O Diário das Irmãs Martins

Talvez eu e ele sejamos de outro mundo ou uma outra década


— Você não precisa me agradecer. - Carlos Daniel me respondeu, passamos pela rua e não havia nenhum movimento nela, todos estavam na exposição ou em suas casas. Eu olho para ele sem dizer nada, Carlos Daniel está com suas mãos para trás e com as duas mão na frente segurando uma bolsa pequena que só levava um celular dentro. Cruzamos uma rua virando a direita na próxima esquina e na terceira casa, havia um apartamento onde Carlos Daniel retirou as chaves e abriu a porta. - É aqui que eu moro. - Ele me disse. Eu entro em seu apartamento e Carlos Daniel acende suas luzes. - Fique a vontade. - Ele murmura. Eu olho sua sala rodeada de livros muito bagunçada, Carlos Daniel joga seu terno ao sofá e recolhe os livros e retira algumas garrafas de cerveja que está ao chão.

— É muito aconchegante. - Eu digo a ele e coloco minha bolsa no canto do sofá dele.

— Me perdoe a bagunça, acabo de me mudar. Esse é o meu apartamento antigo, eu poderia ter vendido, mas achei melhor ficar com ele. Então voltei para cá agora pouco, por isso a bagunça. - Carlos Daniel responde e retira sua gravata. - Aceita uma bebida? - Ele me pergunta e fica parado de frente para mim.

— Não, não. Muito obrigada! - Eu respondo a ele que fica sem me dizer mais nada. - Posso usar seu banheiro? - Eu pergunto e ele me aponta para onde fica e eu caminho até o banheiro. Ao entrar tentei me limpar um pouco mais pelo champagne que haviam derrubado em meu vestido, mas só estava piorando. Eu precisava ir embora. O meu vestido estava todo estragado. Sai do banheiro minutos depois e voltei a sala onde Carlos Daniel estava organizando os livros, ele se levantou e veio ao meu encontro. - Carlos Daniel, agradeço a ajuda mas preciso ir embora. Estragou o meu vestido. - Eu digo e olho para o meu vestido e passo minha mão sobre ele.

— Não vá embora! - Ele me diz e se aproxima ainda mais de mim com a sua camisa com uns botões abertos. - Quero dizer, fique mais um pouco. Sente-se. - Ele me pede e eu dou um sorriso colocando meu cabelo para trás. Me sentei e logo Carlos Daniel coloca um pouco de vinho na taça e deixa em cima da mesa, e enche uma outra taça para ele. Carlos Daniel encosta no sofá e toma um gole, eu cruzo minhas pernas enquanto estou sentada, mas o cheiro do champagne começa a me incomodar.

— Estou fedendo, me desculpe. - Eu digo a ele que se curva ao sofá e se levanta retirando sua camisa que está usando e dá ela a mim.

— Tome, use esta. Logo, levarei você até sua casa. Eu vou me trocar. - Ele me diz, eu olho para o seu peito musculoso seus braços morenos e pego a camisa indo direto para o banheiro estando envergonhada pela situação. No banheiro retiro meu vestido e colo a camisa de Carlos Daniel. Mas, não há um shorts para eu colocar, eu grito o nome dele que bate na porta do banheiro perguntando o que eu estava precisando e eu disse que era um short. Em poucos minutos ele bate na porta novamente com um short dele, eu o visto e fica muito largo em mim. Saio do banheiro tempo depois e volto para a sala, Carlos Daniel está com uma camiseta branca e com sua calça social ainda.

Carlos Daniel dá risada da roupa que estou vestindo. - Pare de rir. - Eu digo a ele que se senta ao sofá novamente. Quando me sento do outro lado, ficamos quietos por um tempo sem ter muita coisa a dizer e logo ele quebra o nosso silêncio.

— Qual sua história? - Ele pergunta. Eu pego a taça que ainda está na mesa e tomo um gole. Respiro fundo pensando no que poderia dizer.

