229 dias. 229 riscos na parede da minha cela. 229 dias que passei em uma cela da Prisão Imperial. 229 dias de fome, tortura, sofrimento, doença, e tudo de ruim que podiam me proporcionar. Se minhas contas estivessem certas, já era dia 27 de Last Seed, e meio ano já tinha passado. Como se não bastasse à tortura em troca de informações sobre a Guilda, na cela em frente à minha, tinha um Dunmer que simplesmente não parava de falar, o que só piorava meus dias, que já demoravam a passar. Bastardos traidores que me colocaram aqui.

Mas naquele dia 27, a sorte finalmente voltou a sorrir para mim. Eu havia acabado de levantar do chão frio da cela, e o Dunmer já começou a falar. Como de costume, não prestei atenção a ele.

As celas eram pequenas, com um monte de feno num canto abaixo de uma janela com grades pela qual todo dia eu via os navios e barcos navegando pelo Rumare e subindo e descendo o Niben. Não havia nada para fazer além de olhar pelas grades ou ouvir o Dunmer, então me voltei para a janela. Mas uma luz nas escadas que subiam para fora da masmorra me chamou a atenção. Os guardas não tinham o costume de descer com a refeição diária tão cedo, mas não eram guardas Imperiais que desciam.

Na porta da minha cela, estavam de pé três Blades, os famosos guarda costas de elite do Imperador, e sendo escoltado por eles, ninguém mais, ninguém menos que o Imperador. Uriel Septim VII estava agora na porta de minha cela. Ele se queixou com um dos Blades, a única mulher no grupo, algo sobre seus filhos e se eles estavam mortos. Ela simplesmente disse que não podia afirmar nada, e que o importante era tirá-lo da cidade em segurança. Essa frase um tanto seca e cheia de profissionalismo me fez pensar que algo muito sério estava acontecendo sob o céu limpo daquela manhã.

—O que está havendo! Essa cela deveria estar vazia! – Começou a gritar um dos Blades.

—Ei, prisioneiro, fique aí parado no canto se não quiser ser morto. Qualquer movimento súbito, e sua cabeça rola. – Disse o outro homem do grupo.

Fiquei parado onde estava enquanto os Blades estravam seriamente na cela. Um deles ficou próximo a mim, para fazer minha cabeça rolar, se precisasse. A mulher se direcionou a um vão que a cela possuía na parede e o outro ficou na porta. O Imperador entrou na cela, e a tristeza em seu rosto era enorme devido à perda dos filhos. Mas quando ele levantou a cabeça, olhou para mim e veio em minha direção.

—Senhor? – Questionou o Blade que queria me cortar.

—Calma Baurus. – Disse Uriel para o Blade, que deu espaço para que ele se aproximasse de mim. – Você. Você é aquele dos meus sonhos.

—Perdão senhor, do que fala. – Claro que falei com total respeito e formalidade, afinal, eu não esqueci de Baurus logo atrás de Uriel.

—Baurus, ele vem conosco. Deixe que ele venha, ele tem que vir.

Então, o vão na parede em que a mulher estava mexendo se afundou ainda mais, revelando um antigo túnel subterrâneo, cheio de teias de aranha, e levantando uma onda enorme de poeira pela pequena cela. Uriel me mandou levantar e os seguir pelo túnel. Eu levantei fui atrás deles, mas quando ia entrar no túnel logo atrás do Imperador, Baurus me puxou para trás, acendeu uma tocha e me entregou, me mandando segurá-la e seguir atrás dos quatro. Eu peguei a tocha e entrei no túnel atrás dele.

O túnel era largo, mas não muito alto. Ele descia levemente e ia se ampliando, até que chegamos a um ponto em que ele se abriu em uma enorme sala, as paredes feitas de blocos brancos de pedra polida, agora com musgo nos cantos, e colunas do mesmo material. Depois dessa sala, o ambiente não mudou muito as características, sendo o resto do caminho feito inteiramente de pedras.

—Você, nosso convidado. – Chamou o Imperador – Qual o seu nome?

—Leodius.

—Leodius. Acho que lhe devo uma explicação. Disse que te vi em meus sonhos, mas você não era o único lá. – Uriel me explicou o seu sonho, disse que viu as portas de Oblivion se abrirem, revelando terras devastadas e ferventes, das quais saiam todo tipo de aberração demoníaca, mas quando ia falar onde eu me encaixava nessa história, o outro Blade, sem ser Baurus, gritou algo na frente.

