O Diário das Irmãs Martins

O outro lado dessa vida


Paola... "O sonho é esse - que finalmente sejamos felizes quando alcançarmos nossos objetivos - acharmos o cara certo, terminarmos a faculdade e nos estabelecer num emprego, esse é o sonho. Então, chegamos lá. E, se somos humanos, imediatamente começamos a sonhar com outras coisas. Porque, se esse é o sonho, então gostaríamos de acordar. Agora, por favor!

[...]

Paulina...

Perguntei a Jilian como houve o beijo que a menina deu nela, simplesmente ela estava perdida não conseguia expressar o que sentia, quanto mais falava mais passava a mão em sua barriga que quase faria 2 meses.

— Mas, você gostou ou? - Perguntei, mas Jilian não gostou nada me olhou de canto e resmungou "Não" se levantou e foi para fora do apartamento recolher o jornal, assim que entrou o jogou no sofá ao meu lado e subiu para o seu quarto, abri o jornal para ler algo interessante nele, esperançosa de ter um show, ou livros sendo doados. Mas, não era só mais promoções de casas, política, e nas últimas folhas outra nota de Carlos Daniel.

Ele contava os dias que nos conhecemos, 45 - pensei. Ouvi uns gritos em seguida, era Jilian. Logo Paola e Douglas descem indo direto para a cozinha, Douglas desceu apenas de cueca e minha irmã estava apenas de blusa e calcinha andando pela casa. Olhei para trás e me apoei no sofá observando-os. Quando se deram conta que eu estava ali, Paola estava com um biscoito na boca e Douglas paralisou me olhando.

— Paola sua irmã está nos olhando. - Ele sussurrou a ela, dei um aceno e Paola acenou novamente. - Você vai acenar? - Ele pergunta e coloca as mãos na frente de sua cueca e ela se levantou pegando sua bolsa que estava ao lado do balcão e jogou para Douglas que colocou na frente de sua cueca e subiu rapidamente para pegar sua bermuda, Paola se aproxima de mim na sala e eu mostro a ela o jornal. A campainha toca na hora que Paola pega o jornal, ela me devolve e abre a porta - Usando apenas a calcinha e blusa com o biscoito ainda na boca. Era uma garota loira e baixinha e ao seu lado, Mark.

— Entrem! - Paola diz e os dois entram rapidamente e ela fecha a porta. - Vou subir e colocar um short porque se meu namorado me ver apenas assim na frente do Mark ele me mata. Eu dou um sorriso e eles também, me levanto para os cumprimentar e os faço se sentar. Não lembrava da menina, estendi minha mão a ela e fiquei esperando que dissesse seu nome.

— É Jenn! - Ela responde e sorri se sentando em seguida junto com Mark.

— O que fazem aqui? - Pergunto.

— Trouxe o colar de Jilian que entregou ao Mark numa hora que vomitou na festa. E o retirou porque dizia estar se sentindo sufocada. - Jenn me diz e dá em minhas mãos o colar de Jilian que continha a foto da sua tia Rosie apenas e do outro lado uma garota pequena. Paola subiu e disse a Jilian que tinha visita que desceu para ver quem era. Cumprimentou Jenn e Mark e logo saiu para a cozinha, Jenn se levantou e foi atrás dela pois precisava muito falar com Jilian.

— Gostou da festa? - Mark me pergunta e mexe em seus dedos nervoso e logo passa a mão em sua calça jeans sorrada velha.

— Gostei. Obrigada pelo convite. - Respondi e dei um sorriso olhando logo depois para a televisão desligada.

— Paulina, é você acha que... - Mark suspira fundo para tentar me perguntar algo mas o interrompo.

— Por que você disse que eu estava transando ao carro? - Perguntei de imediato.

— Eu fiquei preocupado. Agora você é minha amiga. - Ele responde, eu me levanto e tento ir para a cozinha, mas volto e fico parada de frente para ele.

— Não, eu não sou sua amiga. Você é só um rapaz que eu conheci na livraria. E você não deve ficar preocupado comigo pois não temos relacionamento algum. Sabe quem deve se preocupar comigo? Apenas Jilian e Paola ou então o rapaz que estava comigo ao carro. Não você. Não seus amigos, ninguém. Então pare de tentar se aproximar ou agir como se você fosse algo meu, porque não é. - Respondo e saio da sala indo para o banheiro tomar banho, encontro Jenn e Jilian no corredor conversando, as duas param e ficam me olhando. - Vou tomar banho. Até. - Digo a Jenn e entro ao banheiro.

Assim que saí do banho Jilian me puxa até o quarto dela e expulsa Paola e Douglas que estão terminando de se trocar, seguro firme a toalha que está em meu corpo e me sento na ponta de sua cama olhando para ela esperando que dissesse algo.

