O Diário das Irmãs Martins

Sair de casa/Pintor?/Jilian grávida


Assim que Carlos Daniel saiu da livraria fui procurar seu livro por ali, e não estava atrás de mim. Procurei nas outras prateleiras e logo ouvi o barulho da porta se abrindo, era Jilian.

— Paulina? - Ela grita meu nome e fecha a porta. Eu saio da onde estou e vou até ela que está atrás do balcão, limpo minhas mãos com o enorme pó que havia nas prateleiras.

— Oi. - Eu respondo. Ela olha ao redor da livraria e retira seu casaco o pendurando atrás dela.

— Algo interessante? - Ela me pergunta e se senta pegando seu celular.

— Nada demais. Ei, sabia que veio um escritor famoso aqui? - Eu pergunto a ela me inclinando esperando a reação dela.

— Era Carlos Daniel Bracho? - Ela me pergunta ainda focada em seu celular.

— Ok, isso foi chato. Como sabia? - Eu digo a ela que desliga o celular e o coloca atrás no seu bolso da calça jeans preta.

— Ele vem aqui quase sempre. Não é surpresa. Ele gosta de vir de manhã quando não há ninguém pois assim não há tanto muvuca atrás dele. O conheci quando tinha 12 anos. Meus pais incentivavam ele a publicar um livro que era seu sonho. E hoje está assim... - Jilian me responde e eu fico pensando em Carlos Daniel. - Mas, não se encante pela beleza dele, vi no jornal que ele se divorciou a pouco tempo. - Jilian completa. Eu não estava interessada em Carlos Daniel, só achei interessante que aquela pequena livraria que quase nunca vendia livros recebia quase sempre uma "estrela."

— É... Você tem o livro dele por aqui, eu queria vê-lo. - Eu digo a ela que se levanta e abre uma gaveta retirando uma caixa e joga o livro em cima do balcão. Um Belo Desastre, um nome realmente muito interessante. - Posso levar para ler, ou terei que pagar como os outros? - Eu brinco e Jilian só me observa sem dar uma risada, foco para olhar o livro novamente depois de ter ficado sem graça.

— Pode levar. Já o li. - Jilian me responde e volta a ficar em seu celular. Levo o livro de Carlos Daniel até minha bolsa.

— Jilian, estive pensando que poderia ocorrer umas mudanças aqui. - Digo a ela pegando uma vassoura e começo a varrer os corredores e a porta é aberta novamente, olho atentamente para ver se é Carlos Daniel quem voltou.

— Esquece Paulina, ele não vem mais. Talvez amanhã ou semana que vem. E sim já pensei em fazer uma bela limpeza aqui, mas somente. - Jilian responde e vai atender o cliente.

A tarde Jilian me liberou para ir fazer a matrícula no curso de gastronomia e a caminho comecei a ler o livro de Carlos Daniel.

"Quando eu a vi linda e elegante entrando daquele jeito no salão de festas, senti meu coração palpitar rápido e era a primeira vez em tantos anos que eu não me sentia daquele jeito. Quero dizer para um homem que fugia de compromissos, aquilo foi um passo enorme."

Será que esse livro Um Belo Desastre seria para a ex-mulher dele? Meu celular tocou nesse mesmo instante, era meu pai.

— Oi pai! - Eu atendo.

— Oi Paulina. Seus avós pretendem ir ai na cidade para ver você. Tudo bem? - Meu pai me pergunta e a resposta era bem óbvia.

— Não deixe pai. É o primeiro dia meu aqui na cidade, nem me estabeleci direito. Invente alguma desculpa. - Eu respondo a ele.

— Já sabia disso e pode deixar que vou cuidar disso. - Meu pai responde e eu fico mais aliviada sem dizer uma só palavra. - Comprei algo para você, deve chegar amanhã a tarde.

— Me diga pai. - Eu fico curiosa e fecho o livro, meu pai fazia esse jogo de propósito comigo e ele sabia que eu iria morrer de curiosidade, e o pior... Meu pai se divertia enquanto eu ficava euforica.

— Sabia que Paola começa a faculdade daqui há 2 meses. - Ele responde trocando de assunto, e então eu entro no jogo dele.

