Adam

Adam Sinclair

Não entendi ainda porque ganhei uma identidade falsa já que eu em tese não estou em fuga como o restante da Garde. De todos aqui eu sou o que deveria estar mais tranquilo nessa missão, é muito provável que os mogadorianos vão me receber de braços abertos e para ser sincero isso me assusta mais que ser recebido com uma salva de tiros de canhões. Eles me vêm como uns heróis e um assassino da Garde, agora eu estou voltando para lá e selando meu destino como traidor.

Estamos viajando já tem uma hora na van modificada por Sandor, Adamus e Conrad para esta missão. Por causa de todas as coisas que eles fizeram perdemos metade da parte traseira da van para passageiros e agora tem só duas fileiras de bancos. Curiosamente o único que está ocupando a segunda fileira de bancos é Areal que está dormindo na sua forma de Golden Retriever – que eu descobri ser a raça favorita de cachorro da Um, antes ele preferia ser um husky, mas agora vira um Golden para agradá-la. Ele está deitado ocupando o espaço de dois passageiros e o terceiro está um pacote com um metro envolto em tecido que ainda não sei o que é, provavelmente mais alguma coisa que eles vão usar para explodir a base.

Acho que uma das coisas mais irritantes das coisas mais irritantes até agora é que Nove que por alguma razão está com uma blusa social mais parecendo que vamos em uma festa do que uma invasão não para de batucar os dedos de nervosismo na perna e as vezes fica remexendo em um colar que ele tirou da arca antes de partirmos para cá, acho que também deve ter vindo com o cano que vira o cajado que vi usando nas sessões de treinamento. Acho que a Garde deixou sua bola de demolição muito tempo no armário, o garoto vai querer sair sedento por briga.

A número Dois parece estar tensa, pelo que eu entendi a missão de resgate do Quatro foi sua primeira missão – com muito louvor, diga-se de passagem, porque eles evitaram a morte de Henry. Ela está com um livro na mão evita de lê-lo, a menina está com um olhar vago distante. Confesso que preferiria a Um aqui, pelo menos ela iria estará tentando “agitar” as coisas e claro, poderíamos nos beijar um pouco, provavelmente ela faria isso para deixar o Nove irritado.

Adamus se inclina um pouco para frente para nos olhar, já sei o que irá fazer. Eu consegui alterar os dados de Andrian Sutekh, um tio meu – nosso – que morreu antes mesmo de chegar ao planeta Lorien na Grande Expansão. O Escumador que ele e os seus oficiais estavam foi destruído por um raio de algum Garde e foram todos mortos sem nem sequer tocarem o solo lorieno.

— Olha, ponto para Lorien. – Nove comemora debochado. – Se eu não soubesse que iríamos perder eu até iria ficar feliz pelo Garde que destruiu essa nave, sem ofensas. Sei que era seu tio, branquelo.

— Andrian não era uma pessoa muito importante para o Progresso Mogadoriano então sua ressurreição repentina não irá criar muito alarde. – Adamus continua sem prestar atenção em Nove. – Como a família de Adam não estará lá e provavelmente eles eram os únicos que sabiam de Andrian, além do General Andrakkus, é claro.

Ouvi da boca de Adamus o nome do meu pai me deu me encheu de raiva. Eu queria dizer que ele não tinha o direito de dizer isso, já que o matou e bem na minha frente, mas quem sou eu para falar algo? Estou com o homem que assassinou o meu pai e pior, esse homem sou eu mesmo. Sei que o General iriar querer me matar mais de uma vez, vi nas lembranças, mas mesmo assim, aquela é a vida daquele Adamus, não a minha.

— Vocês todos começam com “A” no primeiro nome? – Nove indaga dando um riso de escárnio.

Reviro os olhos, ele não entende nada sobre a cultura mogadoriana. A cultura que estou prestes a abandonar completamente para me juntar aos lorienos, espero ter a chance de perguntar para Adamus se ele nunca teve dúvida ou receio do que estava fazendo. É uma escolha pesada e não tem mais volta, ele se voltou contra toda sua raça – eu sei que isso tudo for por causa da Um.

— A viagem normalmente dura umas 20 horas. – Adamus comenta. – Mas iremos precisar fazer uma parada para ficarmos bem descansados e abastecer, as alterações que fizemos no carro o deixaram mais lento também.

Devemos estar entrando agora na Georgia, debruço minha cabeça na janela e fico pensando em Um. Esses últimos dias com ela foram tão bons, acho que é Um que me faz continuar aqui. Eu irei lutar por eles e impedir mais massacres porque eu quero criar um futuro em que possa ficar com ela. Tudo que farei é por Um, fecho os olhos e fico pensando em seu rosto e nossos últimos momentos antes dessa viagem.

