Capítulo III – Bestas e namoros

05 de novembro de 2009

Por que eu tenho a impressão de que, com a descoberta de minha \"vocação\", escreverei aqui com mais freqüência? Talvez porque é um fato concretamente proporcional – mais coisas acontecendo, mas coisas pra contar -, ou talvez porque na minha segunda patrulha já sinto que poderia morrer de tanto cansaço. Psicologicamente falando, é claro, porque meu corpo fica mais forte conforme luto.

Esta noite, eu só encontrei Trip no cemitério. Nathan não fora à escola nem ligara nem nada, o que me leva a concluir que está bem. O que foi? Notícia ruim corre depressa, sabia? Bem, como eu dizia, encontrei Trip no cemitério, perto da mesma tumba em que vimos aquele demônio.

-E aí? – ele se virou para mim.

-Não viu nada de suspeito? – perguntei, olhando ao meu redor.

-Nenhum vampiro – deu de ombros, vagamente.

Eu odeio quando as pessoas me deixam no vácuo.

-Nenhuma... coisa esquisita e mais forte que um vampiro? – reformulei, revirando os olhos.

-Não – novamente, ele foi vago.

Já vi que ser aéreo e despreocupado daquele jeito era uma qualidade que ele tinha de sobra. Suspirei, me conformando.

-E Matthew? Como ele...

-Ele vai ficar bem. Só está morrendo por causa de uma dor nas costas – ele deu de ombros, como se não importasse.

E realmente, depois de ver o vampiro que vinha até mim numa velocidade incrível, a dor nas costas de Matthew não importava muito. Eu revirei os olhos de novo e fui até ele, a estaca em punho. Mas ele foi esperto e se abaixou quando mirei para seu peito, segurando minhas pernas e me fazendo perder completamente o equilíbrio. Antes que pudesse me levantar, ele virou fumaça.

-Obrigado – bati o pó da minha roupa, aceitando a mão que Trip me oferecia para levantar.

-Eu trouxe a bolsa da Caçadora – disse – Nós podíamos começar a treinar, não acha?

-Aqui mesmo? Agora mesmo? Assim mesmo? – perguntei, me atrapalhando toda.

Ótimo, Anne. Está segurando a mão de loiro lindo de morrer, que está doido pra lutar com você – lutinhas corpo a corpo, creio – e o que você fala? \"Aqui mesmo? Agora mesmo? Assim mesmo?\". Tem sorte de ser bonita por fora, porque o cérebro já se perdeu.

-Se você quiser começar agora. Ou podemos ir para outro lugar – ele sorriu torto, arqueando uma sobrancelha.

-Você quem sabe – se aquela coisa maravilhosa chamada Tristan queria me levar para outro lugar, quem era eu para contestar?

-Então – NÃO! Eu não acredito que ele estava puxando a bolsa da Caça-Vampiros e tinha desistido tão fácil de me tirar dali! – Pegue isso.

Ele me jogou uma estaca de borracha. Encarei-o, confusa.

-Você não vai me estaquear – disse, simplesmente, encolhendo os ombros – Matthew diz que noventa por cento de ser a Caçadora é esperar (N/Fani: quem lembrou do Giles? *.*). Pode até ser, mas a parte mais importante são os outros dez.

Ele saltou para cima de mim, me fazendo recuar rapidamente, por reflexo. Soltei um gritinho agudo, porque não pensei que ele viesse pra cima de mim. Pensando dessa forma, deixe-me fazer uma observação: O QUÊ? EU RECUEI? O QUE DIABOS EU ESTAVA PENSANDO?

Eu o encarei por um momento, notando que ele parara em pé com leveza e estávamos a uma distância de menos de dez centímetros de mim. Senti um calafrio me percorrer a espinha e segurei com mais força a estaca de borracha em minha mão, fazendo-a se rasgar com minhas unhas compridas.

-Você deixaria um vampiro chegar tão perto de você? – perguntou, olhando dos meus olhos para minhas mãos.

