BOSTON

11:25 Am

A senhora Freeman olha novamente para a carta em suas mãos, lágrimas escorrem de seus olhos ao verificar mais uma vez que a letra pertence mesmo a sua filha Sally, desaparecida a tantos anos. É verdade que uma caligrafia pode ser falsificada, ela já havia visto isso em filmes, mas havia detalhes que apenas sua verdadeira filha poderia saber. Em seu coração de mãe, ela sabia que aquela carta era mesmo dela. A partir dessa certeza, ela reuniu a coragem necessária para falar com sua jovem vizinha e impedir que ela passe pelo mesmo sofrimento que vem enfrentando a tanto tempo.

A senhora Freeman toca a campainha da casa de sua vizinha. Enquanto espera, ela nota a presença de um estranho na esquina, ele parece olhar as crianças brincando na praça. A ligeira preocupação é dissipada ao notar também que vários adultos estavam no mesmo local e dessa forma ela entrou na casa. Como era de se esperar a sua vizinha achou a história muito estranha, mas Ellen Crawford conhecia a senhora Freeman desde que mudara-se para aquela rua. Ela também conhecia a sua triste história, e por nada no mundo arriscaria enfrentar a mesma situação. Foi com base nisso que resolveu chamar sua filha, que brincava na praça.

As duas saíram juntas e começaram a procurar pela menina. Um pânico crescente tomava conta delas, ao não vê-la entre as outras crianças, e que nenhum dos adultos que estava na praça sabia dela. A senhora Freeman lembrou-se do estranho que vira na esquina e um dos adultos que estavam na praça disse tê-lo visto entrar apressadamente num carro e sair em disparada. O desespero de Ellen Crawford era cada vez maior e resolveram chamar a polícia.

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Jerry Stevens e Clyde Barnes seguiam com sua viatura pelo bairro, a atenção deles era total para todo e qualquer carro que parecesse com aquele descrito pelos moradores de um bairro próximo. Um carro, que correspondia a descrição feita, foi notado por Clyde parado num terreno baldio, junto a um prédio abandonado. Eles saltaram da viatura logo após pedir reforço e foram em direção ao prédio. Logo ao entrar eles ouviram o barulho de um outro carro saindo em disparada e apressaram o passo em direção aos fundos do prédio. Ao chegar lá encontraram um homem com uma menina inconsciente nos braços.

— Parado aí cara – gritou Jerry, ele e Clyde apontaram as armas e imobilizaram o homem – o que pensava que iria fazer com essa menina seu degenerado?

— Eu só queria salvar a vida dela – disse o homem, cujo sotaque foi logo notado pelos policiais.

— Olha só Jerry, é um maldito “cucaracho” – Clyde dizia isso enquanto algemava o homem – nós ouvimos um carro saindo pelos fundos, era o seu cúmplice não era?

— Ele queria matar a menina, eu só estava tentando salvá-la.

— Acho melhor inventar uma outra história malandro.

O homem é preso enquanto a menina que ele dizia ter salvo era levada em estado de choque para o hospital. Na delegacia, ele insistia com a história de tê-la salvo. Em princípio, ninguém acredita nele, principalmente no que dizia a respeito da carta recebida pela senhora Freeman. No entanto, são obrigados a soltá-lo quando a filha de Ellen Crawford, ainda no hospital, confirma que ele salvara a sua vida, ao defendê-la de seu verdadeiro raptor. Ele pede para falar com o Delegado antes de ser liberado.

— O que deseja de mim rapaz? – pergunta o Delegado Hudson.

— A menina ainda corre perigo senhor – disse o homem.

— E como sabe disso... hã – o Delegado olha num papel antes de falar – senhor Mauro Santos?

— É esse o meu nome sim senhor – disse Mauro.

— Não vai dizer que você recebeu outra mensagem do além? – o Delegado nem teve o cuidado de disfarçar a ironia – o que a filha desaparecida da senhora Freeman disse dessa vez?

— Dessa vez não foi a filha da senhora Freeman – ele entrega a carta ao Delegado, na verdade, um papel todo amassado que ele deve ter conseguido com algum companheiro de cela. O Delegado lê a carta e sua expressão muda completamente.

— O que significa isso?

— Tire suas próprias conclusões Delegado – dito isso, Mauro vai embora.

