"Chegamos a um ponto em nossas vidas em que nos tornamos oficialmente um adulto. De repente, já temos idade suficiente para votar, para beber, e para integrar outras atividades adultas. De repente, as pessoas esperam que voce seja responsável, sério… um adulto. Nós ficamos mais altos, nós ficamos mais velhos. Mas será que nós realmente crescemos?

[…]

Recebi uma ligação do Carlos Daniel nesta manhã enquanto estava na livraria, ele havia me dito que comprou uma casa para ele e finalmente se livrou daquele apartamento pequeno que não cabia seus livros, dei risada pela felicidade dele, logo ele me soltou uma nova surpresa - havia uma biblioteca em sua nova casa. Ok, agora me interessou ainda mais. Me convidou para ir lá esta noite em sua casa e eu aceitei.

Quando estava prestes a fechar a livraria, Mark adentrou e foi até o balcão onde eu estava, mas ainda não o vi, estava de costas arrumando os livros e antes que pudesse pensar ser ele - por eu ter sido grossa no dia anterior, ele tossiu e eu me virei, um dos livros caiu ao chão me agachei para pegar e fui até o balcão respirei fundo.

— Não somos amigos, não somos namorados, amantes ou coisa do tipo. Eu queria ser pelo menos seu amigo, sim Paulina eu queria sair com você muito mas então você me mandou vir no dia seguinte com um café expresso, eu vim na hora e o que você fez? Ao invés de me dispensar presente mandou sua irmã gêmea falar comigo, o que achou que eu não sabia? Achou que eu não iria perceber que ela usava termos como "tipo, e daí" ou que ela usava brinco e naquele dia ou em todos os outros como agora você não está de brinco? Eu não liguei, sabe por quê? Porque não era mesmo da minha conta, e eu sou um cara que não guarda rancor, eu sou otimista, eu sou legal, sou engraçado, sou bonito e sou inteligente. Posso não ser rico e pagar aluguel, mas eu me importo com as pessoas sim, e mesmo assim queria ser seu amigo. Quando te vi no carro com o homem fiquei preocupado sim, pois eu jamais imaginaria ver uma cena de você de sutiã no carro dele. Mas, eu comentei com Jilian, Paola e Vanessa que estavam lá para elas irem te buscar só que não foram. Então sim, eu não sou seu amigo e também não vou me desculpar pelo que fiz. - Respirei fundo e coloquei o livro na mesa.

— Mark, me desculpe. Eu não deveria ter sido tão grossa com você. Mas, esse é o meu jeito, eu não sou otimista, e eu conhecia o homem do carro só pra você saber. Então, me desculpe. - Respondi a ele que deu um sorriso e se despediu saindo da livraria. Guardei tudo e limpei, saí da livraria e ao atravessar a rua para ir ao apartamento me trocar e encontrar com Carlos Daniel.

Ao entrar vi Jilian com o som muito alto e estava dançando no meio da sala, dei risada e fechei a porta, ela nem se deu conta que eu estava ali me aproximei mais e tirei meu casaco. - JILIAN? - Gritei por seu nome e ela continuou dançando ao meio da sala. - JILLIAN? - Novamente grito, ela se vira e começa a pular, dei risada e ela grita a mim.

— VEM DANÇAR PAULINA. - Fiz que não com a cabeça me recusando a dançar, joguei as chaves na mesa da sala. - VOCÊ QUE SAI PERDENDO. - Ela grita novamente, retiro minha bolsa e vou a caminho da escada para subir e tomar um banho. Mas, a dança... Me chamou, voltei e comecei a pular com Jilian no meio da sala. Pulávamos e curtíamos o som que tocava sem motivo, até que em uma hora de muita dança.

(Essa imagem é de Grey's Anatomy - Meredith e Cristina)

A campainha tocou, parei por um momento de pular e caminhei até a porta, abri com um imenso sorriso e era Douglas, achei estranho deixei a porta aberta e voltei a pular na sala. - Entra aí. - Disse a ele. Ele veio até o centro da sala e me chamou uma vez mas o ignorei, até o momento que ele desligou o som, Jilian e eu paramos de pular e olhamos para ele tentando entender o por quê dele ter feito aquilo.

— Por que você tá sendo desagrádavel? - Jilian perguntou e se aproximou para ligar novamente o som, Douglas interferiu colocando a mão na frente, Jilian deu um passo para trás. - Ih, o que foi? Paola te dispensou e veio procura-la? - Ela pergunta, eu me arrumo e vejo que ele não respondeu nada.

— Douglas. - O chamo, ele olha para mim e retira sua touca azul. - O que aconteceu? Cadê a minha irmã? - Pergunto a ele que nos pede para sentar.