-É claro que não – resmunguei, corando – O que eu devo fazer? Imaginar que você é um vampiro?

Tristan olhou confuso para mim, depois riu.

-Mais ou menos isso – respondeu, num tom mais cauteloso, me mostrando que suas defesas já estavam preparadas.

Respirei fundo, sentindo seu perfume cada vez mais forte. Oh, ele cheirava TÃO bem! Sorri pra mim mesma e corei de novo, indo pra cima dele. Trip desviou da estaca furada, me dando uma joelhada na boca do estômago. Aquilo doeu, mesmo eu tendo plena noção de que não era toda a sua força. Segurei por instinto a barriga, soltando um gemido rouco. Ele me olhou com a testa franzida e se aproximou para me ajudar.

Quando chegou perto o suficiente, eu o chutei na altura do peito e lhe empurrei contra um túmulo, deixando-o deitado. Apontei então a estaca para seu peito, sorrindo triunfante.

-Um vampiro não pararia pra te ajudar – falou, se sentando.

-Mas ele iria me matar, não é? De qualquer jeito, chegaria perto o suficiente – aumentei meu sorriso.

-Enfim – ele deu de ombros, fazendo beicinho – Você pode aprender a mexer com a besta.

-Aquele troço estranho? – meus olhos brilharam.

Trip concordou com a cabeça, abaixando-se sobre a bolsa da Caçadora de novo e tirando de lá a besta. Eu me controlei pra não dar pulinhos animados; desde que a vi, achei a arma mais legal que eu poderia um dia aprender a usar.

-As fechas são de plástico, também. Dispara aqui – ele me entregou a besta, mostrando o gatilho (gatilho? É essa a palavra certa?) – Pode acertar em mim sem medo.

Trip abriu bem os braços e ficou a uma distância de dois metros de onde eu estava. Levei a coisa à altura dos olhos e mirei em seu peito. Ou ao menos achei ter mirado. A flecha voou por cima de dois túmulos e não passou nem perto de Tristan. Fiz uma careta. Mirei novamente e, desta vez, foi a mais de três túmulos. Ele revirou os olhos, vindo na minha direção.

-Eu não acredito que vou ter que te ensinar a mirar – eu estreitei os olhos.

É claro que eu não sabia mirar. Nunca atirei em ninguém, com besta ou sem besta. Tristan deu a volta e se posicionou atrás de mim, segurando minha cintura firmemente com uma só mão. Fiquei tão nervosa que nem consegui olhar para trás. Ele riu rouco em meu ouvido e, com a outra mão, pegou a minha sob o gatilho da besta.

-Mire um pouco para a direita – sussurrou, botando mais força em seu aperto e colando nossos corpos – E você está assistindo muito filme de ação, não precisa fechar um olho.

-Certo – murmurei; é impressão minha ou eu comecei a suar frio?

-Tente agora – não pude conter um suspiro de desapontamento quando ele me soltou e foi até o lugar em que estava antes.

Mirei um pouco para a direita com os dois olhos abertos. Mas estava tremendo tanto, que errei o alvo. Por uma distância mínima de milímetros, penso, mas mesmo assim errei. Irritada, bufei e joguei a besta no chão, cruzando os braços. Trip riu, voltando até mim.

-Vamos tentar mais uma vez, certo? – e ele foi pra trás de mim de novo.

Oh meu Deus, oh meu Deus, oh meu Deus, eu vou morrer.

-Mire naquela cruz, ali – mostrou, num túmulo próximo – Lembre do que eu disse, um pouco pra direita...

-Okay – balbuciei, aquele perfume delicioso invadindo minhas narinas.

A mão que estava no gatilho se preparou para atirar. E então eu acertei. Ou melhor, ele acertou, porque eu estava tremendo demais para acertar qualquer coisa que não tivesse a ver com aquele perfume. Ouvi-o rir rouco, soltando minha mão (a que estava outrora no gatilho) para segurar com ambas as suas a minha cintura.

