O Doutor Da Ópera

Capítulo 3 - Embaixo do palco


Depois de terem cuidado do machucado da garota, todos se sentaram para tentar entender o que estava acontecendo naquele teatro. O Doutor estava com aquele ar preocupado de quando alguma coisa está fora do lugar.

— Preciso descer e encontrar seja lá o que for que está lá embaixo – disse ele, olhando para frente, sem focar nada.

— Descer lá, Doutor?

— É o único jeito, Ji Yong. Quem sabe o que aquela voz está passando.

— Ok, eu desço com você então.

— Eu também! – respondeu rápido Caro.

— Não senhorita – Doutor disse ao levantar-se. – Com essa perna, você não vai a lugar nenhum. Quero que fique quieta e segura!

— Acha, até parece que vou ficar sozinha aqui. Doutor, fui eu que achei essa ... coisa, pessoa... e fui confundida com essa Christine! Posso ser útil, sim! Só vou precisar de algo para me apoiar. – Nisso, Caro já estava se levantando e procurando algo que pudesse servir de apoio.

Vendo que não tinha outra opção, Doutor pegou uma sombrinha que estava encostada na parede ao lado da porta.

— Pelo visto não tenho outra escolha. Mas escutem, nós três ficaremos muito atentos a qualquer barulho que escutarmos e não vamos nos separar. Entendido?

— Sim senhor – responderam os dois em uníssono, com sorrisos em seus rostos.

— Não sei se devo me preocupar com vocês sorrindo desse jeito... Mas, não temos tempo para isso! Vamos logo descobrir quem é esse fantasma da ópera!

O lugar onde Caro havia caído ainda estava lá, mas para descer tiveram que colocar uma escada. Doutor desceu primeiro, depois o rapaz e por último, a garota. Com um pouco de dificuldade devido a sua perna, ela precisou de ajuda para sair da escada. Ji Yong estava lá e pegou-a pela cintura com todo o cuidado, para não machuca-la ainda mais. Por um instante, seus olhos se cruzaram e eles se encararam por um tempo, sem coragem para dizer alguma coisa; foi quando Doutor gritou de algum lugar:

— Ei, onde vocês estão, preciso de ajuda aqui, não fiquem parados nessa escada sem fazer nada – às vezes o Doutor não conseguia notar o que poderia estar começando entre seus dois amigos. Mas isso era normal.

Quando todos estavam a mais ou menos 6 metros da escada, ouviram a música tocar novamente. Doutor levantou sua chave de fenda e seguiu em frente. O som aumentava cada vez mais. Viraram em um corredor, quase sem luz nenhuma (a não ser a da chave de fenda sônica) que dava para um quartinho sem móvel nenhum, com poeira em todo chão. Um amontoado de cobertor parecia se mexer no canto oposto da porta do corredor. Ao perceber a movimentação se aproximando, o monte virou-se e disse:

— Christine? É você? Você me encontrou?

— Olá, desculpe, não sou sua Christine. Meu nome é Doutor, e esses são meus amigos, Ji yong e ...

— CHRISTINE?! – gritou a criatura. Ainda não se podia ver seu rosto na sombra.

Caro deu um pulo para trás de susto, mas resolveu pôr-se a frente.

— Eu... Eu não sou Christine. Meu nome é Carolina. Nós... Viemos aqui – olhou para o Doutor – para encontrar você. Escutamos uma música lá de cima, e pensamos vir ver o que era.

— Ah, entendo. Desculpe se atrapalhei alguém, só queria chamar atenção de minha Christine.

— Bom, talvez possamos ajudar a chama-la – impôs o Doutor. - Mas precisamos saber quem é você.

— Eu não sou ninguém. Não achei que fossem me encontrar aqui embaixo. Tenho me escondido de tudo e de todos há muito tempo. Eles tinham medo de mim. Espere, vocês não estão com medo de mim?

— Por que teríamos medo de você? – perguntou Ji Yong, o mais docemente possível, para não magoar aquela criatura que aparentava fragilidade nas palavras que dizia.

Um silêncio correu o quarto por alguns segundos, até que a criatura disse afinal, num tom triste:

— Eu não sei. Apenas sei que temem a mim.

Havia duas lâmpadas no teto, das quais o Doutor apontou a chave de fenda, fazendo-as acender lentamente. Com a luz clareando o quarto, os três amigos puderam ver direito a figura com quem estavam conversando: a primeira vista, parecia um homem encolhido no chão, com seus braços envolta de suas pernas, todos sujos da poeira. O rosto levantou-se para ver seus visitantes. Em uma metade de seu rosto, uma máscara branca cobria desde sua testa até sua boca; a outra, percebia-se que não era humano.