O Diário das Irmãs Martins

É o fim do mundo... Assim como sabemos!


"Meu irmão uma vez me disse que é… um olhar que os pacientes têm. Há um cheiro, o odor da morte. Um tipo de sexto sentido. Quando o lado de lá está destinado a você, você o sente chegando. Qual é aquela coisa que você sempre sonhou em fazer antes de morrer?"

— Jim Harrison, 37 anos foi atingido por uma bazuca que ele e um amigo construiram, pressão caindo para 6/7.

— Você disse bazuca? E esta quem é? Por que está com a mão dentro do paciente? - Uma médica perguntou, pude verificar seu nome, dra. Margaret Harper.

— Esta é a senhora quem colocou a mão dentro dele... O paciente e algum amigo constroem bomba...

— (...) Há uma bomba dentro dele? - Margaret perguntou.

— Há. - responderam, Margaret me olhou e eu apenas olhei de volta sem responder, pude ler sua mente "Garota, por que fez isso?"

— Levem-na para o centro cirúrgico agora, e bipem o dr. Thomas Denford para lá agora, não digam há ninguém o que está acontecendo, sem alardes. - a doutora disse para alguns residentes.

— Meu irmão trabalha aqui... - digo.

— Quem é o seu irmão?

— Peter... Peter Martins. Ele é interno. - respondo.

— Ele está em cirurgia agora, sinto muito não vou chama-lo para assusta-lo, vamos pensar direito lá em cima.

Fomos até a sala em que pediram, tomando todo o tipo de cuidado, eu estava literalmente segurando uma bomba dentro de uma pessoa que eu jamais havia visto na minha vida, Carlos Daniel está me esperando para ir tomar um café com ele, hoje vai ter uma reunião no seu escritório e talvez ele chegue tarde em casa, eu iria alimentar Finn nosso cachorro e depois ajudar Jilian com o funeral de sua tia. Algo pior, eu não me lembro do último beijo que dei em Carlos Daniel.

Nos hospitais, dizem que você sabe… você sabe quando você vai morrer. Alguns doutores dizem que é um tipo de olhar que os pacientes ficam. Alguns dizem que há um cheiro, um odor de morte. Alguns dizem que é apenas um tipo de sexto sentido, quando o lado de lá está destinado para você, você sente ele chegando. O que quer que seja, é assustador. Porque se você sabe, o que pode fazer sobre isso? Esqueça o fato que você vai estar assustado demais pra raciocinar: se você soubesse que esse é seu último dia de vida, como você gostaria de passá-lo?

[…]

— Por favor, liguem para minha amiga ela mora perto daqui.

— Não podemos ligar para ninguém.

— Uma tia dela faleceu, eu só preciso avisar que não posso ir ficar com ela hoje. E se eu morrer? - digo, eu e os doutores sabíamos que eles não podiam me prometer nada, eu não tinha garantias de vida.

Ligaram para o esquadrão anti bombas, o chefe de cirurgias do hospital dr. Thomas Denford, em uma hora aquela sala estava apenas com os cirurgiões e o esquadrão, Kyle Chandler o policial que comandava tudo para que a bomba fosse retirada verificava exames de como estava a bomba. Minha mão começava a doer.

Um telefone na OR tocou e uma moça atendeu "A amiga dela está aqui" implorei que a deixassem entrar apenas para eu falar com ela que hoje eu não poderia fazer nada, quem sabe, jamais fazer algo...

Esperei Paulina chegar para tomarmos um café juntos como havíamos combinado já que ela passou a noite com Jilian, mas minha reunião começaria em seguida e eu não tive escolha a não ser alimentar Finn pegar meu carro e ir para o escritório, mas naquela manhã uma ligação fez com que tudo mudasse.

"Precisamos nos encontrar estou na cidade." olhei a mensagem, tinha trinta minutos para a reunião antes dela começar e marquei numa cafeteria encontrar com minha ex esposa, Leda.

Tentei ligar para Paulina mas seu celular caía na caixa postal, ela devia estar dormindo com Jilian ainda, desisti quando Leda chegou, eu realmente não queria falar com ela depois do nosso divórcio.

— Carlos Daniel! - ela me disse parada em frente à mesa me olhando retirando os óculos escuros.

— Leda. - digo, ela puxa a cadeira e se senta em seguida. - O que tem para me dizer?