— Paola está aqui? - Ele pergunta, Jilian se senta mas eu continuo em pé, cruzo meus braços e estou ofegante pela dança.

— Não, por que? O que aconteceu Douglas? Não me diga que...

— Sim, Paola fugiu novamente. - Ele me respondeu. Me sentei e passei a mão no rosto limpando o suor.

— Ah, ela deve voltar daqui a pouco, pelo o que estou entendendo não é a primeira vez que Paola fugiu. - Jilian resmunga.

— Há quanto tempo ela tá desaparecida? - Pergunto.

— Quase 24 horas. - Ele me responde, me levanto e pego meu casaco e o meu clular tentando ligar para Paola mas só caia na caixa postal. - Eu achei que ela estaria aqui, já liguei para Adelina e agora a deixei preocupada, e amanhã é o jantar do aniversário do seu pai. - Douglas complementa. Droga, havia me esquecido do aniversário do meu pai, todo ano tem um jantar em casa, e agora?

— Gente, deem um tempo a ela. - Jilian diz e se levanta pegando seu celular que está ao lado da televisão.

— Você não está entendendo, Paola nunca ficou tanto tempo fora. Parece que tem 13 anos ainda. - Respondi e mandei uma mensagem, abro a porta para sair, Douglas colocou sua touca novamente, olhei para trás e Jilian estava parada ao centro da sala. - Você vem ou não vem? - Pergunto a ela ainda com o celular em mãos tentando falar com Paola.

— É claro que eu vou! Pra provar que ela está bem. - Jilian diz e pega seu casaco, Douglas estava de carro entramos nele e começamos a rodar a cidade, mas não havia muitos lugares para ela ir. Liguei para Adelina novamente e perguntei se Paola havia dado algum sinal de vida, ela estava aflita ao telefone negando ter recebido alguma ligação de Paola, pedi a ela para manter aquilo em segredo de nossos pais. Ela concordou, mas não por muito tempo.

Entrei ao carro com Douglas novamente e voltamos para a cidade perguntamos a algumas pessoas que rodeavam a faculdade se haviam visto Paola e ninguém ali a viu, voltamos para a nossa antiga escola e nada de Paola, o jeito era ir para casa novamente e ver a agenda dela de números dos amigos, mas ficava guardada numa gaveta trancada junto com seu diário de 13 anos. Pedi novamente ligando a Adelina que tentasse abrir aquela gaveta, ela concordou novamente desliguei o celular e a noite já estava caindo sobre nós. Recebi uma mensagem e abri o celular rapidamente para ver se era Paola, meu coração batia muito rápido pois já havíamos ido a todos os lugares possíveis que ela poderia frequentar. Era Carlos Daniel perguntando se poderia passar no apartamento e me pegar, ignorei ele totalmente quando em seguida Adelina me ligou dizendo ter conseguido abrir a gaveta com a chave que ela encontrou dentro do antigo urso de pelúcia dela que ela guardava dentro do guarda-roupas desde que começou o colegial, porém jamais pensaria em jogar aquele urso se não me engano de nome Caleb, era um urso pequeno que possuia apenas uma touca azul e um cobertor pequeno. Pedi a ela informações sobre a agenda e Adelina me passou uns contatos para que eu ligasse rapidamente, assim que desliguei contei a novidade a Douglas que riu a principio e resmungou "Ela parece uma criança perdida num parque de diversões que procura por ajuda e fica perdida sem saber com quem falar e para isso chora, esperneia" coloquei o número e estava prestes a discar, e de repente o desliguei.

— É isso. - Eu disse a ele, Jilian se estica para me ouvir e Douglas olha atordoado perguntando o que era. - Quando eu e Paola tínhamos 10 anos nos perdemos num parque.

— Sério? - Jilian pergunta.

— Sim, eu segurei em sua mão e ela me disse que se um dia se perdesse o nosso pai iria nos procurar nas barracas de doce, mas como ela não queria ficar com eles quando brigávamos, ela fugia para o lado contrário, e então ia para... Ah, como é mesmo o nome do local... Parque General San Martín. - Respondi a ele, Douglas começou a dirigir até o parque.

— Como você tem certeza que ela está lá? - Ele me pergunta.

— Eu não sei. Eu tô torcendo para que ela ainda esteja com esse pensamento de 10 anos. - Respondo.

Ao chegarmos no parque dentro de um tempo o local já estava escuro e fechado, Douglas começou a achar que ela não estava lá, e conhecendo Paola ela deveria ter se escondido em qualquer canto, Jilian deu um passo a frente e escalou o portão para pular. - Desce daí, eu vou você fica. - Digo a ela que já está chegando na parte de cima do portão.