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Paramos para descansar depois de 10 horas de viagem. Acredito sinceramente que poderíamos ter feito o percurso todo até Nova York e ficarmos descansando pelas redondezas até que estivéssemos prontos para atacar. Até entendo o ponto de vista de Adamus e Conrad, é melhor chegarmos na batalha bem descansados e prontos do que ficarmos esperando e termos a probabilidade de sermos descobertos e termos o plano revelado, aqui eles não saberão nosso objetivo.

Alugamos dois quartos em um hotel de beira de estrada bem vagabundo apenas para descansarmos e evitar levantar suspeita. Embora com a camisa Armani do Nove duvido que não iremos levantar suspeitas aqui nesse hotel dividimos nosso grupo em dois. Nove, Conrad e Dois foram para um quarto com três camas enquanto eu e Adamus ficamos em outro com Areal. O dono do hotel quis implicar com o cachorro, mas prometemos pagar em dobro se ele pudesse ficar no quarto e o homem aceitou prontamente. Fico surpreso como nós deixamos a sutileza de lado de maneira tão fácil.

O quarto era uma pocilga assim por dizer. A televisão era velha, não que fossemos usá-la, as camas tinham lençóis manchados e os travesseiros pareciam já estarem velhos, pelo menos o chão parecia estar limpo e bem conservado. Imaginei pelo estado que as coisas estavam que só faltaria haver baratas e cupins, o segundo eu não duvido que exista em algum lugar por aqui.

Adamus está me olhando com uma expressão engraçada na cara, como se fosse rir de mim. É bizarro se parar para pensar, ele deve ter trinta anos, mas aparenta ter bem mais que isso em sabedoria.

— Então Andrian. – eu falo me movendo pelo quarto para esticar um pouco as pernas e fico observando as coisas que trouxemos. – Sobre o que vamos conversar?

O notebook modificado com vários IPs diferentes que impede o rastreamento já está aberto, na cama dele. Por enquanto, este será o único meio de comunicação que teremos com o restante da equipe que irá atravessar o oceano. Temos um celular via satélite, mas combinamos de usá-lo só quando as missões forem concluídas.

Areal pula na minha cama e começa a se enroscar no lençol encardido. Ótimo, sujo e cheio de pelos, não pode melhorar.

— Nós temos muito sobre o que falar Adamus. – ele fala meu nome e por alguma razão acho estranho como ele o pronuncia, é quase como se esse nome não pertencesse mais a ele também – Acho que gostei de Andrian, será que nosso tio ficaria com raiva de mim se eu roubasse o nome dele?

— Bom, os mortos não falam. – falo com um tom casual e vejo Adamus, ou melhor agora Andrian rindo atrás de mim.

— Eu acho que está errado, muito errado. Tive uma pessoa morta falando na minha cabeça por vários anos. – ele se aproxima da janela. E fica olhando para o horizonte, sei que está pensando em Um agora e sou tomado por ciúmes, a diferença de idade dos dois não é tão grande assim, agora que Um tem 20 anos, será que ele tem algum tipo amor por ela?

— Você ama a Um? – eu pergunto, não sinceramente se quero a resposta. Nem sei porque diabos pergunto isso.

Andrian me olha com um tom sombrio, acho que ele entendeu o motivo da minha pergunta. Ele sabe que estou perguntando porque eu amo a Um também.

— Claro que a amo Adamus. Eu traí minha raça inteira, matei meu próprio pai, mais de uma vez, voltei no tempo e você acha que fiz isso tudo por que?

A verdade me pegou de surpresa como uma marreta na barriga. Certamente aquele eu, já passou por muita dor, e lutou muito mais pelo amor de Um que eu, de repente me sinto tão idiota, o meu sentimento por um parece ser fraco comparado ao sentimento que ele tem.

— Mas ela não é a minha Um. – ele continua, e minha perplexidade só aumenta. – Vocês dois se amam e eu não tenho direito de interferir, claro que amo a Um aqui, mas não como amei a minha Um. Pode parecer complexo Adam, mas a minha missão aqui é ajudar vocês.

Sei que é idiota você sentir orgulho de você mesmo, mas ao ouvir essa minha versão do futuro falar isso, meu coração se enche disso. Uma pessoa nobre e fiel aos seus ideais, infelizmente é uma pessoa que não seria valorizada para os mogadorianoss, porque são ideais que para eles são fracos e idiotas.