— Eu estou com saudades, por favor volte para casa. - ela me pede.

— Não posso! Nos divorciamos lembra disso? Eu assinei o papel e você disse que assinaria, por isso me mudei... - ela abaixou sua cabeça colocando sua bolsa na cadeira ao lado.

— Não estamos divorciados ainda. - me disse. - No dia que você fugiu para cá para viver uma nova emoção e escrever seu livro, seu advogado me ligou e eu disse que estávamos juntos, eu não desisti de nós Carlos Daniel. Já se passou dois anos.

— Leda, o que você está me dizendo? Nos divorciamos, foi tudo legal.

— Não Carlos Daniel! Eu achei que você estava sendo idiota e logo voltaria, mas você arrumou uma namorada aqui, ok eu já entendi, eu errei mas não podemos nos divorciar.

— VOCÊ TRANSOU COM ERIC! VOCÊ ENTENDE ISSO?

— Eu sei, não precisa me lembrar, foi um erro... Um terrível erro. Mas, nós estamos casados me perdoe.

— Leda, eu estou com Paulina agora, você vai se levantar voltar da onde veio eu vou arrumar novamente a papelada do divórcio e você continua o seu trabalho lá.

— Sobre isso... Me ofereceram um emprego aqui em Toronto.

— Isso só pode ser brincadeira. Diga não, você vai voltar.

— Eu já aceitei... - ela me disse, me levantei e dei as costas, ela gritou por meu nome, me virei um segundo "Volte para Las Vegas" entrei no carro e fui para a minha reunião.

— Lina, por que fez isso? - Jilian me questionou, Thomas Denford havia mandado todos que eram dispensáveis para fora, ficando apenas ele, Kyle Chandler e Jilian comigo que se recusou a ir embora.

— Eu senti que ia morrer. Eu senti e...

— Não tinha um sentimento melhor para sentir? - perguntou, olhei para Jim que não sabia que por uma brincadeira que havia feito com seu amigo construindo uma bazuca poderia realizar um sentimento que senti hoje quando acordei.

— Eu não consigo lembrar da última vez que beijei Carlos Daniel. - comentei.

— Não há um último beijo.

— Mas eu não lembro! - grito, ela abaixou sua cabeça sem saber o que responder, Kyle interfere na discussão.

— Temos de ir para outra sala para que você possa retirar sua mão. O hospital foi esvaziado não há perigo.

"Não há perigo" sério? Apenas eu, Jim e os médicos poderiam morrer.

— Meu irmão, alguém falou com ele que estou aqui? - pergunto novamente.

— Ele está operando na sala ao lado. - Thomas me informa. - Quer que o chamemos?

— Não! - digo. - Jilian saia!

— Eu não vou sair Paulina. Fico com você. - apoiou suas mãos na maca devagar. - Por que vamos trocar de sala? - Jilian questionou Kyle.

— Está vendo aqueles tubos? Se sua amiga retirar a bomba e esta explodir, irá acabar explodindo todo o hospital, se nos mudarmos para uma sala longe sem os tubos, apenas a sala irá explodir.

— Jilian, saia daqui agora! - peço novamente, ela me olha querendo relutar em sair dali. - Você tem a Emily, não pode desistir dela assim. Olha para mim, ligue para Megan e peça para que ela venha e fique com você lá embaixo. Tudo vai dar certo, eu prometo! - disse à ela.

Jilian me olhou como se estivesse se despedindo de mim, "Estou te esperando lá fora, não morra" disse e saiu dali. Respirei fundo todos os meus sentimentos estavam eufóricos, minha mão doía e minhas pernas estavam cansadas.

Thomas e Kyle pegaram a maca com cuidado e em pequenos passos caminhamos até uma nova sala longe de tudo, onde ainda avaliariam quando eu poderia retirar minha mão, o suor escorria de minha testa, já se passara três horas.

— Jilian? - era Megan, havia recebido minha mensagem.

— Megan, senta aqui.

— Nossa, nunca vi esse hospital tão vazio, Jeremy está no estacionamento, está de folga e veio me trazer, algum problema? - ela perguntou, ela não calava a boca.

— Aconteceu uma coisa muito grave. - expliquei tudo para ela, e então tentei mandar mensagens a Carlos Daniel que não foram respondidos, lembrei que Lina me disse que ele estaria em uma reunião hoje e eu não sabia onde ficava o escritório. Vi Megan contando para Jeremy a notícia da Lina, e eu só torcia para que a "minha pessoa" saísse bem e viva dali, logo.