—Silencio aí atrás por favor. Isso não cheira bem. Vou na frente e darei um sinal para que vocês avancem.

Em estética, a sala não tinha nada de diferente, mas uma escada levava mais a baixo, onde a sala se abria em caminhos dobrados, duas portas, mas uma trancada.

—Merda. Uma armadilha.

—Acalme-se Steffan. Vamos olhar o outro portão. – Disse a mulher do grupo.

—Isso não está bom. A entrada para os esgotos está bem ali, mas o portão não devia estar trancado, ninguém usa essa rota para sair da cidade. - Mas o outro portão levava a uma sala sem saída.

Antes que Steffan começa-se a praguejar, sons de espadas sendo puxadas cortaram o ar em grande número e luzes vermelhas vieram da sala anterior. Steffan e Baurus correram para lá e a mulher me mandou ficar na sala e proteger o Imperador, mas assim que ela saiu da sala ele puxou me ombro, o desespero e pressa estampados em seu rosto.

—Rápido, pegue o Amuleto – ele tirou o colar de seu pescoço e me entregou, com pressa – Leve-o para Jauffre e encontre meu herdeiro. Você foi escolhido pelos Deuses Leodius, crendo ou não neles, você é parte do plano divino e deve deter o Príncipe da Destru

Mas antes que pudesse terminar de falar, um vão se abriu atrás dele na parede e uma espada transpassou seu peito, e ele caiu imóvel no chão.

Eu fiquei completamente assustado e sem atitude, com o Amuleto nas minhas mãos. O assassino levantou seu olhar do corpo do Imperador para mim e se preparou para me cortar em pedaços, mas uma flecha passou raspando por minha cabeça e acertou o ombro do assassino, que deixou a espada cair no chão. Passei o Amuleto para a mão esquerda, peguei a espada antes dela cair no chão e desenhei um corte para cima, cortando o peito do assassino, que tombou para trás, tendo tempo para qualquer reação antes que Baurus cortasse fora sua cabeça.

Depois entrou Steffan na sala, o arco nas mãos. Quando ele viu Uriel morto no chão, rapidamente armou uma flecha e a apontou para mim.

— O que aconteceu aqui! Você deixou o Imperador morrer seu criminoso vagabundo!

— Acalme-se Steffan! – Gritou Baurus, ainda mais alto do que Steffan gritava comigo – Vamos ouvir o que ele tem a dizer primeiro. – Ele tentava transparecer calma e controle, mas seu rosto estava cheio de dor, tristeza, e uma grande decepção com si próprio.

Eu contei a eles tudo, o vão na parede, as últimas palavras do Imperador. Steffan não tirou a flecha da mira de minha cabeça.

— Ele viu algo em você. – Baurus cortou o silêncio na sala – Ele confiou em você logo que o viu. Dizem que o Sangue do Dragão dá certos poderes aos que o têm. Steffan, devolva flecha para a aljava. Você, Leodius, parece que esse vão acaba em uma outra passagem para a entrada dos esgotos. Lá deve ter alguns ratos e caranguejos no máximo, nada que você não consiga lidar. Pegue minha katana e essa chave, ela vai abrir o cadeado da entrada dos esgotos. Vá para o Monastério de Weynon, perto da cidade de Chorrol. Jauffre vive lá desde que se aposentou. Se apresse, esse deve ser seu primeiro objetivo quando sair dos esgotos. Agora vá. Vamos ficar aqui e cuidar do corpo do Imperador.

Eu me virei para o vão na parede, passei por ele e segui por um corredor até virar para a direita e me deparar com uma porta velha de madeira. Abri ela e parei em uma sala, que ficava logo depois do portão que havíamos encontrado trancado logo antes. No maio da sala estava a entrada para os esgotos, um buraco redondo tampado por uma escotilha de metal trancada com um cadeado. No esgoto não tive muita dificuldade, o caminho tinha mesmo apenas ratos, e caranguejos conforme me aproximava da saída. Ainda bem, nada de goblins. Um cano gigantesco em altura, largura e comprimento levava para a saída e à Ilha dos Oito.

Foi ótimo sentir o ar puro novamente. Ar leve, diferente do da Prisão. Eu sabia que tinha uma missão importante sobre minhas costas, mas estava anoitecendo e eu tinha assuntos pendentes de muito tempo a tratar. Subi a colina atrás de mim e localizei meu objetivo. Segui meu caminho para o Waterfront.