O Colar do Parvo

Livro A Taça dos Eruditos - Virou passado


Como eu já havia me apresentado, meu nome é Kayo Rangel, minha família fez depois de algum tempo, com que eu usa-se o nome Kayo Taurino Rangel, pois esse nome, Taurino, significava motivo de orgulho, antes escondido por medo, agora usado com amor.

Há algum tempo, minha vida mudou completamente. Eu sofri um acidente, em que cinquenta pessoas morreram, eu fui o único sobrevivente. Depois de uns meses, saindo de uma dor calada e um sofrimento solitário, resolvi voltar à escola, onde alguém muito especial entrou na minha vida. Eu já o conhecia e nem o via da maneira como o vi, naquele meu primeiro dia de aula. Algo mudou completamente. Até hoje eu tento entender exatamente o porquê desse amor repentino ter entrado em minha vida. Não vou menosprezar isso, foi à coisa mais linda que aconteceu comigo. Seu nome, Matheus. Um garoto mais velho e forte e lindo ao meu ver, e ao ver de muitas meninas. No entanto ele escolheu a mim, ao invés delas. Algo estranho para o resto da sociedade, mas para nós a coisa mais importante de nossas vidas.

Eis que algumas coisas muito estranhas começaram a acontecer na minha vida. No dia que eu fui depor na delegacia, sobre o acidente que estranhamente eu era o único sobrevivente, um rosto familiar surgiu como num filme de fantasma. Este era Júnior, meu melhor amigo e irmão de Matheus, que morreu naquele dia fatídico.

Logo após, ao chegar a minha casa, eu fui submetido a algo novo em minha vida. Uma visão um tanto quanto curiosa se formando na parede de meu quarto. Surgiu um nome, este ficou bem claro, Família Taurino. Ao contar a Matheus, no dia seguinte na escola, ele chegou com um material bastante interessante sobre essa tal família. Nele dizia que essa família tinha sido condenada a morte, por serem bruxos. A ânsia por saber mais foi tão grande que fomos até a mansão deles e lá, como se eu já soubesse onde estaria, estava guardado um colar. Um coração negro dentro da boca de uma serpente, de modo que os dentes dela seguravam o coração. O colar era a coisa mais linda que eu já tinha visto na minha vida, e depois, já em casa, eu descobri coisas sobre a minha família que me deixaram assustado.

Eu descobri que eu descendia de uma de família de bruxos. E que meus pais eram bruxos. E quanto ao colar, bem... o colar era chamado de O Colar do Parvo. Seu antigo dono, um homem comum aos olhos dos outros, estava completamente apaixonado por uma bela senhorita de sua aldeia. Sendo rejeitado e seu melhor amigo assumindo o posto de marido da donzela, ele tentou de todas as formas conquistar o amor da mulher. Não conseguindo e sendo chamado de tolo pelos outros ele se auto-exilou na floresta. Sofrendo e angustiado pelo amor platônico ao qual tinha resolveu entregar seu coração a uma serpente que ali passava. Ao entregar seu coração à mesma o abocanhou e lançou seu veneno, fazendo com o que o homem sucumbisse a ele. Antes de morrer, o jovem depositou toda a sua força e ódio e tristeza, e até mesmo algumas alegrias no coração, que ainda estava na boca da serpente. Foi quando algo mágico aconteceu e tanto a serpente quanto o coração se transformaram em um colar. O corpo do homem sumiu desde então, e soube-se de um colar que dava ao seu dono grandes poderes, poderes ao quais nunca poderiam ser sobrepujados.

Naquela época, os bruxos receberam uma notícia dos grandes ancestrais, a de que todos eles, conforme passasse a sua geração, iam perdendo seus poderes, por conta de fazer com que bruxos e não-mágicos fossem mais unidos. Obviamente que muitos foram os bruxos que não aceitaram isso, criando-se então um grupo que foi se expandido perante os anos que iam se passando. Esse grupo, chamado de Soberanus era comandado por Átimos. Um antigo bruxo perverso e calculista, que usava de sua inteligência para conseguir o que queria. Ele era tão magnífico no que fazia, que conseguira criar uma poção de retardo do envelhecimento, dado a apenas a alguns bruxos que Átimos confiava mais do que tudo. Sua meta era conseguir O Colar do Parvo, já que se dizia de tanto poder, talvez pudesse ajudá-lo a manter sua força vital inativa perante a maldição que os ancestrais haviam lançado em todo mundo mágico.