Frank Hudson sempre foi um homem de natureza céptica. Ele nunca foi de acreditar em “coisas de outro mundo”, mas diante dele havia algo que não tinha como explicar. A carta confirmava toda a história do homem que tinha acabado de ser liberado. A mesma também indicava que dois agentes do FBI poderiam ajudar a encontrar o raptor da filha de Ellen Crawford, antes que ele atacasse novamente. Mas o que chamava mesmo a atenção do Delegado Hudson era a caligrafia inconfundível de sua esposa na carta. Ele desabou em sua cadeira. Sua mente racional procurava qualquer explicação razoável para o que tinha diante de si. A verdade é que ele jamais poderia conceber que sua esposa escrevera aquela carta; ela estava morta a quase 3 anos.

SEDE DO FBI

WASHINGTON D.C.

TRÊS DIAS DEPOIS

Fox Mulder observava aquela sala de aspecto austero enquanto esperava as perguntas que definiriam o seu futuro no FBI. Uma semana antes ele atirou na cabeça de um assassino de crianças que deveria estar na penitenciária de segurança máxima em que cumpria prisão perpétua. Foi graças a uma atitude imprudente de Mulder que ele conseguiu escapar e sequestrar outra criança, que quase foi morta. Agora ele estava ali para responder por seus atos e por não ser muito bem visto junto a cúpula do FBI, estava quase certo de que não escaparia de ser expulso.

Uma parte dele até achava justa a punição por ter se deixado levar pelas palavras de Roche e quase permitir que ele fizesse uma nova vítima. No entanto, havia uma décima sexta vítima e que poderia ser a sua irmã. Era uma dúvida que ainda o atormentava e ele não queria sair do FBI sem acabar com ela. Isso não dependia dele, é claro, seu destino estava nas mãos daquelas pessoas à sua frente, não vendo da parte delas nenhuma boa vontade com o seu caso. Mulder reparou no homem que estava ao centro da mesa, era o Presidente da comissão de inquérito e coube a ele fazer a primeira pergunta.

— Agente Mulder, o senhor confirma ter ligado para o diretor do presídio onde esse tal Roche estava preso e solicitado a sua liberação?

— Sim senhor, eu confirmo.

— O senhor tinha autorização de seu superior para pedir essa liberação – pergunta outro membro da comissão.

Mulder fica sem saber o que dizer. Se contar a verdade sabe que estará praticamente definido sua expulsão do FBI, se mentir, envolverá Skinner em toda essa história. Embora acreditasse que ele confirmaria uma mentira que o salvaria, e que Scully faria o mesmo, ele jamais se sentiria bem por envolve-los nisso.

— Agente Mulder – o tom de voz, mais alto que o normal, do Presidente da comissão, tirou Mulder de seus pensamentos e ele tratou de responder a pergunta.

— Eu agi por conta própria senhor – a resposta de Mulder provocou um ligeiro sorriso no Presidente da comissão de inquérito – “finalmente esse agente encrenqueiro e desobediente será posto para fora do FBI”.

O pensamento dele, mais até que seu sorriso, foi notado por Mulder, com este sabendo que havia selado o seu destino no Bureau. Uma pessoa entrou na sala e entregou um papel ao Presidente da comissão. O sorriso desapareceu de seus lábios ao ler o que estava escrit , ele deu um suspiro antes de falar.

— Infelizmente vamos ter que suspender a reunião temporariamente – ele dirige-se a Mulder – agente Mulder, você deve comparecer a sala de seu superior imediatamente.

— Sim senhor – Mulder levanta-se e mesmo sem saber o motivo de ter sido chamado, agradecido intimamente por poder sair daquele lugar.

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Mulder entra no escritório de Skinner, encontrando Scully junto a seu chefe. Por um breve instante ele tem a impressão que os dois interromperam uma conversa que vinham tendo, mas acaba deixando isso de lado quando Skinner revela o motivo dele ter sido chamado.

— Pelo que eu pude ler aqui, esse Mauro Santos tem uma rara capacidade de transcrever mensagens vindas do além – Mulder falava enquanto lia o relatório em suas mãos, aparentemente alheio a expressão incrédula de sua parceira.

— Você não pode estar levando isso a sério Mulder.

— Existem casos relatados sobre isso Scully. O mais famoso deles envolve um compatriota desse Mauro Santos.

— Está querendo me dizer que esse sujeito é um médium que pode comunicar-se com os mortos agente Mulder?

— Exatamente senhor!

— Antes de tirar suas conclusões, é melhor examinar o caso de perto Mulder – ponderou Scully.

— Eu pensei que estivesse suspenso por causa do que aconteceu no caso Roche.