-Pode tentar sozinha? – perguntou.

-Mais uma vez, sim? – sorri, sentindo a mão largar-me e voltar ao gatilho.

E eu parei de tremer. É, eu parei, do nada. Ou foi aquele apertão na cintura que provavelmente ficaria roxo no dia seguinte? Não sei dizer. Só sei que eu tive plena consciência de que Trip colocara novamente as duas mãos em mim (isso me lembra Titanic, a Rose dizendo \"põe a mão em mim!\" na parte hot do carro) e atirei. A flecha de borracha bateu no centro da cruz de ferro .

-Não é tão difícil, é? – Tristan sorriu – Se importa em virar de frente?

Naquela distância minúscula que estávamos, eu, virar de frente e ficar com o rosto quase colado no dele? É claro que eu não me importava!

Sem me soltar, ele me girou nos calcanhares, me puxando ainda mais para perto. Um sorriso que achei incrivelmente sexy coloria sua pele branca, quase me fazendo suspirar. Coloquei as duas mãos em seu peito (oh meu Deus, eu senti aquele peito duro de tanto músculo!) e o encarei.

-Chegue mais perto – O QUÊ? ERA POSSÍVEL?

-O que...

-Eu quero ver se seu namorado faz alguma coisa se eu me abaixar pra te beijar – sussurrou, suas mãos passando levemente por minhas costas.

-Namorado? Nathan? Onde diabos ele está? – perguntei, baixinho, olhando disfarçadamente para os lados.

-Atrás do túmulo cuja cruz acertamos duas vezes, te vigiando desde que você pegou na besta – ele crispou os lábios, sem deixar de sorrir.

-Idiota – assoviei, cravando as unhas em seu peito – Por que não me disse antes?

-Porque você estava indo bem – obrigado, mas você continua sendo um idiota, Tristan – E aliás, eu tinha esperanças de que um vampiro o pegasse.

Eu bufei e tentei empurrá-lo, mas ele me segurava realmente com firmeza. Okay, teria que recorrer a minha força de Caçadora. Segurei seus braços e torci-os, fazendo-o comprimir um gemido. Então o chutei nas partes baixas (digamos que eu não precisava ser a Escolhida pra fazer isso, não é?) e saí dali calmamente, caminhando até onde supostamente estava Nathan.

Ouvi a grama se mexer e no instante seguinte, não havia ninguém ali. Pude ver o rastro que seu tênis deixara, indicando que estava indo para o portão do cemitério. Revirei os olhos para mim mesma, correndo para alcançá-lo. Quando o fiz, ele já estava na esquina.

-Oi – disse ele, sorrindo inocentemente, mas arfando.

-O que você está fazendo aqui? – perguntei, irritada.

-Só dando uma volta, sabe...

-Você é um idiota – eu resmunguei, segurando-o pelo colarinho da blusa – Pode parar de vir até aqui de noite?

-Não precisa abusar da força, Anne – disse Tristan, atrás de mim, chegando emburrado – Ele só estava cuidando do que é dele.

-Nada aqui é dele! – exclamei, soltando-o.

-Fora o seu coração, Caçadora – murmurou o loiro, jogando os cabelos para trás. Olhei instintivamente para Nathan, que pareceu não ter ouvido.

-Vocês são dois idiotas – falei, empurrando Nathan para longe do meu caminho e começando a marchar o caminho pra casa.

E cá estou eu, patrulha sem terminar, emburrada com os dois caras mais lindos que eu já vi. Meu bico está quase alcançando três metros, mas e daí?

Se eu vou salvar o mundo milhares de vezes, mereço o direito de poder ficar brava com alguém.

Por: Anne White.

Manhã do dia 07 de novembro de 2009

Oh meu Deus. Oh meu Deus. Oh meu Deus. Oh meu Deus. OH MEU DEUS!

O que aconteceu, é inacreditável, oh meu Deus, ainda estou tremendo.

