O Diário das Irmãs Martins
Uma Mudança Virá
"Durante o preparo para se tornar um excelente cozinheiro, a mudança é inevitável. Novas técnicas na cozinha são criadas, todos os procedimentos são atualizados, o seu tempo se torna seu inimigo, e o seu nível de conhecimento dos alimentos aumenta. Inovação é tudo. Nenhum prato permanece a mesma coisa por muito tempo. Ou nos adaptamos e mudamos... ou... somos deixados para trás."
[...]
Quando desliguei o celular a primeira coisa que pensei era na tristeza profunda que Jilian ficaria, ela é muito forte, o tempo todo e eu não queria deixa-la com uma armadura na qual não pudesse retirar e chorar. Em um ano perdeu sua perna, teve sua filha, a viu passando por um transplante de fígado, recebeu cartas do Joe, soube que sua avó tem alzheimer e perdeu a única família que tinha ainda.
Entrei no carro e liguei para Carlos Daniel que atendeu feliz pelo meu emprego e tinha mais novidades para mim, não o deixei falar meu sangue havia fervido nessa hora, só queria acabar com tudo isso, não pude e nem vou sair para comemorar o meu novo emprego com Saul Juanes.
— Carlos Daniel, estou indo para a casa de Jilian, não precisa comprar ou reservar nada! - disse à ele que suspirou fundo.
— Convide Jilian, podemos passar juntos comemorando.
— Não sei se ela vai querer comemorar algo hoje... - digo - Recebi um telefonema, da casa de repouso onde a tia dela estava e aparentemente ela faleceu agora.
— Ah não. - ele respondeu.
— Sim... Eu estou indo para lá dar o aviso à ela, e provavelmente passarei a noite com ela.
— Tudo bem, se precisar de algo me ligue. Comemoramos outro dia.
Ao desligar o celular eu pensei em todas as coisas que haviam acontecido na minha vida, eu era como Jilian, não contava para as pessoas, a coisas sobre mim que nem ela ou Carlos Daniel sabem, nem mesmo minha irmã Paola, sempre fora a protegida da minha tia Gabriela e viajavam sempre quando podiam.
Quando cheguei, saltei do carro e fui até sua porta, bati uma vez e ouvi um grito "Entra!" abri a porta e entrei, a vi sentada estudando enquanto Emily brincava no chão da sala, fechei a porta e caminhei até Emily, me ajoelhei e dei um beijo nela.
— Finalmente você chegou! - ela disse, levantou-se da cadeira e eu me levantei do chão, ela foi até sua bolsa e pegou uma carta veio na minha direção e a entregou nas minhas mãos.
— Jilian, precisamos conversar primeiro. - digo.
— Você nem leu a carta ainda Lina. - ela me respondeu.
— Sente-se, é só uma conversa. - pedi novamente.
Jilian sorriu educadamente para mim e se sentou, apenas a encarei educadamente, a uma escapatória a minha direita a porta dos fundos e ela está à esquerda, permaneço ali, diante a cozinha. Começo a me perguntar por que estava ali, me sentia no meio de culpa e medo.
— Fale! O que o idiota do Carlos Daniel fez agora? - perguntou.
— É sua tia Rosie. - respondi de imediato, ela fechou o sorriso. - Sua tia... me ligaram, ela... sua tia faleceu ainda a pouco Jilian.
— Por que você está me contando era a Marta que tinha que me falar isso. - ela me respondeu.
— Seu celular... só caia na caixa postal. - repliquei, fui até o seu encontro, mas Jilian irredutível como era levantou-se pegou Emily e abriu a porta, fui atrás dela, sua filha começou a chorar. - Onde você vai Jilian? - perguntava mas não tinha respostas. Entrei no carro com Emily atrás deixando minha bolsa, meu carro e celular para trás.
No fim do ano em sua casa Jeremy à pedido de Megan e Luna iriam fazer o dia de ação de graças no apartamento da Jilian e da Lina, naquela tarde receberam a irmã de Megan, Elizabeth que entrou pedindo um lugar para passar uns dias, com o seu novo marido.
— Como assim, marido? - Megan perguntou assustada à sua irmã.
— Eu me casei ontem, em Las Vegas com Steven.
— Elizabeth!! Nosso pai vai te matar. - disse a ela - Isso é loucura, como assim você sai numa noite e volta casada?
— Eu o amo, e ele me ama! - Lizzy explicou.
— Mas não estavam brigados? - Jeremy perguntou intrometendo-se na conversa.
— Não! Eu estava enganada sobre ele... Steven me faz feliz Meg, não quer me ver feliz? - Elizabeth perguntou e tudo o que queria na vida era ver sua irmã feliz. - Tem algum lugar?
— Desculpe, mas no meu apartamento é só um quarto, aqui na casa do Jeremy não há espaço. - Megan respondeu.
— Não me deixam dormir no hospital. - Lizzy respondeu, era cirurgiã ortopedista.
