O Colar do Parvo

O Encontro com Melissa


Estávamos todos cansados, e com sono. E a sensação que tínhamos era de que aquilo ainda duraria algum tempo. Chegamos próximo a uma singela casinha, no meio do nada. Dali até a cidade não demoraria a chegar, disse Eduardo.

E falando em Eduardo, ele não desgrudava de mim, ele via que eu estava muito cansado, e por vezes, mesmo andando, eu fechava os olhos e parecia adormecer. Ele sempre insistia que nós devíamos parar um pouco, para que eu descansasse. Sara estava brava quando gritou com ele, dizendo que tínhamos que chegar a cidade e todos deveriam fazer sacrifícios. Mario estava super agitado, falando pelos cotovelos lembrando-se de sua infância.

– Mario, para de falar dessa maneira, quem vê você falando dessa forma, acredita que está indo para o matadouro.

Era difícil caminhar com aquele sono, com dor no corpo e ainda mais, minha cabeça doía demais, por conta da ressaca da bebida da noite anterior. Agora eu sei como Matheus se sentia toda vez que bebia e ficava ruim, no entanto eu estava ali para ajudá-lo, ele confiava em mim pra isso, por isso bebia. Ele não era um alcoólatra, bebia apenas nas festas que fazíamos, ou em outras reuniões, era normal dele. Eu agora estava pensando nele, no que ele estaria fazendo e agradecendo por ele não estar aqui, em Assis. Como eu o amava, eu morreria se algo acontecesse com ele. Mas logo me veio o beijo em Eduardo, percebi o quão cafajeste eu tinha sido em fazer aquilo, eu precisa juntar ele e Sara, que era a pessoa que com toda a certeza desse mundo o amava.

– Chegamos! – disse Sara, subitamente.

Eu estava tão compenetrado em meus pensamentos que não percebi que já era quase meio-dia, e que estávamos enfim na cidade. Chegamos num arco, que era a entrada, e ficamos impressionados, pois a cidade estava deserta. Não se via ninguém andando pela rua, nem mesmo pássaros voando no céu. Era muito estranho, e aquilo nos perturbou. Pensamos onde estaria os Soberanus.

– Eu e Sara precisamos ir para casa, conversar com nossos pais, dizer que estamos bem. – disse Mario.

– Eu concordo! – disse ela.

– Bem, então podemos fazer o seguinte, vocês vão até suas casas e nos encontram em casa, eu vou pegar minha varinha. Façam o mesmo. – disse Eduardo.

– Eu não sei se meus pais vão deixar eu sair de casa, mas eu posso tentar...

– Não Sara, seus pais deixaram você sair, porque eles não estão lá. – eu disse.

– Como assim? – perguntou ela.

– Lembra quando eu falei que o colar me da um sinal quando ele vai me ajudar? Então, ele esta pesando agora, e algo me diz que todos da cidade estão sendo mantidos em algum lugar. Eu não consigo ver ou sentir aonde. Os Soberanus pegaram todos durante a noite, e os mantêm como reféns. Mas uma vez, em troca querem o colar, mais uma vez a culpa recai sobre o Guardião.

Você pensa que tem problemas? Não, nada comparado a esses meus problemas.

– Kayo, nós estaremos com você, e eu tenho certeza de que muitos também estarão. – comentou Eduardo.

– Vocês não entendem, não é? Cabe a eu resolver, não a vocês... e eles estão abusando... estão causando desgraças em todos os lugares onde os bruxos vivem, e logo irão se enfiar entre os não-mágicos, assim como já fizeram. E tudo recai sobre mim, eu sou o culpado... talvez se eu destruísse esse colar as coisas melhorariam... não sei.

– Kayo, destruir o colar só iria causar mais revolta, nós estaremos juntos com você e seguiremos suas ordens. – disse Sara.

– Sim, e mesmo que nossos pais, nossa família esteja nesse lugar, à gente pode dar conta...

– Mario, eles dominaram a cidade toda, o que quatro adolescentes poderiam fazer pra evitar isso? Eles entraram em Assis, e vocês tem um forte esquema de segurança, que eles conseguiram burlar. – eu disse – O que fazem vocês achar que iremos conseguir.

