O Jogo da Vida

Ciúme Sem Barreiras


Cap. 3
Ciúme Sem Barreiras

\"\"

- Gabriele? – eu! Espera, tinha alguém do lado de fora; quem é esta?

Natasha – Titia? – heim? Devo ter ouvido errado – O que faz aqui?

Ou não... Então um momento!... Esta voluptuosa mulher de cabelos cor mel, um pouco mais curtos que os da Perutasha, com olhos quase perolados, sapatos-boneca e belo sorriso, é Talita Petrovity, amiga da minha mãe, irmã daquele crápula do seu ex e tia da patricinha?

Talita – Oh, olá Emi! – ela acena e a mãe acena de volta.

É sim, elas são amigas, especialmente pela mamãe usar roupas típicas de um São João brasileiro na maioria das vezes e ela, aparentemente, gostar de vestidos de algodão e outras coisas delicadas e folgadas. Bom, as duas gostosas podem!

Gabriele – Talita, certo? – antes de ela responder, eu interrompo – Sou a Gabriele Alves Monterrey, filha adotiva da Emi. É um prazer. Tchau! – passo por ela e ando mais rápido.

Emília – Espere um pouco!... Talita, por favor, a segure para mim!

Talita – Deixa Emi, eu converso com ela!

Ela quer conversar comigo? Boa sorte! Se ela me alcançar subindo a escada e encontrar o meu quarto, super escondido no terceiro corredor e na porta do meio, e frente pra uma janela, eu dou uma taça. Mas é claro que é pouco provável...!

Talita – Gabriele, eu posso falar com você?

Ah, qual é! Esta mulher é ninja? Vidente então? Entrego qualquer taça, menos a que eu esfreguei na cara do Hyuga!

Gabriele – Pode tentar. – sento na cama e ela ao meu lado depois de entrar.

Talita – Em outras conversas com a Emi, eu soube como você é um pouco desconfiada. Não confia com facilidade nas pessoas, é muito orgulhosa, arruma briga fácil, ultimamente mais do que em outras vezes... – reviro os olhos e seguro as pernas.

Gabriele – Todos só me vêem assim: agitada, teimosa e linda. – o Hyuga também disse isso quando me conheceu.

Talita – Sei... – momento de silêncio – Olha... Eu sei que é difícil acreditar quando as pessoas dizem "Eu sei como se sente.", mas eu sei mesmo como se sente. – ergo a cabeça e ela deita ao meu lado, se espreguiçando – Sabe, antes de virar líder do Clube de Festas Anuais Esportivas, o C.F.A.E., todo mundo vivia me olhando com inveja no trabalho, dizendo que eu era boba demais pra fazer qualquer coisa, e assim me deixarem de fora dos serviços. Apenas por minhas roupas, você deve ter notado como eu adoro coisas consideradas infantis, não? – eu maneio a cabeça e ela ri – Pois é, mas, para mim, devemos sempre manter nosso espírito criança e nunca nos abater por invejosos.

Gabriele – A mamãe diz a mesma coisa. – nós nos olhamos.

Talita – É, um dos motivos de sermos amigas. – nós sorrimos – Um pouquinho antes de entrar, eu escutei o seu grito e já tinha ouvido da Natasha que vocês não se davam nada bem. – isso é apelido – Ela é a minha única sobrinha, mas nem por isso privilegiada. Na verdade, a personalidade dela de idolatrar o canalha do meu irmão me irrita! Se ela não fizesse parte da minha família, eu teria recusado mantê-la na minha casa.

Gabriele – Ora, que bom! Eu tenho uma aliada ao menos.

Talita – Pode contar comigo para o que precisar Gabi. Inclusive, desabafe comigo quando quiser, e eu estarei sempre escutando!

Gabriele – Obrigada... Mas eu não falo muito de mim pros outros.

Talita – Ora, vamos lá!... Tem algo que queira me contar agora? – desvio o olhar.

Gabriele – Na verdade... – suspiro – Tem uma... – não diga!

Talita – O que? – ela me incentiva.

Gabriele – Bem... – é loucura – Eu acho que...

Ah, não dá pra achar nada! Não admito nem para mim mesma isso, que dirá contar à amiga da minha técnica, com quem eu já falo pouco, uma verdade nem comprovada ainda!

Gabriele – Esquece. É algo complicado de falar...