— Não tenho uma história interessante de vida. Não viajei o mundo inteiro, não tive muitos relacionamentos, não saí bastante para clubes, baladas. E não tenho tantos amigos. Não tenho o que contar. - Respondo a ele que se ajeita no sofá encostando e continua me observando. - O que foi? - Eu pergunto a ele ficando envergonhada.

— Não leve isso como desespero, ou algo do tipo... Mas, você é uma jovem muito inteligente! - Ele responde. - Quantos anos tem?

— Tenho 18 anos. - Respondo e tomo mais um gole.

— Uau! - Ele responde, eu dou um sorriso de canto.

— Uau? - Respondo.

— Inteligente e linda. - Ele murmura eu dou um sorriso e olho para a taça que está em meu colo.

— Obrigada. - Respondo novamente. E logo troco de assunto. - Qual seu ponto fraco? - Pergunto para tentar puxar assunto, nunca fui boa nisso. Era por isso que não tinha muitos amigos, minha vida social era limitada em Paola, Nicole, e agora Jilian. Bom, além delas contava tudo para Adelina, minha babá fora isso não tinha mais ninguém.

— Acho que não tenho um ponto fraco. - Carlos Daniel responde, me viro para ele ainda sentada ao sofá.

— Todo mundo tem um ponto fraco, se não é alguma coisa, é alguém Carlos Daniel. - Respondo. Carlos Daniel dá um sorriso em resposta. - Posso te perguntar outra coisa? - Carlos Daniel faz um sim com a cabeça. - Como fica Jonas e Melinda? Quero dizer, por que você os deu esse final?

— Paulina, eu tenho 25 anos e fui casado por pouco tempo. Achava que minha vida estava formada, mas não estava porque minha ex esposa nunca foi a mulher que eu jurei amar por toda a eternidade. Com ela eu sentia que faltava algo a mais. - Como o Jonas. - Murmuro. - Sim, como ele. Só que admito que sou antiquado em termos de "2016, tecnologia" gosto da ideia de mandar cartas, ter uma pessoa ao meu lado que seja minha melhor amiga, amante, esposa. Não digo isso como se eu fosse o personagem Jonas e Leda que é minha ex esposa a personagem Melinda, digo isso porque não há um motivo, a vida não tem um felizes para sempre e não é um conto de fadas. Nem toda história de amor precisa de um final feliz. Então... - Ele me responde.

Paola...

Adelina me deu a ideia de mudar o meu comportamento para conseguir morar com Douglas até o final do mês, e assim o fiz, não sai de casa nenhuma noite, nem para encontra-lo ou meus amigos. Reduzi o tempo que ficava na rua e agora estou em casa, pedi ajuda a Cacilda e a Lalinha para aprender a cozinhar pratos novos, pois Paulina ainda puxava minha orelha de vez em quando. Comecei a limpar o banheiro de meu quarto e limpava a piscina do quintal. Brinquei mais com Sam o nosso cachorro.

Já estava chegando ao final do mês e não toquei mais no assunto de morar com Douglas, tentei falar com meu pai dessa vez, ele estava em casa chegou tarde, tomou seu banho e foi para seu escritório, bati na porta pedindo para entrar um pouco e ele me deixou, me sentei na cadeira de frente para ele que assinava uns papéis da sua empresa. Suspirei fundo uma vez e girei a cadeira, suspirei outra vez e me larguei da cadeira. Meu pai se irritou.

— O que você quer Paola? - Ele me pergunta bravo, retira seu óculos me observando dessa vez.

— Pai, eu quero conversar com o senhor só isso. - Eu respondo e me ajeito na cadeira.

— Se for a ideia de morar com seu namorado, esquece. - Ele responde eu mantenho a calma, respiro fundo novamente.

— Mas, pai... Eu não sai sequer uma vez em todos esses dias, estou aprendendo a cozinhar, morar com o Douglas é só um teste para ver se daria certo. - Eu digo a ele que continua me observando. - E... Eu já tenho 18 anos também, está na hora da Paola aqui cortas as asas e voar sozinha. - Meu pai se arruma na cadeira e larga os papéis retirando os óculos logo em seguida.