— Aqui não há lugar, mas sei quem pode ajudar, Paulina tem um lugar que você pode ficar. - Jeremy disse.
Tentaram ligar mas ninguém atendia, nem mesmo Jilian, tudo aquilo era loucura, o casamento, tudo.
Peter estava adormecido na sala dos médicos, sua residente chefe Dra. Margaret Harper entrou na sala e o viu dormindo, se aproximou e inclinou-se para ele respirou fundo e soltou um grito que o fez acordar como se o mundo estivesse acabando.
— MARTINS!
— Sim, chefe! - ele disse.
— O que está fazendo aqui? Com quem está hoje? - perguntou.
— Doutora Elizabeth Harper. - respondeu.
— Se eu não me engano a vi entrando há 2 minutos, deve ter começado as visitas. - ela replicou, Peter saiu correndo para encontrar a ortopedista Elizabeth.
Quando a viu, pediu perdão pelo atraso e mal imaginava que ela era amiga de Jeremy e irmã de Megan, olhou ao relógio e ficou assustado, seu plantão acabara de começar naquela tarde e somente no dia seguinte à noite sairia.
— Tudo bem! - respondeu, largou o relatório de um paciente e virou-se para ele. - Nossa! O que aconteceu? - perguntou assustada.
— Nada, por quê? - Peter perguntou assustado.
— Seu rosto, estava dormindo não estava?
— É sobre isso, perdão.
— Vá lavar o rosto porque vamos entrar numa sala para operar Stuart deLuca, e vai ser grande.
— Eu sei, o condrossarcoma, certo?
— Olha, alguém fez o dever de casa. Me encontre em vinte minutos da "OR" - pediu e se retirou, enquanto caminhava para ir lavar seu rosto, Coleen sua colega da turma de internos apareceu ao seu lado.
— Tudo bem? - perguntou animada.
— Não, dormi naquela sala horrível. E agora vou ficar 7 horas numa cirurgia. Não comi nada ainda.
— Não foi pro seu apartamento ontem? - Coleen perguntou.
— Fui, mas eu acabei brigando com a Luna.
— (...) Luna é sua namorada complicada?
— Sim! - respondeu, despediu-se não poderia demorar para subir até a OR, Coleen que lhe deu uma barrinha de cereal, entrou ao banheiro e foi lavar seu rosto.
— Onde estamos Jilian? - perguntei a ela que foi quieta a viagem inteira, desceu do carro, abri a porta e peguei Emily levando-a para fora. - Você pode me responder?
— Aqui é a casa onde cresci Paulina. - Jilian respondeu, caminhou até a porta da casa e com sua manga da roupa limpou a janela para observar como ela estava lá dentro. - Foi para cá que a minha tia me trouxe quando meus pais morreram.
Eu a observei, Emily encostou sua cabeça no meu ombro e Jilian tentou abrir a porta, mas não conseguia entrar, estava abandonada há um tempo, atravessou a rua e caminhou até o bar comprando uma garrafa de tequila, voltamos e nos sentamos na calçada da casa, coloquei Emily deitada no meu colo e deixei que dormisse.
Olhei para Jilian que ainda sem abrir a garrafa de tequila começou a dar risada, no começo eu não havia entendido o motivo mas não perguntei, sem querer ela deixou que uma lágrima caísse, a força brutal de Jilian havia se esvaído e era natural.
Naquele dia bem cedo quando acordei fui até o hospital para falar com Peter e pedir perdão a ele, mas a enfermeira Olívia me notificou que ele havia entrado na cirurgia com Elizabeth Harper a ortopedista e liguei para Megan, havíamos nos aproximado desde que nos conhecemos no aniversário das irmãs dele, Paola e Paulina.
— Você está bem? - ela me perguntou.
— Estou bem. - respondo.
— Conseguiu falar com ele?
— Não... Ele entrou numa cirurgia com uma ortopedista agora, e vai durar muito tempo.
— Quem é a doutora talvez minha irmã conheça.
— Ah sim, sua irmã é cirurgiã, eu havia me esquecido. Qual o nome dela?
— Elizabeth. Elizabeth Harper. - e eu me toquei, ele estava na cirurgia com a irmã da minha amiga.
— Ele está na sala com ela, sua irmã é a chefe do Peter essa semana!
Nesta manhã eu acordei e vim para falar com ele, eu não sei o que estava acontecendo mas algo mudou e eu não queria brigar com Peter, eu queria beija-lo e ficar com ele, mas o sonho dele era ser cirurgião, trabalhava meio período na paleontologia e fazia faculdade há anos de medicina. Era um prodígio.
— Luna, eu acho que vou romper com o Jeremy! - Megan me diz.
— Por que? - pergunto, eles faziam um belo casal, não estava havendo sentimentos numa relação de melhores amigos.
— Eu quero um compromisso agora! - ela me afirma.
Era isso? O mundo estava ao contrário.