— Vai ficar discutindo comigo ou vai vir procurar sua irmã? - Ela me pergunta, Douglas começa a escalar e não há outra opção e então escalo e vejo Jilian pular, ela coloca sua mão em sua barriga e respira fundo, logo Douglas pula e acende a lanterna do seu celular, assim que pulo torço o meu pé, mas mesmo assim me levanto e vou andando - ou tentando - até Jilian, ela encosta no portão. - Teoricamente isso seria mais fácil. - Ela me diz, olho para o meu pé e Douglas se aproxima de nós, faço um sim em concordância com ela que agarra minha nuca e eu suas costas e juntas - quase caindo - começamos a andar pelo parque a procura de Paola.

— Douglas, seu carro não tem GPS? - Pergunto.

— Tem. Quero dizer tinha, aquele carro é antigo. Retirei o GPS porque iria vender o carro, mas Paola insistiu para eu ficar com ele. - Ele me responde e ainda com sua lanterna acesa na esperança de achar Paola. - PAOLAAAAAA. - Ele grita, mas só ouvimos o som de corujas, fomos por um outro caminho e encontramos um guarda que nos pegou andando por lá, colocou a lanterna em nossos rostos e não enxergávamos direito.

— O que estão fazendo aqui? - Ele nos pergunta e caminha para mais perto de nós. - Não é hora de jovens estar aqui.

— Desculpe, mas minha irmã se perdeu e achamos que ela está por aqui. - Digo a ele e Jilian me solta, me arrumo e começo a andar na ponta dos pés.

— Impossível, o parque fechou há 3 horas, somente eu estou aqui.

— Ah, então o senhor está nos dizendo que somente você está aqui nesse imenso parque de noite? - Jilian pergunta, Douglas desliga a lanterna e guarda o celular no bolso.

— Sua irmã não é? - O guarda me pergunta depois de encarar Jilian.

— Sim, minha irmã e namorada dele. Achamos que ela fugiu para cá. - Respondo, o guarda concorda em nos ajudar, e depois de dar mais uma volta no parque gritando pelo seu nome, vimos algo perto da árvore parada ali em frente. Chegamos mais perto ainda, em silêncio com medo de ser algo, deixando apenas o guarda ir na frente, mas Douglas acaba pisando num graveto e a pessoa se senta no chão, reconheço o cabelo é de Paola, digo a Douglas que chega mais perto dela.

— Paola? - Ele pergunta, eu e o guarda junto com Jilian ficamos esperando, meu pé continua doendo, Jilian fica comigo para me ajudar.

Paola...

— Você sabia que as árvores é tipo os seres vivos mais velhos do planeta? Eu li uma vez alguns artigos sobre árvores, e vi uma a única na verdade que eu me lembre que tem 3.620 anos. É legal não é?

— Paola, por que você fugiu? - Douglas me perguntou e se sentou ao meu lado, encostei minha cabeça em seu ombro, ele me abraçou e começou a fazer carinho no meu cabelo.

— Amor, sabe o que andei pensando? Que deveríamos morar num local afastado da cidade. Quer se mudar comigo?

— Paola? Seus pais nos matariam. - Douglas me responde.

— E daí? Eu sou livre agora, tenho quase 19 anos, vou procurar um emprego, eu tenho um namorado e divido um apartamento com ele. Podemos largar tudo isso. Estou desistindo eu acho Douglas, eu não estou mais suportando meus pais, suportando não fazer nada da vida, não ter forças pra lutar. Eu sou nova ainda e tudo o que fiz foi sair, dançar e beber.

— Você sabe que eu sempre estarei aqui. Paola... Amor, não fique desanimada por causa dos problemas que está enfrentando hoje, haverá muitos outros problemas, você não pode resolve-los fugindo toda vez que não der para encarar um. O mundo dá voltas e, com certeza, chegará o dia em que as coisas vão melhorar. Você só precisa ser forte até que este dia chegue. Eu vou estar com você para ajuda-la a enfrentar tudo. Só que você tem que parar com isso, pare de fugir.

Fiquei sem falas para Douglas no momento ele beijou minha mão fria pelo frio e me abraçou ainda mais, deixei que uma lágrima minha caísse e ele me levantou logo em seguida.

— Deve seguir seus sonhos Paola, e que se danem as consequências.

Paulina...

Demorou quase 10 minutos para Paola se levantar e vir até nós, perguntei a ela como estava e deu um sorriso apertando a mão de Douglas respondendo estar bem, olhei para Jilian que piscou para mim e deu um tapa em Paola.

— Ei! - Ela grita e coloca a mão no braço que Jilian bateu. - Doeu. - Ela complementa, o guarda dá risada.

