O Misterioso Diário de Emily

Capítulo 20 - O dia em que nos conhecemos e a história de Ana


Flashback ON:

Eu estava com meus pais em um lugar um pouco fora da cidade nas férias. Lá tinha um rio com águas cristalinas, grama cheia de flores e uma grande árvore, sempre bem cuidada. Lá tinham alguns animais, e pássaros. Perto do rio tinha uma casa de madeira, e, no interior dela, tinha uma sala, onde eu adorava ir sempre que ia passar um tempo naquele lugar.

Diferente das outras vezes, eu vi duas meninas conversando lá dentro. Entrei, e fiquei mexendo em um chaveiro de cachorro que eu tinha. As duas meninas olharam para mim, sem falar nada, e eu igualmente. Eu virei o rosto, envergonhada, e uma delas, a Ana, fez o mesmo.

–Ei, menina, qual seu nome? – Ouvi alguém perguntar

–B-Beatriz... E o seu? – Respondi ainda envergonhada

–Amanda – Ela respondeu com um sorriso no rosto – E essa aqui é a Ana Clara – Mandi falou puxando-a para mais perto

–P-Prazer... – Falei

–Prazer – Elas responderam

Ficamos caladas por algum tempo, até que Mandi começou a puxar assunto, quando percebemos, já estava tarde e nossos pais estavam chamando-nos. Me despedi delas e combinamos de nos encontrar no mesmo lugar no dia seguinte, após isso, voltei para casa.

No outro dia, elas estavam na mesma sala do outro dia e começamos a conversar.

–Onde vocês estudam? – Perguntei

–No Colégio Horizonte – Ana respondeu

–Sério? – Respondi surpresa – Eu também

–Como nunca te vi lá antes? – Mandi perguntou surpresa

–Em que sala vocês estudam? – Perguntei

–1° ano B – Mandi respondeu

–Eu estudo no 1° ano A

Elas sorriram e continuamos a conversar. Todos os dias voltávamos ao mesmo lugar com nossos pais e ficávamos horas e horas conversando sobre tudo. No primeiro dia de aula, a diretora resolveu me trocar de sala e eu comecei a estudar com a Ana e com a Mandi, e eu conheci uma amiga da Ana, a Sophia.

A Sophia era linda. Tinha cabelos curtos e loiros, uma franjinha e alguns cachos no final do cabelo. Seus olhos eram de uma cor azul cristal, bem claros e ao mesmo cheios de brilho. Elas eram melhores amigas, não se desgrudavam nunca.

Um dia, eu, Mandi e Ana resolvemos voltar para o lugar onde íamos sempre quando conhecemo-nos. Sentamo-nos à beira do rio e ficamos pegando algumas pedrinhas que tinham por lá.

–Essas pedras são muito bonitas – Ana falou

–São mesmo – Falei – Queria poder fazer algo com elas

–Tipo o que? – Mandi perguntou

–Não sei... Vamos pensar em algo depois

–Meninas – Ana falou levantando-se – E se fizéssemos uma caixa com alguns gravetos e pedaços de corda? Como uma caixa da amizade

–Boa ideia – Eu e Mandi falamos juntas – Mas o que vamos colocar nelas? – Perguntei

–Não sei, coisas preciosas para nós, que tal?

Concordamos e fomos procurar gravetos e corda pelo local. Depois de meia hora, entramos na casa para fazer a caixa.

–Como se faz uma caixa com isso? – Mandi perguntou

–Não sei – Ana respondeu – Talvez assim.

Ela pegou alguns gravetos e amarrou-os com uma corda. Depois pegou outros e amarrou-os do mesmo jeito.

–Você é bem inteligente – Falei pegando gravetos e corda e imitando-a

–Obrigada – Ela respondeu sorrindo – Acho que vamos precisar de cola também

Mandi foi até um dos armários da sala e encontrou um tubo de cola e entregou-a para Ana. Ela pegou-a e colocou alguns gravetos uns nos outros. Demoramos três horas para acabar, mas finalmente tínhamos conseguido.

–O que vamos colocar de especial nela? – Ana falou sentando-se com uma expressão cansada

–Algo que é especial para nós e que não confiaríamos isso à ninguém – Respondi também sentando-me

Vi Mandi olhando um anel de plástico amarelo que ela sempre tinha no dedo. Ela tirou-o e colocou na caixa.

–Isso é algo especial para mim – Ela respondeu – Esse anel é uma raridade!

Rimos pelo jeito que ela falou e Ana levantou-se, tirando uma presilha azul do cabelo e colocando-a na caixa.

–Acho que isso é a coisa mais especial que tenho, é como meu amuleto da sorte

Ela sentou-se e eu levantei-me, com meu chaveiro de cachorro preferido e coloquei-o na caixa.

–Ganhei esse chaveiro dos meus pais quando tinha 3 anos, porque eu queria muito ter um cachorro, mas como era muito nova não podia ter um, aí eles me deram isso.

–Agora vamos fazer um juramento – Ana falou levantando-se e estendendo a mão– Eu, Ana Clara, prometo ser amiga da Bia e da Mandi para sempre

Repetimos a mesma coisa que ela e logo depois vimos que ainda tinha sobrado um pouco de corda e vimos algumas das pedras que tínhamos achado na beira do rio. Voltamos para casa e, com a ajuda do meu pai, conseguimos fazer uns buracos em três pedras e fizemos colares com as cordas.

