O Retorno e a Partida

Capítulo 4: Cale-se Para Sempre

Alegre. Essa palavra não seria suficiente para definir Marie naquele instante. Ela beijou Adam, e lhe deu um belo sorriso. Casar, logo nesse fim de semana! Bom, ela não esperava por isso, mas estava feliz de se juntar ao amor de sua vida. Ela disse por fim: - Isso é ótimo! Tão rápido! Mas... - “Mas” o que? - Anna. Ela me odeia, esqueceu? Ela irá me sufocar com o travesseiro durante a noite quando contarmos. - Ela não precisa saber. Ninguém, além de Kai e Popuri precisa saber. Você fica hospedada em minha casa, até o fim de semana. - Ora, eu sou uma viúva de respeito, Ad! Não posso ficar em sua casa, todos iriam falar a respeito! - Deixe-me explicar!  Eu tenho duas casas, a da fazenda, e uma na cidade, perto da casa de Popuri. Você fica hospedada lá, é bom, assim você fica perto da Biblioteca e da de Popuri, já que você irá fazer o vestido às escondidas na casa dela. Para não levantar suspeitas, você vai até lá, ao invés da costureira ir até a minha casa. - Você já tem tudo em mente, Ad. É bom casar-me com um homem inteligente. - Sou esperto, a inteligente de nós dois sempre foi você, Mary. - Perdão? - Não entendi. - Você me chamou de Mary? - Não, claro que não! Chamei-te de Marie. - Não chamou não. Eu ouvi claramente, M-A-R-Y. - Então me desculpe, não foi por querer.                 Marie deu uma tapa no rosto de Adam. Por um instante ambos ficaram num silêncio mortal, e então, Marie o quebrou dizendo: - Adam Tyler, você vai casar neste fim de semana com Marie Gomez, não Mary Tyler. Mary está morta. É duro ouvir isso de novo, eu sei. Mas não quero que se repita isso. Sou Marie, não Mary. Se você vai se casar comigo esperando que eu seja o que Mary não teve tempo de ser, enganou-se. Eu não sou um fantasma. Sou uma mulher, viva. - Me perdoe, por favor. Eu apenas me confundi. Não vai se repetir. Eu estou me casando com você pela pessoa que você, e não para achar uma substituta para Mary. Entenda: eu te amo, Marie Gomez.                 Ambos beijaram-se, e Adam levou a lancha de volta ao píer. Eles desembarcaram, se despediram com um breve beijo. Naquela noite Marie avisou à Anna e Basil que de manhã se mudaria para uma casa que havia conseguido. Quando estava pronta para deitar, Marie foi surpreendida por batidas na porta. Era Anna, que não esperou pela resposta de Marie, e entrou. - Então garota, sua última noite aqui em minha casa. Deve estar contente. Mas não se iluda, meu aviso continua de pé. Aproxime-se de Adam e irei pô-la para correr de Mineral Town. - Obrigada, antes de tudo, pela hospitalidade. Peço perdão se a desapontei enquanto estive aqui. Será uma pena deixar esta casa tão aconchegante, mas é a vida. Não quero ser um estorvo para uma mulher que me odeia. - Toda gentileza sua não irá me convencer do que penso. Você não veio até Mineral Town para fazer o bem. Pelo contrário, tem algo em mente. Assim que eu descobrir irei me livrar de você. Apenas quero ver até onde você vai querida. - Mais longe do que você pensa.                 Foi o que sussurrou Marie, após que Anna deixou o quarto. Ela dormiu, e sonhou com seu futuro com Adam.                 No dia seguinte, Marie mudou-se. Continuo a vida como Bibliotecária, e tentando dividir o restante do tempo para ir até a casa de Popuri para preparar o vestido. Na Sexta o vestido ficará pronto, e como já no Sábado ocorreria o casamento, pendurou uma placa na porta de Biblioteca informando que a mesma estaria fechada no Sábado. Passou a noite na casa de Popuri, já que sairiam juntas de manhã para a Igreja. Dormiu seu último sono antes de casar-se, em paz, e tranqüila.                 Marie e Popuri acordaram cedo. Os preparativos eram muitos. Ao meio-dia estavam prontas, e então Popuri pediu para que todos as deixassem a sós. Ela sorriu nervosa para Marie, e disse: - Estou com medo. Eu amo Kai, mas iremos embora da cidade. Mamãe está doente, Rick odeia Kai, e meu pai não está aqui para me levar ao altar. - Ora, não tenha medo. Eu também não tenho ninguém para me levar ao altar, o mais próximo que eu tenho de uma família em Gold City acha que sou uma assassina, mas tenho ao Adam. E você tem ao Kai. - Obrigada. Você tem razão. Vamos? - Vamos!                 