Talita – Posso chutar e dizer que você gosta de um garoto, mas não sabe se ele retribui?

Gabriele – Ah... – volto a encará-la – Por aí. – rio – Mas que belo chute!

Talita – Por que acha que eu virei líder do C.F.A.E.? Eu sou muito boa! – rimos.

Gabriele – Estou vendo. Já jogou futebol?

Talita – Pouco. Nunca entrei em um campo com grande público jogando. Mas não mude de assunto! – sorri, balançando o indicador na frente do meu nariz – Pode contar!

Gabriele – Só que eu nem tenho nada a dizer!

Talita – Verdade? Então é você a indecisa na história?

Gabriele – Ok... Você se importa de parar de ler a minha mente agora, sim? – ela ri.

Talita – Ande Gabi, sou sua amiga! Pelo menos quero ser... Você confiou na Emi para te proteger quando não tinha mais ninguém, então eu estou pedindo: confie em mim agora!

Continuamos nos encarando por um tempo. Respiro profundamente. É um caminho sem volta admitir isso neste momento, mas eu preciso começar mesmo a me abrir, afinal, prometi à Camila e a mamãe que tentaria. Aqui está a minha chance!...

Gabriele – Eu acho que gosto do Hyuga! – pronto, chutei!

Talita – Capitão do Fuji e amigo de infância da Natasha? – pelo tom e a expressão, ela deve estar refletindo sobre a minha confissão – E briga com ela pelo grude deles... – acertou!

Gabriele – E também porque ela é um porre! – jogo o ar acumulado pra fora.

Talita – Concordo! – rimos – Sabe... Talvez eu possa ajudar.

...

Depois de confessar o meu maior segredo para a melhor amiga da mamãe quando eu tinha acabado de conhecê-la, sinto com mais frequência o meu coração explodir perto do Hyuga. Qual é; nós ainda nem dormimos juntos e a minha cabeça já tá girando! A Talita deixou bem claro que quer me ajudar a conquista-lo, mas eu não tenho muita certeza se vou estar livre daqui a algum tempo, porque a vontade de matar a sobrinha dela também aumenta a cada dia!

E lá vem a patricinha atrapalhar o treino!...

Natasha – Oi, escutem! Eu acabei de falar com o irmão da Emília. Segundo disse, como dono das indústrias nos fornecendo nossos uniformes e tudo mais todos os anos, ele pode fazer novas blusas somente para a revanche.

Gabriele – Conhecendo vossa senhoria, pediu um uniforme de líder-de-torcida só pra ficar gritando do estádio na competição, não é?

Natasha – Eu pedi sim, mas o que você tem com isso?

Gabriele – Nada. Somos todas garotas materiais! – sarcasmo puro.

Yoshiko – Gabi! – interrompe a alegre conversa junto ao Hikaru pra me puxar até as garotas, do outro lado do closet – Você disse que desistiria de vez do Hyuga!

Gabriele – Nunca nem comecei a gostar dele pra prometer isso!

E adiantaria dizer "Eu desisti!" se sempre volto a gostar do Hyuga a qualquer mínima ação dele? Mas é certeza como seria uma namorada melhor que a princesinha!

Gabriele – O plano original era ter mais paciência. Eu não prometi foi suportar ELA! – nós voltamos a encarar a nojenta conversando com ele.

Natasha – Seja como for, eu vou me aprontar para a quermesse! – sai rebolando.

Hikaru – Mas a quermesse não vai ser só amanhã?

Natasha – E quanto tempo você acha que leva para arrumar o meu cabelo? – risinho seco.

Ah é, ela deve exportar uma vaca lá do Japão só pra lamber o cabelo dela!

Natasha – Até mais! – sai correndo e acenando.

Gabriele – "Até mais!"! – imito a voz dela.

Por que todos riem menos o Hyuga sempre? Ele gosta mesmo dessa praga? Nós saímos e vamos ao jardim para começar o treinamento.

Talita – Gabi! Anda, temos que te arrumar!

Gabriele – Beleza, eu já vou! – aceno de volta.

Ela sai da janela do meu quarto; hora de correr para casa. É a primeira vez que eu me sinto tão empolgada pra fazer alguma coisa além de jogar futebol! Duvido que o "senhor todo poderoso Hyuga" já tenha sentido isso...!

