"Ninguém acredita que sua vida vai se tornar somente “okay”. Todos achamos que seremos grandes. E a partir do dia que decidimos ser cirurgiões, nos enchemos de expectativas. Expectativas que os caminhos irão se iluminar, as pessoas irão ajudar, a diferença será feita. Grandes expectativas de quem seremos, onde iremos. E então chegamos lá. Novamente: Ninguém aqui é cirurgião, na verdade não somos muita coisa para todo o mundo.

[…]

— Claro que gosto da sua música Carlos Daniel. - Respondi a ele que não deixou de perguntar desde a hora que acordamos, desci as escadas da casa dele com ajuda ainda pela tala na minha perna, prendi meu cabelo e peguei a muleta que estava no corredor e fui até a cozinha ouvindo ele reclamar sobre eu não o responder seriamente. - O que mais você não gosta? Meu perfume, meus textos, meu cheesecake?

— Ah Carlos Daniel, fica queito por um minuto. - Eu digo e me sento por um minuto na cadeira do balcão da cozinha. - Sim, eu não gosto do seu gosto musical por que isso te preocupa tanto? Tem que haver algo em mim que você não goste, é normal. - Respondo.

— Esse é o problema. - Ele responde.

— Qual?

— Não há algo que eu não goste em você. - Não respondo mais nada, ao contrário abaixo minha cabeça e dou um sorriso de canto ajeitando o cabelo preso.

— Você faz de propósito não faz?

— Te deixar sem graça? Faço sim.

— Idiota. - Brinco, ele caminha até a geladeira pega uma garrafa de leite gelado e um copo tomando o leite, continuo olhando me inclino no balcão, me apoiando com o cotovelo. - Tem tortilhas ou algo assim?

— Vai querer o café da manhã tradicional mexicano ou de algum outro país como EUA, Itália, Portugal e Brasil.

— O nosso por favor. - Respondo, ele retira as tortilhas do armário, 4 ovos, e todos os outros ingredientes necessários para os huevos rancheiros, enquanto ele preparava envolvido no preparo, peguei meu celular e olhei as mensagens que tinha, era Jilian dizendo que precisava falar comigo.

"Não se preocupe logo irei para o apartamento. É algo sério, aconteceu algo com o bebê?" respondi assustada a mensagem e havia um recado de Paola, coloquei o celular no ouvido para escutar melhor, ela estava sobressaltada, e ouvi um grito no fundo. "Paulina, escute isso só vou falar uma vez eu preciso falar com alguém, sobre qualquer coisa *AAAAAAAAAAAH* rápido, ok? Amanhã vou no apartamento." Carlos Daniel assim que ouviu o grito olhou para mim atônito e deu risada, e voltou sua atenção para os ovos.

— Sua irmã? - Ele pergunta.

— Sim. Algo aconteceu, você ouviu o grito?

— Assustador.

— Eles devem ter brigado e ela provavelmente se irritou com ele e se vingou de algo...

— Eu não queria estar no lugar dele então. O grito foi alto e dor.

Tomei o café da manhã com Carlos Daniel, alimentamos Finn e arrumei minhas coisas para ir até o apartamento, o procurei pela casa e ele estava em seu escritório escrevendo novamente totalmente concentrado, bati na porta ele olhou para trás e fechou o notebook se virando para mim ainda na cadeira.

— Escrevendo? - Pergunto e ele confirma fazendo com sua cabeça um sinal positivo. - Vou para o apartamento, Jilian me mandou uma mensagem queria conversar comigo, e eu já estou sem roupas mesmo.

— Pode usar minhas roupas.

— Não que eu não queira... Mas, acho mesmo que eu tenho que ir.

— Nos vemos mais tarde?

— Uhum. - Confirmo, ele se levanta e vem ao meu encontro dá um sorriso e segura em minha cintura e me beija - rápido, como se fizéssemos isso todo o dia - saio do escritório com a bolsa no ombro e com as muletas. - Eu ainda tô esperando... - Grito a ele.

— Esperei você dizer algo. - Ele responde e corre atrás de mim no corredor pegando a minha bolsa para me ajudar e entrar no táxi que havia pedido. Assim que me ajuda novamente me beija e eu vou embora. Depois de três anos sem fazer sexo por ter perdido Ian, eu me sentia viva. Talvez eu me sentisse antes há 51 dias atrás quando o conheci, mas foi ontem naquela noite quente com meu corpo colado ao dele que eu me senti mais viva. Quando cheguei ao apartamento, e entrei estava uma bagunça a sala, chamei por Jilian que desceu as escadas correndo e pegou a bolsa me ajudando, fomos até a cozinha para conversar, nos sentamos.