— Conversarei com sua mãe. - Meu pai responde, eu me levanto e o agradeço saindo esperançosa do seu escritório, vou direto ao meu quarto e mando uma mensagem a Douglas.

"Talvez dê certo amor!"

Espero um tempo para Douglas me responder, ele deveria estar almoçando com seus avós que iam para sua casa quase todo fim de semana.

"Minha mãe quer te conhecer."

Ele me responde e eu começo a ficar nervosa, seria o primeiro namorado meu que me dizia aquilo e eu sabia que estava na hora já.

Paulina...

Saí logo em seguida da casa de Carlos Daniel e ele me acompanhou até o apartamento de Jilian e logo se despediu de mim num aperto de mão. Entrei ao apartamento e Jilian estava cochilando ao sofá apenas de sutiã e calcinha, a cubro e pego um suco na geladeira e depois vou para o meu quarto, não consigo parar de pensar na conversa que tive com Carlos Daniel. Ele não fazia o tipo "famoso metido" ele era somente Carlos Daniel, e eu adorava o rapaz escritor e pintor que se acha demais e incrivelmente inteligente. Queria saber se ele iria amanhã na livraria para conversarmos mais um pouco.

No dia seguinte quando me levantei entrei na internet para ver os resultados de quem entrou no curso de Saul Juanes, procurei pelo meu nome na imensa lista de 150 pessoas inscritas só com ele e não achei meu nome. Logo em seguida liguei para o curso confirmando se havia entrado e a moça me respondeu que não passei. Não me restou outra opção do que ficar chateada, as inscrições haviam acabado já e eu teria de esperar um ano para me inscrever novamente. Não contei ao meu pai, minha mãe nem mesmo Paola. Desci as escadas indo para a cozinha e Jilian estava fazendo panquecas do café da manhã, peguei a correspondência que estava jogada na escada da frente e haviam três contas para pagar. Dei elas a Jilian que as jogou em cima da geladeira não se importando com elas.

— Jilian! - Eu digo seu nome e pego novamente as contas, eu iria pagar duas contas e Jilian pagaria o aluguel e a internet. Guardei as contas numa gaveta da sala e me sentei na mesa esperando as panquecas. - Como foi ontem a noite com Joe? - Eu pergunto e Jilian não me responde continua girando as panquecas ao ar. - Jilian? - Novamente a chamo e percebo que ela está de fone de ouvido, me aproximo dela e as arranco de seu ouvido.

— Ei! - Ela grita.

— Como foi ontem com Joe? - Novamente eu pergunto, Jilian coloca as panquecas ao prato e pego o café levando para a mesa.

— Mandei ele pro inferno. - Ela responde e se senta se servindo com as panquecas.

— Só vai me falar isso? - Eu digo a ela que balança a cabeça em concordância, não respondo mais nada e logo ela coloca os fones em seu ouvido novamente. Pego uma panqueca e a coloco no meu prato pronta para tomar café mas a campainha toca, eu me levanto indo atender a porta. - Carlos Daniel? - Eu pergunto a ele que traz em uma de suas mãos o meu vestido que deixei em seu apartamento.

— Posso entrar? - Ele pergunta, eu abro mais a porta e ele entra, fecho a porta e me aproximo dele pegando meu vestido. - Te trouxe isso. - Ele me diz esticando suas mãos retirando do bolso um convite. - Não vai precisar entrar escondido dessa vez. - Ele brinca e eu dou risada.

— O que é? - Pergunto.

— Pode abrir. - Ele responde. E assim que o abro é um convite para "Poesias" eu dou um sorriso olhando para o convite e em seguida olho para Carlos Daniel dando um sorriso a ele em agradecimento. - É um pequeno convite, eu vou apresentar umas poesias lá e gostaria que você fosse minha companheira. Aceita? - Ele me pergunta.