Ainda tremendo depois do inesquecível e imperdoável acontecimento da noite passada, sento-me no sofá em frente a lareira quente onde suas chamas ardentes ainda queimam com fervor. Levo uma xícara de chá com toda a postura que uma pessoa de meu porte deveria ter, porém, neste momento sou um vidro. Um vidro que a qualquer momento pode desmoronar em mil pedaços. Não consigo parar de pensar que tudo o que já aconteceu com meu filho é culpa de apenas uma pessoa, uma mulher, e seu nome é: Emily Thorne.

Continuo na casa de praia de David, apesar de Emily desesperadamente ter entrado algumas noites antes e reinvidicado a casa novamente, infelizmente, ela e David estão tentando se reconciliar. Emily Thorne pode ser tanto minha ascenção quanto minha caída, e com certeza ela vai ser usada para o meu propósito, porque Emily Thorne não continuará respirando por muito mais tempo.

Coloco a xícara de chá intacta em cima de uma mesa encostada embaixo da janela. Deslizo minhas mãos frias e palidas — com nada além de um esmalte vermelho sangue em todas as minhas unhas — entre as gavetas que existem na casa. Deparo-me com o que ansiava. As cortinas brancas e leves que envolvem a casa estão flutuando acima do chão por causa do ar fresco que vem do oceano logo a frente. Saio da casa da mesma roupa que estava quando encontrei Daniel no chão. Morto. Aperto a campanhia da Mansão que uma vez fora minha e felizmente a pessoa que apareceu era justamente quem eu queria ver.

— Olá. Emily. Como vai?

Ela olha para mim com aquele ar de desconfiada e misteriosa que só ela pode ter. Solta um sorriso falso que só nós duas podemos reconhecer, já que nós o aperfeiçoamos há anos.

Saco o revólver de trás de meu corpo e digo:

— Eu deveria ter feito isso há muito tempo.

Por um segundo lembro de tudo que ela fez minha familia e eu passar. Patrick, Daniel, Charlotte, todos peças do jogo doentío e interminável que ela ainda joga.

Aperto o gatilho. Ouço um pequeno ruído e fico desapontada em ver que a arma estava descarregada. Com todo meu nervosismo não lembrei de ver a parte principal.

— Parece que hoje não é seu dia de sorte, não é mesmo Victoria?

Olho para cara de Emily e tudo que posso ver nela é um saco de pancadas, e no mesmo momento canalizo toda minha raiva e parto para o ataque. Ela está fragilizada por causa da briga que sofreu com a polícial do FBI.

Apesar de estar fraca tenho de admitir que ela resistiu bravamente. Quando estávamos em cima da mesa da sala que agora se encontrava em pedaços lembro-me de sofrer um apagão, depois disso acordo no sofá da Casa da Praia.

David está sentado no sofá me observando. Acordo e automaticamente levo a mão a minha testa onde há um inchaço sem igual.

— O que aconteceu Victoria?

É óbvio que não contaria a verdade, como isso seria? "Ah nada, simplesmente ataquei sua filha para matá-la."

— Não me lembro, devo ter caído... Todas essas coisas acontecendo... Daniel... — Faço-me de vítima.

David assente com a cabeça e me traz um copo de água com uma bolsa de gelo.

Fiquei pensando um momento em silêncio nas coisas que tinham acontecido e como poderia incriminar Emily de todas as formas.

O médico legista que examinou o corpo de Daniel disse que os tiros perfuraram sua caixa torácica e que ele morreu principalmente pela falta de sangue em seu organismo. Os tiros vieram da arma de Kate que levou tiros de Jack. Jack não foi incriminado pois teve como desculpa a autodefesa. Porém, se eu conseguisse com que acreditassem que Kate foi contratada por Emily... Ela seria uma das principais suspeitas.

Um sentimento que é sentido assim como a água gelada que nos toca ao lavarmos nosso rosto de manhã. Ela é refrescante no início mas depois você deve enxugá-la para que sua face permaneça seca. Assim é a frieza, ela pode ser usada para esconder seus sentimentos porém no final você cederá e terá que enxugar todo seu disfarce.

Eu sei apenas de uma coisa em minha vida agora. Eu não vou parar até que Emily Thorne esteja atrás de uma cela, seja por um crime ou de outro, mas pelo seu principal crime. Ter nascido.