Eu cheguei no Waterfront e fui direto procurar por alguém da Guilda. O esconderijo estava destruído, sinais de luta em todo canto. A grande mesa circular que ficava no salão principal estava quebrada ao meio, e o resto da mobília quebrada, jogada, ou queimada algumas. Nos dormitórios a situação não estava melhor. Desci para o porão, com pouca esperança. Todo o nosso equipamento que usávamos para aperfeiçoar nossas habilidades estava quebrado, jogado ao chão.
Mas eu notei algo de diferente no manequim com sinos. Ele estava jogado de bruços, mas suas costas estavam rasgadas. Eu encontrei dentro dele, fragmentos de um diário onde eu pude ler:
“Arruinada, a Guilda não conseguirá mais se levantar. Hoje faz dois meses que Leodius foi preso e desde então a Guilda está em decadência. Tenho minhas suspeitas sobre quem é o traidor, mas não tenho certeza. Amanhã vou falar com Armand sobre isso.”
“Sem trabalhos nem nada. Nossa força no Waterfront está reduzida a praticamente nada. Agora só restam Faldins, Tar-Lai e eu. Juntos vingamos a Guilda. Matamos Neruvus logo depois que Armand foi morto, mas nós três tememos que ele tenha vazado muitas informações, e membros de outras cidades provavelmente serão caçados por Lex. O jeito agora é esconder até a poeira baixar.”
Então eu soube que por esses dias que passei preso, muita coisa aconteceu. Mas agora não havia mais o que fazer. Não teria mesmo como eu passar a noite na Cidade Imperial, eu teria que ficar um pouco longe dela por um tempo. Eu saí do esconderijo e tentei ao máximo traçar escondido o meu caminho para os estábulos pela parte de fora da Cidade. Roubei um cavalo, negro, o mais rápido e saí galopando em direção à Chorrol.

Eu cheguei no Monastério pela madrugada. Era bem parecida com uma fazenda. Um poço artesanal se localizava no centro. À direita havia uma capela feita de pedra e telhado de madeira, à esquerda uma horta e à frente a casa principal. Ela era feita com a base em pedra, as paredes de madeira de carvalho e o telhado de palha. Eu batia à porta da casa e depois de alguns minutos, um monge veio e abriu a porta.
— O que você quer à essa hora? – Pelo visto eu tinha acordado ele com as muitas batidas na porta.
— Me desculpe, eu preciso ver Jauffre. É extremamente urgente.
— Vá em frente. Ele está no andar de cima, à direita.
—Obrigado.
Eu fui até onde ele me indicou e encontrei outro monge, cabeça calva em cima mas com cabelo nas laterais. Seus olhos estavam fissurados em um livro que lia, tanto que não notou minha presença. Ele estava sentado em uma cadeira atrás de uma escrivaninha de madeira. Percebi que ele era Jauffre assim que vi a placa na parede com uma dai-katana exibida e um elmo dos Blades na mesa.
— Jauffre?
— Quem é você?
— Sou Leodius. Preciso falar com você urgente.
— E do que se trata?
— Eu preciso encontrar o herdeiro de Uriel. – Ele ficou espantado com a resposta e eu lhe contei tudo que era necessário, já que o tempo era curto.
— Kvatch. – Ele disse assim que terminei – O nome dele é Martin. Ele é um sacerdote de Akatosh na capela da cidade.
— Estou indo para lá. Mas antes, pegue o Amuleto. Esconda-o com você.
— Eu irei. Está vendo aquele baú ali? – Ele apontou para um baú ao lado de uma estante – pegue o que quiser dele. Eu o mantenho para os Blades que passam por aqui e precisam de suprimentos. E coma antes de sair, você deve estar faminto. Sirva-se a vontade da dispensa.
— Muito obrigado.
Me dirigi ao baú. Ele era grande, mais parecido a uma arca. Dentro dele tinha um arco de madeira com uma aljava cheia de flechas de ferro, couraça, grevas, botas e manoplas de ferro, assim como um escudo. Me equipei com o escudo e as outras peças de ferro, mantendo na bainha a katana que Baurus me deu. Desci as escadas e me esbanjei, já que havia mais de um dia que não comia e não sabia qual seria a próxima vez que teria a chance.
Saí para fora, montei em meu cavalo roubado e corri rumo à Kvatch.

Cheguei na cidade pelo amanhecer. O pobre coitado do cavalo ficou exausto de subir correndo a enorme ladeira que leva à cidade. Entrei na cidade ás presas e corri para a capela, que ficava logo depois da praça na entrada. Abri a porta da capela e gritei o nome de Martin.
— Por favor. Mais respeito. – Um outro sacerdote me repreendeu por gritar tão alto no templo.
— Desculpe. Estou procurando por Martin, o sacerdote.
— O que tem o meu nome? – Martin estava subindo as escadas que levavam para a parte inferior da capela.
— Martin, venha aqui. - Fui com ele até um canto mais recluso. O que eu ia falar com ele poderia causar ações imprevisíveis nas outras pessoas na capela – Você corre perigo.
— Oi? Explique-se.
Para falar a verdade, eu já estava cansado de contar tantas vezes a mesma história, mas contei para ele sobre a manhã do dia anterior, mas quando falei de ele ser filho de Uriel ele se queixou.
— O Imperador Uriel VII meu pai? Não, você está errado, meu pai era um fazendeiro. Você está mentindo.
— Pense bem, o que eu ganharia mentindo para você sobre um assunto tão sério?
— Você está certo. Não sei bem por que, mas acho que diz a verdade. Se o Imperador agiu com você da maneira que você diz nos seus últimos momentos de vida, você deve realmente ser parte do plano divino, mas não tenho certeza se EU quero ser parte de algum plano divino.
—Independente disso, você tem que vir comigo. Se quem planejou a morte de seu pai sabe sobre você, as consequências podem ser terríveis. Preciso te lavar para Jauffre. Ele saberá o que fazer.
Nós dois saímos da capela e nos dirigimos pela rua em direção aos portões da cidade, quando aconteceu algo que tornou o momento, um pouquinho mais difícil.
O céu perdeu a tonalidade azul da manhã e ficou vermelho, e as nuvens se tornaram borrões negros em um céu trovejante. Pelos portões abertos da cidade eu pude ver formas pontudas de pedra negra brotando do chão e se erguendo com uma distância entre si o dobro dos portões da cidade, até que elas se juntaram e um portal vermelho se abriu frente aos portões da cidade.