— O que aconteceu? - Pergunto.

— Transei com Mark.

— Você o que?

— Foi bom.

— Oi?

— Na verdade foi muito bom.

— Mark Estevam? O bonitinho inteligente e meio bobo?

— É. - Ela responde.

— Nossa... E eu achando que ter transado com Carlos Daniel era a bomba... - Sussurrei, Jilian ficou surpresa ao ouvir já que estava ao meu lado, olhou para mim suspirou fundo.

— OI? - Ela pergunta dessa vez.

— Foi muito bom.

— Mark é maravilhoso na cama.

— Carlos Daniel é muito quente.

— Eu tô muito feliz, dá vontade de abraçar.

— Uau. Eu me sinto mais viva.

— Acho que vou te abraçar. - Jilian responde, se levanta e dá um passo a frente esticando os braços, olho para ela achando estranho e dou um sorriso de canto esticando meus braços também para abraça-la. A campainha toca e ela corre para atender, ok ela realmente estava muito feliz, pois ela me mandaria ir abrir a porta mesmo estando com muletas, era Paola que veio até a cozinha correndo e se sentou na cadeira de Jilian que logo chegou a cozinha reclamando sobre Paola nem a ter cumprimentado.

— Você está bem? O que houve? - Pergunto a Paola que está com a cabeça abaixada na mesa.

— Acho que alguém não transou noite passada. - Jilian resmunga, dou uma cotovelada nela que se senta de frente para mim, coloco minha mão nas costas de Paola alisando-a e ela se levanta.

— Não é isso. - Ela responde.

— Então você e Douglas transaram? - Jilian pergunta.

— Mais ou menos. - Ela responde.

— Mais ou menos? - Pergunto.

— Como assim mais ou menos? Não me diga que ele dormiu. Ele dormiu? Isso é muito engraçado. - Jilian pergunta. Novamente olho para Jilian e volto a atenção para Paola. - Quer um abraço? - Jilian pergunta, Paola olha para ela também achando estranho e faz um não com a cabeça. - Tem certeza? - Novamente Jilian pergunta.

— Paola, o que aconteceu? - Pergunto mais uma vez.

— É que... Bom... Eu e o Douglas estávamos... Transando, e eu fui é... Ficar por cima e acabou que...

— VOCÊ QUEBROU O PÊNIS DELE.- Jilian grita e começa a dar risada, e antes que Paola responda pela expressão de seu rosto abaixa a cabeça, eu seguro a risada e Jilian dá um abraço nela. Paola não teve outra escolha a não ser contar para nós, até o momento que eu fui falar algo.

— Acontece. - Eu respondo.

— Olha quem fala, tá a não sei quanto tempo com o bonitão lá e nem dormiu com ele. - Paola resmunga.

— Você é quem pensa, os dois transaram ontem. - Jilian responde e Paola olha assustada para mim, fico corada e abaixo minha cabeça respirando fundo e olho para Paola e confirmo a ela que passei a noite com Carlos Daniel.

— JILIAN E MARK TAMBÉM TRANSARAM OK?- Eu grito e Jilian que estava com um morango na boca para de comer na hora olhando para mim com a expressão "Cara, não acredito que você abriu essa boca"

— Você dormiu com o bobinho? - Paola pergunta. - Só faltava. Era a única coisa que ela ainda não tinha pego: amor. - Paola diz a mim.

— Ninguém está imune. - Jilian complementa, olhamos para ela que logo olha para nós e se senta. - Olha o exemplo de sua irmã, forte, independente, bonita e agora toda caidona pelo escritor romântico.

— Transar com ele deve ser muito bom. - Digo a Jilian pelo modo como ela estava dizendo, uma noite foi suficiente para se apaixonar por Mark?

— Treme tudo. - Ela responde, damos risadas. Então, ao que parece nós três tivemos relações sexuais ontem, exceto por Paola que... bom, tinha que ser Paola e Douglas. - Mas, na verdade ele é tão... Inteligente, amoroso, ele adora falar sabe? Então ele me contou um pouco de sua vida e sei lá... Só rolou mais química. - Ela responde e logo sorri olhando para o balcão, Paola se levanta e sobe para usar o banheiro.

— Fico feliz Jilian.

— Eu também fico Paulina. Vou sair com ele hoje a noite.

— Ele sabe que você está grávida? - Pergunto, ela olha para mim com os olhos perdidos. - Você tem que falar.

— Tenho mesmo?