Houve silêncio.

– Você é o Guardião do Colar do Parvo, o artefato mágico que esta entre os mais poderosos do mundo, por ser algo tão puro que fora destruído. Você é um bruxo Elemental, e pode criar exércitos. Eu creio que isso deva ajudar um pouco. – disse Eduardo.

Era visível no rosto deles a preocupação, o medo. Era normal, quantas vezes eu me senti dessa maneira? Muitas. Precisávamos era pensar em como agir. Eu ainda pensava em Kau e Marcelo, no entanto agora eu pensava em todos da cidade.

Resolvemos então que iríamos primeiro a casa de Sara que era mais perto, pegar a varinha dela, depois para a casa de Eduardo e por último a de Mario, que tremia de tanto medo. Não podíamos nos transportar até as casas, porque, existe a anti-mágica. Apesar de elas não funcionarem nas ruas, apenas em lugares fechados, ou seja cercados, nós achamos melhor não usar, já que talvez eles pudessem ter lançado algum feitiço para descobrir quem ou onde estava sendo usada magia.

Não demorou até chegarmos à casa de Sara, lugar onde Melissa sentira meu cheiro e nos atacara no dia anterior, por sorte conseguimos nos transportar dali. Ficamos esperando do lado de fora, enquanto ela correu para pegar sua varinha. Na volta ela estava visivelmente abalada, segundo ela a casa estava toda revirada.

Depois fomos até a casa de Eduardo, três quadras abaixo da casa de Sara. Chegando lá ele entrou e logo saiu com sua varinha em punho.

– Vamos! – disse ele.

Mario morava do outro lado da cidade, e ir a pé iria demorar um pouco. A cidade não era grande, mais o empecilho dos Soberanus na cidade fazia com que nós ficássemos mais atentos, andando quase que a passo de tartaruga. Chegando, cerca de três horas depois a casa de Mario, todos nós entramos, pois sentíamos sede e estávamos com fome.

Fizemos rapidamente uns pães com maionese, e tomamos com leite, e decidimos como iríamos fazer, quando descobríssemos onde todos estariam.

A idéia principal era eu tentar pedir ajuda ao colar. Fui até o quarto de Mario, que era por sinal muito bem arrumado, e sentei na cama. Fechei os olhos e pedi ao colar ajuda.

– Vamos, você já me ajudou outras vezes... o que custa ajudar agora! – eu dizia – Me mostre onde eles estão. Onde estão todos... onde eles estão...

Obviamente o colar não me mostrava nada, apenas ficava cada vez mais pesado. Tão pesado que eu fui obrigado a tirá-lo do meu pescoço. Então o admirei, observando seus contornos, seu desenho. Aquela cabeça de serpente segurando com a boca aquele lindo coração negro. Mas uma vez fechei os olhos e pedi, mas nada acontecia. Foi então que uma visão veio a minha mente.

Era Júnior, brigando com a senhora Cruz no ônibus, antes do acidente que mudara totalmente a minha vida. Eu chorei, e clamei por ajuda do colar. Eu não queria que nada acontecesse com Eduardo, Sara e Mario. Eu temia por eles, e por seus pais, e por todos que estavam desaparecidos. Foi então que ao abrir os olhos eu me deparei com os olhos da serpente, que ficaram vermelhos como o sangue. Ele ficou tão pesado que eu acabei deixando-o cair no chão. Eu ouvi um som estridente saindo do colar e depois um clarão.

Corri até onde meus novos amigos estavam, na sala.

– Eles estão em frente ao museu da cidade... todos eles... todos os habitantes de Assis. – eu disse, eufórico.

– Como soube disso? – perguntou Mario.

– O Colar, certamente! – concluiu Eduardo.

Eu colocava agora o colar no pescoço e o mesmo estava por demais pesado, que chegou a incomodar. Eles olharam para mim com um grande ponto de interrogação em cima de suas cabeças, esperando eu dizer algo, que eu, não sabia. Deixei me levar pelas influências do colar.

– Vamos até lá usando os casacos... aqueles... que fazem com que você não seja notado. Você tem algum aqui Mario? – eu perguntei.

