Eu fiquei olhando para aquela carta meio desnorteado, pois ela falava de várias coisas que eu nunca tinha prestado atenção. Meu pai conhece o Prof. Rico? Ele está atrás de um Totem Amazônico? Pensei que analisando aquela carta ela explicaria mais detalhes sobre o cordão. Para descargo de consciência eu fui ver o que tinha naquele mapa já que minha curiosidade estava fazendo meus dedos formigarem.

Assim que encostei no mapa um garçom veio falar comigo:

- Quer alguma bebida, senhor? – disse ele com um estranho sotaque que não me era estranho.

- Er... Quero uma Coca-Cola, bem rápido de preferencia... – respondi com dor de cabeça por toda aquela situação.

Estranho como sempre que eu vou fazer alguma coisa que eu estou com muita vontade de fazer, alguém chega e me desconcentra ou atrapalha. Enfim, quando abri o mapa, descobri que ele era bem simples pra falar a verdade. A região norte do Brasil estava em foco e com duas áreas circuladas recentemente por alguma espécie de caneta vermelha, ambas dentro da Amazônia, uma mais ao sul próximo entre os rios: Negro e Solimões que são as divisões do Rio Amazonas e outra mais ao norte, próximo às fronteiras da Venezuela e Colômbia.

Ao mesmo tempo em que eu analisava aquelas coisas, os garçons vinham trazendo as bebidas. Quando o garçom do sotaque estranho chegou até mim, eu ansioso pelo meu refrigerante para acalmar os pensamentos, ele pergunta:

- O senhor deseja uma Coca light ou normal?

- Quero uma Coca normal, por favor, rápido.

Acho que tem alguns garçons que gostam de te sacanear, quando você pede para ele ir mais rápido, ele enrola cada vez mais. Será que na faculdade de Garçom eles ensinam a atrasar nessas situações? O nó que minha cabeça já tinha dado, agora estava mais apertado. O que está acontecendo aqui? Que raio de moeda é essa? E ONDE ESTÁ MINHA COCA?!

Cai com a cabeça entre as mãos para me acalmar, enquanto me perguntava essas questões filosóficas, sinto uma mão no meu ombro e uma voz conhecida dizia:

- Você está bem Rodrigo? – disse o Professor Rico.

- Graças a Deus você chegou, preciso ter uma conversa séria com o senhor. – respondi sério.

Assim que as palavras saíram da minha boca e eu percebi que o professor tinha se sentido da mesma forma que eu. Estranho é que era assim que eles falavam comigo quando eu tirava nota baixa ou fazia alguma besteira para atrapalhar a aula.

- Eu acho que não estamos em sala de aula para você falar comigo desse jeito... – retrucou ele com leves risadas.

- Desculpe... – me desculpei também rindo. – Mas é sério. Eu preciso perguntar algumas coisas para você.

- Beleza. Deixa-me só sentar e pedir uma bebida. – falou num tom mais sério. – Hãn... Garçom! – falou num tom mais alto para os garçons ouvirem.

- Diga senhor. – veio o garçom do sotaque estranho.

- Eu quero um guaraná.

- E a minha coca. – o interrompi.

- Seu pedido já está vindo. – disse ele com um sorriso falso no rosto.

Quando o Prof. Rico sentou-se, quem tinha ido se servir já estava voltando. Então ele falou:

- Vá comer alguma coisa.

- Tudo bem, mas enquanto vou lá, - falei apontando para os papéis e o cordão em cima da mesa. – Veja se isso te lembra de alguma coisa.

Levantei-me e fui em direção à bancada onde ficava a comida. Lá na bancada, não estava tão cheio, apenas umas cinco pessoas. Dessas cinco eu reconhecia três, Natália, Flávia e o garçom que não levava meu refrigerante. Ele estava conversando com os outros dois homens que eu não tinha visto antes. Um me lembrava um modelo que vende desodorante, ele usava uma camisa com gola V e uma calça jeans meio desfaiada. O outro, completamente oposto, me lembrava de um daqueles personagens típicos norte-americanos. Gordo, com uma latinha de refrigerante na mão, camisa meio apertada e uma calça enorme com um cinto aberto, e mesmo assim ela ficava lá quietinha na dela.

