra atacassem seria pior para seu povo e para os dois irmãos.

Foi quando Hui decidiu que tomaria seu lugar. Menos de uma semana depois de voltar para casa, escreveu uma falsa carta para Zhen com um pedido de ajuda e ele não poderia recusar.

O antigo imperador tigre saiu de casa caminhando para o local que deveria socorrer, acompanhado por mais dois felinos que se ofereceram para ajudar. Afastados de casa, os tigres atacaram o imperador sem piedade e ele não teve nem chance de sobreviver. Eles foram pagos por Hui Nuan para cometer tal crime, assim, a culpa não cairia no futuro imperador. Quando voltaram depois de dois dias, alegaram que foram atacados por pandas que queriam realmente se vingar dos tigres pelo que aconteceu na reunião. O povo engoliu. Um sorriso malicioso surgiu em seus lábios ao recordar essa parte, ignorando que Akame não acreditava nisso.

Ela resolveu deixar de lado para não incomodar o bebê, estava grávida e seu filhote estava prestes a nascer, sem pai por conta dos caprichos do cunhado, mas ele sentiu pena e se ofereceu para ser figura paterna. A tigresa aceitou relutante porque não tinha certeza se Hui Nuan era inocente, mas tão pouco quis que seu filhote nascesse sem pai.

Oogway, que já conhecia o jovem imperador desde que nasceu, veio para convencê-lo a se entregar antes de enviar os guerreiros. Tentou aliviar o pesar de seu coração e depois, iria atrás busca dos outros animais para impedi-los de cometer mais injustiças. Ele recusou sua ajuda e a velha tartaruga o advertiu sobre a profecia, que ela era referente a sua história. Hui disse que nada mudaria o que ele pretendia fazer.

Quase um mês depois de o novo imperador tigre ter perdido sua família, Akame deu a luz a um príncipe, o qual recebeu o nome de Dishi. Hui decidiu que o criaria como se fosse seu filho.

- Agora estou sozinho porque aquele idiota me traiu - suspirou ele fechando os olhos e passando as patas por seu rosto - espero, do fundo do meu coração, que você não seja o guerreiro, porque eu não quero matar quem eu tenho como filho. Ninguém nunca substituirá Lin, mas você é o único que pode continuar meu legado.

"Ela vai me odiar, eu sinto muito Song, mas a sua promessa eu vou ter que quebrar, por garantia de que os guerreiros não me derrotem."

No pátio, os soldados recebiam as informações de Chao. Ele já havia dado a resposta da mensagem ao ganso que a trouxe e agora instruía o contingente selecionado para a farsa sem que eles soubessem que eram apenas isca.

- Somos importantes, estamos na linha de frente de batalha - sorriu um gato da montanha à um jovem tigre a seu lado.

- Mal vejo a hora de lutar contra aquele traidor do Dishi - devolveu o sorriso malicioso a seu amigo.

-... então, assim que encontrarmos o panda, ou vamos prendê-lo ou matá-lo.

Sr. Ping que estava escondido entre algumas plantas atrás do pátio quase cai do galho onde estava sentado ao ouvir o que aquele tigre disse de seu filho.

- Matar meu filho?! Preciso avisá-lo - Se debateu nos ramos tentando sair dali para voar à Gongmen, chamando atenção de um lince que apareceu a seu lado.

- Espiando, não é? Você não vai a lugar algum que não seja a masmorra.

Agarrou o ganso pelo pescoço e desceu com ele até onde se encontravam os outros prisioneiros.

-

No vale dos pandas, na hora do almoço os Cinco Furiosos, Po, Shifu, Song e o príncipe tigre se juntariam à Jing-Quo para comer. Po estava indo em direção à cozinha para preparar o almoço e foi parado por seu pai.

- O que está fazendo, filho?

- Ué, vou cozinhar – respondeu Po dando de ombros.

- Mas temos quem cozinhe, você e seus amigos não precisam se incomodar.

