RESIDÊNCIA DE MAURO SANTOS

6:45 Pm

Mulder não consegue evitar uma certa surpresa ao entrar no apartamento de Mauro, nada ali indicava que ele tinha habilidades mediúnicas, nenhum livro a respeito do assunto ou qualquer objeto estranho. Era apenas um apartamento normal, melhor arrumado do que seria de se esperar, em se tratando de um homem solteiro. Ele sentou-se no sofá e resolveu falar.

— Seu apartamento é melhor arrumado que o meu – disse Mulder.

— Esperava encontrar algo mais agente Mulder? Quem sabe uma tenda de consulta?

— Quer me dizer que você não usa suas habilidades para ganhar dinheiro?

— De modo algum, isso seria corromper o dom que os espíritos elevados me deram. Em verdade eu evito ao máximo que as pessoas tenham conhecimento delas.

— Mas aí você recebeu a mensagem da filha da senhora Freeman.

— Pensei muito antes de tomar uma atitude. Na verdade preferia que nada disso tivesse acontecido, mas eu não poderia ficar calado com uma menina correndo perigo de vida.

— Ainda não acabou Mauro.

— Como assim? O sujeito foi preso.

— Ainda há duas vítimas dele que não foram localizadas. O desgraçado recusa-se a dizer onde estão os corpos de Felícia Storn e de sua filha.

— E você acha que eu posso ajudar.

— Acho que sim. Essas mensagens não chegaram a você por acaso.

— E você acha que eu posse descobrir onde estão os corpos? As coisas não funcionam assim agente Mulder. As mensagens não vem até mim quando eu quero. Eu não posso fazer uma pergunta e esperar que ela simplesmente seja respondida.

— Eu ainda acho que você pode ajudar Mauro.

Mulder olhou para ele tentando analisá-lo. Sentia que estava diante de um sujeito decente e que apenas queria seguir sua vida. Com certeza ele não queria as habilidades que tinha e nem tentava ganhar dinheiro com elas, mas essas mesmas habilidades poderiam ajudar a resolver o sumiço de Felícia e Jane Storn. Havia outra questão que também motivava Mulder, pois também queria acabar com uma dúvida que não saia de sua cabeça e que estava custando sua carreira no FBI.

— Você parece com a cabeça longe agente Mulder – disse Mauro.

— Estava pensando em algumas coisas – um ligeiro silêncio baixa entre eles até que Mauro resolve falar.

— Tudo bem agente Mulder, eu não posso prometer nada, mas se eu puder ajudar vocês... pode contar comigo.

— Eu não esperaria outra coisa de você Mauro – eles apertam as mãos e Mulder entrega um cartão a ele – ligue pra mim se receber outra mensagem.

DELEGACIA DE BOSTON

Mulder chega na delegacia e vai ao encontro de Scully e do Delegado. Ao entrar na sala ele vê um grande mapa com pontos vermelhos e azuis. Os vermelhos representam os locais de onde as vítimas de Roche desapareceram e os azuis onde os corpos foram encontrados.

— Imagino que estejam procurando um padrão em tudo isso – disse Mulde.r

— Na verdade há um padrão no local onde as vítimas foram encontradas – disse Scully – parques, reservas florestais. Até as distâncias entre o local dos sequestros e onde os corpos são encontrados são parecidas, sem falar no fato que os locais ficavam em estados diferentes de onde ocorreram os sequestros.

— Acham mesmo que vai dar pra achar Felícia Storn e sua filha seguindo os passos desse tal Roche? – o Delegado não parece muito convencido, Scully pensa em responder, mas nota Mulder olhando fixamente o mapa.

— No que está pensando Mulder?

— Acho que poderíamos colocar um outro ponto vermelho nesse mapa.

— De quem você estaria falando Mulder?

— De Sally Freeman, parceira.

— Você acha mesmo que ela pode ter sido uma das vítimas de Roche.

— Ela pode ter sido a primeira Scully.

— Essa é a sua nova teoria agente Mulder? – a entrada de Colton interrompe a conversa deles. Ele observa o mapa com desdém até dirigir-se a Mulder – acha mesmo que vai salvar a sua pele com essa história?

— Isso não passa pela minha cabeça Colton, e pare de me confundir com você.

— Eu jamais faria isso meu caro.