– Sim, todos os bruxos ganham um...

– Então pegue um para cada... menos para mim...

– Mas por quê? – perguntou Eduardo, extremamente preocupado.

– Eles irão me ver, e então vocês ajudarão Kau e Marcelo, liberte-os e tenho certeza de que ambos saberão qual melhor forma de agir.

– Você não pode se arriscar dessa maneira, Kayo. É muito perigoso, e se falharmos... e se não conseguirmos libertar eles? Nós nem ao menos sabemos quem são eles. – disse Eduardo. Sara pareceu incrivelmente incomoda com essa reação dele.

– A vida é feita de riscos, e algo foi imposto a mim sem eu ter a decisão de escolha... vamos, no caminho falamos mais!

Mario correu para os quartos da casa, onde trouxe três grandes casacos escuros. Cada um deles o vestiu e por certo momento até mesmo eu, pensei que não os reconheceria. Era uma sensação estranha, ao qual eu nunca tinha provado. Eu os via, mas a sensação era de que eles não estavam lá. Eram pessoas normais. Na realidade, pensando melhor sobre minha vida, eu tenho quase certeza de que eu sempre fui cercado por bruxos, talvez de ambas as espécies. Tantos maus quanto bons. Aquela sensação era de como ver um mendigo na rua, você o vê, mas acredita que ali não tem ninguém. Era estranho.

Sara constantemente tirava o casaco, mas rapidamente, para lembrar a mim que eram eles. Eu sabia do plano e sabia que os três estariam com os casacos, mais quando ela o colocava, eu os via e tinha aquela terrível sensação de ser perseguido. Vigiado constantemente. Em certo momento ela me disse para ir falando sobre Kau e Marcelo, e quando ela colava aquele casaco eu me sentia anormal, falando com ninguém.

– Kauvirno é um rapaz novo, no entanto seus cabelos brancos delatam sua idade. Eu nunca perguntei, mas creio que deva passar dos cinquenta. No contrário, Marcelo é bem mais jovial, e ambos estavam usando grandes casacos negros. Provavelmente estarão vestidos da mesma maneira.

Eu virava ali e acolá seguindo uma voz estranha que me guiava, e só me dava conta de que era Sara quando ela tirava o casaco. Não demorou até chegarmos perto da rua que levava ao Museu de Assis. E ali os três surgiram na minha frente.

– O que faremos agora? – perguntou Eduardo.

– Eu vou à frente, e chamarei a atenção deles, enquanto isso vocês vão por trás do museu e tentam ver o que conseguem fazer. Vejam, Marcelo é um Elemental também, se conseguirem libertá-lo, eu e ele poderemos fazer alguma coisa... o plano é apenas esse, e na hora veremos o que fazer.

– Eu estou com medo! – disse Mario.

– Não precisa temer, vocês devem ter aprendido magias na escola para se safar de situações diversas, chegou a hora de usar. – eu disse – Vamos.

Eles colocaram novamente o casaco e eu fiquei ali com aquela sensação de que estava sozinho, mas ao mesmo tempo acompanhado. Caminhei pela rua que dava acesso ao museu e pude ver pontinhos se formando a frente. Esses crescendo cada vez mais e mais até que eu percebi que ali estavam todos os moradores de Assis. Não eram muitos, já que a cidade era pequena e servia mais como um lugar turístico e como estudo, por conta do museu. Tinham ali cerca de duas mil pessoas, todas enfileiradas e estáticas. Aproximando-me mais eu percebi que elas estavam duras como rocha, e no alto da escadaria do museu, estavam figuras muito bem conhecidas por mim. Uma delas era Melissa.

Os risos dela deixaram de ecoar aquele lugar, e ela me fitou. Eu estava mais perto agora e minhas pernas tremiam. Eu tentava apenas me manter calmo e acreditar que o colar fosse me ajudar no momento certo. Ela tinha fama de assassina, e das melhores.

– Ora, ora, ora, enfim o Guardião se aproxima... que bom! – disse ela, vindo até mim. Eu parei próxima a escadaria, e ela desceu uns três degraus. Eu olhei atentamente para os habitantes de Assis e depois a fitei.