- Ah! Mas eu gosto de cozinhar.

- E ele faz o melhor macarrão que existe – completou Víbora chegando com Tigresa à porta da cozinha.

- Claro, que te não tão bom quanto a sopa do ingrediente secreto do meu pai, mas agora eu sei o ingrediente secreto, mas mesmo assim eu não cozinho tão bem.

Jing sentiu uma pontada em seu peito quando Po falou em seu pai adotivo, mas já não era tão ruim. Estava se acostumando. Ele teria que conhecer seu filho pouco a pouco.

- Ah, Po, não fale isso, você cozinha tão bem quanto ele – Víbora o confortou.

- E se vocês concordam que ele cozinha tão bem, eu gostaria de provar – o líder panda sorriu ao filho.

- Aee!

O panda se virou e foi fazer o seu melhor e mais especial macarrão.

- Hey, você não deveria estar na mesa esperando a comida? – Perguntou a cozinheira à Po, estranhando a presença dele ali.

- Meu pai me deixou cozinhar hoje.

- Tá... mas quem cozinha é eu e ele, Ho – apontou para outro panda que estava na mesa da cozinha.

O outro panda sorriu e acenou para o Dragão Guerreiro com as patas cheias de farinha e um pouco de massa de bolo no focinho, o que causou risadas em Po que acenou de volta.

- Bem, eu vou fazer o macarrão, vocês podem me ajudar...

- Mas a cozinha é minha – a panda respondeu ficando brava.

- Nossa, só quero macarrão.

- Deixa que eu faço.

- Mas meu pai quer meu macarrão.

- Por favor... – ela lançou um olhar mortal à ele, ou quase.

- Ha! Depois dos olhares assassinos da Tigresa pra mim, você não me dá medo – ele riu e cruzou os braços sobre a pança e quando olhou para a cozinheira de novo, ela estava apontando para a cara do panda com uma concha – ah!

- Argh! Está bem, panda! Mas, minha cozinha... minhas regras – sussurrou ela.

- Huh, tá... legal – ele pegou a concha e a abaixou.

- A Tao Li odeia que mexam na cozinha dela, por isso me deixa sentado aqui e eu só mexo quando ela não está – disse o panda que estava fazendo o bolo que seria sobremesa. Ele tapou a própria boca ao perceber o que disse e a panda o ignorou.

- Por onde começamos, Dragão Guerreiro? – Perguntou ela de má vontade.

- Me chame de Po – respondeu ignorando o mau-humor repentino dela – vamos cortar uns legumes e faz assim, ó.

Foram se sentar à mesa para esperar o almoço. Havia sido uma longa caminhada ao redor da vila dos pandas, inclusive em uma parte de Gongmen para garantir que não houvesse nada de errado lá.

Shifu chegou e se sentou ao lado oposto de Tigresa, ao lado de Jing. Sempre que pensava em iniciar uma conversa com ela, os olhos dela o intimidavam. Ela estava séria como antes de Po chegar ao palácio. Mas, mais que isso, ele podia imaginar que ela estava brava. Ao lado dela, esava Víbora e à frente da serpente estava Dishi e a seu lado Song. Depois, sentaram-se Fa Huo e à frente dele, sua filha Ju.

Ninguém falava, estavam em um silêncio incômodo. Até que Víbora falou.

- Então, senhor Jing-Quo, perdoe minha curiosidade, mas qual era o nome que você e sua esposa escolheram para o Po?

- O nome era Yu Qing, ela o escolheu assim que Po abriu os olhos – sorriu para a serpente.

- Nome bonito.

- Yu era o nome dela, e ela apenas colocou outro nome. Mas é especial porque foi ela quem escolheu. Nos demoramos pra concordar quem escolheria e ela fazia criancices de emburrar quando eu apenas não concordava com algo.

Nesse momento Po entrou com Tao e Ho para servir à todos.

