Nem pense em fugir... – disse o garçom – Se algum de vocês tentar alguma coisa, eu - corto o pescoço dele.

– O que tá acontecendo? – perguntou Vinícius.

– Eita porra! O garçom ta com uma faca na garganta de Rodrigo! – falou Rhamon um pouco alto demais.
– Viu, Flávia? – eu falei alto – Isso que da você ficar roubando minha sorte!
Calado! – Falou o garçom pressionando um pouco mais a faca – Agora, dê-me o mapa.

Comecei a entrar em pânico! Por que um garçom idiota estava querendo meu mapa? Quero dizer, claro que ele não era um garçom. Mas idiota sim, com certeza era um idiota. Será que ele era um dos tais piratas que o professor mencionou? Espera, não existem piratas desde o século XV.
- O que está acontecendo aqui?! – pensei em voz alta fazendo o garçom pressionar ainda mais a faca me tirando o fôlego.

- Fiquem todos calmos – disse o professor Rico – Não queremos ninguém ferido aqui.

Nesse momento outros dois caras, que eu nunca tinha visto, chegaram. Um tinha um cabelo castanho escuro comprido e o outro era loiro com cabelo curto. Ambos vestiam terno preto com gravata borboleta vermelha, o que me lembrava demais os espiões dos filmes que... Espera, eu estou prestes a morrer e fico pensando em filme?!

- Juan, deixe o garoto. – disse o cara loiro.

- Quem você pensa que é pra me mandar largá-lo?! – disse o garçom.

- Eu não sei ele, mas minha amiguinha pensa que é mortal. – disse o cara cabeludo mostrando uma pistola que estava em seu bolso.

- Vocês não vão estragar tudo de novo! – disse Juan – Vocês dos Los Rojos sempre estragam nossos planos... Mas não desta vez..

- O que está acontecendo!? – gritou Bia nervosa o que fez o restaurante inteiro, inclusive o cara armado, Juan e o loiro, parar e olhar para aquela cena peculiar.

- Rapazes... – disse o professor um segundo antes de virar a mesa com um solavanco.

Quando a mesa caiu, o cara cabeludo puxou o gatilho e o estalo de um tiro assustou Juan que me soltou. O restaurante ficou uma loucura com pessoas gritando e correndo para todos os lados.

Antes de voltar a mim e tentar entender o que tinha acabado de acontecer, Lucas me deu um empurrão e Mariana pegou minha mão me puxando para a porta.

Quando chegamos do lado de fora, já estavam todos lá. No restaurante estava tendo um tiroteio entre os homens dos Los Rojos e o garçom, que não era tão garçom assim, o gordo e o metrossexual.

- Tenho que tirar vocês daqui! – gritou o professor – Rápido!

- Mas que porra ta acontecendo!? – disse Lucas.

- Que putaria é essa!? – gritou Marcos.

- Depois eu explico, antes... – quando ele disse isso uma van chegou e abriu a porta na nossa frente – Salvar vocês! Vamos, entrem!

Todos entramos e nos sentamos. Eu não fazia idéia do que estava acontecendo, só que quando alguém acaba de tirar um cara com uma faca no seu pescoço, você faz tudo que essa pessoa manda. Bom... Pelo menos é o que eu fiz...

Quando a van estava prestes a sair dali da frente daquela loucura, eu olhei pela janela e vi Juan saindo pela porta da frente, ele estava mancando e olhando para todos os lados, provavelmente nos procurando. De repente ele olhou fixo pra van e me viu na janela.

- Segurem-se, vamos para a casa do meu irmão! – disse o professor acelerando.

Dei um tchauzinho pro garçom e me afundei no banco com um suspiro. Minhas suspeitas de um dia ruim tinham se concretizado. Não sabia para onde estava indo e pouco me importava, só passava pela minha cabeça que eu poderia ter morrido ali. Com um tiro, com a facada, sei lá. Mas eu só pensava nisso e no que aconteceria se Rico não tivesse ido almoçar com a gente naquele dia.



- Chegamos! – disse o professor freando o carro.

Todos estávamos dormindo, exceto alguns que tinham mais resistência e falavam sobre o acontecido. Olhamos pra fora e demos de cara com um portão enorme de metal cromado. Na parte de cima ele tinha um desenho feito de metal. Um rifle e uma espada cruzados.

- É... Aqui que seu irmão mora? – perguntou Natália.

- Sim, por que? – disse Rico.

