Assim como eu fiz da ultima vez, eu fechei meus olhos e deixei que meus sentimentos me guiassem. Quem sabe, pensando em Matheus eu poderia chegar até ele.

Eu estava terrivelmente preocupado com o que Halmer havia me dito. Que Matheus poderia estar triste. Era culpa minha, dessa vez eu tinha certeza disso.

Foi então que eu senti meus pés baterem em algo duro, e logo meu corpo se apagou. A minha frente um garoto sentado no alto da colina, de frente ao mar. Era ele. Era Matheus.

Eu, lentamente fui caminhando até ele e talvez quisesse eu, ter ficado onde eu pousei um pouco mais. Entalhado numa pedra presa na terra dizia: Descanse em paz, sua jornada foi cumprida e hoje sua luz brilhara cada vez mais no reino dos céus.

– O que houve aqui? – eu perguntei a ele.

Ele, ainda sentado, levantou a cabeça até mim, seus olhos estavam marejados de água, seu nariz vermelho e suas bochechas rosadas.

– Ela não resistiu mais.

Como eu fui um tolo. Mas uma vez um tolo. A vontade que eu queria naquele momento era de me jogar daquela colina e acabar por uma vez de todas com a minha vida.

– Minha mãe... minha mãe.

– Matheus...

– Me deixe sozinho, Kayo, por favor!

– Tudo bem!

Realmente ele não iria querer a minha presença ali. Justo a mim, que a odiava.

Com o pesar no peito, por vê-lo daquela maneira, eu me virei e desci, até a casa de praia. Lá encontrei com Nathan e Adrian caminhando na areia, mas nem dei atenção aos dois, que pareceram não se importar muito. Subi a escada e entrei na sala, ali estava, seu Roberto sendo consolado por Tereza, meus pais, minha tia e Marcelo.

– Kayo por onde andou? – perguntou minha mãe vindo até mim e me abraçando.

– Estou bem. Como aconteceu?

– Câncer. Tereza e eu estávamos cuidando dela com poções, mas ela não resistiu. – disse minha tia Carol.

Eu sabia que ela estava com problemas de saúde, mas não sabia que eram tão graves assim.

– Porque ninguém me falou?

– Da outra vez você disse que ela era capaz de tudo para separar você de Matheus, acha mesmo que iríamos contar algo assim? – disse Tereza.

– Não justifica...

– Como não justifica, Kayo. Agora deu para se importar com ela? Estava tão cego pelo ódio que sentia dos dois que não percebeu nem mesmo a infelicidade de Matheus. E agora me julga?

– Eu não estou julgando ninguém Tereza.

– Já chega! – disse Roberto ríspido – É minha esposa lá em cima, então respeitem isso.

– Roberto, eu lamento...

– Lamentar? Não lamente nada Kayo, não fez isso enquanto estava viva, porque você faria agora que ela esta morta? Não o culpo, dessa vez eu não culpo... mas enfim... Já viu Matheus? Ele não parava de perguntar por você. – disse Roberto.

– Eu já falei com ele... pelo menos eu tentei. Mas o fato é que essa perda não pode acarretar mais demora. Podem sentir raiva de mim, mas... eu estava com os elfos.

– Elfos? – disse Adrian a minhas costas.

– Sim. De alguma forma eu encontrei com eles, e soube de muita coisa sobre o que nós estamos procurando. Mas, primeiramente, precisamos encontrar kauvirno. Ele esta sumido ainda, não está?

– Sim! – disse meu pai.

– Então eu e Marcelo estamos indo até a mansão procurar algumas pistas, quanto a vocês, fiquem aqui. É seguro! Tudo bem Marcelo?

– Concordo!

– Não chamarei mais ninguém, porque pelo visto todos gostavam de Carla, e devem respeitar isso, mas eu tenho coisas a fazer e por mais que todos me achem insensível, existe um mundo todo para salvar.

Roberto, com toda a certeza, odiou eu ter dito aquilo. Eu apenas tinha acabado de dizer que a morte de Carla não representava nada a mim. E realmente não representava, no entanto eram os sentimentos de Matheus que mexiam comigo, e ele sim me preocupava.

Minha mãe me olhou de forma a repudiar minha atitude, assim como meu pai e minha tia. Tereza ainda estava do lado de Roberto o consolando. Adrian entrou e logo depois Nathan que me deu um oi tímido. Marcelo se levantou e foi até ao quarto.

Eu me virei e fui até a beira da praia, onde a água pudesse bater em meus pés.

– Um tanto egoísta, não?

– Se eu não for, perderemos tempo.

– Eu compreendo.

– Ela esta bem?

– Esta calma, e feliz.

– Ela já o viu?

– Ainda não. Vai demorar um pouco. Apenas quando o coração dela estiver mais calmo.

– Desculpa não ter ouvido você na terra dos elfos.

– Isso acontece! Talvez se eu tivesse imposto.

– Também não conseguiria. – eu disse sorrindo.

– Eu sei!

– Kayo? – era Matheus. Eu e Júnior nos viramos, mas logo Júnior sumiu.

– Diga Matheus! - eu perguntei timidamente, ele ainda estava com o olhar perdido.

– Estava falando com quem?

– Se eu disser vai brigar comigo?

– Era meu irmão, não?

– Sim!

– Ele esta bem então.

– Sim, e sua mãe também.

– Kayo?

– Oi?

– Eu senti sua falta! – disse ele chorando, vindo até mim e me abraçando.

– Eu também, eu senti muito... não vamos mais brigar, eu não quero mais brigar com você. Nunca mais!

– Eu sei... mas estava doendo saber de tudo e não pode contar para a pessoa que eu mais amo em toda a minha vida.

– Matheus... eu sei que é dolorido... e por mais que não fosse muito com a cara da sua mãe, eu sinto por demais que você tenha que passar por isso novamente. Eu te amo muito, e te ver sofrer dessa forma, me machuca.

Eu limpei os olhos dele com os meus dedos, e depois tornei a abraçá-lo.

– Mas passará. Em breve eu e você estaremos juntos, pra sempre, sem nos preocupar com mais nada! Com mais nada.

Algum tempo depois Marcelo chegou, junto de meu pai.

– E então kayo, pronto para irmos? – disse Marcelo.

– Sim! – eu disse. Dei um beijo em Matheus.

– Se cuida kayo, eu espero você bem aqui. – disse ele.

Eu me despedi de meu pai, e com um aceno para Matheus eu passei pelo portal que Marcelo havia criado. Estávamos na mansão de kauvirno agora, e tudo estava destruído.

– Que horror! – disse espantado, Marcelo.

Havia pedaços de tijolos por todas as partes, fora madeira e o jardim todo queimado. Não havia um sinal de vida naquele local.

Eu fiquei parado num canto atento a qualquer movimento, enquanto Marcelo foi caminhando aqui e acolá em busca de algo que provasse que kauvirno tivesse passado por ali.

Logo ele se aproximou segurando uma pena, pequena e branca.

– O que é isso? – eu perguntei.

– Uma pista!

– Pista?

– Sim, nas terras de Kauvirno, não se entra pássaros, como essa pena teria vindo até aqui?

– O vento? – eu disse certo de que Marcelo estava cogitando algo ridículo.

– Quando fomos esconder a Taça, kauvirno achou essa pena e a colocou no bolso. Ele tem trauma de infância com pássaros, alguns entraram em seu quarto enquanto ele dormia. Foi horrível. No entanto, ele achou essa pena maravilhosa e a aguardou, e deixou aqui.

– Esta querendo dizer que ele pode ter ido até a Taça do Erudito?

– Tenho quase certeza. Vamos!