Meu corpo estava fraco, eu estava gelado, suando, parecia que eu ia cair ali mesmo a qualquer momento. Nada se passava pela minha cabeça a não ser as últimas palavras do professor Rico. Eu estava respirando muito mal, as lágrimas quentes escorriam pelo meu rosto, mas eu mal tinha força suficiente para secá-las.

Todos decidiram me abraçar, mas eu estava sem ânimo para retribuir. Parecia que eles estavam abraçando um boneco. Algumas garotas se emocionaram também e começaram a chorar comigo, mas isso não me fazia sentir-me melhor.

O fato era que ninguém ali sabia o que dizer, então ficaram todos em silêncio observando. Mas era melhor assim. Não havia nada que eles dissessem que me fizesse sentir melhor.

Quando decidiram dar um abraço em conjunto, eu não agüentei, eu empurrei-os e sai correndo para longe. Dessa vez a ficha tinha caído, meu pai se foi. Quando me toquei disso, eu comecei a chorar e correr para longe desesperadamente.

- Rodrigo, espera! – disse Flávia.

Mas antes dela dar o segundo passo na minha direção, o professor parou ela com o braço e disse:

- Deixe-o... Ele precisa de tempo...

- Deve ser duro para o coraçãozinho dele... – disse Rafael.

- Mas... – falou Rita secando uma lágrima – Como é que isso aconteceu?

- O pai dele estava fazendo uma pesquisa sobre a cidade perdida de El Dorado e descobriu como entrar nela. – explicou Rico - Os Los Rojos e os Vicente Blancos são dois grupos de pesquisadores da Colombia e da Venezuela.

- Eles são dois grupos rivais, sempre estão em conflito. Ambos buscam informações e atropelam qualquer que seja a pedra em seu caminho, no caso, o pai de nosso amiguinho. – concluiu Rafael.

- E agora eles estão atrás de Rodrigo, certo? – perguntou Lucas um pouco abalado com o que estava acontecendo.

- Mais ou menos... – respondeu Rafael – Na verdade, o seu amigo manteiga derretida é dispensável para eles.

- Manteiga derretida?! – indagou Rhamon – Ele acabou de saber que o pai morreu!

- Ta!! Só chorão mêmo... – disse Rafael indiferente – Mas enfim, eles querem só o mapa e a moeda dele.

- Que ainda temos que decifrar o mapa e estudar a moeda. – disse Rico.

-Aaaaah não! Estudar não! – Reclamou Mariana – Acabamos de entrar de férias e você quer nos obrigar a estudar?!

- Não vamos obrigá-los a estudar. – disse Rafael – Mas o tristonho precisa de ajuda.

- Se quiserem, podem ficar aqui e curtir as férias. – continuou Rico – Mas o amigo de vocês precisa de ajuda.

- Mariana... – disse Amanda – Nós precisamos fazer isso...

- Estudar é o caralho! – disse Marcos delicadamente – Eu to com a cabeçuda ali, tamo de férias!

- Marcos! – gritou Natália – Se for pra ajudar Rodrigo, vamos estudar sim!

- Gente, vocês não vão passar as férias todas estudando... – disse o professor – Eu mesmo não poderia obrigá-los a fazer isso...

Depois de alguns segundos de encaradas e desvios de olhares, Mariana disse:

- Ta bom! Que seja! Guigo precisa da gente...

- E você vai ajudar, Marcos! – gritou Rita com uma cara séria.

- Desde que eu possa brincar com os cavalos... – concordou ele.

- Meu cavalos!? – gritou Rafael ofendido – Ninguém vai brincar com eles além de mim!

- Então não vou estudar... – pressionou Marcos.

- Irmão, lembra da mamãe? – perguntou Rico.

- Mamãe!? Cadê ela? Mãããããe!! – gritou Rafael para a janela.

- Não, não é isso! Lembra que ela sempre disse pra gente dividir as coisas? – perguntou o professor.

- Lembro... – indagou Rafael cruzando os braços.

- Então... Só por essas férias... Acho que os cavalos não vão ligar... – insistiu Rico.

- Que seja, só pela mamãe...

- Ótimo! Então, está decidido. Por ora vão descansar, arranjar um quarto, alguma coisa para fazer, sei lá. A noite, após o jantar, vou reuni-los aqui para tentarmos entender o que é aquela moeda.

- E Rodrigo? – perguntou Natália preocupada.

- Não vamos atormentá-lo por hoje... – respondeu Rico - Deixe-o encaixar as coisas antes de pressionar sua cabeça nos livros...


Estava anoitecendo e eu não tinha visto ninguém desde a sala de estudo. Fiquei lendo e relendo a carta do meu pai. Eu ainda estava tentando conectar as coisas, simplesmente não conseguia aceitar que ele havia simplesmente morrido.

Dobrei a carta e guardei o papel de volta no envelope. Só agora comecei a notar a sala que eu estava a horas. Ela era pequena, talvez a menor da mansão, tinha uma mesa na frente do sofá em que eu estava sentado, ao redor dela havia algumas cadeiras, quarto para ser exato. Lá tinha algumas estantes de livro também, uma luminária e uma janela. Em cima da mesa havia um caderno de anotações, alguns lápis e alguns livros abertos.