- Sei lá, eu achava que os professores... – antes dela completar Vinícius a interrompeu e disse - Morassem em apartamentos apertados.

- Vinícius! – disse ela um pouco envergonhada.

- Hahahaha – riu o professor – Não, a gente mora nessa casa que era do nosso pai. Vem, vamos entrar.

Ao dizer isso, ele abriu o portão com um controle remoto, ligou o carro e entrou por uma estrada de terra.

Era incrível como o terreno era grande. Ao longo da estradinha de terra, nós fomos vendo as coisas que tinham dentro dele. Do lado esquerdo da van havia uma série de quadras de tudo quanto é esporte, inclusive algumas que eu não reconheci. No lado direito havia uma piscina com um formato estranho que lembrava uma ameba e, logo atrás dela, uma floresta densa repleta de árvores altas.

Não preciso dizer que todos ficamos encantados, tudo aquilo pertencia ao professor e ao irmão dele! Era muita coisa, tinha uma parte, atrás das quadras que lembrava uma fazenda. Tinha outra do lado da piscina que parecia um jóquei...

- Agora sim, chegamos! – disse Rico parando e desligando a van.

Quando olhamos para a esquerda tinha uma mansão enorme! Tinha um formato quadrado, feita em tijolos cinza, todas as janelas eram de vidro com algum mosaico, em algumas partes do telhado tinham umas torres que até lembrava aquelas mansões mal assombradas de filme de terror! A porta era de madeira marrom escura, a soleira na frente da casa era de cimento recoberto por pequenos azulejos brancos, os pilares segurando o telhado no vão da entrada eram feitos de mármore cinza.

Ficamos todos boquiabertos! Não conseguíamos saber se estávamos sonhando ou não, nunca tínhamos visto ao vivo nada parecido com aquilo, apenas em livros, filmes e algumas imagens de castelos na Europa.

- Vamos entrar? – disse o professor soltando leves risadas.

- Você tá brincando, né? – gritou Mariana – Isso não é seu, deve ser algum tipo de museu que nunca ouvimos falar ou sei la!

- Não, isso é meu sim! – riu Rico – Quero dizer, meu e do meu irmão. Vamos, quero apresentar ele a vocês.

- Mas espera! – disse Flávia fazendo todos virarem as cabeças para ela – Er... É que eu estou confusa... Eu não to entendendo porque você nos trouxe aqui ou porque dos “piratas” estarem atrás de nós.

- Eles não estavam atrás de vocês, bobinha – riu o professor – Eles estão atrás de Rodrigo! Pelo menos, dele e do mapa.

-A que ótimo! – falei indignado – Tudo que eu queria para as minhas férias era um bando de idiotas correndo atrás de mim por causa de uma coisa que era do meu pai!

- Não é bem assim... – disse Rico – É que...

Nesse momento ele se deu conta que estavam todos olhando para ele preocupados e atentos esperando uma explicação.

- Lá dentro eu explico, agora vamos. Temos muito a conversar.



Quando entramos ficamos mais maravilhados ainda, o saguão de entrada era maior que a sala de aula da escola! O piso dele era de madeira, tinha uma escadaria de pedra lá na frente próximo a um corredor enorme com uma série de janelas com mosaico colorido. Na verdade, o saguão tinha vários corredores, mas só o próximo a escada que havia esses mosaicos. Um tinha esculturas de mármore que lembravam as esculturas romanas, outro tinha quadros que pareciam da renascença, outro tinha armaduras de metal parecidos com o da idade média e outros que eu não consegui distinguir o que enfeitava-os.

- Por aqui. – disse o professor – Meu irmão deve estar na sala de estudo.

Seguimos ele por um corredor que tinha os quadros. Eles eram muito parecidos com os quadros que víamos nos livros de História quando a matéria era a Renascença.

- Esse corredor me da medo – disse Rhamon.

- Como assim? – indagou Flávia – Esse lugar é demais!

- Sei lá, mas eu concordo com ele... – disse Lucas não querendo contrariar ela já contrariando.

- Seu bando de boiola! – disse Marcos gentil como sempre – Esse lugar me lembra os desenhos do Scooby Doo!

- Éé!!! – concordou Vinícius – Parece aquelas mansões que os quadros ficam observando eles!

- Agora Rhamon vai ter uma crise! – riu Nina

- Deixa ele. – disse Bruna – Ele ta fofo com medo!