A cirurgia que havia participado com a ortopedista Elizabeth Harper havia terminado e eu saí para contar entusiasmado para Coleen que estava no trauma, cheguei entusiasmado quando fui informado que um paciente atingido por uma bazuca havia feito o hospital inteiro ficar vazio.

Ouvi uma voz me chamar, era Jeremy se aproximou e me cumprimentou, me dizendo que não sabia do que estava acontecendo e perguntou se eu sabia como iriam tirar a bomba para que Paulina não morresse.

— Minha irmã está aqui? Bomba, o que estão falando, não é um homem ferido? - perguntei.

— Você não sabe? Paulina enfiou a mão dentro dele. - Jeremy me contou, Coleen perguntou quem era Paulina.

— Ela é minha irmã. - digo e ela fica sem falas, logo a doutora me pede para que eu cuide do diagnóstico de hora em hora do paciente que acabamos de operar.

— Jeremy? - ela pergunta.

— Elizabeth? - ele retruca. Foi aí que eu soube que minha chefe era irmã mais velha de Megan, e a surpresa não parava se não fosse por Luna que estava ao banheiro me esperando para conversar comigo, veio ao meu encontro e pediu para conversarmos num local privado, a doutora Margaret veio em seguida e pediu que saíssemos do prédio como todos os outros.

— Por que não me falaram da minha irmã? - perguntei. - Contaram para Carlos Daniel?

— Quem é Carlos Daniel? Sua irmã? - Elizabeth questionou.

— Paulina é a irmã que está com a mão dentro do paciente com a bomba. - Margaret lhe respondeu.

— E ela é sua irmã? - Elizabeth replicou novamente.

— Carlos Daniel está em reunião. - Megan me disse, mas não, ele havia acabado de chegar, Jilian havia ligado para ele correr para o hospital e uma moça o acompanhava.

— O que aconteceu com Paulina? - ele perguntou nervoso. - Os policiais me deixaram passar porque ela era minha namorada, mas eu tive que implorar.

— Paulina deve ser a moça que está dormindo com meu marido. - a moça disse em voz alta.

— Ok, quem é essa vadia? - Jilian perguntou.

— Meu nome é Leda, sou esposa do Carlos Daniel. - ele abaixou sua cabeça nervoso enquanto "outra bomba" era exposta para nós.

— Não é divorciado? - Jilian questionou.

— É uma longa história, me digam onde está Paulina. - ele pediu. - Cadê o doutor Thomas, ele é chefe daqui certo? Me deixem falar com ele. - Carlos Daniel o conhecia.

— Sua namorada ou seja lá o que ela for está sendo levada para uma sala para retirarem a bomba agora. - Margaret respondeu.

— Bomba? Como assim? - ele perguntou assustado, Jilian saiu dali nervosa e eu fui para outro canto, Coleen me seguiu "Sua família é muito legal... Esse Carlos Daniel é o escritor?" perguntou, respondo que sim e Luna pede para que eu me acalme.

— Ok Paulina, podemos retirar a bomba. Mas, na minha contagem você retira sua mão bem rápido, tudo bem? - Kyle me perguntou.

— NÃO! EU ESTOU NERVOSA. - grito.

— O que? Paulina precisamos retirar a bomba e eu preciso que você tire sua mão. - Kyle diz.

— Me dê só mais um minuto. - pedi, ele ficou ali esperando e Thomas também, respirei fundo fechei os olhos e não me lembrei do último beijo ainda, e eu não queria morrer sem me lembrar do beijo, Kyle tentou dar um último aviso a Thomas a que se negou a sair dali também.

— Tudo bem Paulina? Bem rápido. - Kyle diz novamente, eu aceno com a cabeça e meu coração está pulsando muito rápido, tudo está me assustando... Carlos Daniel... começo a pensar em seu sorriso mas não no beijo, o último que nós demos antes de eu vir parar aqui. Eu fui aceita num emprego dos meus sonhos com o chef incrível, amo Carlos Daniel, e tenho Jilian, Jeremy, Megan, meus irmãos... Como eu poderia morrer se não estou totalmente realizada? - UM... DOIS... TRÊS! - ele grita e eu puxo a mão com toda a força enquanto todos se jogam ao chão, fechei meus olhos e tudo estava preto...