Elas saíram, e foram levadas até a Igreja. Ao chegarem, esperaram alguns instantes, e então entraram. Cada uma deparou-se com seus noivos, e então, chegaram ao altar. O padre fez a cerimônia simultaneamente, e conclui. Adam e Marie, Kai e Popuri, estavam casados. Durante a festa, que estava ocorrendo no The Inn, chegaram Anna e Basil. Eles haviam ido ao cemitério, visitar o túmulo de Mary, que morrera anos atrás naquele mesmo dia. Anna havia estranhado que Adam não fora junto dela e Basil visitar o túmulo, porém, a pedido do marido, acompanhou-o até a festa de casamento de Kai e Popuri. Avistou Adam e foi até seu encontro. - Adam, não vai visitar o túmulo de Mary? - Ora, por que eu... Oh céus! É hoje o dia que Mary morreu! Eu esqueci completamente. - O que poderia fazer você esquecer o dia da morte da mulher da sua vida?                 Naquele instante, vinha Marie, ainda vestida de noiva, chamar Adam para dançar com ela. - Querido, vamos dançar! Ah, olá, Anna. - O que significa isso, Adam? Com quem ela se casou? - Comigo. Marie querida, eu não posso ficar. - Por quê? - Hoje é o dia que Mary morreu.                 Anna, que estava possessa de ódio, deu um sorriso evidente de escárnio à Marie. Adam escolhera visitar o túmulo de sua filha, ao invés de comemorar o casamento. Depois ela acertaria as contas com Marie, mas por enquanto, ver que ela estava sendo rejeitada bastava para ela. Marie, revoltada com a atitude de Adam, gritou à plenos pulmões: - VOCÊ VAI REALMENTE ME TROCAR POR UM CADÁVER? PENSE DUAS VEZES, ADAM! EU ESTOU VIVA. V-I-V-A. EU TE DISSE ISSO UMA VEZ, E REPITO! ESQUEÇA MARY DE UMA VEZ POR TODAS! - Controle-se Marie! Eu não estou te trocando, estou apenas indo ver o túmulo de minha esposa. - Eu sou sua esposa. E falo como bem entender. Se quiser, destruo esta cidade inteira, num piscar de olhos. Quer ver-me tentar? - Por favor, Marie, contenha-se! Vamos para casa conversar. - Não quero conversar! É minha festa de casamento, quero aproveitá-la! Deixe de ser um caipira por uma noite e fique. - Agora sim, iremos para casa.                 Adam puxou-a pelo braço, e levou até sua casa na cidade. Ao chegar, começou a dizer: - O que deu em você? Parece até outra pessoa! - Estou farta de ser boazinha com todos nesta cidade. Quero mudá-la. E também farta de Anna. Aquela bruxa velha não aceita que a filha morreu e tenta nos separar! - Acalme-se. Por favor. - Certo, então, vamos ter nossa noite de núpcias em paz.                 Adam rendeu-se ao pedido de Marie, e então tiveram a primeira noite juntos. No dia seguinte, Marie estava de pé, trajando roupas diferentes das que costumava vestir antes, mais elegantes, e Adam acordou com ela se arrumando para sair. - Aonde você vai, Marie? - Compras. Muitas compras. E também, preciso mudar umas coisas nesta cidadela horrenda. A começar pela praça. - E a biblioteca? - O que? Você acha que eu vou mesmo trabalhar no meu primeiro dia de casada? E mais, em meio a tantos livros?! Ridículo, quero distância dos livros!  Agora me deixe, tenho mais o que fazer. - Você não acha que vou patrocinar suas mudanças na cidade, não é? - Deveria. Ao menos o que irei fazer com a praça. Mas fique tranqüilo, benzinho pão-duro. Irei eu mesma pagar. - Você é outra. Não parece nada com minha doce Marie. - A doce era Mary. Pelo amor da Deusa, sem dramas. Sou sua esposa. Aturarei-lhe até que a morte nos separe, não é suficiente? Tchau, tchau!                 Marie saiu, e foi até a casa de Gotz, o carpinteiro. Bateu, e ao entrar foi clara e objetiva: - Quero que leve para longe a estátua de Mary Tyler.                 Adam estava triste. Foi até o The Inn, e pediu algo para beber. A estalagem estava vazia, pelo menos deve ter sido isso que Anna e Gray pensaram, pois ambos desceram beijando-se ardentemente, e se depararam com Adam. Este, surpreso, fingiu que nada havia visto, e já ia se retirando, quando Gray disse: - Como você teve coragem de casar? - Isso não é problema seu. Nem seu, Anna, antes que você também pergunte. Aliás, você devia se envergonhar de trair Basil. - É uma maneira que encontro de me divertir. Não julgue. - É um problema de toda a cidade a partir do momento que você casou com uma assassina. - Do que você está falando? Do outro marido dela? Não foi ela. - Aquilo é só o topo da estrumeira da nova senhora Tyler. Arranque a peruca de Marie quando estiverem a sós. Você verá que ela não é quem você pensa.                 Adam deu um soco em Gray. Sempre quis fazer isso, desde que Mary morrera, e também deu uma tapa na face de Anna. Sentia nojo por ela estar traindo o marido com um rapaz que havia sido amante de sua filha.  - Eu tenho nojo, de vocês dois. Vocês se merecem.                 Ele saiu da estalagem com ódio, e foi para casa. No caminho, passou pelo Rose Square. Queria ver a estátua de Mary. Aquilo sempre o deixava mais calmo, ajudava a pensar. Porém, ao chegar, deparou-se com o vazio. Não havia ninguém na praça e nenhuma estátua. Então era essa a reforma que Marie queria fazer na praça.

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