Eu cheguei em casa e comecei a escrever aqui o que tinha acontecido. Depois que terminei, descansei minha cabeça e dormi. Exatamente meia hora após cair em meu tão merecido sono, fui BRUSCA e VIOLENTAMENTE acordada por uma pedra do tamanho de uma pelota batendo contra o vidro de minha janela e o quebrando. Do jeito que estava, levantei-me e corri para ver o que estava acontecendo no meu jardim.

-ANNE! – quase morri quando vi Trip lá embaixo, gritando meu nome, os cabelos loiros balançando conforme o vento batia em seu rosto.

-VOCÊ QUEBROU A MINHA JANELA! – berrei de volta, irritada.

Eu podia ouvir o barulho de mamãe levantando para ver o que estava acontecendo. Droga, nós estávamos tão ferrados. Ou melhor, eu estava tão ferrada.

-SAIA DAQUI! – entrei em desespero quando a porta do quarto de meus pais se abriu – SAIA DAQUI AGORA!

-NÃO POSSO! – ele empurrou os cabelos para longe dos olhos de um modo irritado e, como fizera na noite em que nos conhecemos, deu um salto e sentou-se no parapeito da janela quebrada – Eu não posso sair daqui enquanto não te levar para terminarmos a patrulha.

-Eu não vou fazer patrulha nenhuma agora, Tristan! – reclamei, abaixando o tom de voz – Você precisa sair daqui, agora.

-Anne, querida – ele foi sarcástico, percebi – Vamos, vamos. Eu não posso sair daqui sem você e, quando eu digo isso, quero dizer que são razões místicas que nenhum de nós entenderia.

-Minha mãe está vindo pra cá! – exclamei, beirando o desespero.

É sério, eu tenho uma sorte imensa dos quartos serem super distantes um do outro, ou estaria permanentemente morta.

-Eu posso entrar? – perguntou, erguendo uma sobrancelha sugestivamente (o problema é que eu não tinha tempo para sugestões – Sabe, me esconder embaixo da sua cama...

-É claro que você não vai entrar no meu quarto! – retruquei.

-Então estamos ambos ferrados – Trip cruzou os braços e se espreguiçou, calmamente.

Estava a ponto de lhe dar um soco no nariz quando ouvi a fechadura de meu quarto girar.

-Entre e se enfie embaixo da cama – sibilei.

Como um rastro na neve, ele passou por mim e sumiu. Seus dedos tamborilando impacientemente no assoalho me contavam que estava mesmo embaixo da cama. Olhei para a porta e a vi se abrir. Mamãe entrou com uma expressão preocupada no rosto.

-Quebraram o vidro – sussurrei, sentindo a mão de Tristan pegar meu tornozelo para me mostrar que estava soando suspeita – Eu gritei para ir embora, mas não vi ninguém lá embaixo.

Ela franziu o cenho e se aproximou do parapeito, olhando para o nada. Eu contive um suspiro de alívio quando se voltou para mim. Minhas mãos tremiam, por isso coloquei-as para trás.

-Você quer se mudar para o quarto de hóspedes esta noite? Para não dormir com a janela aberta? – perguntou-me. Sorri aliviada.

-Não, eu posso ficar aqui. Não gosto de dormir longe do meu quarto – ela sorriu pra mim, me deu um beijo na testa e saiu.

Suspirei, me sentando na cama. Debaixo dela, Tristan saiu lentamente, batendo a poeira da roupa preta que usava.

-Eu tenho mesmo que sair? Sabe, o frio está de matar – comentei.

-Não está frio – ele encostou a mão gelada no meu braço, me fazendo estremecer – Mas você tem que ir. Eu já encontrei uns dois vampiros pelo caminho.

-Okay, eu vou pegar meu casaco – resmunguei, levantando-me e abrindo a porta do guarda-roupas – Mas eu preciso voltar até o sol nascer.

-Eu também – assoviou ele.

-Seus pais vão ficar muito irados se você não chegar em casa? – indaguei, vendo que ele provavelmente ainda tinha pais.