- Ué, cadê o Garça, o Macaco e o Louva-a-Deus? – Perguntou o panda olhando a sua volta.

- Estamos aqui! – Gritou Macaco entrando na frente com Garça chegando atrás.

- Não gritem, que falta de educação – Víbora deu bronca nos amigos.

- Tô com fome – disseram Louca-a-Deus e Macaco, cada qual em seu lugar.

- Vocês não sabem se comportar – disse Garça e balançou a cabeça em desaprovação á maneiras dos amigos.

- Não ligo – respondeu o inseto recebendo um prato de Po que apenas ria da discussão – obrigada, amigão.

Após servir a todos, Tao e Ho se retiraram e Po se sentou em seu lugar, entre seu pai e Tigresa, a quem deu um leve beijo na testa.

- Então, do que estavam falando?

Jing-Quo contou o mesmo que havia contado aos guerreiros, deixando Po com um sorriso bobo. Sua mãe, tinha poucas imagens dela em sua mente, mas ela fez muito por ele.

- Entendi – disse Po com a boca cheia – ah, posso te perguntar uma coisa? – O panda engoliu a comida.

- Claro, filho.

- Eu queria saber por que o Hui Nuan está querendo se vingar de vocês.

- Antes de tudo, nós éramos amigos...

- Quê?! – Perguntaram todos em uníssono olhando para Jing. Macaco cuspiu um pedaço de legume no olho de Garça.

- Ah, Macaco! Que nojo!

- Quando você está gripado fica bem mais nojento do que esse legume aí.

- Cala a boca que eu quero ouvir a história – Víbora disse com um silvo e Macaco emburrou.

- Continuando... – disse Jing sério – éramos amigos e quando Lord Shen nos atacou, até me ajudou a procurar o Po. Os anos se passaram e eu soube que ele teria um filhote na mesma época em que eu seria proclamado líder. Houve uma reunião para a paz na província central porque os habitantes da China ainda temiam os tigres mesmo depois de tanto tempo e tantas provas de amizade e eu não pude ir, Fa Huo foi em meu lugar. Eles não queriam a paz e Hui tentou atacar Fa e por esse ataque ele tem a pata queimada, não voltou a ser negra. Depois ele provocou os líderes atentando contra a paz de novo. Quando a notícia dos ataques se espalhou, os clãs os atacaram. Assim, Oogway e os antigos Cinco Furiosos resolveram ir atrás de Hui para impedir mais tragédias com o povo da China e mesmo com Hui.

Todos ouviam atônitos. Como um amigo se tornava alguém ruim assim? O que os pandas tinham feito de tão mal? Era a pergunta que rondava a mente de todos. Mas Tigresa e Po se entreolharam, provavelmente pensaram no mesmo.

- Dishi - sussurrou ele para que apenas ela ouvisse e ela confirmou com um leve aceno de cabeça.

Mesmo sem conseguir ouvir, o tigre citado parou de comer para tentar entender a comunicação de ambos recebendo um silvo de Víbora. Assim ele ignorou e voltou a se alimentar.

A seu lado, Song ouvia tudo, sabendo que era uma grande mentira, mas Jing falava com tanta naturalidade... será que ele escondia alguma coisa, ou era Hui?

Macaco e Louva-a-Deus perderam o clima para brincadeiras, estavam com pena do pai de Po. Ao menos parecia que ia durar.

- Que triste, deixou amizades, se tornou ruim... - lamentava a serpente com o olhar perdido - apesar de tudo, Hui é uma criatura viva e merece ser feliz, mas... inveja, raiva, são fortes venenos.

Dishi se pôs sério lembrando-se do que sua mãe lhe disse. Já não devia ligar, já havia mandando a mensagem e achava que agora não tinha como voltar atrás.

- Nossa, nem Lord Shen causou tanta revolta assim - disse Garça.