– Porque está fazendo isso? – eu perguntei sabendo a resposta. Ela queria o colar.

– Porque é divertido... faz bem a alma de uma pobre rejeitada.

– Rejeitada?

– Sim! – disse ela melancólica – É triste que tenhamos tanto poder em nossas mãos, e só possamos usá-lo quando lhe é dado a permissão.

– O que está querendo dizer com isso?

Ela ficou pensativa. Havia cinco homens atrás dela que a olhavam fervorosamente.

– Eu não pertenço mais Átimos... ele é um traidor... maldito seja a hora que ajudei a trazê-lo de volta.

– O que aconteceu com os Soberanus? – eu estava intrigado por respostas.

– Estão por aí, escondidos... como sempre fizeram! – ela falava com total desdém – E eu estou aqui, fazendo a minha fama crescer cada vez mais.

– Está por conta própria então... – eu sussurrei.

– SIM! – gritou ela – Estou... por que eu sou bela demais para seguir ordens – continuou ela docemente - Eu não vou negar que encontrar você aqui, em Assis foi uma grande surpresa. Você se escondeu muito bem, durante esses dois anos... Étimos estava ficando louco por não saber notícias e muitos eram os serviçais que estavam morrendo por não conseguir respostas sobre seu paradeiro. Muitos se revoltaram e disseram não querer mais os Artefatos de Poder. Se rebelaram e ouve uma grande batalha. Alguns seguiram seus caminhos, outros se aliaram a quem lhes davam mais esperanças. Eu fui uma delas... uma que acreditou e depois viu que o que eles queriam era nos enganar. Não sou mais idiota e nem sigo mais ordens do meu irmão querido irmão. Maldito seja, eu deveria ter matado ele quando tive a oportunidade.

“Então me distanciei dos Soberanus e recrutei vampiros para a minha causa. Não quero poder algum, sou forte o suficiente para conseguir o que eu quero. Com ajuda deles invadimos cidades e as dominamos, assim como fizemos com Assis. Seus lideres... todos mortos... todos ursurpados... uma ótima ideia a minha, e isso porque Étimos e meu irmão sempre diziam que eu tinha vento na cabeça. Veja! Contemple! A cidade de Assis paralisada por minha beleza e astucia.

“Essa cidade eu queria mais que tudo, pois aqui onde tudo aconteceu. Onde os artefatos foram criados... quando Étimos chegar se vera comigo, e terá que se ajoelhar aos meus pés... aos meus soldados... e então, ao chegar aqui... veja com quem eu encontro. Com kayo, o Guardião do Colar do Parvo, cujo esse que dará a localização da Taça dos Eruditos e a Espada do Soldado Derrotado. Desconfiei então que aqui, sozinho você não estaria, e andando por aí, vejo eles. Kauvirno e Marcelo, amigos quase que íntimos... Amigos que muito me atacaram nos tempos de escola. Amigos que muito me menosprezaram naquele tempo... e veja... quem é o mais forte agora? Eu, ou eles... me diga, Kayo. QUEM?”

Eu não sabia o que dizer, fiquei calado apenas pensando no que fazer... pensei aonde estaria Kauvirno e Marcelo. E logicamente pensei em Sara, Eduardo e Mario. Onde eles estariam. Foi quando eu vi um dos homens atrás de Melissa mexer levemente a cabeça para o lado, pude ver com clareza uma indagação surgir em sua face. Eram eles, passando pela segurança de Melissa. Eu tinha apenas que atrai suas atenções.

– Você quer o colar não quer? – eu perguntei a ela – Não me venha dizer que tem poder suficiente, pois com esse colar você teria muito mais... você sabe disso.

– Sim eu sei... e já que comentou dele. Eu quero esse colar em minhas mãos agora, ou seus amigos irão morrer. E eu destruo a cidade de Assis com fogo até restar cinzas. – ela estava seca agora, e sua arrogância reinava.