-Eu não tenho mais pais – resmungou, sorrindo torto pra mim.

-Oh, eu sinto muito – murmurei, envergonhada por ter perguntado – O que aconteceu?

-Vampiros – ele deu de ombros – Não se preocupe com isso – disse, ao ver minha expressão de pêsames – Está tudo bem, certo? Agora vamos.

Concordei com a cabeça e pulei a janela, sendo logo imitada por ele. Caminhamos em silêncio até o cemitério, ele com as mãos nos bolsos assoviando uma música alegremente; eu segurando duas estacas, uma em cada mão, a besta escondida dentro do casaco e os cabelos voando em todas as direções possíveis.

-Seu namorado me encheu de perguntas – contou, quando chegamos ao portão do cemitério – Ele é irritante, não?

-Às vezes – concordei, corando.

Ignore o fato de que tudo e qualquer coisa que tenha a ver com Nathan ainda me deixa vermelha.

-Disse que iria para casa e falava com você depois, mas eu sei que está rondando por aqui – resmungou Trip, num tom irritado.

-Ele é um idiota, de vez em quando – falei, mordendo o lábio para não sorrir.

Lembrei-me que ainda estava brava com ele. Muito, muito brava. Estava até pensando na idéia de matá-lo, já que tinha toda aquela força e tal. (Matá-lo de beijos, abraços, afagos...).

-Ele está nos vigiando – disse ele, como se fosse a coisa mais normal do mundo – Eu sei que está, só não sei de onde.

-Como sabe? – perguntei.

-Eu posso sentir seu cheiro – contou, com um sorriso torto.

-Por que você pode sentir o cheiro de uma pessoa e eu não posso sentir nada? – resmunguei, bufando – Eu queria ser igual a você. Só que com a minha força mesmo.

-Se você soubesse o quanto é complicado, não iria querer ser igual a mim – Trip me encarou, fazendo com que eu me perguntasse novamente por que seus olhos eram tão vazios.

-Talvez eu quisesse – retruquei, cruzando os braços.

-Quando começar suas aulas com Matthew, nem vai querer mais patrulhar ao meu lado – resmungou, olhando para todos os lados – Ali, atrás da moita. Está vendo, os cabelos?

Apertei os olhos e vi, claramente, os cabelos de Nathan misturados com galhos e folhas. Revirei os olhos, voltando-me para Tristan.

-Eu vou falar com ele – declarei – Pode segurar as pontas sem mim, enquanto isso, Trip?

-Vou fazer o meu melhor – ele sorriu, caminhando lentamente para o outro lado, voltando a assoviar.

-Nathan! – chamei, me aproximando de onde ele estava – Nathan, pode parar de ser um idiota tão grande? Imbecil.

-Eu não sou um idiota e muito menos imbecil – resmungou Nathan, levantando-se.

-Ah é? E por que está aqui ainda, depois de tudo o que vimos ontem? – perguntei, arqueando as sobrancelhas.

-Por que você está? – retrucou.

-Porque eu sou a Caçadora. Caçadoras caçam em cemitérios. É parte da tarefa da Escolhida. E você, é o quê? – eu soei grossa e tinha plena noção disso, mas e daí?

Se Tristan estivesse ali, diria: \"Ele é o namorado da Escolhida\". Mas, graças a Deus, ele não estava.

-Eu não posso ficar parado sabendo que você está correndo perigo. Preciso fazer alguma coisa, Anne – oh, que docinho!

-Tipo, andar escondido em moitas e acabar sendo encontrado por algum vampiro? – indaguei, séria – Nathan, eu estou dizendo que não é o seu lugar.

-Não é o meu lugar? Eu nem posso acreditar que existem mesmo as Caçadoras. Anne, você é uma lenda! – exclamou – Assim como são os vampiros.

-Eu vou perguntar de novo: por que está aqui? – respirei fundo e contei até dez, vendo aquele par de olhos brilhando no escuro pra mim.