Ignorei aquele fato e fui pra perto das garotas. Quando cheguei lá tive vontade de pegar uma das facas e enfiar na minha jugular. Elas estavam falando do cara que se vestia como ator de comercial, o metrossexual que me lembrava modelo de comercial de desodorante.

- Olha a cara de safadenho dele! – disse Natália.

- E esse tanquinho? MEU DEUS! – comentou Flávia.

- Esperem um minuto, eu vou ali vomitar e já volto. – respondi sem elas terem notado minha presença até então.

- Ah! Fala sério! – falou Natália para mim – Você não acha ele um gatinho?

- Ele não faz o meu tipo...

- Ah Guigo! – disse Flávia me chamando pelo maldito apelido que o pessoal me deu – O que faz seu tipo? Peitões e Bundão?

- Ou isso ou alguma pessoa com mais cabelo e voz mais fina...

- É! E isso prova minha teoria. – respondeu Natália – Todo careca é mais gostosão...

- Que merda de teoria é essa?! – Indaguei – Não faz o menor sentido!

- Você só tá falando isso porque tá com ciúme! – disse Flávia.

- Tá... Que seja. Eu vou comer alguma coisa, mas depois disso daqui eu acho que perdi a fome...

Depois de me servir e pesar a comida, voltei à mesa, já estavam todos lá. Todos comendo e conversando. Fui me sentar no meu lugar, próximo à Flávia, ao professor e Marcos.

Quando cheguei lá eles olharam seriamente para mim, tirando Marcos que estava gargalhando mais alto que o barulho do resto do restaurante todo.

- Tem alguma coisa na minha cara? – brinquei.

- Não... Isso é ela normalmente. – respondeu Natália se intrometendo no assunto.

- Aí! Meu Deus! Essa garota é foda! – disse Marcos.

- Ele agora vai fica choramingando! – riu Mariana.

Levei na brincadeira e sentei-me. Quando comecei a cortar a minha comida o Professor começou a falar:

- Temos que sair daqui agora... – disse ele num tom sério.

- Espere só eu comer meu milho. – brinquei

- Não Rodrigo. – disse Flávia – Precisamos mesmo ir embora.

Quando ela me chamava pelo nome, parecia algum adulto ao chamar uma criança pelo nome completo a sensação de morte e de culpa consome a alma da pobre criança completamente. Senti-me igual.

- Como assim? – disse confuso – Acabamos de chegar... E onde está minha maldita COCA?!

- O garçom que nos atendeu e aqueles dois caras ali, bom, eles são piratas. – disse o professor bem baixo.

- Piratas?! – disse num tom mais alto

- Shhh... Sim. E eles estão atrás disso. – sussurrou Flávia segurando o mapa e o medalhão.

- Como assim Piratas? Tipo os que atacam navios e enterram tesouros? – sussurrei também.

- Não e sim. – respondeu o professor – Mas nesse caso, você está com o mapa do tesouro que eles estão atrás.

- Esse mapa leva ao To... – fui interrompido pela mão de Flávia na minha boca.

- Não fale isso! – disse ela – Eles podem ouvir! Eles não sabem ainda se você é que está com o mapa, então fecha o bico!

- Tá... mas é isso? – perguntei

- Sim, mas precisamos ir à minha casa o mais rápido possível para pegar parte da pesquisa de meu irmão. – respondeu o professor.

- Seu irmão? – Flávia e eu perguntamos ao mesmo tempo.

- Sim, ele ajudou seu pai na pesquisa, mas os mercenários o mataram. – respondeu o professor.

Nesse exato momento, Flávia me deu um tapa no queixo. Não me perguntem por que, mas é o que meus amigos fazem quando falamos ao mesmo tempo alguma coisa.

- Por que raios vocês fazem isso?! – perguntei.

- Para roubar a sorte! – respondeu ela rindo.

Quando ela respondeu isso, senti uma sensação estranha. Olhei pro lado e dei de cara com o garçom.

- Seu refrigerante, senhor. – falou ele segurando uma faca próxima a minha garganta e botando a latinha de Coca-Cola na minha frente.

- Er... Não precisa mais... – respondi meio nervoso – Perdi a cede...