O Sexta Feira

Capítulo 03 - Estão prontos?!


M - Os dois estão prontos?

John e Malone em uníssono, cada um posicionado de um lado da herdeira, ambos com as mãos em seu ombro, já que em uma mão Marguerite segurava o Oroboros e na outra o seu amado Sexta Feira.

J e N - Estamos.

M - Certo, Verônica?

V - Estou pronta também.

Challenger já estava em seu laboratório, a notícia de que logo poderiam voltar para Londres, havia deixado-o entusiasmado e logo se viu no dever de trabalhar em suas invenções, com o intuito de finalizá-las, já que logo voltariam, era questão de poucas semanas, até ele se prontificou em ajudar a colher as pedras para Marguerite, para logo ele reencontrar sua Jessie. Antes que pudessem imaginar, Marguerite, John e Malone estavam no quarto da herdeira, em Londres.

N - Chegamos?

M - Sim Ned, chegamos. Eu vou procurar a Anne, ela é a governanta da casa, ou o James meu mordomo e motorista também, eles irão nos ajudar muito, principalmente porque muita coisa deve ter mudado desde que partimos. Me esperem aqui. Eu acredito que eles irão assustar já com a minha presença, com vocês dois então...

J e N - Está bem.

A herdeira saiu deixando o gato ali mesmo, no chão e ambos os homens em seu quarto, olhou no corredor, não era um corredor muito extenso, havia além de seu quarto, mais outras quatro portas, uma para o quarto dos funcionários, já que Anne e James eram casados, outra para um banheiro externo e às outras duas para quartos de hóspedes, era raro Marguerite receber visitas, mas ainda assim mantinha os dois quartos, a herdeira procurava ouvir algum barulho que lhe denunciasse à direção de seus empregados, mas bastou o cheiro de bolo para saber onde encontrar Anne.

Nas pontas dos pés seguiu para cozinha, a governanta estava de costas para a entrada, preparando a cobertura do bolo, olhando pelo vidro o quintal, enquanto James aparava o jardim.

M - Humm bolo de chocolate, o meu favorito, estou até com água na boca Anne.

A - Ahhhhhhhhhhh misericórdia, James, socorro, assombração!!!! JAMES!!!

A governanta ao ver a herdeira atrás de si, não reagiu como esperado, na verdade ela deixou a tigela cair no chão e apenas soube gritar e sair correndo pela porta ao lado chamando o marido, que por sinal já vinha a seu encontro, Marguerite continuou onde estava, parada, apenas observando o susto que a mulher havia levado, e vendo a reação de James que era mais sensato abraçando a esposa, enquanto lhe encarava.

M - Então, não vai falar nada James? Vamos, eu estou esperando e muito bem viva para ser assombração.

James - Senhora, eu não creio no que vejo. Como pode estar aqui? Faz quatro anos.

M - Como pode, acho que vocês sabem, não sabem?

James - O Oroboros, a senhora conseguiu. Vamos Anne é ela mesmo, não é uma assombração mulher, essas coisas não existem.

M - Olha James depois de tudo o que vi, não tenho mais tanta certeza, mas já que não acredita Anne, porque não me dá um abraço, para certificar-se que estou viva.

A mulher mais velha, uma senhora simpática e de bom coração, aproximou-se receosa de Marguerite e a envolveu em um abraço, o afeto que ela tinha pela a herdeira era como o de uma mãe, já que nunca pudera ter filhos, devido ser estéreo, nunca visou qualquer fortuna que Marguerite tivesse, apenas queria o seu bem e depois de quatro anos sem notícias, chegava a pensar que estava morta, agora podendo vê-la de perto e viva, não pode se conter e a abraçou forte, o mais forte que podia.

A - Minha menina é você mesmo, está viva, eu senti tanto sua falta, até mesmo do seu mau humor matinal, está viva. Minha menina está viva.

M - Anne eu estou bem, por favor pare, pare de me apertar tanto assim e de pular, estou ficando tonta.

Como John e Malone também ouviram os gritos, desceram imediatamente, seguindo a direção de origem, ou seja, a cozinha, ainda há tempo de ver todo o acontecido.

N - Espera, você (se dirigindo a Anne) sentiu falta do mal humor de Marguerite? Jura? Eu já não aguento mais.

J - Quieto Malone.

Quando Anne finalmente soltou a herdeira, que por sinal teve que sentar-se já que sentiu uma súbita tontura, capaz de fazê- cair a qualquer momento, pode explicar quem e o que estava acontecendo a cada um deles.

M - Anne e James, estes são Ned Malone e Lord John Roxton, são dois dos integrantes da expedição Challenger, vieram comigo hoje para ajudar. Aliás vou precisar muito ainda de vocês dois, será que posso contar com isso?

James também era um senhor já de meia idade, assim como Anne seus cabelos já eram grisalhos, feições mais sérias e duras, mas que por trás, carregava lealdade, fidelidade e um amor imensurável pela esposa e mesmo por Marguerite.

James - É claro que pode contar conosco senhora. No que precisar. Senhor Malone e Senhor Roxton é um prazer conhecê-los.