— Sabe o que está doendo, minha barriga, o meu filho está faminto, eu estou faminta, Paulina torceu o pé, pulamos o portão do parque, Douglas estava desesperado e parece que sua babá Adriana também.

— Adelina. - Resmungo, Jilian olha para mim. - Desculpe. - Digo a ela. - Por que fugiu Paola? - Pergunto e Jilian me segura para não cair.

— Precisva pensar. Não se preocupe não vou mais fugir.

— E se fugir... que não seja num lugar que tenha um portão tão alto. - Respondo, o guarda me ajuda também com Jilian e vamos para fora do parque, Douglas perguntou onde estava o carro que ele emprestou a ela e ele foi buscar enquanto esperávamos no outro carro.

— Paulina, Jilian... Me desculpe pela dor. - Paola nos diz se sentindo culpada.

— Eu queria beber agora. - Jilian responde, uma forma dela ter desculpado Paola, que dá um sorriso e se senta ao nosso lado na calçada.

— Paola, falo isso porque me importo com você. Você é minha irmã, a única que eu tenho, eu não quero ter que ir dormir pensando se você está em casa, ou está tendo problemas no relacionamento. Se foi beber com seus amigos, e principalmente se fugiu. Você deve parar com isso e começar a enfrentar, sendo fácil ou não. Porque independente de tudo você tem nós que sempre estamos com você. Eu não sei o que seria de nós se não encontrássemos você aqui nesse parque, eu sempre te protegi, eu sempre fiquei do seu lado tenha só um pouco de juízo por favor! Eu amo você e não quero ter que acordar no meio da noite e ouvir que você sumiu, ou que aconteceu algo pior. - Digo a ela e Douglas chega na hora, nos levantamos, dou um abraço em Paola que dá um sorriso.

— Você tá me dando um abraço mesmo assim do nada? - Ela me pergunta.

— Não se acostuma. - Eu respondo, Paola olha para Jilian que caminha até o outro carro do Douglas.

— Não olha para mim, não vou te abraçar. - Jilian diz a Paola, que entra no carro onde Douglas está, e Jilian iria levar o carro de Douglas até o nosso apartamento ele buscaria no dia seguinte. Passamos num hospital depois e cerca de duas horas ele colocou uma tala em meu pé pedindo repouso total, quando o relógio batia 1h da manhã chegamos no apartamento, desci do carro e vi Carlos Daniel na escada sentado, ele vem ao meu encontro e me ajuda a entrar no apartamento.

— Carlos Daniel, eu me esqueci totalmente, me desculpe. - Eu digo a ele, Jilian entra ao apartamento logo em seguida e vai para o seu quarto, ele fecha a porta, e eu me sento para relaxar um pouco.

— O que aconteceu? - Ele pergunta e se senta ao meu lado, e logo se levanta novamente me ajuda a colocar meu pé no sofá para me deitar e fica de pé ao meu lado.

— Minha irmã Paola... Ela fugiu ontem e não havia voltado, fui procura-la e só achei ela há umas duas, três horas atrás. Eu ia te ligar.

— Mas, não ligou.

— Não... Eu esqueci.

De algumas maneiras, nós crescemos: nós temos famílias… nós casamos, divorciamos… mas na maior parte das vezes continuamos com os mesmos problemas de quando tínhamos 15 anos.

Paola...

Assim que chegamos no apartamento liguei para Adelina que estava muito preocupada, expliquei a ela tudo o que aconteceu e me desculpei.

— Cansei de passar por isso dona Paola, a senhorita tem 19 anos e age como um bebê. - Adelina me disse, e quando falava assim era porque estava realmente muito magoada comigo.

Paulina...

— Olha Carlos Daniel, me perdoa. Se quiser terminar eu vou entender. - Digo a ele que se senta na mesa de centro da sala e pega em minha mão.

— Acha que eu vou fugir de você? Se foi este o motivo eu fico com você. - Carlos Daniel me respondeu e deu um beijo em minha mão, dou um sorriso para ele, me lembrei de quando eu e Ian discutíamos, ele saia e batia a porta com força, no outro dia no colégio ele me pedia desculpas. Carlos Daniel, ficou.

— Amanhã vai ter um jantar na casa dos meus pais, aniversário do meu pai. Então, amanhã também eu não vou poder sair com você. - Digo a ele.

— Eu vou com você. - Ele responde.

— O que?

— Sim, acho mesmo que está na hora de conhecer seus pais. - Carlos Daniel me responde.

"Não importa o quanto cresçamos, envelheçamos… Nós ainda estamos sempre tropeçando… sempre imaginando, sempre… jovens.”