Delicadamente coloquei a mão no bolso e tirei dali o Colar do Parvo. Sim. Havia dois. O que estava no meu pescoço era o verdadeiro, e no bolso o falso. Kauvirno me deu assim que enfrentei Étimos há dois anos, justamente para ser usado nessas situações. Ele sempre dizia que eu como guardião do colar deveria protegê-lo como pudesse, e ter em mão algo assim seria ótimo para enganar alguém que o desejasse muito. Logo pensei se Sara, Eduardo e Mario estavam se aproximando de Kauvirno e Marcelo. Olhei para o colar e depois para Melissa, seus olhos vidravam.

– Está aqui Melissa... e eu lhe dou esse colar por uma única razão... porque ele ficaria lindo na mais bela mulher do mundo. – era horrível dizer aquilo, mas era uma jogada minha. Melissa se derretia sempre que alguém dizia que ela era bela, mesmo ela não sendo.

– Serio? – disse ela melosa – Ficaria belo em mim? Eu sempre soube que este colar ficaria belo em mim... eu sou linda... eu mereço algo de grande valor...

– Venha buscar! – eu disse.

– Minha senhora, não faça isso! – disse um dos rapazes em tom de alerta.

– Cale a boca, vocês são pagos para ficarem calados... ou querem que eu arranque suas línguas? – disse ela, e se acalmando, começou a descer degrau por degrau.

Os homens ali estavam atentos e eu pude ver um deles preparando sua varinha para uma eventual luta.

– Venha! – eu dizia – Vem, que eu mesmo colocarei esse belo colar em seu pescoço... minha rainha!

Ela estava próxima, quando se virou para que eu colocasse o colar em seu pescoço, foi então que em seu suspiro, eu senti o colar pesar e uma explosão na porta do museu fez com que tudo estremecesse. Dali saíram duas bolas de fogo, e logo atrás dela Kauvirno e Marcelo empunhados com seus cajados duelando arduamente com os cinco homens. Melissa se virou para mim e seu rosto havia mudado de forma. Ela ficou terrivelmente feia, como se sua pele estivesse se decompondo.

– Seu moleque... me enganou! – disse ela num grunhido estranho.

Ela bateu no meu rosto, e o falso colar caiu no chão, e o mesmo se partiu em vários pedaços. Então ela retirou do cinto, sua varinha, e fez um rápido movimento, antes de ela mirar a varinha em minha direção eu já me concentrara em meu soldado Elemental que surgiu a minha frente, com cerca de três metros de altura. Ela caiu no chão com o susto e seu rosto voltou ao normal, como a Melissa que eu conhecia.

O meu soldado então mexeu os braços e lançou rajadas de fogo em cima dos homens que ainda duelavam com Kauvirno e Marcelo. Todos eles viraram bolas de fogo, inclusive Melissa e fugiram, voando pelo céu. Meu soldado diminuiu de tamanho, ficou igual a mim e me olhou atentamente. Eu corri até Kauvirno e Marcelo e perguntei a eles se estavam bem. Disseram que sim. Logo atrás deles surgiu Sara, Eduardo e Mario. Nos abraçamos.

– Como conseguiram? – eu perguntei.

– Eles estavam aqui no saguão, não foi difícil, esses bruxos são espertos até certo ponto... burros de mais. – disse Sara.

– Sim, mas eles conjuraram leões e tigres para lutar com a gente... eles surgiram dos livros e partiram pra cima de nós. Foi aterrorizante. – continuou Mario.

– Você está bem, Kayo? Não se machucou? – perguntou Eduardo, vindo até mim e me abraçando.

– Eu estou bem! – eu disse, abraçando ele, e depois aos outros.

Estávamos todos felizes por ter dado certo, mais logo nos deparamos com centenas de pessoas a nossa frente, todas duras como rochas.

– E quanto a eles o que faremos? – eu perguntei.

– Faremos chover! – disse Marcelo.

– Isso se resolverá com chuva? – indagou Kauvirno.

– Sim, mas não me perguntem o porquê, eu sei apenas que isso funciona.

Marcelo então deu alguns passos a frente, e ergueu as mãos, uma fina camada de água se formou por debaixo dos seu pés, a mesma foi circulando seu corpo, subindo até acima de sua cabeça e como uma explosão ela subiu ao céu. Logo ele baixou as mãos e a água em seu corpo desapareceu. Não tardou até que uma fina chuva começasse a cair sobre todos ali em frente ao Museu de Assis. Eles foram se mexendo e aos poucos foram ganhando vida. Alguns caíram no chão, talvez pelo cansaço.

