– Tá, isso é serio. Mas então, só liguei pra saber se estava tudo bem. Não te achei no recreio hoje.

– Eu estava, é... – parei de falar. Na verdade eu estava me trancando dentro do banheiro por uma certa causa ne, mas enfim – eu estava na biblioteca.

– Caham – olhei para trás, Emílio estava atrás de mim no sofá – tem certeza que estava na biblioteca? – ele sussurrou.

Revirei os olhos, e voltei para meu telefone.

– Julia? Quem está ai? – Ele perguntou.

– Seu irmão.

– Sério?

– Não. Tá, é serio sim. Ele e minha MÃE são NAMORADOS, esqueceu? – disse dando ênfase nas duas palavras, mãe e namorados, para Emilio ouvir. Ele levantou uma sobrancelha.

– É, eu não me esqueci. Vou ter que desligar.

– Já?

– É. Se cuida, juízo ai tá? – ele disse.

– Pode deixar. – desliguei o telefone.

Telefone off

– Era o Dudu? – Emílio perguntou, vindo e se sentando ao meu lado no sofá.

– E se fosse? – disse, me virando para o outro lado.

– Legal... Agora vai me tratar mal também é? – ele perguntou.

– Se você merecer.

– É, vai...

– Cadê minha mãe? – Perguntei notando sua falta.

– Foi se arrumar pro trabalho.

– Ah... – me levantei, e ele ficou olhando para mim. Para minhas pernas!

– Emilio, se for pra olhar, olha discretamente – falei.

– Hum... não sei não... prefere que eu fique discreto mesmo?

– Acho que seria melhor – revirei os olhos e sai.

– Aonde vai? – ele perguntou. O que? Ele querendo saber aonde vou?

– Pro meu quarto, pra onde mais seria?

– Hum... não sei. Não prefere ficar aqui na minha companhia?

Não respondi, apenas balancei a cabeça.

Sai pelo corredor, e dei de cara com minha mãe.

– Vou trabalhar filha, beijo – ela me deu um beijo na testa, e saiu correndo. – Amor, to indo – ela chegou perto dele dando um beijo – Até mais.

– Amor, acho que vou ficar aqui hoje... Preciso sair mais tarde, e daqui é mais perto.

– Tudo bem, a casa é sua – ela respondeu. Nossa, porque minha mãe nunca pensa besteira com as coisas?

Ela saiu, correndo, estava atrasada.

Estávamos agora apenas eu, Emilio e o Willi(meu cãozinho) na sala. Na verdade na casa inteira. Hum, nada bom.

Continuei andando pelo corredor, subindo as escadas, e entrando no meu quarto. Deixei Emilio para trás, não pretendia conversar com ele hoje, pelo menos na ausência de qualquer ser vivo.

Entrei no quarto, fechando a porta. Olhei pela porta do banheiro, e tinham algumas roupas espalhadas no chão.

– Se eu deixar isso aqui minha mãe me mata quando chegar, ah, vida. – resmunguei para mim mesma.

Me abaixei, e peguei a roupa, colocando no cesto de roupa suja. Sai pelo quarto, com uma certa dificuldade para carregar, e fechei a porta de volta, indo pelo corredor. Desci as escadas, e fui em direção á cozinha.

Não resisti, e dei uma olhadinha na sala. Emilio estava lá, esparramado no sofá, sem sapatos, sem camisa, assistindo TV. Resolvi ignorar, e continuei indo em direção á lavanderia.

Cheguei lá, e joguei as roupas dentro da maquina de lavar, separando algumas para lavar na mão. Liguei a maquina, e enchi o tanque de água.

Estava esfregando uma blusa de uniforme, quando percebo alguém atrás de mim. Olhei rapidamente.

– Emilio? – perguntei.

– Não, papai Noel. – ele respondeu.

– Ah tá, então isso é uma ilusão, já, já passa – me virei de volta para o tanque, tentando prestar atenção no que estava fazendo.

– Isso parece cansativo, quer ajuda? – o ignorei mais. – Tudo bem, não quer, mas eu fico aqui te olhando, afinal, não tem nada de interessante pra fazer lá fora mesmo.

– E eu por acaso sou interessante? – perguntei revirando os olhos.

– Dependendo... acho que sim – ele mordeu o lábio.

Ignorei, sua resposta. Esfreguei com mais força a minha blusa, tentando descontar a raiva daquele garoto me cantando.

– Que tal fazermos alguma coisa legal? – ele perguntou, chegando mais perto.

– Emilio, ainda bem que eu não ouço o que não quero.

– Tá bom, eu falo mais alto – ele falou – QUE TAL FAZERMOS UMA COISA LEGAL? – ele gritou, mas não tão alto.

– Emilio, seu tomate, já escutei. – falei, agora enxaguando a blusa.

– Pensei que não tivesse escutado, desculpa... e a resposta é...?

– Não. – respondi, torcendo a roupa.

– Ah, mas, eu digo a resposta pra você então. – pausa – Sim! – ele fez vozinha de mulher. Me deu vontade de rir.

– Emilio, seu besta! – falei.

– Mas é assim que eu te conquisto – ele disse, juntando seu corpo ao meu, e me dando um beijo na bochecha. Peguei a blusa que estava na minha mão, e dei uma “chicotada” no ombro dele.

– Ai! – ele fez voz de gay, passando a mão pelo ombro, que estava vermelho.

– Seu gay – respondi, tentando me soltar.

– Gay nada, olha que eu te mostro o gay tá? – ele disse, tentando não rir.

– Não quero ver – respondi, jogando a blusa nele de novo, mas dessa vez, apenas o molhando.

– É assim é? – ele respondeu, colocando a mão no tanque de água, com a mão em forma de concha, e jogando em mim.

– Emilio, para! – peguei água com as duas mãos, e joguei em cima do seu cabelo.

– Não paro – ele pegou com as duas mãos grandes que pareciam dois baldes de água, e jogou em mim.

– Eu vou ficar toda molhada cara, por favor – implorei, batendo a mão na água.

– Ui, então eu continuo – ele continuou jogando água em mim, e minha blusa já parecia uma poça de água.

Continuei molhando ele, e nos ficamos ali, naquela brincadeirinha infantil ridícula, por um bom tempo, até que já estávamos os dois encharcados.

– Acabou? – perguntei, levantando uma sobrancelha, quando ele não revidou minha jogada de água.

– Não sei... – ele respondeu.