- Talvez por causa dos canhões - disse Tigresa - ele desenvolveu armas que, embora demorassem para atirar, eram muito potentes e poderiam matar qualquer um que fosse contra ele.

- Ele não conseguiu matar Po - quem se pronunciou agora foi Louva-a-Deus.

- Mas isso é por conta da paz interior dele, da técnica de luta.

- Ou porque ele tem material para aguentar uma bala de canhão na barriga - disse Macaco, todos seguraram a risada sem sucesso.

Po achou graça sim, como JIng-Quo e até Shifu, mas Tigresa apenas levantou a sobrancelha. Aquilo era sério e num momento como esse eles conseguiam tirá-la do sério e a envergonhar com uma brincadeira fora de hora.

- Tirou as palavras da minha boca - dizia o inseto entre risadas - nem de você ele ganha nos treinos, Tigresa.

Ela espalmou a pata no ponto entre a testa e o focinho.

- Ah ha ha, chega né? - Disso Po, sem graça sentindo o humor de sua namorada mudar.

- Mas - Shifu limpou a garganta para chamar a atenção e acabar com as risadas -... não houve nada que provocou essa vontade nele?

- Sede de poder, Mestre Shifu. Sobe à cabeça e então ele nem sequer se importou com a amizade de Jing. Pode ser que ainda a quisesse, mas estava obcecado - respondeu Fa, sério.

- Eu ouvi um boato - Dishi se pronunciou por primeira vez desde que se sentou à mesa e Fa congelou, não sabia se queria saber que boato era esse.

- Qual? - Perguntou Fa, macaco, o inseto e a serpente ao mesmo tempo.

- Que boato seria? - Perguntou Shifu.

- De que ele sofreu muito pra querer tanto poder, com os pais e com essa outra esposa que teve - respondeu Dishi.

- Como o que?

- Parece que... meu avô, não dava muita atenção a ele, só pro filho mais velho, que eu descobri que foi meu pai né? Ouvia minha mãe discutindo com ele que isso não era desculpa para ele interferir na vida ou matar os outros, que ele deveria mudar para ser aceito como um líder.

- Assim como Shen - concluiu Po.

- Exato, filho.

- E também, ele fez algo para impedir a profecia. Ainda não descobri o que foi, mas parece que foi grave.

Jing-Quo ficou congelado com essas palavras do príncipe. Não queria contar a eles tamanha tragédia. Eles, sendo do povo de Hui Nuan deveriam e mereciam saber, já que iriam enfrentá-lo. Shifu notou e decidiu que depois falaria com ele.

Todos já haviam acabado de comer, mas depois do que o jovem tigre disse, estavam do mesmo modo que começaram, naquele desconfortável silêncio.

- Bem, eu vou dar uma volta. Vem comigo, Dishi? - Convidou Song.

- Claro - sorriu para ela.

Víbora estreitou os olhos, sabia que havia algo ali e descobriria, ah se descobriria. Os olhos semicerrados da serpente não passaram despercebidos por seus amigos

Ambos se levantaram, saudaram os mestres e o líder panda e saíram da sala de jantar. Foram em direção à porta da casa.

- Espero que ele mande a resposta logo - disse Dishi quando já estavam longe o suficiente para que ninguém os ouvisse.

- Se acalme. Vai dar tudo certo e todos vamos ter o que queremos.

- Você está ajudando por que?

- Porque ele não me abandonou como minhas antigas companheiras.

Mal sabia ela que suas amigas estavam em uma das concentrações de prisioneiros recebendo a cruel reeducação.

Na sala de jantar os outros estavam ajudando Po a recolher os pratos.

- Tigresa, eu preciso falar com você mais tarde, assim que resolver algumas coisas.

- Sim, mestre - respondeu ela secamente com uma reverência e recolheu novamente os pratos da mesa para acompanhar seu panda até a cozinha.

Os outros foram para fora treinar, pelo menos era essa a intenção, antes de Víbora contar de suas suspeitas sobre as armações de ambos felinos que se diziam amigos dos guerreiros.

