O Sonho

Memphis Circus - Parte 1


Acordo sentindo-me totalmente renovada, aquela coisa que Henry passou em minha testa me fez ficar assim? Porque se for isso mesmo, eu vou querer saber o que era aquilo. Não sinto dor e nem vertigem, isso é ótimo. Mas ainda fico pensando naqueles flashes que tive ontem. O bebê, o sol e a lua, o casal triste. Será que aquilo queria dizer alguma coisa?

Troco de roupa e desço para tomar café da manhã. Sento-me e quando olho para Henry tomo um susto, ele estava meio... esfumaçado e eu podia ver através dele se encarrasse por muito tempo. Eu fui tentando apagar o grito que eu estava contendo em minha garganta, respirei profundamente algumas vezes e meu avô diz:

- Lizie, se continuar assim ficará estrábica.

Eu imediatamente desfoquei meu olhar de Henry antes que ele pudesse perceber.

Ok, Elizabeth Madeleine Smith trate de se acalmar já – Disse a porcaria do meu subconsciente – Está tudo bem, deve ser coisa da sua mente.

Como pode ver, eu não sou muito boa quando o assunto é acalmar á mim mesma.

Senhor Smith colocou a mão na minha testa e fechou os olhos.

O que está fazendo? – Pensei

Ele tirou a mão da minha testa e voltou ao normal e eu fiquei lá com aquela cara de “Ahn?”

- Aquela criança... – Ponderou meu avô – Eu já a vi...

Então ele me olhou com uma cara de espanto como se de repente tivesse se lembrado de algo muito importante

E sorriu para mim

- Aquela criança – Repetiu ele

Tomamos nosso café da manhã normalmente e mesmo desconfiando algo sobre Henry preferi manter esses pensamentos para mim mesma.

- Lizie - Chamou meu avô – Será que poderia me acompanhar até a biblioteca?

- Claro – Falei

Passamos pelos corredores e eu vi várias crianças treinando, empunhando suas armas e alguns tentavam não deixar o capacete cair sobre suas vistas. As salas de treinamento estavam completamente lotadas, com alguns duelos ou “batalhas”. Eu podia ouvir gritos e risos, alguns vaiavam e outros até incentivavam. Vi que em uma das salas Alanisia finalmente tinha encontrado um oponente que estivesse á sua altura. Era um cara três vezes maior do que eu e com um sorriso meio... estranho, deu medo. Eu não queria estar na pele dela neste momento.

Eu podia ouvir os sons da batalha ao longe

Abri a porta e sentei em um sofá e meu avô em uma poltrona.

- Sei o que você viu – Disse ele – E me refiro às duas coisas

- Que duas coisas? – Perguntei

- Aquela visão do bebê e Henry – Disse ele

Ficamos algum tempo em silêncio, até que eu disse:

- Por acaso tem algo que queira me contar?

Meu avô balançou a cabeça afirmativamente

Sabia – Pensei

- Há um lugar - Disse ele – Chamado Memphis Circus, este circo está na cidade. O apresentador se chama Aron e a equilibrista se chama Zahara – STOP! Esses nomes não me são estranhos! – Eles têm uma forte ligação com você.

- E sobre Henry? – Perguntei

- Sobre ele... – Começou ele

Normalmente sou eu quem tenta enrolar... Acho que herdei isso do meu avô, ele tentou fazer o mesmo que eu, mas ainda bem que nenhum de nós dois consegue enrolar.

- Eu já lhe disse tudo o que há para saber – Disse ele – Como sabe, Henry morreu á 30 anos e eu lhe trouxe de volta á vida para poder trazer você até mim.

Ah então é isso? Fim e ponto final?

Nem pensar! Agora eu vou até o fim!

Eu comecei a pressioná-lo para me contar tudo o que sabia e eu não sabia que eu podia ser tão persuasiva quando quero. Saí de lá satisfeita comigo mesma por ter conseguido saber de tudo o que eu queria. Vamos repassar, Henry voltou sim á vida, só que ficou vagando por um tempo perdido por ai, até que senhor Smith o encontrou e suas memórias estavam um pouco debilitadas... Ok, elas estavam muito debilitadas.

Senhor Smith disse que teve que contar tudo para Henry e ele não sabe onde ele estava antes que ele o encontrasse. Acho que eu nunca disse, mas Henry tem Cabelos tão negros quantos seus olhos. Tem uma feiticeira chamada Modor e ela está atrás de mim para fazer sua poção da juventude eterna. Isso porque eu sou... Como foi que ele chamou mesmo? Acho que foi algo como “A centelha eterna da vida” (só que... eu não sou imortal).