J - Dispensamos às formalidades James, pode nos chamar apenas de Roxton e Malone, e desde já agradeço pela ajuda, porém precisamos ser…

Anne olhava pasma para o caçador enquanto este falava.

A - Espera, Lord John Richard Roxton, o único herdeiro vivo de Elizabeth Roxton e Philip Roxton, o caçador mundialmente conhecido, eu não acredito que estou tendo a chance de conhecê-lo ainda em vida.

Anne não só fez tal comentário, como também o abraçou extremamente forte, pulando de emoção, virava o rosto de John de um lado para o outro comentando sobre não acreditar que estava tendo a oportunidade de conhecê-lo e também o quanto era mais bonito pessoalmente do que pelas fotos dos jornais. Os demais, olhavam a mulher animada que até parecia uma adolescente assediando seu ídolo, fazendo-o várias perguntas, vários comentários, não lhe dando nem tempo de responder uma, já lhe fazendo outra. Quando John finalmente conseguiu se livrar um pouco dos braços da senhora, dos apertos na bochecha que mais parecia uma de suas tias quando novo, já mais calma, pode notar a aliança na mão esquerda do caçador, quando o mesmo deslizou a mão entre o cabelo.

J - Nossa a senhora é muito forte, meu pescoço chega a doer e quanta energia. Fazia tempo que não via alguém assim.

A - Não acredito, Lord John Roxton casado, me diz quem é a mulher que lhe domesticou? Quer dizer desculpe pela intimidade, mas sei da fama que tem aqui em Londres. Está vendo Marguerite, perdeu a oportunidade, não sempre lhe disse para casar com ele, mas você me ouviu, não, só estava ocupada com seus negócios.

Marguerite tentava se lembrar dos conselhos de Anne, e de fato uma ou duas vezes ela a havia aconselhado a casar-se com um certo Lord, o qual a mulher admirava, o via como um perfeito cavalheiro, mas ela mesmo nunca se importou muito com isso, sempre ocupada com seus negócios, preocupada em fugir, se esconder e raras às vezes que ficava mais que uma semana em casa.

John já não sabia o que falar, a mulher o conhecia e conhecia muito bem, aliás não só o conhecia, como aconselhava Marguerite a casar-se com ele, coisa que ele nunca imaginou ouvir. Malone por sua vez ao ver que os dois exploradores não conseguiam reagir e nem mesmo os dois empregados nada faziam, caiu na risada, era uma situação que ainda que inusitada, não deixava de ser engraçada.

N - Hahaha eu não acredito… Haha não mesmo, se me contassem eu não acreditaria… Haha Anne acho que a Marguerite ouviu seu conselho… Haha eles estão casados… Haha Verônica e Challenger vão rir muito quando souberem disso.

Como despertos Marguerite e John trocaram olhares e, contagiados pelo jornalista começaram a gargalhar juntos, Anne e James não entendiam o que estava acontecendo até que repararem na mão esquerda da herdeira em cima da mesa, a aliança, igual à do John, idêntica.

A - Espera você? Ele? Juntos?

M - Sim Anne, eu e ele estamos juntos, está olhando para o seu futuro patrão.

J - Sim Anne, a sua “menina”, como a chamou há pouco e a mais nova Roxton, aliás Lady Roxton.

A - Eu… eu não acredito, preciso me sentar. James ela me ouviu, quer dizer me ouviu ao menos uma vez.

M - Na verdade Anne eu não ouvi você, eu não ouço ninguém lembra?! Mas me lembro de um Lord que você vivia comentando, principalmente quando eu estava por aqui, tinha noites que eu até sonhava com esse Lord sem saber quem ele era, de tanto que você falava.

J - Então quer dizer que sonhava comigo Marguerite?

M - Ora John eu não sonhava com você, eu nem pensava que o tal Lord que Anne tanto admirava era você, só sonhava com qualquer Lord por aí.

A - Isso até o dia da expedição de vocês, da organização, quando soube quem era você.

Marguerite arregalou os olhos encarando com espanto a governanta, isso por ter revelado um de seus segredos tão abertamente.

M - Anne, boca fechada não entra mosca.

J - Não, não, Marguerite, agora quero saber mais sobre isso, Anne quer dizer que ela sonhou comigo no dia que soube que eu iria, quando me conheceu?

A herdeira olhava fixamente para Anne, na esperança que ela negasse, mas como que para provocá-la, a mulher fez questão de entregá-la ao Lord.

A - Sonhou sim Lord Roxton, aliás na noite que chegou aqui após a organização de vocês e um pouco da manhã seguinte antes da partida, ela só falou sobre você.

O caçador enquanto a mulher falava, olhava para Marguerite com ar triunfante até ouvir o último comentário.

A - Mas todos os comentários eram maldosos, ela apenas expôs todo o seu lado grosseiro, sua falta de cavalheirismo, sua falta de educação, seu modo rude, até levou um canivete pequeno, que poderia ficar muito bem escondido dentro da bota ou dentro de algum decote, caso precise de alguma defesa imediata. Ela comentou que iria leva-lo, porque se você tentasse algo, conseguiria no mínimo fura-lo, e ela também tentou levar algumas pequenas doses de veneno, mas eu as escondi.