— Vamos parar com isso vocês dois – a voz de Scully impunha-se quase autoritária – nosso trabalho aqui é resolver esse caso e não ficar com essa disputa idiota de egos.

— O meu trabalho aqui é impedir que vocês dois – aponta para Mulder – ele principalmente, cometa mais algum desatino.

— Ninguém aqui é criança Colton, pare de nos tratar como tal – a discussão com Colton distraia Scully de modo que ela não percebeu quando Mulder colocou outro ponto vermelho no mapa – o que está fazendo Mulder?

— Foi aqui que Sally Freeman desapareceu – aponta para o local no mapa – é a mesma rua onde mora Ângela Crawford.

— Pura coincidência – disse Colton.

— Talvez sim, talvez não – respondeu o Delegado – não podemos esquecer que estamos lidando com um imitador.

— Ele está reproduzindo os passos de Roche – Mulder continua olhando fixamente para o mapa.

— Que eu saiba esse sujeito fazia as suas vítimas em cidades diferentes e não é esse o caso.

— Nesse ponto eu tenho que concordar com o Colton, Mulder.

— Eu sei que parece não fazer sentido Scully, mas não esqueça que Carl Morgan e John Lee Roche conviveram durante anos na prisão. É óbvio que Roche o doutrinou para ser um imitador – Mulder fica um instante pensativo – talvez Carl Morgan saiba algo mais sobre Roche... algo que nós nunca descobrimos – ele volta a consultar o mapa – você falou sobre os locais em que as vítimas eram encontradas e como a distância para o local dos sequestros era parecida.

— Parece ser um padrão Mulder.

— O que tem em mente agente Mulder? – o Delegado Hudson junta-se a aos dois.

— Digamos que seja realmente um padrão – Mulder começa a usar uma caneta no mapa e traçar uma linha do local em que Felicia Storn e sua filha desapareceram até chegar a um determinado ponto – o corpo delas podem estar enterrados aqui, e talvez o de Sally Freeman.

PARQUE ESTADUAL DE WOONSCOCKET*

RHODE ISLAND

DOIS DIAS DEPOIS

Era grande a movimentação de policiais naquele local. Lugares eram escavados em busca de um corpo, mas até então nada havia sido encontrado.

— Nós estamos perdendo tempo aqui – disse Colton – deveríamos era estar pressionando Carl Morgan.

— Ele não vai falar nada Colton – Mulder estava cada vez mais impaciente com ele e o pior é que Scully não estava ali para pôr-se entre ambos e uma boa briga.

— Estamos gastando recursos do FBI para nada, apenas por causa de suas teorias.

— Estou aberto a sugestões Colton, se você tem uma idéia melhor...

— Eu vou dizer qual é a minha ideia Mulder, se não houver resultados em 24 horas eu vou cuidar para que esse circo que você montou seja desarmado – ele vai embora, não sem antes lançar aquele sorriso agressivo de sempre, Mulder sabe que na verdade ele não espera que se encontre nada e que tudo isso apenas contribua para que ele seja chutado mais rápido do FBI. O toque de seu celular interrompe seus pensamentos.

— Mulder! – era Mauro falando que tinha recebido uma nova mensagem, só que sem assinatura, parecendo referir-se a ele e sua parceira – “vocês estão no caminho certo, libertem-nos” – Mulder ouviu aquilo e pensou um pouco antes de falar – Mauro você poderia vir até aqui? – a resposta demora um pouco, mas acaba sendo positiva.

DELEGACIA DE BOSTON

Scully estava lendo o relatório com muita atenção. Não foi nada fácil levantar toda aquela história, mas agora já dava pra entender muita coisa no caso que parecia não fazer sentido. Ela ainda não podia ter certeza do que realmente tinha diante de si. Ainda assim, já dava para imaginar toda a sordidez escondida atrás de um simples caso de desaparecimento de uma mulher e sua filha. Ambas desapareceram no dia 22 de agosto de 1973, não tendo nenhum outro parente, além do homem que era casado com uma e padrasto da outra. Na época ele alegou ter sido abandonado pela esposa, ela teria fugido com outro homem e levado a filha. Uma história em que Scully acreditava cada vez menos por causa do nome do suposto marido abandonado: John Lee Roche

— Algo interessante nesse relatório Dana? – Colton chegou acompanhado do Delegado Hudsom, fazendo com que interrompesse a leitura. Scully conta a eles tudo o que descobriu.

