O Doutor Da Ópera

Capítulo 2 - Christine


O fundador do teatro levou os três amigos para conhecer a parte principal da ópera: o palco. Chegando a entrada em direção à plateia, os dois amigos do Doutor admiravam todo o luxo e elegância das poltronas, assim como as maravilhosas cortinas estendidas na frente, escondendo a bagunça dos bastidores. Monsieur Garrel contava como tudo foi construído a mais de duzentos anos atrás, como ainda eram conservadas todas aquelas paredes, e como todos os atores e dançarinos corriam para lá e para cá sem parar.

De repente, todos pararam de andar. Ouviram algo soar pelo ar, algo estranho, diferente de qualquer outro som já ouvido por um humano; era como se algo afiado arranhasse uma lousa escolar. O Doutor mexeu em seu paletó e disfarçadamente mexeu em sua chave de fenda sônica do bolso interno. Deu um clique. Caro Ji Yong e Monsieur Garrel puderam ouvir melhor ao som: não parecia como antes, era suave e podia-se distinguir um instrumento e alguém cantando. O curador olhou para todos incrédulo e comentou:

— Não pode ser... pensei que não fosse possível.

— O ... que não seria possível? – perguntou Ji Yong.

Todos olharam para Garrel, esperando logo por uma resposta. Este se aproximou mais dos três e cochichou para eles:

— Achei que fosse apenas uma história que deu origem ao livro, mas essa música é a mesma de sempre!

— Como assim, Monsieur?

— Desde o ano que este teatro foi construído, sempre se ouvia essa música estranha, mas nunca ninguém foi capaz de distingui-la, a não ser o autor do livro que inspirou um dos musicais mais famosos de todos os tempos.

— E qual é o musical?

— O fantasma da Ópera – respondeu o Doutor antes do velho.

Todos calaram-se para tentar ouvir novamente a música, mas ela havia acabado. Olhares confusos seguiam o Senhor do Tempo, esperando uma explicação. Mas ele apenas mostrou um sorriso curioso e ansioso.

— Bom, se existe um fantasma cantando por ai, o que estamos esperando? Gerônimo!

Doutor começou a usar sua chave de fenda para buscar algum sinal diferente que pudesse emitir de alguém lugar. Ele gritou para seus amigos o seguirem e para Garrel esperar na recepção. Na correria, Doutor levou-os para um canto do palco não muito usado, aparentemente afastado de todos por causa dos cupins. O chão estava quase cedendo e não aguentaria por muito tempo. Foi quando Caro ficou para trás, não conseguiu alcançar os rapazes, que ela pisou em falso numa tábua quebrada. Caiu, caiu em cima da sua perna, não conseguindo levantar-se. Gritou em vão para o Doutor, mas eles já estavam longe.

Caro não teve escolha e parou de gritar. Achou um pedaço de madeira que servia como apoiador e resolveu andar e procurar uma saída. Passou por valetas estranhas, imundas e totalmente escuras. Teve que equilibrar-se na bengala improvisada e o celular em outra mão para iluminar o caminho. Foi quando parou e ouviu novamente a mesma música. Sentiu um arrepio em suas entranhas. Mas dessa vez foi diferente, pois conseguiu entender o que a voz dizia, lentamente:

— Christine... Christine. Onde você está, minha Christine?

Caro assustou-se, mas tentou responder à pergunta.

— Olá, não sou a Christine, mas preciso de ajuda, você pode me ouvir?

—Christine! Christine! – a voz replicou desesperada, diminuindo cada vez mais.

A garota não entendia o que estava acontecendo, tentou voltar para onde tinha caído e ver se alguém notara sua falta. Ao chegar lá, viu uma corda pendurada no buraco que havia feito quando despencou. Duas cabeças apareceram contra a luz, uma dela dizendo “Precisa de ajuda para subir?”. Doutor e Ji Yong tiraram a garota de lá debaixo. Como já conhecia a cabeça avoada do Doutor, não fez questão de brigar com ele, mas não perdeu tempo para falar:

— Encontrei, Doutor! Encontrei de onde vem a voz! Estava chamando por alguém!

— Calma Caro! Calma, vamos primeiro cuidar da sua perna, não parece nada boa!

— Tá, tudo bem, mas você precisa saber, Doutor! É exatamente como o Monsieur Garrel disse: se é um fantasma ou não, ele está procurando por...

Nesse momento, Garrel chegou ao local com o rosto aflito, ofegante e desesperado por falar.

— Monsieur Doutor, desculpe, mas eu escutei a música de novo... o que aconteceu? – perguntou ao virar os olhos para a garota sentada no chão com a perna machucada. – Ora, que desastre! Alguém, por favor, pode vir aqui ajudar a mademoiselle e levá-la para um camarim?! Onde já se viu deixar uma dama em tal situação.

Vários bailarinos vieram para levantá-la e levá-la ao primeiro quarto disponível, atrás dela vinham os outros. Sua impaciência era maior e, antes de sentar na cama preparada, disse com rispidez:

— A voz que ouvi lá embaixo estava chamando por uma Christine! E só pode estar se referindo a uma Christine!