J - Marguerite, pensava em me furar e envenenar?

M – Furar talvez, mas parece que até hoje não deu certo e o veneno não era para você John, aliás para ninguém, só achei que poderia ser útil, e teria sido, depois de tudo o que passamos.

J - Poder ser. Mas me diga foi só isso que falou a respeito de mim?

Em uníssono, mas se contrariando Marguerite e Anne acabam por responderem juntas.

M - Ahhh sim, claro.

A - Ahhh não, teve mais coisas...

O caçador não pode deixar de rir, Anne estava entregando Marguerite, entregando seus segredos referentes a ele, e cada vez que fazia Marguerite ficava mais corada de ódio ou de vergonha, ou talvez os dois juntos.

A - Ela também lhe achou muito bonito, elegante e até mesmo... Como foi a palavra... Ah sim viril.

J - Obrigada Anne, foi realmente muito bom saber de tudo isso, aliás tem algo mais?

A - Que eu me lembre de momento, somente isso.

M - E nem vai se lembrar de mais nada Anne, chega por hoje, já falou mais do que era para falar, e você John porque está me olhando com essa cara? Sabia que temos muitas coisas para fazer? E estamos aqui enrolando.

John se aproximou da herdeira que continuava sentada na cadeira próximo a ele, apoiou-se sobre os braços, ficando frente a frente, ambos olhavam profundamente um no olho do outro, ela corada e um tanto receosa da atitude do caçador, enquanto ele mesmo com um sorriso no canto nos lábios, com ar brincalhão.

J - Muito feio isso Lady Roxton, mentir para o seu marido. Não me importaria em saber que me achou viril desde o primeiro dia em que nos vimos, podia ter me contado, seus segredos estão seguros comigo, além disto, devo confessar que eu te achei igualmente sexy.

A última frase John fez questão de pronunciar no ouvido de Marguerite, no tom mais baixo que podia, apenas para que ela ouvisse, e logo que concluiu seu comentário afastou-se dela, para assim continuarem com o plano.

M - Voltando ao plano, aliás é por conta desse plano que estou aqui. Preciso saber James e Anne, ainda posso contar com vocês?

James - Ora senhora, sabe que sim. Sempre estivemos ao seu lado, não é mesmo?! E continuamos, aqui estamos.

A - Sim, minha menina. Sempre estaremos ao seu lado. Pode contar conosco.

Marguerite abriu um sorriso nos lábios, estava feliz por ter os antigos amigos ainda ao seu lado, mesmo depois de tanto tempo.

M - Ótimo. Anne, você e John irão separar todas as minhas camisolas, vestidos, luvas, cortinas, lençóis, conjuntos de cama, tudo Anne, tudo que for de seda, cetim, tudo da alta costura. Separe e empacote, John vai ajudá-la com isso. James me diga conservou os antigos quadros originais que o Barão havia colecionado e os meus dois automóveis?

James - Claro senhora, os quadros estão todos na biblioteca, muito bem conservados e guardados, assim como os dois automóveis. O que pretende?

M - Os quadros quero que os inscreva no primeiro leilão que encontrar, os automóveis, venda aquele que mais valer, estão ambos no seu nome, venda ainda essa semana. O mais rápido que puder.

James - Claro, nesse fim de semana mesmo creio que terá leilões, irei inscrever todos os quadros como está pedindo. Quanto aos automóveis, o branco é o mais bem avaliado, devo vendê-lo mesmo assim?

M - Ainda que seja o meu favorito, sim, James, pode vendê-lo, sem pensar duas vezes, quanto antes melhor. Também irei precisar de você para contatar meus antigos credores, Malone será meu representante, será quem irá me intermediar na quitação das dívidas, claro com você sendo o motorista, escoltando-o. Pretendo em poucas semanas eliminar todas às minhas pendências, para todos nós voltarmos definitivamente para Londres.

A - Mas minha menina, vai se desfazer de tudo?

M - Sim Anne, tudo o que eu puder. E mesmo assim não sei se será o bastante para pagar os dois últimos credores, os quais vocês já imaginam de quem estou falando.

James - Sim senhora, os Alemães e o Xan, correto?

M - Correto James, mas estes eu irei pessoalmente, pelo menos Xan. Por hora, quero que vá organizando às contas, de quanto os devo, cada um deles.

James - Hoje mesmo, ire fazer.

M - Ótimo. Então vamos começar, precisamos voltar antes do anoitecer para o platô.

A - Certo, Lord Roxton, vamos separar os tecidos, começando pelo guarda roupa da minha menina. Aliás para que se desfazer deles, são tão lindos?

M - Eu vou trocá-los Anne, existe um povo no platô que trocam estes tecidos por pedras e ouro, irão usá-los como sei lá o que… cortinas para suas cabanas ou mesmo para se cobrirem, menos como roupas, mas valem muito para eles. Por isso separe o máximo que puder, assim mais pedras e ouro terei.