— Jilian? - Pergunto, ela fica andando de um lado para o outro no quarto sem me dizer nada. - Jilian? - Pergunto novamente. Ela me olha, mas era como se eu fosse apenas uma figura ali no quarto e continua andando de um lado para o outro. - Quando quiser falar estou aqui. O tempo que for! - Eu novamente complemento e me arrumo na cama esperando ela dizer algo. Dentro de três minutos de idas e vindas ao quarto e eu achando que logo faria um imenso buraco no chão e caíriamos direto na cozinha, ela para e se senta ao meu lado.

— Jenn me disse que a garota que me beijou foi embora para o Brasil o que é bom, mas Jenn me pediu para sair com ela e conversar a respeito de Vanessa. - O nome da menina que a beijou. - E eu achando que Jenn é lésbica também pedi ao Mark para sair comigo e ele aceitou, só que ainda estou ferida pelo Joe.

— Primeiro, se acalme Jilian. - Disse a ela que respira fundo, inspira e expira. - Agora, se você acha que Jenn é lésbica não tem problema, se você não é lésbica diga isso a ela não precisa ficar saindo com Mark, e você não deve se preocupar com Joe ou seu bebe. Ele vai ganhar duas mães de qualquer jeito. Eu cuidarei dele ou dela Jilian. - Digo a ela que sorri se sentindo mais confortável.

— Sabe o que eu quero mesmo? - Ela pergunta. - Preciso de um drink Lina. Um homem ou uma massagem. - Ela respira fundo e me olha atentamente aos meus olhos. - Ou de uma massagem feita por um homem bêbado. - Dou risada do que ela diz e logo arrumo a toalha. - Eu realmente gosto de conversar com você Lina. Me sinto confortável. - Ela responde e ficamos olhando um quadro ao seu quarto de um vaso com uma flor nele. - Este quadro é... - Ela resmunga, eu me levanto e vou para a porta.

— Sim, é feio. Jogue-o fora. - Grito e vou para o meu quarto. Me troco e mais tarde Carlos Daniel me levaria para "Poesias" somente para marcar presença, e eu estava entusiasmada. Olho para a mesa do meu quarto e vejo a hora que devo entrar no curso daqui há uma semana e vejo o convite, coloco um vestido qualquer que havia trazido na bagagem e um salto alto, Paola abre a porta para se despedir de mim que voltaria para o seu novo apartamento com Douglas.

— Não está bom. Tire-o. Coloque apenas uma roupas casual, sexy... Mas, casual. - Ela me diz ainda na porta do quarto, caminho até minha cama e ela se aproxima me ajudando a tirar o vestido, caminha até o meu guarda-roupas e pega uma roupa para mim. - Pode ir com o salto se quiser, mas você odeia salto alto. Mas, ficaria bem mais sexy com eles. - Ela complemente, eu a agradeço e me levanto indo ao espelho novamente. Paola se aproxima e me abraça me apertando muito.

— Está me sufocando Paola. - Respondo a ela.

— Cale a boca, sei que não gosta muito de abraços, mas cale a boca agora Paulina. - Ela responde e fica mais um tempo me apertando, logo me solta e dá um sorriso e eu retribuo a ela. Fiz o que Paola mandou e desci para esperar Carlos Daniel. Não demorou muito e a campainha logo tocou, Jilian está comendo cereal na cozinha e faz um aceno positivo para mim com um sorriso. Acho estranho o fato dela estar dando um sorriso e aceno para ela e logo abro a porta. Ele está usando uma camisa branca e calça social, traz em suas mãos apenas uma rosa.

— Sei que não gosta de flores, ou romances clichês. - Ele me diz e dá um passo mais perto de mim, olho para a rosa e dou um sorriso para ele. - Uau! Você está... Linda!

— Obrigada. - Dou risada e pego em seu braço fechando a porta e caminhamos até seu carro, coloco a rosa em meu colo e vamos conversando a caminho da nossa incrível noite. Ao chegarmos ao local antes de sair do carro Carlos Daniel pegou minha mão e olhando nos meus olhos disse: "Permita-se ser feliz. Você está linda! E eu sei que já lhe disse isso." Nesse segundo eu percebi que o amor não é uma condição, sorri para ele e me aproximei de seu rosto para dar um beijo, Carlos Daniel 1: Ele era otimista.

Ao chegarmos e entrarmos nos sentamos aos fundos e estava bem escuro o local apenas o palco refletia a luz e havia um banco apenas no centro dele. Algumas pessoas já haviam chegado e garçons passavam pelas mesas os servindo, um dos garçons que nos atendeu nos perguntou se queríamos algo, respondemos que um vinho seria bom.

— Você teve alguma inspiração para o seu livro? - Perguntei. - Quero dizer, sua ex mulher foi sua inspiração. - Ele sorriu e tomou um gole do vinho e olhou para a mesa. - Não precisa responder se não quiser Carlos Daniel.