— É uma espécie de emergência Mulder – Skinner mostra a foto de uma mulher abraçada com uma menina, ela devia ter uns 7 anos – o nome dela é Felícia Storn, ela desapareceu junto com sua filha Jane há mais de um mês, em circunstâncias semelhantes e na mesma cidade.

— Eu li o relatório antes de você chegar Mulder – disse Scully – parece que Roche tem um imitador.

— Mas Roche nunca sequestrou mãe e filha antes, porque esse caso em particular tem haver com um imitador dele.

— Logo após o sequestro da filha de Ellen Crawford, foi feito um retrato falado de dois estranhos que estavam na praça – Skinner mostra um fax com vários retratos falados – esse é o que foi feito no sequestro de Felícia e sua filha, e esses os que foram feitos na tentativa contra a filha de Ellen Crawford – Mulder e Scully notam que quatro deles são praticamente idênticos – um é de Mauro Santos, e os outros foram feitos por testemunhas diferentes, o que prova a ligação entre os casos.

— Mauro Santos chegou a ser preso como possível suspeito, mas tiveram que solta-lo. Ao que parece ele salvou a filha de Ellen Crawford do assassino, mas ainda está sendo considerado suspeito – disse Scully.

— Ainda continuo sem entender como concluíram que trata-se de um imitador do Roche, e porque me colocaram nesse caso se estou prestes a ser chutado pra fora do FBI.

— Felícia Storn é filha de uma figura importante na cidade, e ao que tudo indica usou seus contatos para colocar você e Scully nesse caso – Scully surpreende-se com essa afirmação.

— O que há nessa história que não se encontra no relatório senhor? – pergunta ela.

— O Delegado encarregado do caso recebeu uma carta, transcrita por esse tal Mauro, onde os nomes de vocês são citados – Skinner entrega todos os dados a seus agentes – vocês poderão ter mais detalhes a respeito do caso quando chegarem em Boston – essa era a senha para os agentes de que o assunto estava encerrado. Eles levantam e saem , já combinando os detalhes da viagem.

DELEGACIA DE BOSTON

DIA SEGUINTE

Mulder e Scully chegam na delegacia e vão direto até a sala de Frank Hudson, que já os esperava. Ele é um homem alto, aparentando 60 anos. Mulder e Scully simpatizaram com ele de imediato.

— O senhor tem certeza que essa carta tinha a letra de sua falecida esposa delegado? – pergunta Scully.

— Eu não tive escolha além de acreditar agente Scully. Todos os resultados dos exames grafotécnicos não deixaram espaço para dúvidas – o Delegado Hudson passa as mãos no rosto antes de continuar – você não faz ideia do que eu senti ao ler aquelas linhas.

— O senhor não parece totalmente convencido – diz Mulder.

— Eu nunca fui homem de acreditar nessas coisas agente Mulder – um policial entra na sala e anuncia que Mauro Santos já estava sob custódia.

— Vocês mandaram prendê-lo de novo? – Mulder estava surpreso – porque isso Delegado?

— Foi uma solicitação do outro colega de vocês.

— Que outro colega? – agora era Scully que parecia surpresa, ficando mais ainda quando o agente Tom Colton entrou na sala.

— Agente Mulder, Scully, quanto tempo – o sorriso dele mal escondia a evidente hostilidade, principalmente para com Mulder.

— O que faz aqui Colton? – Scully mal acreditava que estava vendo-o de novo.

— Não avisaram vocês? Eu fui designado para supervisionar o caso.

— Como é que é? – Mulder era pura indignação.

— Isso mesmo agente Mulder, depois do que aconteceu no caso Roche, não achou que o FBI ia deixa-los agir sem nenhuma supervisão num caso como esse, não é mesmo?

— Isso quer dizer o que? Que vamos ter de nos reportar a você? E quanto ao Skinner?

— O Diretor Skinner já foi informado da decisão, agora que tal deixarmos essa conversa de lado e falar com o suspeito?

O caminho até a sala onde Mauro Santos estava pareceu muito longo para Scully. Ela nunca sentira-se tão humilhada com a decisão de seus superiores em mandar Colton vigiar o trabalho deles. Ainda assim, a sua maior preocupação era mesmo com a reação de Mulder a tudo aquilo. Ela tinha que manter-se calma, até para evitar que ele complique mais ainda a sua já delicada situação. Foi com essa ideia em mente que ela entrou na sala de interrogatório e deparou-se com Mauro Santos. Ele era um homem de estatura mediana e pele morena; apesar da situação em que se encontrava, parecia tranquilo. O Delegado fez menção de falar com ele mas Colton o interrompeu.

