Bruno POV:



Ela parecia dormir tão tranquilamente, tão... angelical. Tudo nela me encantava; o jeito que suas bochechas coravam quando eu dizia algo indecente, o jeito como ela arrumava sua franja sempre que a mesma caía em seus olhos castanhos escuro, a forma que ela tinha de sorrir, eram cinco sorrisos e eu sabia identificar um por um - o primeiro era o sorriso de felicidade, aquele que ela dava ao me ver chegar em casa, o segundo era o sorriso-irônico, ela dava esse quando eu falava algo óbvio, o terceiro era o sorriso irritado, mesmo irritada ela sorria, o quarto era o sorriso mimada, esse ela dava sempre que queria arrancar algo de mim e por último, o sorriso sacana, o que eu mais gostava na verdade, aquele que ela dava quando havia me preparado alguma surpresa er... excitante.

Seu corpo ressonava sobre meu peito e eu apenas aproveitava cada suspiro dado por ela, Era maravilhoso tê-la por perto. Ainda mais agora, que não era só ela, havia também um ser dentro de seu útero, o ser gerado pelo nosso amor.

Às vezes fico lembrando das palavras de Allan... talvez ela seja muito perfeita para mim. Aquele corpo frágil procurava em meus braços o calor necessário para dormir uma noite tranquila. Fiquei lembrando de quando nos conhecemos, naquela festinha privada somente para amigos na casa de Lilian... ela veio sorridente se apresentando. Quem diria que naquela festa eu encontraria a minha alma gêmea?! E melhor, quem diria que eu construiria uma família com ela...

Fiquei pensando no quão bom era tê-la ao meu lado e acabei adormecendo tempo depois.



Jessie POV:



Acordei ainda aconchegada em seus braços, me sentia completa ao lado dele. Dormia tão serenamente. Deslizei minhas mãos sobre minha barriga e murmurei um bom dia para aquele ser que ali abrigava-se. Hoje eu iria fazer minha primeira consulta depois que descobri a gestação. Queria que ele fosse comigo, porém, já sabia que a agenda dele tinha compromissos. Levantei-me lentamente da cama e fui até o banheiro fazer minha higiene matinal.



[...]



– Como consegue estar tão calma? - Lili perguntou andando de um lado para o outro na sala de espera do hospital.

– É de mim. Fiquei mais nervosa quando vim saber do resultado. - Respondi sorrindo. - Já você né... parece até que é você a gestante.

Lili deu de ombros e continuava inquieta.

– Não vai dar pra saber o sexo ainda. - Ela disse tempo depois. - À não ser que você faça aquele exame caríssimo de sangue.

– Vou esperar. Cada coisa tem seu tempo. - Respondi.

– Ainda não sei como consegue manter essa calma.

– Deve ser a yoga. - Falei calma.

– Preciso me inscrever nisso aí também. - Falou roendo as unhas.

Tempo depois fui chamada por uma enfermeira. Entrei na sala junto de Lili e logo avistamos o Dr. Dereck que nos cumprimentou com aquele sorriso branquinho e milimetradamente alinhados.

– Como vai minha mais nova gestante? - Perguntou animado.

– Muito bem. - Respondi também animada. No início fiquei meio sem jeito com ele, mas passou.

Dereck era muito bem humorado, questionava detalhe por detalhe, desde minha alimentação (que por sinal não estava lá tão saudável) até se eu tive algum sangramento (que graças à Deus não ocorreram). Depois de uma longa conversa, marcamos a minha primeira ultrassonografia daqui a um mês, Dereck explicou que dependendo da posição do bebê, já daria para saber o sexo. Mal podia esperar.

– Ele é incrível. - Falou Lili assim que entramos no carro.

– Demais, passa uma calmaria que contagia.

Deitei minha cabeça no banco e fiquei o caminho todo com minha mão sobre minha barriga, completamente feliz.



Lili POV:



Ver minha amiga-irmã tão feliz me dava paz. Olhava para ela vez ou outra enquanto dirigia e sentia a felicidade que ela estava sentindo à cada sorriso bobo que saía de sua boca, certamente pensando em como seria sua vida a partir de agora. Muitas responsabilidades, porém, muita alegria.

Ainda me lembro de Jessi chorando naquela praça, desesperada, procurando alguém que a tirasse daquela depressão. Eu passeava com minhas melhores amigas - bolsas e mais bolsas das lojas mais badaladas da cidade. Olhei aquela moça completamente desolada e senti pena. Muita pena na verdade. Me aproximei e perguntei em voz baixa o que tinha acontecido.

Ela levantou seu rosto completamente inundado em lágrimas e me contou tudo, sem ao menos me conhecer. Sozinha no mundo, entendi o porquê dela estar tão demasiadamente mal. A puxei pelo braço e a abracei ali mesmo, na praça. Pedi que fosse até minha casa e ela concordou. Emprestei umas roupas e fiz um lanche para nós duas. Conversamos sobre tudo, principalmente sobre a vida dela, que por incrível que pareça, me interessava mais e mais. Jessi acabou adormecendo depois de tanto desabafar comigo no quarto, ao lado de uns sanduíches e com um filme aleatório na tv.

Pode parecer estranho para qualquer um levar uma estranha pra casa e acolhê-la por uma noite. Que seja, eu quis e fiz. Sentia algo bom nela, diferente, algo que de um jeito estranho me fazia sentir útil, com ela eu não era apenas a descontrolada e alucinada por compras, com ela eu aprendi o valor da amizade. E saber que estou com ela até agora, nesse momento tão importante de sua vida, me faz vibrar de felicidade.



Jessie POV:



Chegamos e nos jogamos no sofá, dando um suspiro de cansaço talvez.

– Quer um suco? - Perguntei alguns minutos depois.

– É bom né. - Lili respondeu sorrindo.

Fui até a cozinha e coloquei dois copos - enormes - de suco de manga, meu favorito.

– Teu celular tá vibrando. - Lili falou do sofá.

Corri para atender, mas no instante que ia dizer alô, desligaram.

– Quem era? - Ela perguntou curiosa.

– Número confidencial. - Respondi. - Se for importante ligará de novo.

– Tenho que ir. - Lili falou dando-me um beijo na testa. - Pegar meus babies na creche.

– Dá um beijo bem gostoso na bochecha de cada um. - Respondi levando-a até a porta.

Puta que pariu! Esqueci do Allan. - Pensei comigo mesma.

Será que tinha sido dele a ligação? Meu Deus, ele vai me matar.

Liguei desesperada para Allan, que por sua vez, me deu uma bronca do tamanho do mundo, redimindo-se logo depois de eu contar que tinha ido ao médico. Mas não, não havia sido dele a ligação confidencial. Estranho. De Bruno não seria, ele sempre liga com nº identificado. Após uns minutos pensativa, o celular vibrava novamente.

– Alô?! - Falei meio confusa.

– Olá Jessie. - Uma voz nada estranha para mim falou do outro lado. Gelei. - Ainda lembra de mim?

– O que você quer? Como descobriu meu número? - Perguntei enraivecida.

– Quero te encontrar. - A voz que eu repudiava falou deixando escapar um risinho irônico. - Te ligo mais tarde, preciso desligar agora.

Por que agora meu Deus? O que esse ser desprezível queria? Me infernizar novamente? Depois de tantos anos em paz! Sentei-me no sofá com as mãos apoiando minha cabeça numa almofada. Isso não podia estar acontecendo, não comigo, não agora.