Contudo, u outro grupo havia recebido uma honra, fieis ao ancestrais o grupo Os Vigilantes foi criado, por servos leais. Estes ainda tinham muita de sua força, mais era possível apenas se usado para proteção. Os Vigilantes, foi criado com uma única meta, guardar O Colar do Parvo e evitar que os Soberanus o pegassem.

O colar tinha sido encontrado por uma mulher, ninguém sabe muito bem qual era seu paradeiro, apenas comenta-se entre Os Vigilantes que depois de muitos anos o colar caiu nas mãos da família Taurino, e que fora guardado desde então.

A família Taurino como já dito, fora fadada a morte e o colar permaneceu escondido desde então, caindo em minhas mãos duzentos anos depois. Obviamente que foi um choque saber de muitas coisas, outras eu fui descobrindo conforme o tempo foi passando.

Matheus sofreu tudo ao meu lado, e eu ao lado dele. Contar aos seus pais que estávamos juntos, e que eu era um bruxo e que Júnior tinha sido morto por conta disso, foi uma grande pancada na vida dos pais de Matheus. Ambos levamos uma surra do pai dele, surra essa que hoje eu e Matheus sempre rimos. Alias nunca estivemos tão bem.

O que não sabíamos era o que estava por vir. Os pais dele foram seqüestrados e mediante a tentativa de resgate, viemos a descobrir que Átimos foi trazido dos mortos e o que mais queria era o colar. Uma colega minha e amiga íntima de Matheus, pelo menos antes de me conhecer melhor, fora usada de isca e morta por uma vampira, Leda era seu nome. Havia Melissa também, uma lunática por sangue que achava que a morte era algo terrivelmente lindo. Seu irmão Antonius, bem eu não sabia muito dele, na verdade eu tinha medo de olhar em seus olhos. Descobrimos também que Étimos, filho de Átimos que antes Os Vigilantes achava que estava morto, permaneceu vivo, e foi ele que trouxera seu pai a vida.

Dentre tantas desgraças em nossas vidas, conhecemos pessoas maravilhosas. Tereza sempre calada. Kauvirno um aparente jovem que para mim guardava um terrível segredo. Era impossível que ele soubesse tanto e fosse líder do grupo, sendo tão novo. Talvez seus cabelos brancos, e seu cajado lhe dava tanta moral. Tinha também, seus sobrinhos. Isso mesmo, sobrinhos. Adrian e Nathan, eles eram gêmeos e lindos. O primeiro era totalmente debochado e gostava de ação. Já Nathan era mais a razão, mais quando queria algo ia até o fim. Não sei, eu não tenho muito experiência nisso, mas algo me dizia que ele tinha algum sentimento mais forte por mim. Havia também Mila, ou Alim. Como homem Alim era um simples humano que tinha um bar para bruxos exilados. Já como Mila, ou Camila, uma linda mulher e mesmo que eu nunca tenha visto em ação... bem houve uma vez, mais eu não me lembro de muita coisa, eu sabia que ela tinha um grande poder.

Bem, depois de eu conseguir invocar um feitiço ao qual homens de fogo protegeram a mim, os gêmeos e Matheus, na tentativa e muito bem sucedida de resgatar os pais do meu amado, descobrimos mais algumas coisas. Isso eu vou contando aos poucos.

O Colar do Parvo nós já tínhamos em mãos, porém outros artefatos tinham que ser encontrados para fazer com que os Soberanus deixassem de existir. Ainda faltava A Taça dos Eruditos e a Espada do Soldado Derrotado. Itens esses que nós não sabíamos nem um pouco onde estariam. Contávamos e soubemos que a historia dizia que era através do colar que iríamos encontrá-los, mais não sabíamos como fazer isso.

– Meninos, levantem! – disse minha mãe.

Eu e Matheus estávamos deitados e uma manhã calorosa reinava no lado de fora. Era difícil dormir com tanta claridade, logo as seis da manhã já estávamos de pé.

– Bom dia meu amor. – disse Matheus, carinhosamente.