Quando voltamos para a casa de Jilian, ela saltou do carro e pegou Emily levou-a para seu quarto e ficou um tempo com ela lá, enquanto eu observava minha caixa de mensagens no celular, uma mensagem do Carlos Daniel, e do Jeremy.
"Como Jilian está? Precisam de algo?" - Carlos Daniel.
"Ela reagiu bem, está triste mas, bem... Não, obrigada! Hoje eu passo a noite com ela, talvez." - respondi.
"Menina, a irmã da Megan precisa de um apartamento liga para ela - Elizabeth Harper - o Peter deve conhece-la ela é cirurgiã." - Jeremy.
"Avisa que tudo bem! Depois eu falo com elas." - respondi.
Subi até o quarto e Jilian saiu deixando Emily dormindo, fomos até o seu quarto onde nos sentamos na cama abrimos a garrafa de tequila e começamos a beber e não saímos dali até não sobrar uma gota de tequila.
Mais tarde ela se levantou e ligou para o filho de sua tia Rosie, e comunicou sobre a morte dela, no estilo Jilian.
"Sua mãe morreu idiota, avisa para as pessoas importantes e faça um funeral merecedor para ela! Ah, adeus!"
"O que? Jilian, espere volte!"
"Ela morreu! Ligue para a casa de repouso que ela estava e fale com a Marta!"
"Como ela morreu?"
"Cale a boca e dance" — desligou o celular e se deitou ficando absolutamente quieta, virou-se para mim que estava sentada com a garrafa nas mãos. "Cale a boca Lina, deixei-me apoiar em você!" disse e encostou sua cabeça no meu ombro.
— Você é a minha pessoa! - ela me disse, passei a garrafa para ela de tequila.
— Eu sou a sua pessoa. - completei.
No dia seguinte...
Quando acordamos Mark estava adormecido no sofá, uma tremenda dor de cabeça, desci e fiz um café para Jilian ele em seguida acordou e me cumprimentou, perguntou o que havia acontecido pedi que ele falasse com ela enquanto eu devia voltar para a casa de Carlos Daniel tomar um banho.
Assim que deixei o café pronto tomei um pouco e logo saí da casa deles, peguei meu carro e me lembrei que devia ir até o banco parei no banco mais próximo e entrei, a fila estava grande e minhas olheiras enormes e a dor de cabeça constante.
Se não fosse pelo o que iria me ocorrer nesse dia, ouvimos um barulho enorme e eu não dei importância, em seguida um rapaz entrou no banco ensanguentado, a esposa gritara pedindo que ligassem para a emergência.
— O que houve? - um guarda perguntou e todos se afastaram.
— Meu marido e o amigo dele constroem armas e foram fazer um teste hoje com uma nova arma e ela disparou! - disse assustada enquanto o rapaz perdia suas forças, dei um passo à frente para olhar.
— A senhora não viu a arma? - o guarda volta a perguntar pressionando o ferimento.
— Era algo com bomba, não sei.
O guarda nesse exato momento parou de pressionar o ferimento "TODOS SE AFASTEM" o marido dela estava com uma bomba dentro de seu corpo e qualquer movimento a bomba iria explodir.
— Se não fizerem nada ele vai continuar sangrando. - disse, a moça se levantou e veio na minha direção manchando minha roupa com o sangue do seu marido pedindo que eu ajudasse. - Ah! Preciso de uma luva, qualquer coisa. - digo tentando ajudar, eu não estava pensando direito, "não deviam confiar em mim" pensei. Um dentista que estava no banco me deu uma luva as coloquei e me aproximei. - Peguem meu celular e liguem para Peter Martins, ele é médico! CADÊ A EMERGÊNCIA? - gritei, ele continuava sangrando e eu simplesmente coloquei minha mão dentro do corpo do homem com a bomba.
Em cinco minutos a ambulância havia chegado, perguntaram por que eu não retirava minha mão.
— Eu posso? Ele tem uma bomba dentro do seu corpo, tô sentindo os órgãos dele. - respondo a moça que veio para atendê-lo.
— Não pode retirar mais! Devemos levar os dois para o hospital mais próximo agora se não todos nós podemos morrer! Entende isso, certo? - A moça me perguntou.
Eu poderia matar todos se tirasse a minha mão do corpo do rapaz, quer saber o que eu conseguia pensar? Eu não conseguia lembrar do último beijo que dei no Carlos Daniel. Tudo mudou, o tempo, as pessoas, o cheiro, minha cabeça parou de doer, as roupas mudaram, eu mudei... E me lembrei que ontem quando acordei havia sonhado que iria morrer!
Mudança… Nós não gostamos dela. Nós a tememos. Mas não conseguimos evitá-la. Ou nos adaptamos e mudamos, ou somos deixados para trás. Dói crescer. Qualquer um que te disser que não, está mentindo. Mas aqui vai a verdade: às vezes, quanto mais as coisas mudam, mais elas permanecem as mesmas… E às vezes… oh, às vezes a mudança é boa… Às vezes a mudança… é tudo.”
Fale com o autor