Cai com a cabeça entre minhas mãos de novo sem força e voltei a lacrimejar. Eu perdi o meu pai. Ele não era próximo e nem estava comigo todos os dias, mas mesmo assim era meu pai. Minha mãe já havia morrido a alguns anos de câncer. Naquela época ele ficou comigo tentando me fazer entender que a vida era assim, que as pessoas adoeciam e poderiam morrer. Mas ele foi assassinado! Isso não faz parte da lei da vida! Como alguém poderia me acalmar diante a tal acontecimento?

Enquanto eu estava com a cabeça baixa sendo sustentada pelos meus braços, um lençol foi envolvido nas minhas costas me dando um leve susto. Era Flávia que havia entrado ali e me coberto. Ela não disse nada, só sorriu e sentou do meu lado. Secou minhas lágrimas e me abraçou.

Nem tentei entender o que tinha acontecido, só retribuí o abraço. Agora eu estava mais calmo, depois de horas triste, irritado e nervoso.

Depois de alguns minutos ali abraçados, eu finalmente disse:

- Por que eles o mataram?

- Guigo... Tente não pensar nisso...

- Rico e Rafael devem ter explicado alguma coisa, por favor, me conte.

- Não, Guigo...

- Flávia... – eu disse me soltando dos braços dela – Eu preciso saber...

Ela me encarou de forma triste e preocupada por um tempo, como se estivesse prestes a falar não de novo. E então ela suspirou e disse:

- Eles queriam achar El Dorado e seu pai sabia como...

- Simples assim... – eu disse desviando o olhar frio para a luminária.

Ela voltou a me abraçar, dessa vez mais apertado e disse:

- Eu estou sempre do seu lado...

- Eu sei, Flávia... Nunca duvidei disso...

Levantei-me e fui até a mesa, puxei uma das cadeiras e sentei. Comecei a folhear o caderno de anotações.

Flávia sentou na outra cadeira e ficou ali me olhando fixo, como se tivesse tentando ler meus pensamentos.

- Você está me preocupando, Flávia – disse ironicamente soltando uma risada.

- Desculpe. – disse ela abrindo um leve sorriso – O que você está fazendo?

- Sei lá. To aqui desde àquela hora e só me dei conta desses livros pouco antes de você chegar. – respondi virando mais uma página – Acho que... Queria só matar a curiosidade de saber do que se tratam...

Virei mais algumas e percebi que ela ainda me encarava. Para quebrar o silêncio eu perguntei:

- O que vocês ficaram fazendo? – virei mais uma página.

- Han? Ah sim! Bom... Eu fiquei deitada no sofá da sala de estar desenhando. Lá tem muitos sofás sabia? – disse ela começando a se empolgar - Eu fiquei espantada quando entrei nela! Nunca vi tantos sofás juntos na minha vida... Quero dizer... A não ser nas lojas de móveis, é claro...

- Hahaha. Depois me mostra onde fica! – respondi sorrindo virando mais uma página.

- Combinado! Mas você vai ter que me prometer que...

Antes de ela acabar de falar eu pulei da cadeira e trouxe o caderno mais próximo do meu rosto.

- O que houve? – perguntou ela curiosa.

No caderno havia alguns desenhos nas folhas anteriores, mas o desenho dessa página me fez pular e ler o que tinha em volta. Era um tubo cilíndrico rabiscado que na ponta tinha um desenho mais bem desenhado. Era como se o foco do desenho fosse na ponta. Assim que vi eu reconheci! Puxei a moeda do meu bolso e botei do lado. Eram iguais! Exceto pelo fato da do tubo ser invertida, seriam idênticas!

- Flávia! Olha! – disse surpreso.

- O que é? – perguntou ela apontando pro tubo.

- Não sei... Mas olha! É o mesmo desenho! Mas é invertido..

- O que isso significa?

- Pera... Eu to pensando...

- Ok... – disse ela paciente esperando alguns segundos, menos de 10 se bobiar – Anda! Pensa rápido!

- Calma! – respondi agitado – Espera, se ele tem o mesmo desenho só é invertido..

- Hm? Me diz!

- Eu não tenho certeza, mas vendo que nesse desenho do tubo aparenta ser um pouco mais profundo com o relevo pra dentro...

- Para de enrolar e tentar ser inteligente e diz logo!

- Eu acho... Não tenho certeza... Mas acho que a minha moeda se encaixa nesse tubo!

- E aí!?

- E aí?!

- É o que isso significa?

- Sei lá...

- Sei lá?! – perguntou ela indignada – Como assim sei lá?! Você me enrolou!

- Não!

- Enrolou sim!

- Não enrolei! – respondi não querendo mais discutir - Mas deixa pra lá! Vamos perguntar a alguém o que isso significa!

- O jantar está na mesa! – a voz de Rico ecoou pela casa.

- Venham logo que eu quero cantar nesse microfone, seus pivetes! – era a voz de Rafael ao fundo, ecoando pelo mesmo lugar da de seu irmão.

- Eu já falei que esse microfone é para os anúncios dos convidados e... – a voz do professor foi cortada após o inicio da discussão entre os dois.

- Vamos lá, vai ser uma loooonga noite... – eu falei para Flávia fechando o caderno.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.