— Preparem três bolsas de O- - Thomas pede aos enfermeiros que esperavam no corredor, Kyle retirou a bomba e andava devagar, eu mal podia acreditar que tudo aquilo havia acabado, saí da sala atrás dele, e o vi andar pelo corredor com a bomba e de repente... eu estava ao chão.

— Onde está Kyle? - perguntei vendo o fogo e as paredes ao chão do corredor.

— Kyle faleceu. - Megan me disse, ela e Jilian me pegaram do chão enquanto Margaret nos levava até a sala dos internos onde havia um chuveiro, tudo ao meu redor havia apagado, me carregaram puxando meus braços, Margaret abriu o chuveiro e a água escorria, Jilian jogou minha cabeça para trás e deixou que a sujeira escorresse.

Quando pude ser levada para casa, Carlos Daniel e todos estavam calados, eu não queria falar nada, Jilian queria ficar comigo enquanto Mark cuidava de Emily, fui para o apartamento.

— Eu não... Eu não consigo lembrar do nosso último beijo. - eu disse com muita força à Carlos Daniel que está parado na porta do apartamento enquanto Jilian subiu para pegar umas roupas que eu havia deixado no apartamento, ele abaixou sua cabeça e deu um passo à frente.

— Foi no domingo... você se levantou preparou o café, brincou com Finn e estava usando seu casaco verde aquele rasgado que usa quando está frio... eu estava lendo o jornal, me ligaram para uma reunião do filme e você iria ter a entrevista no dia seguinte, ia dormir então se aproximou e me beijou, assim de repente... como se fizéssemos isso há anos, acostumados. E eu peguei o casaco e fui embora.

Jilian desceu as escadas encarando Carlos Daniel nervosa.

— Acho melhor você passar a noite aqui. - ela me disse.

— Carlos Daniel vai me levar agora Jilian, obrigada por tudo! - agradeço enquanto ela envolve um casaco no meu ombro.

— Ela está certa, é melhor você ficar. - Carlos Daniel concorda, um olha para o outro e não consegue parar, logo a campainha toca, era Elizabeth chegando com seu marido novo, pediram perdão e subiram pegando um quarto.

— Quem são? - pergunto.

— Depois te explico, agora Carlos Daniel vai embora. - Jilian diz.

— O que houve? - questiono novamente.

O silêncio me incomodava e eu estava com dor de cabeça, o sentido da morte que havia passado hoje me assombrara e eu só queria que tudo ficasse bem. Fiquei uma hora dando um depoimento para a polícia, vi a esposa do Jim me agradecer por salvar sua vida e algo estava acontecendo entre minha melhor amiga e meu namorado.

— Carlos Daniel? - o chamo. - Jilian, nos dê licença. - peço, ela saí subindo as escadas enquanto eu o encaro novamente a sós com ele. - O que foi? - pergunto.

— É a Leda... ela está na cidade, mas podemos falar disso amanhã, você precisa descansar agora.

— Leda é sua ex esposa certo? O que foi? Me fala agora.

— Ela vai morar aqui agora, e... me disse que somos casados ainda. - três palavras acabaram ainda mais comigo "somos casados ainda" eu passei dois anos com Carlos Daniel.

E ele tentava se explicar mas eu já ouvi o que queria não precisava de mais nada.

— Vai embora! - pedi.

— Paulina... - ele tentou dar um passo à frente.

— VÁ EMBORA! - gritei, o empurrei e fechei a porta, logo Jilian desceu me olhou e se aproximou, eu passei por ela e subi as escadas indo para o meu antigo quarto, me deitei na cama e rezei para que aquela noite enfim, acabasse...

"Ok, você sabe quando a última coisa que precisa é que tirem sarro de você?

— Por que não me contou sobre Carlos Daniel? - perguntei a Jilian que foi até o quarto onde estava.

— Ele é quem deveria contar, não eu. - ela respondeu.

— Eu quero ficar sozinha. - pedi, sem se sentar, apenas ali de pé me olhou mais uma vez enquanto estava deitada e deu as costas se retirando do quarto.

Como quando você está com a mão dentro de um corpo que tem uma bomba dentro e um estranho está fechando um casaco até a parte dos seus peitos."