— Como ela está? Quero dizer, além de ser forçada a fazer isso. - Digo ao meu pai que responde que Paola está bem até, parecia calma e não nervosa por fazer o que não queria. Não conversamos muito, encurtamos o assunto e logo desligamos o celular, em poucos minutos cheguei em frente ao curso, dei sinal ao ônibus para descer e já estava na porta. Ao entrar no curso, o cheiro da comida era explêndido, corri para o balcão para me inscrever com o melhor professor do curso. Ele tinha 3 restaurantes só no México, 2 no Brasil e 1 em Paris. Seu nome era Saul Juanes.

Depois de me inscrever o telefonema sairia em uma semana se eu havia conseguido passar nas aulas com Saul Juanes, fui para o apartamento de Jilian novamente e ela já havia fechado a livraria, ao chegar no apartamento encontrei Joe o seu ficante. Me apresentei a ele, e sabia que minha presença só iria atrapalhar, Jilian me olhava de lado e senti que estava sendo expulsa. - Vou para o meu quarto. - Eu digo apontando para o corredor e Jilian dá um sorriso de canto, foi o primeiro sorriso que recebi dela desde que cheguei. Corri para o meu quarto sem ao menos jantar, me troquei e fiquei na cama lendo o livro de Carlos Daniel, o devorei.

Achei o livro fantástico, a forma de como ele vê o mundo ou o amor do personagem Jonas, mas ele terminou com Melinda e não há um felizes para sempre. "Diz que não quer me perder, mas não procura me achar." fiquei em dúvida se teria uma continuação ou os dois corações apaixonados seguiram caminhos diferentes, Jonas voltou a fumar e foi embora do país e Melinda voltou a trabalhar depois do acidente e do término. E o casamento deles? O voto de felizes para sempre? Na saúde e na doença? Até que a morte os separe... Isso não vale? Quando me dei conta já era 1 hora da manhã, sai do quarto e fui para a cozinha pegar algo para comer, passei pela sala com um saco de salgadinhos e na outra mão refrigerante, e fui pega por Jilian.

— Pode comer aqui, já vou pro meu quarto. Não precisa mais se trancar lá. Joe foi embora. - Ela me disse e deu um trago em seu cigarro que acabara de acender.

— Ó... Ok. - Eu respondo e me sento ao seu lado deixando o salgadinho ao meu colo e coloco o refrigerante na mesa em nossa frente.

— Ele me dispensou. - Jilian diz e continua fumando seu cigarro e olha para a televisão que está desligada, apoio minha cabela ao sofá e olho para ela.

— O que houve? - Eu pergunto, ela respira fundo colocando o cigarro no cinzeiro. Jilian suspira fundo e mexe nas pontas de seu cabelo, ela para por um momento e me olha, ela também apoia sua cabeça na almofada e coloca seus pés ao sofá. Vira seu rosto novamente.

— Eu não... Eu não quero ter que encher os outros com os meus problemas, sabe? Não quero que você saiba que todos os meus amigos foram embora da cidade, ou que amanhã faz 9 anos da morte dos meus pais. Não quero encher os outros para dizer que transei com Joe há 2 meses e hoje contei a ele que estou grávida e ele me chamou de vadia e foi embora. Não quero encher os outros com os meus problemas, já que agora estou grávida de uma semanas e só hoje tive coragem de contar a alguém e mesmo assim não quer encher ninguém com os meus problemas. - Jilian me diz e seus olhos se enchem de lágrima, eu paro pensando em alguma resposta já que nem ao menos conhecia Jilian direito. Suspirei fundo e abri o salgadinho, peguei o cigarro de Jilian e o apaguei pisando em cima dele, ela não demonstrou nenhuma reação.

— Você vai pagar outro tapete para mim. - Ela murmurou e pegou um pouco do salgadinho.

— Jilian, não fume mais. - Eu respondo e fico ali ao sofá com ela comendo o salgadinho com os pés apoiados na mesa.

1 semana depois...

Liguei para Paola naquela semana e ela me contou que estava cogitando a ideia de ir morar com Douglas e me disse que iria convencer nossos pais até o fim do mês. Jilian estava certa, pois naquela quinta-feira de manhã estava um pouco frio Carlos Daniel entrou na livraria.

— Bom dia! - Ele me disse e retirou o seu boné, eu me viro reconhecendo aquela voz.

