Abracei Bruno com todas as poucas forças que eu ainda tinha em meu corpo e encarei o corpo de Richard completamente ensanguentado no chão.

– Eu queria sair dessa, Jessie. - Ele dizia em partes, agonizando no chão.

Olhei-o horrorizada e senti pena. Muita pena na verdade. Richard acabou acertando um tiro em seu próprio peito, na tentativa de enfrentar os policiais. Agora estava ali, morrendo aos poucos.

– Tá bem, borboleta? - Ouvi Allan me puxar dos braços de Bruno e me dar um abraço apertado.

– Você foi muito corajoso. - Disse já caindo em lágrimas.

– Ele não vai resistir. - Ouvi um dos policiais falar com Bruno.

– Talvez seja melhor assim. - Bruno respondeu seco.

Soltei-me dos braços de Allan, sequei as lágrimas e me aproximei um pouco mais de Richard, que ainda se debatia no chão.

– Perdão. - Ele disse com um olhar piedoso.

– Isso quem dá é Deus. - Respondi.

– Mas me desculp... - Não deu tempo dele terminar a frase.

– Vem comigo. - Bruno me puxou para cima, vendo meu estado de choque.

– Tô passando mal. - Falei quase que num sussurro.


Bruno POV:


Senti um desespero invadir meu peito ao vê-la desmaiar em meus braços.

– Ajuda aqui Allan. - Gritei segurando-a no colo, fazendo sinal para que ele abrisse a porta de meu carro.

– BRUNO ELA ESTÁ SANGRANDO. - Ele disse apavorado ao ver um fio de sangue escorrer por suas pernas.

– EU VOU COM ELA ATÉ O HOSPITAL. - Falei mais desesperado ainda. - Pega o carro dela, o celular e liga pra Lilian avisando o ocorrido e que se ela puder, ir até o hospital. E você depois me encontra lá no hospital, pode ir dirigindo o carro dela mesmo.

Entrei no carro e saí disparado até o hospital, sorte que não era longe dali. Pedia à Deus que não deixasse nada de ruim acontecer com ela e com nosso bebê. Eu não me perdoaria se isso ocorresse.

– Bruno?! - Sorri fraco ao vê-la despertar-se. - Não deixe nada acontecer com nosso bebê, por favor. - Concluiu chorosa, cedendo à escuridão novamente.

Entrei no hospital com Jessie ainda desacordada no colo e pedi que a levassem com urgência e que chamassem o Dr. Dereck, que era o que a acompanhava. Me vi completamente perdido ao ver os enfermeiros levando-a numa maca, completamente inconsciente.

– BRUNO. - Fui surpreendido por um forte abraço de Lilian. - Cadê minha pequena? - Ela perguntava já em lágrimas.

– Acabaram de levá-la. - Falei preocupado. - Tô desesperado Lili, ela estava com sangramento.

Lilian me deu mais um abraço apertado e disse "vai ficar tudo bem" em meu ouvido. Era o que eu esperava: que ficasse tudo bem.

Algum tempo depois chegou o Allan me entregando a bolsa dela. Ficamos os três em silêncio naquela sala de espera agonizante. Foi torturante demais saber que tudo aquilo foi causado por causa do meu plano idiota. Mas se bem que por dentro eu estava um tanto mais calmo, por ter visto aquele ser desprezível morrer com seu próprio veneno, ou tiro, seja lá como for.

– Bruno?! - Senti uma mão robusta tocar meu ombro algum tempo depois e automaticamente olhei para cima.

– Como ela está? - Perguntei um tanto desesperado.

– Venha comigo. - A expressão séria do Dr. Dereck assustou todos que ali estavam.

Caminhamos em silêncio absoluto até um dos quartos do imenso corredor e logo vi Jessie adormecida em uma cama. Dereck fez sinal para que eu entrasse e saiu sem me dizer absolutamente nada, isso foi o que mais me doeu. Aproximei-me da cama e fiz carinhos leves em seu rosto. Eu não podia e nem queria perder nenhuma das duas pessoas mais importantes da minha vida.

– Onde estou? - Ela disse abrindo os olhos vagarosamente por conta da claridão que tinha no quarto.

– Não diga nada. - Continuei acariciando seu rosto pálido.

– Como vai pequena Jessie?! - Ouvimos Dr. Dereck entrar no quarto trazendo consigo uns papeis.

– Meu bebê. - Jessie falou assustada pondo uma de suas mãos sobre sua barriga. - Como está meu bebê doutor? - Disse já com os olhos marejados.

A expressão séria de Dereck me dava medo, ele ajeitou seus cabelos meio grisalhos dando a entender que estava exausto, porém, seus olhos transbordavam em compaixão, o que me dava mais medo ainda.

– O QUE ACONTECEU COM MEU BEBÊ DOUTOR? - Jessie soltou um grito fazendo-me ficar assustado.

– Calma, você não pode ficar nervosa assim. - Ele disse fazendo-me sinal para que eu tentasse acalmá-la. - Por sorte você teve uma pequena hemorragia Jessie, a prontidão de seu esposo em trazê-la aqui colaborou com o diagnóstico também. Você e seu bebê passam bem. Mas me prometa que vai se cuidar em dobro agora e que não vai mais sofrer esse tipo de trauma até seus nove meses viu senhorita?

Respirei aliviado após tudo que ele disse e dei um beijo estalado na testa de Jessie.

– Foi um susto. - Dereck completou. - Vou pedir repouso absoluto por uma semana, sem contar sua alimentação que deverá ser seguida à risca, ok?!

Assentimos positivamente com a cabeça e ele retirou-se com um sorriso terno.

– Eu te amo. - Falei logo que ele saiu.

– Eu te amo muito. - Ela disse com um sorriso aliviado.

– Se arruma, vamos sair daqui, o pior já passou. - Falei dando-lhe um selinho. - Vou lá avisar à Lili e Allan que graças a Deus está tudo bem.

Caminhei aliviado até os dois que me abraçaram juntos após terem recebido a notícia.


Jessie POV:


O corpo ensanguentado de Richard não saía de minha mente.

Respirei aliviada e acariciei minha barriga com os olhos cheios de lágrimas, agradecendo muito a Deus por ter protegido meu bebê. Por mais arrogante que Richard fosse, sinto que ainda havia um espaço de bondade no coração dele. Ele era como eu antigamente: sem ninguém e sem força de vontade para vencer. Acho que por isso nos envolvemos por longos dois anos.

Me despedi do Dr. Dereck que me passou todas as recomendações necessárias e dei um forte abraço em Allan e Lilian assim que os avistei.

– Obrigada por estar aqui. - Falei em lágrimas no ouvido de Lilian.

– Sempre estarei, irmã. - Ela disse já em lágrimas também.

Allan foi com meu carro seguindo o de Bruno até minha casa e de lá seguiu para a casa dele.

– Ele é um pé no saco, mas sem a ajuda dele, eu não teria conseguido. - Bruno disse assim que Allan se despediu de nós dois.

Sorri fraco e subi com ele até o apartamento.

O pesadelo tinha acabado.