O Senhor de Gondor

Capítulo 1 - A Queda de Gondor


Era uma noite fria e chuvosa, e um cenário por muitos conhecido. Porém a Cidade Branca estava vermelha, banhada pelo sangue de meus irmãos.

Eu observava meu pai, em seu rosto havia uma expressão séria, sua barba grande e grisalha caía bem em seu rosto velho e rústico. Ele retirava a sua coroa de rei e a colocava de lado para vestir o seu elmo metálico. O olhar de meu pai quase lacrimoso dava um tom vazio em seus olhos negros.

Os barulhos nos portões eram mais altos que os trovões que caíam perante a tempestade, era possível ouvir gritos de homens sofrendo, alguns eram até mesmo familiares. Barulhos de espadas se chocando e flechas sendo atiradas. Eram sons horríveis demais para uma criança de apenas oito anos estar escutando; era o som de uma guerra que já estava durando dias, que destruía lentamente o nosso povo.

Tambores soavam do lado de fora do castelo, gritos e mais gritos atormentavam os mais profundos vazios em minha mente. Após o rei retirar sua coroa e colocar seu elmo, ele ergueu a sua espada e disse a todos:

— Homens, perante a vocês eu digo, a morte pode chegar para todos nós, mas não deixem uma coisa morrer dentro de vocês, a honra. Nossas espadas poderão cair, nossos escudos poderão ser quebrados, nossas almas poderão ser roubadas, mas a nossa honra nunca morrerá.

Eu olhava os homens naquele salão vasto e dourado, a expressão em seus olhos demonstrava a falta de esperança que tinham; eles sabiam que não conseguiriam vencer, mas nenhum deles fugiu, todos continuaram ali porque amavam o seu rei, porque amavam o povo a quem serviam, e a vida que tiveram. Todos sabiam que iriam perecer até o fim daquela noite, mas nenhum homem deixou seu posto. Então meu pai, o Rei, veio até mim e disse com um sorriso quase forçado no rosto e com os olhos fechados:

— Viva garoto, e não seja tolo como seu pai foi.

Ele me entregou nas mãos de Dalma, uma criada que cuidava de mim desde que eu era um apenas bebê.

Meu pai seguiu em frente, olhou para os seus homens que estavam naquele salão e disse:

— Por todos que morrerão hoje, por todas as gerações que serão perdidas, por nossas honras. Nós podemos não vencer, mas não iremos cair até que o sol nasça!

Enquanto ele dizia essas palavras, Dalma me carregava por um alçapão que levaria até outra parte do castelo onde estavam os refugiados, como crianças e mulheres. A última coisa que lembro ter visto foi o portão sendo destruído, orcs e homens invadindo o local e matando os homens do reino. E a última vez que vi meu pai, a última memória que tenho dele em minha mente, foi o seu grito aos seus homens com a espada apontada para cima, e correndo em direção aos inimigos.

A porta foi fechada, Dalma corria o mais rápido que podia comigo em seu colo por um corredor vazio, tochas nas paredes iluminavam o nosso caminho, ela correu até o final do corredor e abriu uma porta grande de madeira que dava entrada para um jardim ao lado de fora do castelo, o sol batia em meus olhos quase me cegando; eu os fechei e abracei Dalma com força. Eu chorava por meu pai e meus amigos, pela dor que sentia em meu peito por ser apenas uma criança assustada e não poder fazer nada. Então ao meio de passos apressados, Dalma caiu ao chão e me derrubou, eu rolei para o lado e então logo levantei, pensei que ela havia tropeçado em alguma coisa, mas quando olhei para ela vi que uma flecha negra estava cravada em suas costas, e seus olhos estavam vazios. Dalma estava morta.

Tentei procurar de onde havia vindo àquela flecha, olhei para cima, havia um paredão que dava acesso ao jardim do castelo e lá estavam dois orcs e um homem correndo os degraus em minha direção.

Eu estava em choque, os vi vindo em minha direção e sabia que iriam me matar. Eu não queira morrer, então comecei a chorar e gritar por socorro, porém, o som da guerra tornava o meu desespero irrelevante. Eles me alcançaram, então um orc pegou uma espada e apontou para meu rosto, dizendo para o homem e o outro orc me segurarem:

— Olhem só, o filhinho do Rei – disse o orc se curvando perante a mim ironicamente.

— Vamos cortar a cabeça dele e levar como prêmio – disse o outro orc que me segurava pelo braço esquerdo.

Então o homem abaixou meu pescoço forçadamente e o orc da frente ergueu a espada para me decapitar:

— Não vai doer nada. – disse o homem.

