- Agora é a minha vez de te contar tudo. – eu disse, levantando-me da poltrona e ficando na frente de Arthur. Ele estava recostado na cabeceira da cama, com aquelas roupas de hospital e coberto até a metade do peito com um cobertor bege, menos a perna direta, que estava apoiada em um travesseiro, engessada. Ele já não estava mais com o soro, mas tinha um curativo no braço esquerdo. Seu cabelo estava todo desgrenhado, como se estivesse acabado de acordar, ou seja, estavam como sempre, seus olhos estavam brilhantes, e havia olheiras embaixo deles, em seus lábios se formavam um sorriso torto. Meu coração de encheu de felicidade, vê-lo assim, vivo, sorrindo, era lindo. Ele parecia perfeito pra mim, ele é perfeito, apenas olhá-lo já era perfeito, passaria a vida inteira só olhando pra ele, se pudesse.
- Quando eu descobri que você estava namorando a Bia, pelo Renato, me senti horrível. Primeiro pensei que não confiava em mim, afinal não foi por você que descobri, e depois pensei no que você sempre fez por mim, você sempre estava do meu lado na hora em que eu mais precisava, e comecei a sentir ciúmes. Seria ela agora a receber os seus carinhos, os seus conselhos, e o problema não era a Bia, era qualquer garota que te namorasse. Mas ai você veio falar comigo, me abraçou, e me disse que, não importasse o que acontecesse você continuaria sendo o meu melhor amigo, e aquilo não me reconfortou. Primeiro eu pensei que fosse porque você não cumpriria a promessa, mas hoje eu percebi que, na verdade, é porque eu sabia que cumpriria. Eu não quero ser sua melhor amiga.
Arthur escutava cada palavra atentamente, sua expressão não mudava. Continuei:
“Mas ai o V. apareceu, e as coisas que ele me falava, a curiosidade que ele me despertava, me deixou interessada. Ele me conhecia melhor do que ninguém, sabia do que eu gostava, e aos poucos ele se tornou tudo o que eu mais queria. Parecia um sonho, que se tornou realidade no Baile.
“O sonho virou pesadelo. Você gritou comigo e foi embora, e o que mais doeu foi saber que tinha razão. Fui insensível, e fui burra por não perceber que só podia ser você! Ninguém é tão fofo quanto você, ninguém me conhece tão bem quanto você, mas eu ainda estava cega demais pra ver, eu não queria ver.
“Quando você foi atropelado, meu chão desapareceu. Eu não sabia o que fazer, na minha cabeça eu só pensava no pior, pensava no que seria de mim se você nunca mais voltasse a abrir os olhos. Nos poucos momentos em que adormeci só sonhei com isso, sabia?
“Enquanto ficava sentada ali, vendo você desacordado, pensei em todos os momentos em que eu fui feliz, e você estava em todos eles. Eu te amo há muito tempo, mas fui uma idiota. Até falar a palavra “amigo” pra você no telefone estava ficando difícil, e eu não vi. Eu te amo Arthur, e se não acredita...”
Aproximei-me dele, peguei sua mão e coloquei-a embaixo do meu peito, pra ele sentir as batidas do meu coração. Ele estava acelerado.
- Viu? É isso o que faz comigo. Eu preciso de você. Por favor, não vai embora, não fique com raiva de mim, não me esqueça. – eu disse, e novamente as lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto.

Arthur apenas sorriu, pegou a minha mão livre e colocou sobre seu peito. Nossos corações batiam no mesmo ritmo, como se fossemos feitos um pro outro. Nós fomos feitos um pro outro. Sua mão subiu até o meu rosto, limpou uma lágrima e contornou com os dedos os contornos do meu rosto, meus olhos, meu nariz, minha boca. Fechei os olhos pra sentir seu toque, estava arrepiada.
- Eu não poderia te abandonar nem se eu quisesse. Você é tão linda, tão perfeita, tão minha. Você é tudo pra mim. – disse ele, pondo as mãos no meu cabelo e puxando a minha cabeça pra baixo. Abri os olhos e olhei dentro dos seus, nossos narizes se tocando. Nós sorrimos e dissemos juntos:
- Eu te amo.
Fechamos os olhos e nos beijamos. Um beijo calmo e tranqüilo, mas apaixonado. Não tínhamos pressa, sabemos que temos uma vida inteira pela frente.