— Você disse que já tinha matado nosso pai antes, então isso quer dizer que é nossa sina? – será que eu sempre o considerei um assassino, acho que agora eu vejo que ele tirou um fardo de mim.

— Nosso pai tentou nos matar várias vezes, mas no dia em que eu o matei foi para salvar o Número Quatro de ser morto. – ele me olha com uma expressão séria de dor. – Eu vi a Um ser morta pelos mogadorianos, eu fui covarde demais para tentar salvar a Dois e fraco demais para salvar o Três. Pelo menos o John eu consegui salvar.

Uma escolha. Penso na Um, nos nossos beijos e abraços, no seu jeito sarcástico e debochado. A número Dois sendo calada e tímida, mas sempre disposta a lutar e nos ajudar com uma determinação implacável. Ainda não conheço o Três, mas ele deve ser igualmente forte, três vidas sem falar dos Cêpans que foram salvos também.

— Você se redimiu. – eu digo e falo a verdade. Adamus é um herói, ele conseguiu mudar os ventos da guerra. Agora a Garde está reunida e com todos os seus membros graças a ele e sua determinação. – Você já mudou o mundo Andrian.

— Ainda não, preciso da sua ajuda. – ele abre um sorriso discreto agora e pega o pacote envolto de tecido que o vi levando no carro.

Ele leva arma até a cama dele e começa a tirar os laços que envolvem o tecido. O cuidado que ele tem com o artefato me deixa intrigado para saber o que é, quando ele tira o tecido todo o que vejo é uma espada. Ela é negra e seu cabo todo ornamentado com símbolos mogadorianos. Sua bainha é simples, nossa raça não se preocupa muito com ornamentos, mas eu reconheço essa arma.

— É a espada do General! – falo quase sem ar. Só de olhar para essa arma o ambiente parece ficar mais pesado.

A espada havia sumido após o duelo entro Adamus e meu pai, por um momento achei que tivesse se perdido para sempre no calor da batalha. Aquela é uma arma foi passada de geração para geração na minha família havia séculos, eu sei que mudei de lado, mas olhar essa arma faz meus olhos brilhares. Até que eu lembro quanto sangue inocente ela deve ter se banhado por causa das crueldades do General.

— Ela não é a de nosso pai. – Andrian fala como se percebesse novamente o que estou pensando. Acho que o fato de sermos a mesma pessoa influência. – Essa é a minha que o número Quatro me deu a honra de usar pela causa lórica depois que matei o General pela primeira vez.

Fico perplexo com isso. Então se essa é a espada usada por Adamus no futuro, o que aconteceu com a que era usada pelo meu pai?

— Eu destruí a do General. – ele fala com um tom sombrio. – Elas são armas muito sombrias para ficaram aos montes por aí, só deve haver uma, como só um de nós deve empunha-la e deve ser você.

— Eu? – olho atônito para ele. – Você que matou o General, eu não sou digno da espada.

Andrian coloca a mão no meu ombro e sorri de modo paternal para mim, de repente eu não me sinto tão sozinho. É bom ter mais alguém do meu povo no mesmo lado, mesmo que sejamos a mesma pessoa.

— Adam, eu já tenho o presente que a minha Um me deu. Por favor, aceite meu presente. – ele pega a espada pela bainha com as duas mãos e as leva até mim.

— Lute com essa arma, que já foi minha, que já foi do nosso pai, que já foi no do nosso avô e por várias gerações foi assim, só que dessa vez dê uma causa justa para esta arma assim como eu a dei. Não derrame sangue de pessoas inocente com ela, faça os impuros pagarem pelos seus erros com ela.

Hesito por alguns segundos, mas finalmente a pego. Tiro a espada para fora da bainha e por um momento sinto o mundo ficar meio sem vida. Areal dá um ganido e sem seguida late para a arma, mas depois que olhos para ele, ele para. Já entendeu que a arma não irá feri-lo.

— Eu Adamus Sutekh juro que essa espada a partir de hoje será usada apenas para defender os justos e os inocentes, jamais irei derramar sangue de algum inocente com ela. E ela que já foi do meu pai, do meu avô e sua agora é minha e terá em mim um dono justo e honrado.

Andrian sorri, por um momento acho que vai me abraçar, mas então se afasta. Há tantas coisas que quero conversar com ele, tantas coisas que quero perguntar para ele, sinto mais liberdade com ele que jamais senti com o General para perguntar. No fundo acho que eu posso definir Andrian Sutekh como ele prefere ser chamado como um pai.