–Isso vão ser nossos colares da amizade, certo meninas? – Ana falou quando estava saindo da minha casa

Concordamos e nos despedimos. O tempo ia passando e eu sempre andava com a Ana, com a Mandi e com a Sophia pela escola. Elas tinham virado minhas melhores amigas.

Logo o ano acabou e o outro ano começou. Quando percebemos, aquele ano também já estava acabando e logo íamos para o 4° ano. Era o último dia de aula, e eu e Mandi estávamos esperando nossos pais quando a Ana e a Sophia chegaram perto de nós, tristes.

–O que aconteceu? – Perguntamos ao mesmo tempo

–Meu pai disse que eu e ele vamos morar no Rio de Janeiro próximo ano, mas eu não quero ir e deixar vocês – Ela falou quase chorando

–Não fica assim – Falei abraçando-a – Nós nunca vamos esquecer de você, não é meninas?

Elas concordaram e abraçamo-nos.

–Meu pai vai comprar uma casa lá – Sophia falou – já que, depois da morte do meu avô, toda a herança que ele tinha passou para o meu pai

–Uma vez você tinha nos dito que seu avô era muito rico – Mandi falou – Todo dinheiro dele foi para o seu pai?

–Sim, todos os milhões de reais

Ficamos surpresas, mas logo mudamos de assunto para Sophia não ficar mais triste ainda e, em pouco tempo, fomos embora.

O Natal e o Ano Novo passaram rápido, e logo foi o dia da viagem da Sophia, estávamos todas no aeroporto com ela. Todas já tínhamos nos despedido e só estava faltando a Ana. Sophia estava chorando e elas abraçaram-se.

–Promete que nunca vai me esquecer? – Ana falou ainda abraçando-a

–Prometo, vou te mandar um e-mail sempre que eu puder

–Promete que nunca vai me trocar por nenhuma outra menina?

–Claro, você é minha única melhor amiga. Nunca vou te trocar

Ana derramou uma lágrima, mas logo enxugou-a. O tempo ia passando e todos os dias chegavam e-mails da Sophia para Ana. Mas, com o tempo, os e-mails foram diminuindo, até que um dia, pararam de chegar.

Nas férias de Julho, Ana resolveu ir visitar a Sophia no Rio de Janeiro, mas quando chegou lá, foi na casa dela, e, como ela não estava, foi conhecer melhor a casa. No segundo andar, era o quarto da Sophia, e lá ela viu o diário dela.

Querido diário,

Hoje eu fui para o shopping com o Carlos e com as minhas novas amigas, Elisabeth e Caroline. Estou quase conquistando o Carlos, ele vai ser meu logo, logo, no momento que ele descobrir que sou rica com certeza vai querer ficar comigo.

E as minhas ex-amigas daquela cidadezinha chata? Nunca mais falei com elas, muito menos com aquela idiota da Ana, espero nunca mais vê-las na vida.

Ass: Sophia

Depois disso, ela ouviu o barulho da porta do quarto abrindo-se, quando olhou para trás, era a Sophia entrando

–A-Ana? – Ela falou surpresa

Ela estava usando roupas caras, seu cabelo estava mais longo, e ela tinha tirado a franjinha, e agora estava com uma franja de lado.

–O que significa isso? – Ana falou mostrando o diário

–Isso é meu, você não tinha nenhum direito de pegá-lo! – Sophia falou tentando pegar o diário, mas Ana não deixou

–Ex-amigas? Cidadezinha chata? Idiota?

–Isso mesmo que você leu! É isso mesmo que eu penso de todas vocês!

–Você prometeu que nunca ia me trocar por ninguém, prometeu que seriamos amigas para sempre

–Eu era uma criancinha naquela época

–Você tem apenas nove anos, não é nenhuma adulta ainda

–Agora eu sou popular na escola, tenho o controle de todos na palma da minha mão, tenho a vida perfeita, coisa que eu nunca tive com vocês

–Você está ficando cega por riqueza, e dinheiro não é tudo no mundo!

–Diferente do que muitas pessoas dizem, dinheiro traz felicidade

–Dinheiro pode até trazer felicidade, mas não traz amor, e sem amor, não somos nada

–Você continua querendo ser a “filósofa” não é? Ninguém precisa de amor! Ouviu bem, ninguém! Agora sai da minha casa, agora!

Ana foi até a porta, segurando as lágrimas, mas antes de sair olhou mais uma última vez para a Sophia e falou:

–Você não é mais a mesma, se você continuar assim, vai estragar a sua vida por completo

Depois saiu. Passeou mais uns dias pelo Rio, mas logo foi embora. Ninguém nunca mais teve notícias da Sophia depois disso.

A Ana surtou daquele jeito na pizzaria, porque achava que, do mesmo jeito que aconteceu com a Sophia, também tinha acontecido comigo, e que eu havia trocado ela e a Mandi pela Alice. Esse sempre foi o medo dela, ser trocada novamente por uma das pessoas que ela ama.