-Eu... – sem me controlar, dei alguns passos na sua direção – Eu não posso deixar você enfrentar aquelas coisas sozinha.

-Trip pode me ajudar e você pode ficar seguro – respondi.

-Ah, é claro! Peça ajuda ao Tristan, sempre o...

-Hei, eu posso confundir isso com ciúmes – murmurei.

Quase morri quando ele se aproximou de mim, deixando-nos a milímetros um do outro, e passou o braço por minha cintura, me abraçando terna e protetoramente.

-Ciúmes? – perguntou, baixinho.

-Você gosta de mim? – sussurrei.

Ele me encarou, um sorriso brincando em seus lábios perfeitos.

-Eu gosto de você – Nathan disse, puxando-me para que eu deitasse a cabeça em seu ombro.

-Eu sempre soube – murmurei pra mim mesma, sorriso bobamente – Eu sou a Caçadora mais feliz do mundo, sabia?

-Quer dizer que agora eu sou o novo namorado da nova Caçadora? – ele riu, beijando o topo de minha cabeça ternamente.

-Quem disse que você é meu novo namorado? – eu levantei os olhos para ele.

E então nossos olhares se encontraram. Quando percebi, já estávamos nos beijando. Oh, Deus, aquilo era tão perfeito! (desconte o fato de ter sido em um cemitério apavorante). Eu ainda estou com um sorriso bem abobado, mas o que posso fazer? Foi simplesmente demais, tê-lo me envolvendo em seus braços e sua língua explorando minha boca.

-Eu preciso matar alguma coisa qualquer – falei; ele me encarou com as duas sobrancelhas arqueadas – Um vampiro ou algo assim, entende? Faz parte da patrulha.

-Quer que eu vá embora? – perguntou-me Nathan, fazendo bico.

-Seria bom.

Por vezes, eu odeio Tristan.

-Pode ficar – respondi, encarando aquele loiro gostoso (oh meu Deus, eu estou namorando! Preciso parar com esses pensamentos pervertidos com relação à Trip) de maneira irritada.

-Há dois vampiros nesse cemitério. Dos que precisa caçar, é claro – ele sorriu torto – Temos duas horas no máximo até encontrá-los e matá-los. Quem vai cuidar dele?

-Eu não preciso de cuidados! – exclamou Nathan.

-Ele está certo – murmurei – É melhor você ir.

Por que, me diga por que, eu sou tão besta?

-Mas...

-Ouviu o que ela disse, Playboy – Trip sorriu, triunfante.

Ignorei-o.

-Nathan, achei que já tínhamos conversado sobre isso – ele me olhou com cara de cachorro-que-caiu-da-mudança, então concordou com a cabeça – Obrigado.

Ele se inclinou e me deu um beijo breve nos lábios, ignorando as tosses forçadas de Tristan. Vi-o ir embora e tive vontade de dançar, mas sabia que era uma reação extremamente exagerada, portanto, deixei a dança para quando chegasse em casa.

-Pronto? Passou o ataque eu-estou-namorando-um-idiota? – perguntou Trip.

-Cale a boca – resmunguei, sorrindo e lhe dando um soco no braço (que era pra ser fraco, mas que o fez massagear a área atingida depois – Então, onde estão os vampiros?

-Eles estão juntos, por perto – murmurou, com uma expressão compenetrada.

-Pode ser mais vago? – revirei os olhos.

-Eu disse que precisávamos encontrá-los antes que nos encontrem, senhorita eu-sou-impaciente-demais-por-fazer-os-outros-virarem-fumaça – ele crispou os lábios, irritado.

-Quanto mal humor – murmurei pra mim mesma – Você não pode usar seu super faro e encontrá-los?

-É um pouco complicado encontrar vampiros assim, funciona melhor com humanos normais – ele deu de ombros – Eu só posso saber que estão por perto. Mas não tão perto assim, pois ainda não consigo ouvi-los.

-Okay – concordei, atenta.

A besta dentro de meu casaco começava a me incomodar. As estacas em minhas mãos começavam a fazê-las doer. Minha cabeça reclamava de cansaço e minhas pernas estavam querendo sentar.