— Bom dia! Ah, olá senhor Bracho. - Eu digo a ele e vou ao seu encontro ficando de frente para ele do outro lado do balcão.

— Não precisa de cortesia comigo. Como você está? - Ele me pergunta.

— Estou bem. E você? - Eu pergunto a ele novamente.

— Bem. Eu acho que vou querer o livro que está atrás de... - Eu o interrompo.

— Me desculpe interrompe-lo, mas eu li seu livro e eu preciso saber por que você não deixou Jonas e Melinda serem felizes juntos. - Digo a ele que dá um sorriso de canto e passa a mão em seu cabelo o arrumando.

— Eles achavam que foram feitos um para o outro. - Carlos Daniel me responde.

— Mas, vai deixar Melinda ir embora com o coração machucado e Jonas querendo morrer por perdê-la?

— A dor é necessária ás vezes. - Ele me responde.

Paola...

— Mas, mãe não iremos morar tão longe!!! - Eu digo a minha mãe que desce as escadas numa pressa querendo fugir de mim.

— Paola, eu e seu pai já decidimos, você ainda é muito jovem para isso. - Minha mãe me responde, quando descemos, fico a sua frente que para de mexer nas folhas do trabalho e suspira fundo nervosa me olhando, eu cruzo os meus braços a ela.

— Mas, por que Paulina pode ir morar com uma estranha e eu não posso morar com o meu namorado? - Eu a questiono.

— É diferente. - Ela responde, e não é nada diferente. Eu sei disso. Lembrei do que Douglas me disse que eu deveria manter a tranquilidade para falar com meus pais, Adelina aparece atrás de minha mãe perguntando o que houve pois há muitos gritos. - Diz a essa menina que ela não pode morar com o namorado. Agora eu tenho uma reunião importante online. Com licença. - Minha mãe responde e vai para o escritório, eu olho para Adelina que envolve seus braços a minha volta e me faz caminhar com ela até a cozinha.

— Meu amor, dê um tempo e talvez seus pais reconsiderem. Mas, agora se acalme. - Adelina me diz e me faz sentar enquanto Lalinha escuta toda a conversa.

— Senhorita Martins, eu sei como é... Demora porque no fundo nossos pais não quer nos perder. - Lalinha complementa.

— Mas, por que Paulina pode e eu não? - Eu pergunto novamente e Adelina se senta a minha frente.

— Quer a sinceridade meu bem? - Adelina pergunta e eu faço que sim com a cabeça. - Paulina sempre foi quietinha na dela, agora já você sempre aprontou, e não estou dizendo que isso é algo ruim em você. Mas, mostre que você está mudando e talvez até o final do mês você consiga uma outra resposta de seus pais. - Adelina me diz e eu começo a pensar que ela está certa.

Paulina...

Quando Carlos Daniel foi embora hoje de manhã levando um novo livro e me deixando ainda mais curiosa sobre o final do seu livro, vi um rapaz estacionando um carro em frente ao apartamento de Jilian e perguntei de quem era, o rapaz disse que era para a senhorita Martins, e era eu. Aquele era o presente do meu pai, um carro novo! Espero que ele tenha dado a Paola ou então ela irá fazer um chilique. Depois de assinar os papéis que recebi o carro, ligo para meu pai o agradecendo pelo carro novo. Mais tarde fechei a livraria e entrei no apartamento para tomar um banho, ouvi dizer que teria uma exposição de arte na cidade e eu sou apaixonada por obras de arte, e então decidi ir. Chamei Jilian que aceitou ir comigo, colocamos um vestido formal e descemos para ir ao local, ficamos parada em frente ao carro novo.

— Você quer ir de carro ou vai ficar aqui olhando para ele? - Jilian me perguntou e coçou as pernas, ela dizia que o vestido fazia isso com ela. Continuei olhando para o carro sem responder nada e quando vi passar um táxi na rua o chamei. - Você é muito estranha sabia disso? - Jilian diz a mim entrando ao táxi.

— Tá... Tá... Tá... E você é super normal não é? - Eu complemento e ela me olha estranho.