— Acha então que Roche matou a esposa e a enteada e que isso explicaria a morte de Felícia Storn e sua filha nas mãos do imitador dele? – o Delegado lê o relatório enquanto falava.

— John Roche deve ter contado todos os seus crimes a Carl Morgan enquanto o doutrinava, agoraele o está imitando nos mínimos detalhes.

— Francamente Dana, essa sua convivência com o Mulder fez muito mal a você.

— Porque você insiste nessa má vontade Colton? Mesmo diante de fatos que estão diante de seus olhos, você não quer acreditar – ela suspira antes de completar – na verdade não interessa a você acreditar não é mesmo?

— Acabou a palhaçada Dana, você e seu parceiro estão fazendo de tudo para resolver esse caso de modo que ajude Mulder a não ser expulso de FBI, mas não vai adiantar – ele vai até um telefone e começa a ligar – vou acabar com aquele circo que seu parceiro montou e mandar vocês de volta a Washington – Scully sai da sala indignada. O Delegado sai com ela.

— Acho que dessa vez eu não vou poder ajudá-la e ao seu parceiro agente Scully.

— Tudo bem Delegado – ela disca um número no celular – eu conheço alguém que pode.

PARQUE ESTADUAL DE WOONSCOCKET

Mauro Santos chegou lá de carro e logo ao saltar ele teve uma estranha sensação. Havia algo naquelas florestas. Ele sentia um clamor de almas que queriam ser libertadas. Sua vida seria tão mais fácil se ele não tivesse essas habilidades, mas não havia como fugir disso. Tudo o que ele queria era ajudar essas almas a serem libertadas.

— Ainda bem que você veio – disse Mulder.

— Acha mesmo que eu posso ajudar a encontrar os corpos agente Mulder?

— Acho que você é o único que pode – Mulder aponta para o parque – esse lugar é imenso, nós nem sabemos direito por onde começar a procurar, mas eu tenho certeza que os corpos estão aqui.

— Eu também agente Mulder – ele anda em volta do lugar – sinto uma grande angústia nesse lugar. Um grande mal que precisa ser corrigido.

As horas passaram, mas nenhuma novidade aconteceu. As equipes de busca já não trabalhavam mais e a atenção de Mulder estava toda voltada para Mauro. Um carro chegou e Tom Colton foi direto até eles.

— Eu não acredito nisso.

— O quer aqui Colton? Deveria estar fazendo os seus relatórios.

— Acabou a palhaçada Mulder. Vou mandar suspender essa busca inútil agora mesmo.

— Não pode fazer isso.

— Eu já fiz! E você vai voltar hoje mesmo com a Scully para Washington.

— Os corpos estão aqui Colton, e é nossa obrigação encontrá-los.

— A sua obrigação é voltar para Washington para ser expulso do FBI, Mulder.

— E a sua é obedecer as ordens de seus superiores agente Colton – a voz de Skinner chamou a atenção dos dois, Scully estava junto a ele.

— O que faz aqui senhor?

— Vim impedir que você cometa uma asneira e arruíne um caso que vem sendo bem conduzido.

— Essa busca não tem cabimento, só estão jogando o dinheiro do Bureau fora – aponta para Mauro – e ele ainda chamou esse sujeito para ajudar não sei de que maneira.

— Não é a primeira vez que o FBI pede a ajuda de paranormais em casos assim. Se o agente Mulder acha que ele pode ajudar não vejo problema algum.

— O senhor não pode estar falando sério.

— Agente Colton – Skinner usa um tom propositadamente alto de voz ao falar – se gosta tanto de seguir as regras devia saber como falar com um superior seu – Colton engole em seco antes de falar novamente.

— Com todo o respeito senhor eu devo dizer que não concordo com sua decisão e vou procurar instâncias superiores, se for o caso, para acabar com esse circo que está montado aqui.

— É um direito seu agente, faça isso e assuma as consequências – Colton retira-se e Mulder vai até Skinner.

— Está assumindo um risco muito grande senhor – disse ele.

— Pois então prove que eu estou certo em fazer isso Mulder – ele volta-se para Scully – conte a ele o que descobriu na sua investigação sobre John Roche.

— Ele tinha uma mulher e enteada Mulder – Scully mostra a foto delas a Mulder – eles moravam na mesma rua onde vivia Felícia Storn e sua filha, ambas desapareceram em 73.

— Elas estão aqui Scully, todas elas.