-Quando eu entrar em ação – começou Trip, sério -, prepare-se para me ajudar, certo?

-Sim – eu estava começando a sentir o sangue de uma verdadeira Caçadora correr por minhas veias, com aquela adrenalina de matar.

Trip deu mais um salto daqueles (será que um dia conseguirei saltar como ele?) e jogou-se contra um vampiro, levando-o ao chão. Corri até lá, mas o segundo vampiro me puxou pelo pé e fui ao chão com um baque. Podia ouvir o barulho das folhas farfalhando um pouco à frente, onde Trip e o primeiro vampiro lutavam. Senti o \"meu\" vampiro subir sobre mim, os caninos à mostra.

Okay, jurei que iria morrer. Então lembrei que eu era a Caçadora por ali e era ele quem deveria me temer.

Dei um impulso para frente e fiquei em pé novamente (não tenho idéia de como fiz aquilo, mas eu fiz). Chutei o vampiro na cara (pasme, meu pé alcançou!) e ele preparou-se para atacar, mas fui mais rápida e joguei-o contra o chão. Montei agilmente em cima dele e cravei a estaca em seu peito, fazendo-o virar pó.

Tristan ainda lutava, mas eu estava longe demais. Ah, lembrei então que estava com a besta. Peguei-a, mirei um pouco para a esquerda e mantive os dois olhos abertos. Atirei e o vampiro urrou, virando-se para mim e explodindo numa nuvem de fumaça. Ele me encarou, o rosto pálido com um corte pequeno.

-São só esses? – perguntei, estendendo-lhe a mão.

-Acho que sim – concordou, passando a mão pela bochecha machucada – Droga, eu estou sangrando.

-Isso não poderia atrair mais vampiros, poderia? – era uma curiosidade, não uma preocupação.

-Creio que não há nenhum em um raio de... dois quilômetros – ele deu de ombros, as vestes sujas de poeira – Ótimo, vou demorar séculos para tirar a poeira dessa roupa.

Ao contrário do que usava nas outras duas noites, ele não vestia a blusa vermelha nem a capa azul, mas estava inteiro de preto. É sexy, sabe, homens de preto. Mas deixa pra lá, eu estou namorando agora.

-Daqui a pouco vai amanhecer – disse Trip, olhando vagamente para o céu.

-Eu preciso voltar – murmurei, guardando a estaca no bolso.

-E eu preciso encontrar Matthew. Ele ficou pesquisando sobre aquela coisa que nós vimos, sabe – deu de ombros, me encarando com aqueles olhos verdes vazios – Acho que não conseguiu nada que já não soubéssemos, mas não custa perguntar, não é?

-Concordo – eu sorri – Bem, eu vou indo, então.

-Quer que eu te leve até sua casa? – perguntou.

Uau, quem diria que Tristan poderia ser todo prestativo um dia...

-Não precisa. Boa noite. Aliás, bom dia – corrigi.

Trip se inclinou sobre mim e me deu um beijo de despedida na testa, carinhoso. Eu tremi quando senti seus lábios frios encontrarem minha pele quente. Ele bateu levemente em meu ombro e se afastou devagar, me dando um bom tempo para observá-lo ir embora.

Oh, como eu posso ser tão promíscua e ficar olhando (admirando) Tristan, quando mal comecei a namorar Nathan?

Por Deus, o que deu em mim?

Mas é que Trip é tão... hot. Não fisicamente, é claro (ele morreu e esqueceu de ser enterrado, só pode), mas ele é... gostoso. Não estou dizendo que Nathan não seja gostoso, mas Trip é gostoso de uma maneira difer...

O QUE EU ESTOU DIZENDO?

Céus! Acho que já estou delirando.

Além de atrasada pra escola – eu juro que se não dormir bem essa tarde, eu vou arrancar a cabeça de alguém. De preferência, que não seja um vampiro.

Por: Anne White.