O Orc estava prestes a dar o golpe com a espada, quando uma flecha o acertou no peito e ele rugiu de dor caindo de joelhos no chão. Um homem alto, com uma barba por fazer e cabelo comprido até os ombros que carregava o símbolo de nosso povo, apareceu diante de mim para me salvar. Ele acertou o outro orc pelo estômago e então foi para cima do homem, que me largou no mesmo momento e correu:

— Você está bem príncipe Wallor? – disse o homem para mim.

Então eu o abracei e agradeci por ter salvo minha vida. Ele percebeu o tom de desespero que saiu de minha voz:

— O que faz aqui fora? Não me diga tomaram o salão principal! – disse o Homem.

— Sim! Eles quebraram o portão. – respondi a ele em lágrimas.

O homem ficou chocado com a notícia. Ele hesitou com os olhos e depois focou em mim novamente:

— E seu pai, o Rei, onde ele está?

— Ele está lá dentro, junto com seus homens, em uma luta suicida. – disse para o homem.

Ele me olhou com uma expressão triste:

— Então esse é o fim de Gondor, é o fim de nosso povo! – disse o homem deixando seu escudo cair ao chão.

Ele se agachou e fincou a espada no chão, porém, logo levantou sua cabeça e disse:

— Vamos sair daqui! Se ainda existe algo que eu possa fazer pelo meu povo nesse momento, é salvá-lo.

Assim o homem me colocou sobre seu ombro, pegou sua espada novamente e começou a correr em direção à saída de trás do castelo que dava em direção à floresta.

Havia alguns orcs e homens pelo caminho, mas eles logo foram derrubados. O homem que me carregava era muito bom, era experiente em batalha.

Corremos até a floresta. Ainda podíamos ouvir os tambores dos orcs e os gritos da guerra. Eu estava nos ombros do homem, quando olhei para trás e vi que inimigos estavam nos seguindo:

— Mais rápido, há orcs logo atrás de nós! – disse a ele.

Então, o homem soltou seu escudo para conseguir correr mais rápido, ele era realmente rápido. Mas a estrada acabava em uma cachoeira, e era muito alto para pular, poderíamos morrer com as pedras ao final da queda. O homem me colocou no chão e colocou as mãos nos meus ombros.

— Fique atrás de mim – disse ele, me dando uma faca – use isto se necessário – complementou.

Ele tirou a espada da bainha, foi quando percebi que havia algo escrito nela. Eram letras élficas, usada apenas pelos Guardiões. Meu pai me contou algumas coisas sobre eles. Eram homens habilidosos, não necessariamente de Gondor, eram como andarilhos, viviam vagando e apareciam quando queriam; e um antigo rei do nosso povo, na verdade o nosso maior rei, foi um deles, mas isso é uma história para outra ocasião.

O homem segurava sua espada com as duas mãos, um orc se aproximou até ele e tentou dar um golpe por cima, mas ele defendeu e logo o acertou na barriga. Atrás havia outro orc com arco e flecha. Mirou nele e atirou, mas o homem repeliu com a espada, aquilo foi incrível. Rapidamente ele tirou uma faca do bolso e lançou no orc, acertando-o exatamente no meio da cabeça.

Mais homens e orcs chegavam até nós, o Guardião matava um por um, defendendo seus ataques, os acertando, e em seguida, os decapitando. Alguns orcs, quando chegavam muito perto, ele os chutava para longe, que derrubavam outros que estavam logo atrás. Eu nunca tinha visto alguém lutar como ele. Mas o número de inimigos era muito grande, passavam de cinquenta. Eu era um estorvo para ele.

Um orc veio em minha direção, portando sua espada. Eu segurava trêmulo a minha faca e olhava para o Guardião que estava em apuros, com vinte inimigos em volta dele e mais trinta logo atrás. O orc apontou a espada em minha direção, enquanto eu segurava com força a faca que o Guardião havia me dado, mas eu estava com muito medo para tentar fazer algo contra o orc. Quando ele estava prestes a me acertar com a espada, o Guardião entrou em frente à espada. O sangue dele espirrou em meu rosto, nesse momento eu senti minha mente congelar, não conseguia entender o motivo de ele ter feito isso, ter sacrificado sua vida para me salvar.

O Guardião sangrava pela boca, então segurou minha mão junto com a faca que me deu, eu não a largava por nada, e disse:

— Sobreviva, Wallor, você é a última esperança de Gondor.

Ele me empurrou para a cachoeira. Enquanto eu caía fechei meus olhos; e assim minha consciência se perdeu.