— E acha que esse Mauro Santos pode ajudar a encontrá-las? – pergunta Skinner.

— Acho que ele é o único que pode senhor.

— Onde ele está Mulder? – Scully pergunta, todos olham em volta, mas não o vem. Logo começam a procura-lo até acha-lo numa clareira, uns 100 metros longe da área de escavação.

— Tudo bem Mauro? – Mulder pergunta.

— Estão aqui agente Mulder – o rosto dele era uma máscara de angústia – estão todas aqui.

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Nunca se sabe até onde pode ir a crueldade humana. Devia ser isso que pensavam as pessoas envolvidas no resgate de 5 corpos. Dois adultos e três crianças estavam enterrados bem próximos uns dos outros naquela clareira. Era um lugar que combinava a beleza natural da natureza com um ato monstruoso. Havia um silêncio entre todos, pois ninguém tinha palavras a dizer diante do que viam. Mulder olhou para sua parceira e viu seus olhos úmidos, lágrimas que ela insistia em não deixar cair. Aproximou-se dela e tocou em seu ombro, nada precisou ser dito entre eles, um conhecia a dor do outro, um sabia que podia contar com o outro sempre que precisassem.

— Como uma coisa dessas pode ser possível Mulder? – ela pergunta.

— Não sei parceira, em todos esses anos no FBI eu nunca consegui acostumar-me com isso.

— Melhor assim Mulder – Scully observa os restos mortais de uma criança sendo colocada num saco – no dia em que nos acostumarmos a isso o melhor a fazer seria deixar o FBI.

SEDE DO FBI

WASHINGTON D.C.

TRÊS DIAS DEPOIS

Mulder estava de volta à sala austera onde seu futuro no FBI seria decidido. Os membros da comissão estavam se preparando para iniciar os trabalhos. Ele sentiu um delicado toque em seu ombro, era Scully sentando ao seu lado.

— E o resultado dos exames – ele perguntou.

— Tudo confirmado Mulder. As duas adultas eram Felícia Storn e Audrey Roche. As três crianças eram as filhas delas e mais Sally Freeman.

— E Sally Freeman era a décima sexta vítima de Roche.

— Exatamente! Não era Samanta, nunca foi.

— Eu sei que parece infantilidade da minha parte, mas eu adoraria ver a cara do Colton agora – Scully sorri.

— Eu também, mas isso não vai ser possível porque ele pediu transferência depois de insistir com vários figurões do FBI para cancelar uma busca que acabou resolvendo um grande caso.

— Isso não é nada bom para ficha de alguém que pretende ir rumo ao topo – os dois procuram moderar o riso enquanto Skinner entra na sala e junta-se a eles. O Presidente da comissão começa a falar.

— Diretor Skinner, o senhor disse que tem uma declaração a fazer.

— Exatamente senhor!

— Esteja a vontade.

— Eu gostaria de dizer que o agente Mulder tinha a minha autorização quando pediu a liberação de John Roche ao diretor da penitenciária – Mulder faz menção de dizer algo, mas o toque de Scully em seu ombro o impede.

— Diretor Skinner, o senhor vai mesmo insistir nessa versão.

— Não é uma versão senhor Presidente, é a verdade – a postura de Skinner era firme e resoluta – a agente Scully estava presente quando eu dei a autorização e pode confirmar tudo – Scully confirma a declaração de seu chefe. O Presidente da comissão sabia que nada mais poderia ser feito com Mulder depois disso e resignou-se a dar um suspiro antes de encerrar a sessão. Mulder interpela seu chefe do lado de fora da sala.

— Porque fez isso senhor? No mínimo o senhor vai ser advertido por seus superiores e isso vai ficar na sua ficha.

— É melhor do que você ser expulso do FBI, Mulder. Você é um excelente agente, e esse último caso foi uma prova disso.

— Não sei o que dizer senhor.

— Não precisa dizer nada. Por mais que algumas pessoas digam o contrário, o fato é que o FBI precisa de agentes como você e a Scully – ele toca de leve o ombro de Mulder e vai embora, Scully aproxima-se dele.

— Tudo bem Mulder? – pergunta ela.

— Graças a vocês dois – ele diz com um sorriso.

— Estamos nessa juntos, nunca se esqueça – eles trocam um olhar significativo e seguem direto para o porão.

*área totalmente fictícia

FIM

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.