Sara e Mario correram até umas pessoas que estavam no centro, provavelmente eram seus familiares. Eduardo ficou do meu lado, me olhando como um terno apaixonado. A chuva estava cada vez mais forte, e alguns trovões ecoavam por toda a cidade.

– Precisamos conversar Kayo! – disse Kauvirno.

Entramos no Museu, onde todos pareceram fazer o mesmo. Cada vez mais e mais pessoas iam entrando.

– Não temos muito tempo. Vencemos Melissa agora, mas não temos certeza de que a vencêramos amanhã. A desgraçada está ficando cada mais inteligente. De fato, ter passado os últimos anos ao lado de Étimos há tornou um pouco mais sábia.

Conversamos um pouco mais, enquanto Sara se aproximava junto de Mario.

– Meus pais querem te conhecer... – disse ela pegando em meu braço e me puxando.

Os pais dela eram os donos da loja de roupas que ficava ao lado da loja de minha mãe. Foi um espanto vê-los ali.

– Oras, Kayo! – disse a mãe de Sara, me abraçando – Muito obrigada... eu não sei o que poderia fazer para agradecer pelo o que você fez a nós...

– Isso, garoto! – disse o pai dela afirmando com a cabeça – Quem diria que kayo Rangel seria o Guardião do famoso Colar do Parvo, e que além do mais, que o próprio colar existe.

– Sim, ele existe mais devemos sair dessa cidade o quanto antes. Ou melhor devemos sumir. – disse Marcelo.

– Como isso aconteceu? – perguntou Eduardo a Marcelo, vinham conversando em nossa direção.

– É uma pergunta bastante oportuna, Marcelo. Jamais pensaria que ambos se deixassem capturar por Melissa. – eu disse.

– Foi tudo muito rápido, Kayo. Não tivemos tempo de pensar, era salvar a nossa vida, ou ajudar a outros se salvar. – dizia Kauvirno – Os bruxos de Assis não são do tipo que andam por ai com suas varinhas. Até então Assis sempre foi muito segura.

– Mas não é mais, devemos nos precaver de todas as formas possíveis. – disse um velhote que se enfiou no meio da conversa – Deixem me apresentar, faço parte da secretaria da cidade, e a dias que muitos de nós percebemos que alguns lá dentro estavam estranhos, mas jamais pensaríamos que seria esses malditos vampiros.

– O seu nome? – perguntou o pai de Sara.

– Juliano, senhor! – disse ele educadamente.

– Bem, senhor Juliano, diga-me quem irá assumir o comando de Assis, agora? Bem, o prefeito e vice foram mortos... então... – disse Marcelo.

– As coisas hão de ficar complicadas, pois jamais iríamos imaginar algo do tipo. Muitos foram os cargos que se perderam , devido a tantas mortes. A cidade está simplesmente vazia, a mercê de qualquer um. – disse Juliano.

– Bem, devido a tudo, receio que alguém que estava lá dentro tome o poder até que tudo fique calmo. – disse kauvirno – Eu creio que o melhor seria o senhor assumir essa responsabilidade, caso queira.

– Mas é lógico, apenas com a condição que depois, quando as coisas voltarem ao normal, haja uma eleição justa. Eu quero morrer em paz.

Foi comentado depois, com alguns habitantes de Assis sobre a ideia de Juliano ser o prefeito provisório da cidade. Sendo sempre um bom homem e muito respeitoso, não tardou até que ele fosse assim proclamado.

Mario me apresentou seus pais que ficaram super empolgados, e insistiram que nós fossemos jantar em sua casa. Kauvirno dizia que não era uma boa hora, que devíamos ir embora. No entanto Marcelo achou melhor esperar pela manhã, pois temia um novo ataque de Melissa.

Todos saíram do Museu de Assis, já era noite, quanto à chuva enfim terminou. Seguimos a pé mesmo até a casa de Mario que não era longe dali, conversando sobre tudo o que tinha acontecido entre o dia de ontem e hoje.