— Tem. - Respondo e a campainha novamente toca, me levanto para abrir já conseguia andar melhor desde que torci, ainda mancando um pouco fui até a porta e a abri, era Mark o cumprimentei e ele entrou para a cozinha a procura de Jilian que o beijou de imediato como se tivessem ficado há muito tempo sem ver um ao outro.

Me sento ao sofá e decido ir para a livraria que não abre há 3 dias atravesso a rua e abro, coloco meu celular no balcão e me sento para tirar aquela tala que começava a me incomodar e vou até aos fundos para tentar andar normalmente e ouço a porta se abrir, volto para o balcão e vejo que é Paola, ela me ajuda a andar normalmente umas cinco vezes até que consigo finalmente. Aproveitando que não havia ninguém ali conversamos sobre Douglas, ela me contou como tudo aconteceu e sobre as médicas terem rido dela.

— Como ele está com você? - Perguntei a ela que suspirou fundo.

— Nada bem. Quero dizer, ele evita olhar um pouco para mim pela vergonha. - Ela faz uma pausa para falar. - Mas, foi muito engraçado. - Ela afirma e começa a rir sozinha lembrando da cena, jogo minha cabeça também por ela rir muito e começamos a rir.

Mais tarde...

Depois que Paola foi embora e Jilian passar a tarde inteira com Mark e ainda iriam sair juntos, fui para o apartamento novamente e arrumei minha bolsa para começar o curso com Saul Juanes amanhã bem cedo, assim que iria abrir a porta Carlos Daniel saltou do carro e me beijou na porta do apartamento, encostei meu rosto em seu peito o abraçando.

— O que quer fazer? - Ele pergunta.

— O que você quiser. - Respondi, ele deu um sorriso e me puxou para mais perto dele e me deu um beijo na testa, nessa mesma hora a porta do apartamento foi aberta com Jilian e Mark por sair, olhei assustada pois ninguém sabia sobre Carlos Daniel - fora Jilian, Paola, Douglas e meus pais - o Mark nos deu boa noite e desceu as escadas com Jilian. Olhei novamente para Carlos Daniel ainda assustada. - Não se preocupe com Mark, ele não contará nada.

— Tá... Tudo bem. - Respondeu, entramos ao apartamento e nos sentamos ao sofá para conversar, mas não conseguimos pois só conseguíamos nos beijar. - Como foi seu dia? - Ele me perguntou numa hora, eu estava sentada em seu colo com minhas pernas entrelaçadas em sua volta e ele segura em minha cintura.

— Fui para a livraria e conversei com Paola.

— Ela está bem?

— Está bem sim. Não era uma briga que houve com o Douglas e ela. - Respondi, ele riu.

— Então, posso saber o porquê do grito?

— Não mesmo. - Respondo e mexo no cabelo dele, que diz "Tudo bem então" - Amanhã começa o curso com o Saul Juanes. Estou tão entusiasmada.

— Sempre quis ser chefe de cozinha?

— Não... Quando pequena eu queria ser cantora, mas então eu sempre fui boa na cozinha e adoro ficar ali no meu canto preparando comida. E você... quando decidiu que iria publicar livros ou pintar quadros?

— Hm... Bom, arrisco dizer que sempre. Mas, a pintura só descobri essa paixão há uns anos. Escrever sempre me deixou mais calmo, escrever e um uísque. Ou um charuto. Os substitui - não para sempre - por pintura.

— Você gosta de pintar pessoas... Sempre pensei que fomos enviados a esse mundo para sermos feios e estúpidos.

— É questão de perspectiva, veja bem Paulina... Neste mundo de milhões de seres, relativamente normais, vale acrescentar. De forma que bastante feios e estúpidos como você diz e também como quer a norma. Normalmente eles reivindicam seu direito de mostrar sua feiura e sua estupidez à milhões de outros seres estúpidos e feios, e só assim eles ignoram que a tela é na verdade, um espelho.

— ... Então, o resto é ferrugem, todos. Ou pó das estrelas. - Afirmo.

— Eu costumo pensar que possuo duas armas infalíveis para exercer mi­nha arte Lina, a primeira é a minha inquestionável superioridade... Sem me gabar, na física, intelectual, financeira e social.

— Isso arrasa totalmente seus adversários.

— Pode me deixar vulnerável a qualquer tipo de ataque. - Ele afirma e suspira fundo. - A segunda é que estou pouco me lixando para todo o resto e não tenho vergonha de nada, nunca tive.

— Adoro quando você fala assim. - Respondo a ele depois de um tempo, ele coloca meu cabelo para trás e dá um sorriso.