– Amor! – eu suspirei – É tão lindo quando eu acordo e vejo você, e então de sua boca sai essa doce palavra.

– Assim você me deixa encabulado!

Levantamos, nos trocamos e fomos até a cozinha.

Estávamos numa outra casa, esta era de Kauvirno. Grande e espaçosa, com muitos quartos, áreas de laser com jogos, tinha até mesmo uma piscina. O bom de estar ali, era que podíamos usar magia ao redor da mansão. Estávamos extremamente afastados de tudo e de todos. Ao redor ainda se fazia frio, e era gélido, no entanto ali, era claro e quente como um dia de verão. Kauvirno mantinha o tempo dessa maneira.

– Bom dia a todos!- eu disse a todos.

Todos responderam um bom dia caloroso. Estávamos numa grande mesa, com frutas, tortas e bolos, sucos dos variados tipos.

– Bem, hoje voltaremos ao campo de treino Kayo. Temos muito o que fazer ainda. Sua conjuração do Invocare Focus na semana passada foi desastrosa, você carbonizou vinte árvores.

– Nem me lembre Kauvirno. – eu disse rindo.

– Bem, semana que vem você já faz dezenove anos meu docinho. O que vai querer de presente? – disse minha mãe, servindo café ao meu pai.

– Mm, eu acho que vou querer um carro importado a jato. – eu disse.

– Talvez um bolinho compense. – disse minha tia rindo.

– Estou brincando, não precisam nem fazer festa....

– Mais lógico que precisamos, Kayo. – disse Matheus, espantado.

– Porque?

– Oras, querido, o dia do seu aniversario é o dia do meu também...

– Nossa, havia me esquecido... – disse minha mãe, surpresa.

– Tudo bem! – disse Matheus – Mas enfim Kayo, é o nosso aniversário, tanto de nascimento como o do primeiro beijo.

– Ah, - eu ri – é verdade.

– Temos que fazer uma super festa então. – disse minha tia Carol.

– O que querem comemorar? – disse Nathan chegando à sala e sentando na mesa.

– O aniversário de Kayo e Matheus. Fazem aniversário no mesmo dia e fazem dois anos do primeiro beijo. – disse minha mãe – Estou orgulhosa de vocês. Principalmente de você Matt, tem tratado meu filho com muito respeito.

– Ah, é isso! – disse Nathan com descaso.

– Vamos, o que é isso, um dia terá alguém para festejar um aniversário junto, Nathan. – disse Tereza.

– Podemos, por favor parar com isso? Mila chegara hoje e trará notícias. – disse Kauvirno.

– Espero que sejam boas. – disse meu pai.

– Todos nós esperamos... – disse Kauvirno ficando pensativo.

– Notícias vem e vão, algumas ruins outras boas. Temos que nos acostumar com isso. – disse Tereza.

– Concordo com você, - disse meu pai – o que passou, já virou passado.

Foi uma manhã excepcionalmente maravilhosa, o sol que Kauvirno havia conjurado em torno da mansão era muito agradável, ficamos na piscina uma boa parte da manhã. Era estranho quando íamos à cidade e as pessoas perguntavam a nós como nós estávamos tão bronzeados, sendo que fazia tanto frio. A gente simplesmente ria.

O colar andava sempre comigo, ordem de Kauvirno, já que o mesmo sempre podia me ajudar. Como eu havia desejado a ele, eu pedi que a qualquer sinal de perigo ele fizesse alguma coisa para me informar. O colar realmente era leal a mim. Uma vez andando na rua com Matheus, um gato preto atravessou meu caminho, mas o estranho foi ele pular em cima de mim, e eu tive a certeza de ele ter dito, cuidado, menino!

No entanto, o meu maior segredo ainda não tinha aparecido, Júnior. Eu sempre esperava que ele aparecesse aqui ou ali, mais quando eu estava sozinho e pedia isso ao colar, nada acontecia, apenas uma neblina estranha que ia e vinha, misteriosamente. Eram dois anos que haviam se passado, dois anos aprendendo tudo sobre o mundo dos bruxos, e tentando controlar meus poderes. A cada dia que se passava eu ficava cada vez mais ansioso, por outro lado o medo sempre fazia com que eu tremesse as pernas. Jamais deixei de ter a sensação de que algo ainda estava por acontecer.