— Pode deixar Delegado Hudson – Colton aproximou-se de Mauro com aquele ar superior e fazendo gestos exagerados – usted habla espanhól? – Mauro dá um ligeiro sorriso antes de falar.

— E inglês também – disse, quase sem sotaque – e como o meu inglês é obviamente muito melhor que o seu espanhol, acho melhor falarmos na sua língua mesmo – o constrangimento de Colton ficou evidente, e tanto o Delegado como Mulder e Scully não fizeram a menor questão de esconder o contentamento por isso.

— Acho que sabe que está numa grande encrenca meu caro.

— Eu já disse tudo o que tinha a dizer.

— Acha mesmo que vou acreditar nessa história da carochinha de que recebe mensagens dos mortos? – Mauro nada diz, e Colton dá uma ligeira olhada para Mulder antes de continuar – eu sei de alguns que acreditariam nisso, mas eu não.

O interrogatório demorou quase uma hora e nada foi arrancado de Mauro. Ele foi levado de volta para cela, não sem antes dizer que a filha de Ellen Crawford ainda corria perigo.

— Não poderemos mantê-lo preso sem uma evidência concreta – disse o Delegado.

— Pode mandar soltá-lo então – Colton responde – mas ele deve ser vigiado.

— O que nós precisamos mesmo é vigiar Ângela Crawford de perto – disse Mulder.

— Você acredita mesmo nessa história maluca não é agente Mulder?

— A questão não é essa Colton – interveio Scully – seja quem for o nosso suspeito, trata-se de alguém muito obsessivo, e que elegeu a filha de Ellen Crawford como sua vítima. Ele não vai descansar enquanto não pegar a menina.

— Vamos ter de manter vigilância constante sobre ela, é a melhor chance de pegarmos esse cara – Mulder volta-se para o Delegado – o senhor poderia fazer um favor pra mim Delegado?

— O que agente Mulder?

— Tudo indica que esse cara seja um imitador de um criminoso chamado John Lee Roche, talvez tenham cumprido pena juntos, verifique isso.

— Não aja como se eu não estivesse aqui agente Mulder – Colton estava irritado – não esqueça que eu fui mandado aqui para evitar que faça outra besteira como aquela com o Roche.

— Vamos deixar uma coisa bem clara Colton, você veio aqui para supervisionar o meu trabalho e o da Scully, e não para nos dizer o que fazer – aproxima-se dele – portanto fique aí escrevendo os seus relatórios e saia do meu caminho, ou eu passo por cima de você.

— Calma Mulder – Scully segura levemente o braço de seu parceiro.

— Acho melhor ouvir a sua parceira agente Mulder. A sua situação já está bastante complicada para envolver-se numa agressão contra um colega.

— Brigar não vai adiantar nada Mulder. Nós temos um trabalho a fazer.

— Tem razão parceira – Mulder nem se deu ao trabalho de olhar de novo para Colton e saiu com Scully, agradecendo intimamente o privilégio de conviver quase diariamente com alguém como sua parceira.

CASA DA SENHORA FREEMAN

9:35 Pm

— Obrigado por nos permitir fazer essa vigília na sua casa senhora – disse Mulder.

— Não há de que agente Mulder – a senhora Freeman serve um chá enquanto vê Scully vigiando a casa de Ellen Crawford – sua parceira é sempre tão séria assim? – ela diz com um sorriso.

— É o jeito dela – Mulder não consegue deixar de encantar-se com os modos daquela mulher – a senhora acredita que foi realmente a sua filha quem mandou aquela mensagem?

— Isso não é nada fácil agente Mulder, mas eu acredito sim.

— Para acreditar nisso a senhora também teria de admitir que ela está morta.

— Eu sei agente Mulder, e isso é terrível pode ter certeza.

— Eu sei senhora Freeman, por mais difícil que seja nós sempre precisamos manter a esperança – a senhora Freeman olha pra ele e percebe que está diante de alguém que conhece bem a sua dor.

— Quando foi que sua filha desapareceu?

— Eu nunca vou esquecer essa data agente Mulder – os olhos delas ficam embargados – 17 de outubro de 1973. Esse foi o pior dia da minha vida – Mulder emociona-se com a dor daquela mulher, ao mesmo tempo a sua mente começa a trabalhar em cima do que ela disse e uma teoria começa a formar-se. Ele já antevia, divertido, as discussões que teria com Scully a respeito dela.