Em poucos minutos havíamos chegado ao local e haviam três seguranças na porta da frente, eles viam o nome de quem estava na lista para poder entrar e era somente pessoas autorizadas e famosas que podiam, Jilian teve a brilhante ideia de entrar pelos fundos como se fôssemos entregadoras de algo, pegamos uns buquês que estava na parte da frente e sorrateiramente corremos até o fundo batendo na porta. Um outro segurança abre a porta nos encarando. "O que desejam?" ele pergunta com aquela sua voz grossa que dava medo.

— Falta dois buquês para colocar ai dentro. Ordens do pintor. - Jilian diz ao segurança que nos olha estranhando, Jilian dá um sorriso sarcástico a ele e eu olho para o lado achando que o plano não daria certo. Estava quase me entregando.

— Tudo bem podem entrar. - O segurança nos diz e eu olho assustada, como ele caiu naquela desculpa? Quando entramos colocamos os buquês num corredor e corremos até a sala principal da obra de arte.

Eu e Jilian rodamos todo o local observando as obras de arte, tentei não beber perto dela já que sabia que ela adorava beber e não iria mais pelo bebê que estava esperando.

Observando a imagem da Bailarina, Jilian disse que precisava usar o banheiro e correu para lá e eu fiquei ali esperando por ela. Logo, novamente a voz de Carlos Daniel suavemente chegando mais perto de mim.

— Está me perseguindo? - Ele perguntou num tom sarcástico e tomou um gole do seu champagne.

— O que? Não! - Eu digo nervosa ao vê-lo ali.

— Não me diga que coincidentemente você veio parar na minha exposição de arte. - Carlos Daniel complementa. Eu olho para a obra e depois olho para ele novamente.

— O que? Você também é pintor? - Eu pergunto a ele assustada.

— Culpado. - Ele responde novamente e fica de frente para a sua obra.

— Devo saber de algo mais que o incrível escritor e pintor é? Talvez um músico, ator, modelo? Já sei, assassino talvez? - Eu digo a ele e dou um sorriso de canto, ele dá um outro sorriso para mim.

— E eu devo saber como conseguiu entrar? - Ele pergunta e eu fico corada.

— Tenho meus truques, mas se desejas que eu vá. Irei! - Respondo a ele que dá um passo a minha frente.

— Não, fique. - Ele responde. - Mas, sei que está me perseguindo... Fãs! - Ele murmura e toma um outro gole eu olho para ele negando estar perseguindo ele.

— Não o estou perseguindo... Você não é tão bom assim. - Eu respondo e logo Jilian chega ao meu lado.

— Paulina... - Ela diz e olha para Carlos Daniel. - Eai! - Ela diz a ele, nada sutil. - Joe me ligou, estou indo encontra-lo. - Ela me diz e eu fico pensando se seria o certo ela ir, mas quem sou eu para falar algo?

— Tem certeza que é uma boa ideia? - Droga, eu tinha que abrir a minha boca. Jilian me olha com a expressão de "Até parece que não sei me cuidar"

— Ele é o pai do meu bebê. Tenho que ir ver o cafajeste. - Ela responde e saí pela porta da frente como se tivesse chegado por lá. Volto a minha atenção a Carlos Daniel que dá um sorriso e eu pergunto o por quê dele estar sorrindo.

— É bem cara da Jilian se proteger sozinha. Ela é um pássaro livre. - Ele murmura. - Então Paulina... Vai fingir que não veio para me ver? - Ele brinca. Eu dou risada novamente.

— Não vim te ver Carlos Daniel Bracho. - Eu respondo e viro para o outro lado, mas nesse exato momento um rapaz derruba champagne em meu vestido. - Me perdoe senhorita! - O rapaz diz e eu digo que não tem problema, logo Carlos Daniel se aproxima a minha frente.

— Venha, vamos limpar isso! - Ele me diz e pega em meus ombros me levando para o banheiro, eu pego pedaços de papel e começo a passar em meu vestido. - Paulina, eu sei que é precipitado, mas quer sair daqui? - Carlos Daniel me pergunta, eu paro de limpar meu vestido e olho para ele.

— O que? - Eu pergunto.

— Eu moro perto daqui. Assim é melhor para você se limpar. - Carlos Daniel responde a mim.

— Como vou saber que não é um assassino? - Eu brinco e pego minha bolsa. Ele dá um sorriso e então vamos até sua casa. - Obrigada! - Eu digo a ele a caminho.