- Melinda e Jonas... Katia e Arthur. Eles se casaram aos 19 anos em 1982. Tem 4 filhos, Beatriz, Valentina, Manuela e Carlos Daniel, que é o mais velho. Aos 15 anos perdi meu pai num acidente de carro, então Um Belo Desastre foi esse, meu pai morreu enquanto falava com um rapaz no seu trabalho, e era o aniversário de minha irmã Beatriz que fazia no dia 13 anos. Minha mãe surtou e começou a sonhar com meu pai. Ele era exatamente com Jonas no livro, e minha mãe Melinda era a própria mas aos 16 anos como no livro. Não tem nada a ver com Leda. Mas, sim os meus pais. - Ele responde e eu fiquei sem reação, perdida totalmente no que responder a ele. Coloquei minha mão sob a dele e sorri mostrando que estava ali para o que ele precisasse. Ele colocou sua outra mão sob a minha. Logo o rapaz entrou ao palco para apresentar o primeiro escritor da noite. Estralamos nossos dedos e todos ficaram quietos.

13 pessoas já haviam passado por aquele palco e Miguel Ángel chamou por Carlos Daniel na esperança dele estar ali - o que por sorte estava. Carlos Daniel se levantou e caminhou até o palco enquanto todos o aplaudiam, inclusive eu. Se sentou no banco e falou por uns minutos, até que decidiu ler uma poesia que havia escrito aos 17 anos.

Essa é uma velha história
De uma flor e um beija-flor
Que conheceram o amor
numa noite fria de outono

E as folhas caídas no chão
da estação que não tem cor
E a flor conhece o beija-flor
E ele lhe apresenta o amor

E diz que o frio é uma fase ruim
Que ela era a flor mais linda do jardim
E a única que suportou
Merece conhecer o amor e todo o seu calor

Ai que saudade de um beija-flor
Que me beijou depois voou
Pra longe demais
Pra longe de nós

Saudade de um beija-flor
Lembranças de um antigo amor
O dia amanheceu tão lindo
Eu durmo e acordo sorrindo.

Logo depois se levantou e agradeceu a todos e voltou a se sentar do meu lado. O garçom novamente volta e nos traz o prato que pedimos as pessoas iam ao palco para falar mas estávamos concentrados apenas em nós mesmos. Eu não sabia o que iria acontecer depois dali, mas fosse o que acontecesse eu estaria preparada para ficar com ele.

Depois nos levantamos antes de acabar todas as poesias e fomos para o seu apartamento, tomamos mais alguns copos de vinho e ficamos sentados ao seu sofá nos beijando, ele me pegou ao colo e me levou para o seu quarto, e me deitou na cama me enchendo de beijou, ok eu não estava tão preparada assim como eu pensava.

— Será que você pode esperar? É que... Ainda não estou pronta. - Respondi a ele.

Paola...

Recebi um telefonema de minha avó que dizia que Joshua iria me esperar amanhã bem cedo na faculdade, e eu não estava preparada para isso. Peguei minha bolsa e dei um beijo em Douglas e fui para a faculdade na aula preparatória, entrei no carro de Douglas que me emprestou e dirigi até a faculdade, ao chegar fiquei ainda nele sem saltar para fora. Respirei fundo 400 vezes, o sonho que eu tive que eu sempre tive não estava totalmente realizado. Eu tinha o Douglas, uma ótima família. - Bom, quase uma ótima família. - Ótimos amigos mas não tinha uma carreira boa. Saí do carro e entrei na faculdade e procurei a sala, Joshua me acompanhou quanto mais ele falava menos interessada eu ficava.

Tentei me concentrar mas era difícil com Joshua resmungando ao meu lado e diminuindo todos os outros alunos. 4 horas depois ao sair da faculdade, fiquei dentro do carro esperando forças para voltar ao apartamento e novamente reclamar ao Douglas que não era isso o que queria e ouvir de Paulina que eu devesse me impor. Então não tive outra escolha. E decidi ir para bem longe, e fugir dos meus avós e pais, principalmente. Decidi que iria fugir. Olhe ao redor os únicos que conquistaram seus sonhos eram Douglas e Carlos Daniel. Jilian queria ser cirurgiã mas não seria. Paulina está quase a ponto de realizar o trabalho que queria menos o amor. Porque por mais que ela o ame e sabemos que ela ama Carlos Daniel, ela não se permite amar. E eu? O que tinha além de medo deles? Nada.

"Talvez nós aceitamos que o sonho se tornou um pesadelo. Dizemos a nós mesmos que a realidade é melhor. Nos convencemos que é melhor que não sonhemos nunca. Mas, o mais forte de nós, o mais determinado se mantém apegado ao sonho ou então nos encontramos contra todas as probabilidades, nos sentindo esperançosos. E, se somos sortudos, nos damos conta no limite de tudo, no limite da vida que o verdadeiro sonho é apenas ter a habilidade de sonhar."