— Mulder! – o quase grito de sua parceira chama a sua atenção – alguém entrou pelos fundos da casa da senhora Crawford.

Mulder e Scully correm em direção a casa ao lado. Eles chegam na porta da frente. Enquanto Mulder vai para a parte de trás da casa, Scully toca a campainha sem sucesso, até notar pela janela que um homem desce as escadas com uma criança nos braços. Ela atira na porta e entra, chamando a atenção dele.

— Parado aí, FBI – ela grita e aponta a arma. O sujeito corre em direção aos fundos e dá de cara com Mulder, que vem da cozinha junto com a senhora Crawford.

— Acabou pra você cara – ele toma a criança dos braços do sujeito e o empurra. Ele tenta levantar-se, mas é novamente jogado ao chão por um chute de Scully. A senhora Crawford pega a filha nos braços, ela tem um ferimento na cabeça e chora muito, mas fica aliviada ao ver o homem que a agrediu, e tentou levar sua filha pela segunda vez, ser algemado pelos agentes.

DELEGACIA DE BOSTON

DIA SEGUINTE

Carl Morgan era um criminoso comum quando foi parar na mesma penitenciária onde John Lee Roche cumpria pena. Nada indicava que ele viria a tornar-se um assassino de crianças. Ele foi colocado em liberdade condicional a pouco mais de dois meses e mudou-se para Boston. Sua culpa já estava estabelecida, pois havia sido reconhecido por Mauro, pela filha de Ellen, e até pelo homem que fez o retrato falado dele no dia do seqüestro de Felícia e Jane Storn. Ele, entretanto, recusara-se a dizer onde estava o corpo delas. Tamanho cinismo era idêntico ao de Roche. Mulder não teve dúvida de que aquele sujeito o tinha como ídolo, tratando por imitá-lo em tudo.

— Não vamos conseguir nada com ele – disse Mulder.

— Se ele não falar não teremos como achar os corpos de Felícia Storn e de sua filha – Scully respondeu.

— Eu acho que isso encerra a participação de vocês no caso – Colton os interrompe – a polícia local pode cuidar de tudo daqui em diante.

— Nós ainda temos muito a fazer – diz Mulder – tudo indica que esse caso está ligado aos crimes cometidos por Roche, e ainda tem a última vítima dele que ainda não foi encontrada.

— Eu sei qual é a sua agente Mulder, quer ver se encontra a última vítima desse cara para conseguir limpar a sua barra junto aos chefões.

— Bajular o pessoal de cima é coisa que você faz muito bem Colton, não me coloque no seu time.

— Nós só queremos ajudar a resolver esse caso Colton, e não é você que tem autoridade para nos impedir.

— Eu estou aqui pra supervisionar o trabalho de vocês Scully, tudo o que preciso telefonar para as pessoas certas, e vocês serão mandados de volta a Washington.

— Se o caso é de dar um telefonema agente Colton, eu também posso fazer o mesmo, e pedir que os agentes Mulder e Scully continuem no caso – agora era o Delegado Hudson que resolve falar.

— Acho melhor não se meter nisso Delegado – olha para Mulder antes de voltar a falar – o senhor não tem ideia do tipo de problema que o agente Mulder pode criar – Mulder quase parte pra cima dele, mas é contido por Scully.

— Tudo o que eu sei é que ele e sua parceira ajudaram a pegar um assassino e salvar a vida de uma menina. Do senhor tudo o que eu vi foi muita arrogância e uma evidente má vontade com seus colegas – Colton ficou vermelho ao ouvir aquelas palavras e tratou de ir embora.

— O senhor pode ter comprado uma briga feia ao falar com ele desse jeito, Delegado – disse Mulder.

— Pouco me importa, não fui com a cara desse sujeito desde o início.

— Vamos deixar o Colton de lado por enquanto – disse Scully – o que vamos fazer agora que não conseguimos arrancar nada desse Carl Morgan?

— Pelo que pudemos saber ele e Roche eram inseparáveis na prisão – Mulder ficou um tempo pensativo – fico imaginado se Roche não o doutrinou durante todos aqueles anos para fazer dele uma espécie de sucessor.

— Você acha que ele esteja imitando todos os passos de Roche, até mesmo o modo como ele escolhe suas vítimas e livra-se dos corpos?

— Exatamente parceira! Porque vocês não fazem um levantamento dos crimes cometidos por Roche – ele faz menção de sair.

— Onde você vai? – pergunta Scully.

— Falar com uma pessoa que talvez possa nos ajudar – Mulder sai sem mais nada dizer.