- O que podemos fazer pra ajudar? - Perguntou Garça.

- Bem, eu ainda não sei. Mas temos que descobrir o quanto antes, estou com receio de que algo ruim aconteça.

- Vamos andar pela vila procurando por eles enquanto fazemos ronda. Quem os ver... - disse o primata.

- Tenta descobrir o que estão fazendo - terminou Louva-a-Deus.

- Isso! - Víbora sorriu e eles se separaram em duplas. Ela e Garça, Macaco e o inseto.

-

Shifu pediu à Jing para conversar na sala de reuniões. Quando chegaram lá, o panda vermelho sentou-se à frente do líder mostrando um semblante sério.

- Então, Mestre Shifu, do que quer conversar?

- Eu quero saber o que Hui Nuan fez que o deixou tão nervoso quando Dishi falou sobre. Você sabe algo que nós não sabemos e parece que quer esconder. Isso não é justo, uma vez que vamos enfrentar o inimigo por vocês.

Sua voz era profunda, séria e segura. Em momento algum falou e isso deixou o panda incômodo, o intimidou até pelo olhar que Shifu lhe dedicava.

- Mas do que... está falando? Como eu posso saber de alguma coisa? - Jing aparentou estar nervoso pela insegurança notável.

- Você é um mal mentiroso, como Po - Shifu sorriu com auto-suficiência.

- Está bem... eu vou contar o que eu sei - respirou fundo e olhou nos olhos do mestre - aproveitando a morte de seu irmão e os ataques, ordenou a seus soldados que durante a confusão, tomassem todo e qualquer filhote de tigre recém-nascido e se livrassem deles para que o Guerreiro Prometido não pudesse cumprir o que foi destinado.

Shifu engoliu em seco, pensou em Tigresa. Será que foi assim que ela foi parar em Bao Gu? Talvez numa fuga desesperada para salvar sua vida, seus pais a abandonaram lá para mantê-la segura e longe da perseguição do tirano.

O que a sede por poder não era capaz de fazer com alguém.

- Capaz de fazer mal contra seu próprio povo. Você... tem certeza disso?

- Absoluta. Por quê? - Perguntou Jing curioso.

- Isso vai interessar muito à alguém - respondeu Shifu olhando ao chão.

- Tigresa.

- Sim, sei que ela vai imaginar o mesmo que eu... que ela foi salva daquele massacre terrível.

- Você se importa muito com ela, não? - Jing sorriu.

- Assim como com todos os outros alunos, agora com licença - Shifu respondeu escondendo perfeitamente seu nervosismo e saiu da sala à passo rápido deixando Jing-Quo surpreso, confuso com a atitude do mestre.

- Huh, que mestre estranho.

Saiu da sala de reuniões e se dirigiu à cozinha, certo de que ali acharia Tigresa, uma vez que ela estava passando mais tempo ao lado de Po.

Não estavam lá. Percorreu a casa inteira e foi encontrar ambos nos jardins do fundo, treinando. Ficou algum tempo apenas observando o treino de ambos.

Chutes que ambos bloqueavam, socos que ela nunca deixava que a acertassem, já ele ainda não bloqueava bem os socos dela. Um salto que ela deu para cair nas costas do panda, o derrubando de barriga para baixo.

- Uh!

- Desculpe, Po - ela disse saindo de cima dele.

- Tudo bem, Ti - ele respondeu se levantando com a ajuda dela.

Já fazia mais de uma hora e meia que estavam treinando sem parar, sem uma conversa se quer. Não precisavam conversar tanto, apenas a presença um do outro já era o suficiente entre eles.

- Quer tomar alguma coisa, Ti?

- Talvez depois, quero treinar mais agora.

- Mais? Vamos descansar um pouquinho?

- Deixe de ser preguiçoso, panda, você tem uma missão à cumprir - disse ela em seriedade fingida se afastando do abraço que ele estava prestes dar.