Pelo que eu entendi essa feiticeira totalmente maluca quer dar uma de João e Maria, me botar no forno e me cozinhar. Mas eu não estou muito afim de virar lanchinho de bruxa do mal.

Só sei que eu tenho que ir até esse tal “Memphis Circus”, tenho que descobrir o que Zahara e Aron tem a ver comigo. Mais um mistério para resolver... Ai que legal...

Aqui estou eu, totalmente sozinha á alguns metros do Memphis Circus. A grande lona é vermelha e amarela, há muitos cabos aqui e o som, as imagens...tudo é tão convidativo...em alguns momentos eu cheguei a ficar hipnotizada, acho que era toda aquela coisa de “circo”

Já estava anoitecendo quando eu tomei coragem para entrar, sentei-me em uma das arquibancadas e vi o apresentador: Aron, com seu terno vermelho com cauda de andorinha, seu microfone sem fio e sua enorme cartola. Mas havia algo nele que me era muito familiar... eu já vi esse sorriso meio sinistro em algum lugar. E então ele diz:

- Senhores, senhoras e crianças de todo o mundo, sejam impiedosamente bem-vindos!

Uma salva de aplausos

E um sorriso que me fez sentir um frio na espinha

- E que o show comece – Disse ele sombriamente – E vejam o espetáculo que temos para você está noite

E um feixe de luz branca se centralizou no palco. Era um tipo de historinha, Um homem e uma mulher que se conhecem num parque, a lua está a pino e então aparece um tipo de monstro muito macabro (aplausos para o pessoal da maquiagem) que tenta matar sanguinariamente e ele consegue, roubou a vida da pobre moça e o cara fica lá martirizando á si mesmo e por vingança, tentou matar aquele monstro.

Anos mais tarde, enquanto o homem dormia um vulto se aproxima, ele fica com medo, mas logo o perde ao perceber que aquele vulto era sua amada, mas há um problema: ela era um fantasma e ele dá um jeito para que ela volte a viver, mas isso não acontece, só tornou possível que ele a tocasse e vice-versa.

Eles decidem se casar, mas á algo de diferente na noiva que ele não percebe, o cheiro de vingança pairava suavemente no ar, eles acrescentaram névoa e tudo ficou ainda mais sinistro. Essas eram as frases que rondavam a minha mente: a noiva irá seduzi-lo, cozinhar você, comer você, saia daí enquanto pode...

E então eles se casaram e então uma surpresa: ela estava grávida, obviamente eles ficaram mega felizes, após alguns messes a criança nasce. A mulher está tão pálida e seus lábios tão vermelhos. E então ela percebe que o casamento não está mais dando certo e decide matar ele. Ela deixa o bebê no berço que ainda balança e pega uma pistola e aponta para ele, mas ele acorda bem no momento em que ela ia puxar o gatilho e então ela sorri. Ele pergunta o que ela estava fazendo e ela disse que só estava observando-o dormir e vejo que ela escondeu a arma nas costas

A criança já deve ter o que? Uns seis ou sete anos eu acho...

A mulher diz:

- Tais as obscuridades aqui para te mostrar.

Ela larga a criança. O homem está dormindo, ela pega um machado, mas nessa hora ele acorda assustado e diz:

- Por favor, abaixe o machado.

Então saem quatro braços mecânicos de baixo da cama e o prendem na cama. Pega uma faca e vai fazendo cortes nele

Isso é o tipo de coisa que se mostra em circos?

Ela joga acetona, álcool e acido sulfúrico nos cortes e ele agoniza e a criança fica sem reação. Ela pega um pedaço de ferro quente e vai queimando ele e logo em seguida joga baldes de gelo em cima dele, causando um grande choque térmico que o faz desmaiar e então ela pega um machado, o olha meticulosamente e lhe dá um longo beijo, se afasta um pouco e então... acerta o machado na cabeça dele.

Tudo fica vermelho, era sangue para tudo quanto era lado, gotas de sangue atingem a garota, o olhar dela era algo misturando pavor, medo e desespero.

Jorrou um pouco na plateia também e eles adoraram.

- Teremos um pequeno intervalo – Disse Aron – Voltamos daqui á meia hora

E então eu posso ouvir alguém gritando: “Mas que porcaria aconteceu aqui? Estanquem esse sangramento agora!”

Será que as minhas suspeitas estavam certas?