- Por que vocês agem como se eu fosse um medroso? – perguntou Rhamon

- Rhamon – disse Marcos – Você sempre será a bichinha do grupo...

Seguido de uma série de risadas e reclamações de Rhamon, o professor Rico ia na frente entrando em algumas portas, virando algumas curvas.

- É aqui! – disse ele abrindo uma porta que dava numa sala enorme, cheia de prateleiras de livros e uma série de mesas com objetos de estudo em cima, algumas com globos outras com réguas, inclusive tinha uma com uma luneta e uma bússola. – Meu irmão deve estar aqui em algum lugar...

- Mas... – disse Natália – Se ele estivesse aqui... Nós já o teríamos visto, não?

- Digamos que meu irmão, é um pouco... Diferente.

Quando ele disse isso, uma coisa peluda saiu do meio de duas estantes de livro atrás de nós e pulou no meio da gente assuntando Bia.

- Meu Deus do céu! O que é isso!? – disse ela.

Quando ela disse isso, a coisa desmoronou e ficou imóvel caída no chão.

- Tira isso daqui, pelo amor de Deus!!! – ela continuava gritando.

- Calma, Bia! – gritou Nina dando alguns tapas na cara dela.

- Nina! – gritou Amanda – O que exatamente você está fazendo!?

- To tentando acalmar ela! – respondeu Nina continuando a dar tapas.

- Para com isso sua vadia! Eu to calma!

- Não parece! Ta nervosa ainda! – disse Nina dando outro tapa.

Enquanto essa cena bizarra acontecia, a coisa peluda continuava parada ali no chão. Eu estranhei aquilo, logo, eu resolvi chegar perto dela.

Quando eu estava a menos de um passo dela, Rhamon botou a mão no meu ombro e disse:

- Você vai fazer o que? – perguntou

- Sei lá, só queria ver o que era... – respondi

Nesse exato momento, a coisa pulou e ficou de pé. Ela devia ter quase 2 metros de altura. Rico saiu do meio da confusão dos tapas e falou:

- Anda Rafael, pare de assustar os garotos...

- Shhh... – disse a coisa peluda - Eles não sabem que eu sou humano!

- Sabem sim, agora tire esses tapetes de cima de você. – disse Rico - Temos que explicar as coisas do Totem para eles.

- Ah poxa! – disse Rafael desenrolando um tapete do rosto – Você nunca deixa eu brincar com as visitas...

- Você pode brincar com alguns deles depois, não vamos todos...

- Oba! – disse Rafael com uma entonação mais forte no A.

- Por que você deu susto na gente? – perguntou Bia ainda um pouco nervosa – Nem ouse me dar outro tapa, ouviu Nina!?

- Ah poxa! – disse Nina imitando Rafael – Você nunca deixa eu brincar...

- Minhas jovens, eu fiz isso para vocês despertarem seus instintos e defenderem-se da criatura monstruosa, peluda e selvagem! – respondeu Rafael.

- Que criatura é essa? – perguntou Bruna.

- EU! – respondeu ele dando um pulinho e botando a mão no peito como se fosse fazer uma reverencia – Quem mais vestido de tapete seria tal monstro?

- Como eu disse... – falou Rico referindo-se a Rafael – Diferente...

- Professor – falei preocupado após me lembrar das palavras da carta – Eu meu pai está bem?

Um silêncio constrangedor tomou conta da sala gigante. Ninguém ousou abrir a boca nem pra fazer uma piada como era de costume entre Vinícius e Nina. Rico e Rafael se entreolharam preocupados e com uma aparência meio triste. Então eu comecei a ficar mais preocupado ainda, eu sabia que estava acontecendo alguma coisa mas não tinha idéia do que era. Então, Rafael decidiu quebrar o silêncio que me assombrou e disse:

- Meu jovem... Essa é uma situação um pouco delicada...

- Rafael... – interrompeu Rico – Pode deixar que eu falo... Era isso que ele queria...

- O que está acontecendo? – perguntei.

- Rodrigo... Bom, o seu pai... – disse Rico com um tom de voz meio pesado – Ele era o meu melhor amigo... Ele me pediu para contar a você caso isso acontecesse...

- O que aconteceu? – perguntei de novo mais preocupado ainda.

- Rodrigo... Ele foi assassinado pelos Los Rojos...

O silêncio doloroso, constrangedor e triste voltou à sala. Dessa vez, seguido de lágrimas que escorriam pelo meu rosto.