Emília – Ei Gabriele, espere um pouco, onde pensa que vai? – mamãe aparece na porta da entrada ao lado do Roberto e da minha futura sogra... Quer dizer, da mãe do Hyuga, e impede a minha fuga – E o treino? Você nunca perde um!

Gabriele – A Lili prometeu me ajudar a me arrumar pra quermesse de amanhã, então eu tô fora! Continuem o treino sem mim.

Emília – E desde quando vocês ficaram tão íntimas? – jogo as mãos atrás das costas e começo a balançar o corpo para frente e pra trás.

Gabriele – Temos algumas coisas em comum. – tipo, repudiamos a "Perutasha" – Tchau!

Eu saio do jardim e corro para casa. Após horas e horas gastas da nossa tarde, Lili desliga o secador e vira a cadeira para que eu me veja no espelho. Abro os olhos devagar. Meu Deus, agora eu consigo me ver como mulher!

Gabriele – Não acredito!... É o meu reflexo? – toco o cabelo mais liso.

Talita – O seu cabelo é interessante porque, por mais prancha usada, as pontas só ficam onduladas. – põe as mãos na cintura – Está um pouquinho diferente de quando você se vestiu de homem no campeonato, não é Gabi? – ri, indo até a cama.

Gabriele – Nem brinque! – toco o espelho – E eu não fazia ideia que a maquiagem podia me trazer um resultado tão bom.

Talita – Mas eu te maquiei apenas para ensiná-la como fazer sozinha. Antes de dormir, tire tudo com um lenço umedecido e depois molhe o rosto, e não vá se esquecer de passar pouca maquiagem! As mulheres devem se mostrar sempre femininas, independente da carreira que seguem, mas como tudo demais é exagero, se passar do limite vai parecer uma...

Gabriele – Patricinha ou prostituta; quase nem tem diferença!

Talita – Eu ia dizer palhaço de circo, mas também serve. – rimos.

Gabriele – "Com o amor, o conceito de exagerar não existe." É o que a treinadora nos diz.

Talita – É verdade. – sorri, sentando na cama – E veja, eu separei esta roupa para você. – levanto da cadeira e chego perto dela.

Gabriele – É algo com cor berrante ou espartilho?

Talita – Se gostar disso... – encaro a roupa.

Uma blusinha solta e branca com mangas balonê nos ombros, saia jeans preta e curta e lingerie da mesma cor da saia, sendo o sutiã tomara-que-caia e a calcinha rendada.

Talita – Sobre os sapatos, em minha opinião, sapatilhas prateadas com detalhes dourados combinam perfeitamente. – retira o par debaixo da cama e se levanta, me entregando – Como não podemos deixar o seu pescoço nu, eu pensei num colar de ouro com o pingente cristalizado de um tigre. – caminha até a penteadeira.

Gabriele – Tigre? – agora eu me interessei!

Ela abre uma caixinha-de-joias, azul em verniz, e retira o dito colar, pondo em minhas mãos. Deixo as sapatilhas de lado e ergo o objeto brilhante. Este tigre é lindo! Lembra o...

Gabriele – Parece o tigre-mascote de Silja.

Talita – E é. Eu comprei essa manhã em uma loja enquanto procurava os esmalte e batom cacau-dourado que passei em você. – levanto a cabeça, recebendo o sorriso dela – Não me olhe assim! Eu precisava comprar tudo isso para combinar com os braceletes dourados, o rímel preto e a sombra cor pérola.

Gabriele – Você exagerou! Por que está fazendo tudo isso?

Talita – Sabe Gabriele, eu usava estas roupas e as sapatilhas quando tinha a sua idade. – sentamos na cama, o conjunto entre nós – Por favor, não vá me considerar uma velha pelo que eu vou dizer agora! – rio – Se tivesse uma filha, seria bom se fosse como você, que é uma garota maravilhosa! A sua mãe também vê isso em seu interior, mesmo parecendo ser difícil viverem juntas. – sorrimos – E como elas não cabem mais em mim, eu quero te dar todas. – o olhar dela é muito doce – Você poderia me chamar de tia, se quiser. – silêncio.

Gabriele – Pensei que não quisesse ser chamada de velha! – rimos outra vez e eu faço uma pausa – Acho que eu gostaria disso. – sorrio, aumentando a felicidade dela – Mas antes, me diz qual o motivo de não ter casado?

Continua...