Nos últimos dias Victoria tem estado estranhamente quieta. Não tenho ouvido notícias nem dela e nem do FBI. O corpo de Daniel já foi enterrado em uma cerimônia privada apenas para a família.

Penso apenas no pior já que foi dessa maneira que fui treinada por Takeda. Acordo sete horas da manhã em uma manhã de terça-feira e a primeira coisa que faço é ligar para Nolan. Não gosto de pedir a ajuda de Nolan porque tenho que protege-lo de todas as formas, querendo ou não ele é como uma família para mim.

— Nolan? Desculpe ligar a essa hora, preciso que você rastreie todos os rastros digitais que Victoria possa ter deixado nesses últimos dias, é possível? — perguntei para ele confiante.

Ele soltou uma gargalhada de deboche e me respondeu:

— Ems, você sabe que sou um gênio da informática, certo?

Dou um sorriso meio vazio sabendo que ele não poderia ver minha expressão e digo:

— Ótimo.

Desligo a chamada e coloco meu celular sobre a pequena mesa ao lado de minha cama, não sei se já estou preparada para levantar, por um instante os lençóis de seda e o colchão macio me parecem muito mais acolhedores do que pareciam na noite passada.

Depois de muita luta pessoal consigo me levantar e como não tive notícias do Nolan decidi ir direto a fonte. Meu pai, David Clarke.

Coloco uma roupa sem importar muito com o estilo e desço até a Casa da Praia onde tenho quase certeza de que David está e consequentemente Victoria. Ao chegar na varanda da casa entro em devaneio por alguns segundos até que eu bata na porta de madeira branca.

Demorou alguns minutos até que alguém me atendesse, foi rápido o suficiente na minha opinião e felizmente David foi quem abriu a porta e seus olhos brilharam, o que geralmente acontecia todas as vezes que ele me via, e eu odiava isso.

— David — Não consigo chamar ele de pai.

— Amanda — Disse ele incapaz de dizer Emily Thorne — Entre, por favor.

Não tenho a menor vontade de adentrar aquilo que se tornou um ninho de cobras depois que a cobra rainha mais conhecida como Victoria Grayson se mudou para lá.

— Onde está Victoria? — Digo já arquitetando meus planos em mente como sempre fiz.

— Ela saiu para a cidade, disse eu foi resolver uma papelada em relação ao incêndio da galeria de arte.

Eu não acreditei em uma palavra sequer daquilo.

— Ótimo, mas a real razão de vir aqui foi para te perguntar uma coisa David. — Minto. — Minha mãe, quando você a conheceu?

Ele estranha a pergunta súbita que sai de meus lábios e pensa um pouco antes de respondê-la.

— Eu... Nós éramos jovens, muitos anos antes da queda do voo que me colocou na cadeia. — Ele sentou-se e puxou todo o ar que podia e suspirou — Nos mudamos para cá quando você tinha acabado de nascer.

Apesar de a pergunta ter sido só para ganhar tempo começo a suspeitar de algumas coisas que fazem com que eu inicie uma nova investigação dentro da minha cabeça. Tento mascarar meu olhar de dúvida e reprovação mas sem hesitar lanço outra pergunta:

— E... Com quantos anos minha mãe me teve?

— 24 anos — Ele não hesitou em me responder.

Agradeço a ele pelo seu tempo e sem muitas despedidas subo de volta para a mansão e começo a fazer alguns cálculos que me surpreenderam.

Como minha mãe pode ter dado à luz a mim com 24 anos se, hoje tenho 25 anos, isso implicaria que ela tem 49 anos, porém tenho quase certeza que minha mãe tem 42 anos. Isso não está certo e eu com certeza irei descobrir o que está errado.

Recebo uma ligação de Nolan durante meus pensamentos infinitos e então olhando no visor do celular percebo que perdi oito ligações dele, ele provavelmente estava surtando.

— Oi, desculpa. Meu celular não tocou. — De todas as coisas que meu dinheiro pode comprar com certeza não é um celular que realmente toque quando preciso.

— Ems! Quer me deixar maluco? Eu estava quase hackeando todos seus aparelhos pra te achar! — disse ele seguido de inúmeros suspiros.

— Nolan, estou bem, sério, achou algo em relação a Victoria? — perguntei a ele tentando mudar de assunto.

— Sim, sim. Acontece que Victoria recebeu uma ligação de David há alguns minutos e logo depois ela alterou documentos no cartório local, posso ter acesso aos dados mas vai levar mais algum tempo. — disse ele enquanto eu ouvia seus dedos correndo pelo teclado loucamente como sempre fazia.

— O que? Não faz sentido. Tudo bem, descubra que documentos ela modificou o mais rápido possível, não confio em nada que essa mulher esteja planejando. — digo a ele com uma certa euforia em minha voz e depois desligo.

Seria possível que David mentiu sobre minha maternidade? É impossível, ele não seria capaz de mentir sobre algo tão grande assim por tanto tempo de minha vida e com certeza não tinha nada em seus diários. Eu já havia lido e relido esses diários inúmeras vezes até mesmo cheguei a decorá-los e uma parte que me chamou atenção depois de ficar com esta incógnita na cabeça foi:

“Percepção, a forma com que nós vemos o mundo através de nossos olhos e nossa mentalidade. Ela pode ser como uma pancada forte na cabeça assim que usada da maneira correta e por isso a percepção pode ser um dos sentimentos humanos mais perigosos. Ela é como um remédio, se tomar corretamente ele lhe livrará de quaisquer coisas que estejam importunando seu corpo, mas se tomar acima da dose ou menos nada de bom o fará.”

O alívio que a vingança me trouxe foi um breve período de prazer antes que toda a culpa e também toda a verdade viesse à tona, como o fato de meu pai estar vivo e respirando, foi nesse momento que percebi que... Estou sozinha nessa.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.