Deitado no chão jazia ele, uma poça de sangue que parecia estar escorrendo para o esquecimento, um sangue tão escuro como sua própria alma que agora deixara de existir. Quem era ele? — Daniel Grayson.

Minha espinha ainda doía por causa da queda que sofri de cima da escadaria, eu não era capaz de fazer qualquer tipo de movimento a não ser chorar. Meu corpo se retorcia de dor enquanto minha alma fazia o mesmo. Eu nem sabia que me importava tanto, que prezava tanto, mas naquele momento, pelo menos naquele momento em especial, eu me importei.

Fixei meus olhos em Jack que segurava um revólver ainda para frente, seus olhos estavam tão abertos que pude ver através de sua alma que ele estava nervoso e em choque, não mais que eu. Fiquei olhando para ele por alguns segundos sem dizer nada, como se nosso olhar já dissesse tudo que havia para ser dito.

Finalmente olhei para minhas mãos. Não conseguia ver minha pele branca e sim o vermelho escarlate do sangue de Daniel. Seu peito estava perfurado por inúmeras balas que uma vez foram destinadas ao meu peito, e não ao dele.

A mulher que ansiava em por um fim em minha vida jazia no chão a pelo menos alguns metros do cômodo, estava praticamente imobilizada pelo tiro que Jack dera.

Nolan chegou após algum tempo e tudo que fez foi sua típica face de "Ems! O que você fez agora?", ele se sentou no sofá e colocou suas mãos na cabeça jogando seus cabelos para lá e para cá como se isso fosse consertar tudo.

Apesar de odiar Victoria com todas minhas forças não hesitei em ligá-la para contar a triste notícia. Por alguma razão, dei a notícia com uma fagulha de vingança, tentei não soar abalada e sim apenas deliciar-se com a tristeza de minha inimiga que me fizera passar por tantas mágoas muito maiores que essa.

— Victoria? Precisamos conversar. Sobre Daniel. Venha até a Mansão.

Victoria não disse nada. Apenas desligou o celular e por uma fração de segundo pensei que ela achou que era apenas uma brincadeira de mau gosto minha, mas não demorou muito até que eu ouvisse a campanhia e a mulher aparecesse por trás da porta. Infelizmente, como a Mansão era meio que um conceito aberto, Victoria pegou de relance duas pernas com uma calça escura e muito mas MUITO sangue em volta.

Imediatamente e sem hesitar ela olhou para meu rosto, seus dois olhos se encheram de lágrimas o que acabou fazendo-os parecer como diamantes que brilhavam a luz do lustre que havia logo acima de nós.

— Seu monstro! ASSASSINA! ASSASSINA! Eu vou acabar com você e com todos que você ama Emily Thorne!

Eu, sem reação, apenas tentei me esquivar dos diversos tapas que se seguiram as acusações. Vi ao fundo que meu pai, David Clarke, olhava de longe a insanidade de Victoria.

— Victoria... Eu...

Mas não tive tempo de falar. A mulher correu estranhosamente rápido, o que achei que era algo impossível por causa do tamanho dos saltos em que ela estava usando no momento.

Jack e Nolan olharam assustados com a chegada da mulher ao cômodo.

Victoria não pensou duas vezes em se ajoelhar ao lado do filho e se sujar de seu próprio sangue. Seu vestido era preto, de certa forma apropriado para ocasião.

Sempre me perguntei porque as pessoas usam preto em velórios, mas então percebi. Elas usam preto porque o preto representa o vazio que as pessoas que se foram deixaram em suas vidas. A escuridão, o esquecimento, o vazio.

Victoria estava vermelha, chorando e sua aparência não era a das melhores. Passou pela minha cabeça tirar meu celular do bolso e tirar uma foto dela para que eu pudesse usar isso contra ela no futuro. Mas não. Eu não seria tão cruel desta forma, apesar de que ela fora comigo. Afinal, tento não ser um monstro apesar de saber que no fundo, eu sou.

David chegou por trás de Victoria e tentou consolá-la enquanto eu sem saber o que fazer observava a cena. Nolan estava sem palavras e a única pessoa que teve estômago para falar sobre aquilo foi Jack.

— Victoria, Kate tentou matar Emily, então Daniel entrou na frente dela... Foi tudo tão rápido! Atirei em Kate mas era tarde demais.

Victoria parecia ter fechado seus ouvidos para qualquer tipo de onda sonora que chegasse a seus tímpanos, tudo o que ela podia estar pensando no momento era: Meu filho está morto.

Eu já amei Daniel verdadeiramente, por uma fração do nosso tempo, mas não me deixei levar pelo caminho da tentação, porque o caminho que estou é o caminho da Vingança, e neste caminho não há espaço para o luto e muito menos para a pena.

Tudo o que ocorreu nas próximas horas foram: Ambulâncias chegando, seguida de dezenas de jornalistas, seguidos da polícia federal.

Em apenas uma fração de segundo tudo já estava passando nas televisões de todos os Estados Unidos. A cena de Daniel morto e Victoria chorando já havia tomado as telas de todos os programas e interrompido todos os filmes e novelas que podiam estar passando no momento.

Redenção... A redenção é uma velha amiga que você há muito esqueceu, mas que bate em sua porta no momento de mais necessidade. Ela lhe abraça de bom grado como se fizesse você se sentir acolhido e bondoso mas tudo com um propósito. Um propósito que não posso me dar o luxo de aceitar.

Uma das coisas inesperadas que aconteceu naquela noite foi que Victoria após toda a correria e ainda tremendo ligou para Margaux.

Tudo que pude ouvir enquanto falava com o detetive e a polícia federal foi:

— Margaux? — Ela respira profundamente — Daniel está... morto.