- Agora resolveu me deixar de lado é?

- Estou só focando na missão - sorriu maliciosamente para ele - mas se quer algo de mim...

- Ô ou...

- Tente - colocou-se em posição de batalha e ele fez o mesmo.

Ele partiu para cima dela tentando imobilizá-la e claro que ela se esquivou saltando e lhe deu um chute que o fez bater contra a árvore. Tigresa o olhava com sua expressão de orgulho inabalável.

Po tentou mais uma vez, agora forjando ataques para tentar enganá-la, o que só aconteceu uma vez que foi quando ele prendeu seu pulso. A felina, ao sentir seu agarre e que era puxada de encontro a ele, virou o braço de forma que o pulso do panda fosse contra sua articulação. Ele gritou e nesse momento, ela o derrubou varrendo os pés de Po com uma rasteira. Novamente de boca para baixo, o panda havia soltado o pulso dela e sentiu um peso em cima de suas cosas, era Tigresa sentada vitoriosa sobre ele.

- Não vai ter nada - ela riu baixinho.

Num giro brusco, ele rolou para ficar com as costas no chão fazendo-a cair em cima de sua barriga. Recebeu um grunhido dela e se deparou com seus dentes num sorriso não muito amigável.

- Mereço porque me esforcei, não é? - Disse ele já se arrependendo do movimento, por certo a pegou desprevenida - ah, desculpa...

O rosto de Tigresa se tornou calmo e com um sorriso divertido. Apoiou as patas no peito do panda.

- Eu te fiz treinar, sem você perceber... - ela se aproximou para um beijo.

- Ah, entendi! - Po ficou alegre com o quão óbvio era o plano de sua felina, se deixando levar pela vontade dela - assim como treinei por comida quando... - alguém limpou a garganta.

- Panda...

- Mestre Shifu!! - Gritou Po se levantando e empurrando Tigresa que rapidamente se colocou de pé em choque - a gente... só tava... treinando... - dizia o panda brincando com os dedos sem olhar o mestre. Ainda achava que mesmo com a benção, Shifu ficaria com ciúmes de sua filha ou bravo.

Já Tigresa não gostava que ninguém a visse assim tão boba, nem mesmo Po, mas com ele não tinha jeito, não é mesmo? O afeto era pra ele, então fazer o que se ele a via assim...

- Tudo bem, panda, eu quero que Tigresa me acompanhe, preciso falar com ela. É algo sério e de seu interesse.

"Ele não vai brigar com nenhum de nós? E... o que será que me interessaria?", pensava ela sentindo seu coração acelerar. Não estava certa de segui-lo para saber.

- Sim, mestre - respondeu por fim.

Shifu virou-se e começou a caminhar para outro lugar mais além dos jardins do fundo da casa de Jing. Precisava de um lugar calmo para conversar com ela e trancada entre quatro paredes, essa tigresa temperamental não poderia ouvir o que ele diria.

Tigresa o seguiu, mas não se afastou tanto sem antes olhar para Po esperando sentir segurança. O panda seguia sentado olhando para ela e deu um terno sorriso para confortá-la. Sussurrou um "estou com você", de forma que ela leu seus lábios para adivinhar e assim, sumiu com seu mestre atrás de algumas árvores.

-

- Senhorita Song?

- Sim?

Ela e Dishi viraram-se para o ganso que a chamou. Ele parecia com medo, engoliu em seco e estendeu-lhe a asa com um pergaminho pequeno.

- Aqui está a resposta de Hu...

- Sh! Cala a boca! - Disse Dishi fechando seu bico com sua pata - não diga nada do que você viu e ouviu a ninguém, entendido?

- Sim - o ganso sentia como seu coração quase parou com o olhar do tigre.

Dishi o deixou ir e então ele e Song se afastaram para ler a resposta à sua mensagem.

O plano de Dishi seria realizado... em breve.