— Jilian vai demorar? - Ele pergunta, afirmo que sim. - Ótimo. - Ele responde e me deita ao sofá [...]

Paola...

Quando cheguei em casa depois de visitar Paulina e Jilian trouxe comida chinesa para comermos e depois de jantarmos tentei puxar algum assunto com Douglas que no dia seguinte iria me apresentar a empresa que trabalharíamos juntos.

— Quer conversar? - Pergunto a ele que coloca a mão na barriga e olha para mim mexendo na taça em seguida que está na mesa.

— Pra falar a verdade, não.

— Fala comigo. - Digo a ele que se levanta e caminha até o banheiro, olho para a taça na mesa e logo ouço um outro barulho dele ao banheiro, me levanto e vou atrás para ver o que está acontecendo, ele havia fechado a porta e começou a vomitar.

— VOCÊ COMEU ROLINHO PRIMAVERA? - Ele gritou a mim, droga minha barriga começou a doer também, precisava vomitar.

Jilian...

— Me fale mais sobre você, Mark. - Pedi a ele que tomou um gole do vinho e segurou em minhas mãos sob a mesa, as apertou e a beijou. - Você não fala sobre você, mas sabe tudo sobre mim. - Digo a ele.

— Não é uma história legal para se contar.

— A minha também não... Você sabe que perdi meus pais cedo e não tenho nada a não ser a livraria. Ou a Paulina.

— Eu nunca contei a ninguém.

— Confia em mim Mark.

— Meu pai nos abandonou, e então fui criado pela minha mãe Lucy e meu irmão Luca que era 4 anos mais velho do que eu. Nessa idade, eu jogava bola, baisebol, e Luca adorava a natação. Éramos muito próximos, minha mãe era garçonete. Numa tarde fomos ao hospital fazer exames pois minha mãe ficava aflita quando estávamos doentes. E então os médicos pediram mais exames de Luca que mais para frente disseram que o coração dele era fraco demais e precisaria de um transplante de coração. Ele entraria na lista para receber um coração, mas para isso minha mãe deveria arrumar um outro emprego com um seguro melhor e foi isso o que ela fez, ainda estávamos longe do transplante e Luca fazia cirurgia quase todo o mês os gastos iam crescendo e minha mãe me tirou do futebol e baisebol para pagar os tratamentos de Luca. Num dia minha mãe foi ao supermercado e eu deveria ficar com Luca por uns 15 minutos, ele estava dormindo, escrevi um bilhete a ela que dizia "Mamãe, dê meu coração a Luca" peguei a escada que ficava ao quintal e subi no telhado, porém minha mãe chegou na hora e me salvou. Quando finalmente depois de 2 anos conseguimos um coração, 3 dias depois meu irmão morreu de um coágulo do sangue. E desde então eu cuidei de minha mãe que jamais aceitou a morte dele, comprei uma casa para ela e agora tenho a minha. Trabalho na mineradora e nunca namorei. Quero dizer até agora.

— Ó Mark... Sinto muito. Desculpe a pressão.

— Não se desculpe.

— Quer dizer que somos namorados agora? - Pergunto ainda um pouco aflita.

— Quer namorar comigo?

— Quero. - Respondo.

Paulina...

Carlos Daniel depois de termos feito sexo ao sofá, foi pegar seu celular que tocava e eu subi para tomar um banho, quando menos esperei ao sair do banho ele me diz que deveria ir viajar e voltaria depois de uns dias.

— Quanto tempo? - Pergunto.

— Talvez dois meses. - Ele responde, não acredito naquele tempo tão grande, agora que tudo estava se encaixando. Vamos para o quarto e nos deitamos, coloquei um short e me deitei ao seu lado abraçada junto a ele.

No dia seguinte...

Acordei com o despertador pronta para ir ver Saul Juanes, Carlos Daniel se arrumou e desceu para ir para sua casa para arrumar suas malas, e quando abrimos a porta, havia muitas câmeras de televisão, fechamos a porta assustados com os flashes.

— MERDA.- Ele grita.

"Todos nós achamos que seremos grandes e nos sentimos um pouco roubados quando nossas expectativas não são alcançadas. Mas as vezes as nossas expectativas nos mostram que nos subestimamos. As vezes, o esperado simplesmente parece pálido em comparação com o inesperado. Você passa a se perguntar porque se apegou a suas expectativas, porque o esperado é o que nos mantém firmes. Equilibrados. Estáveis. O esperado é somente o começo, o inesperado é o que muda as nossas vidas."